E a crítica, a quem interessar.
terça-feira, 7 de fevereiro de 2012
Serão
E quando andávamos a coleccionar dúvidas sobre as diferenças, essas que separam ou unem, nunca se sabe, surgem as palavras. As palavras assim, deixadas escritas, são esmagadoras. O seu poder de nos fazer sorrir, enternecer, divertir, chocar, entristecer - palavras assim merecem ser lembradas e tomadas como sinal.
segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012
O Rui Veloso eternizou aquela frase: "Não se ama alguém que não ouve a mesma canção". Sim, o Carlos Tê sabe-a toda mas eu com esta resisto a concordar. Cada vez mais acho que a gente se ensina uns aos outros e quem não está disponível para aprender nunca sairá do marasmo.
Vivemos em tribos e eu gosto da minha. Mas por vezes sabe bem espreitar o que a do lado anda a fazer, por maior desconfiança que isso nos cause. Das crenças, da ideologia, dos princípios, não abro mão, mas para tudo o resto - para a música, para a literatura, para a comida, para passeios, experiências e por aí fora - estou disposta a tentar. Franzo o nariz a muita coisa, da ficção científica ao house, mas tento não me esquecer que nos locais mais improváveis se encontram coisas interessantes. E é do choque que nascem as estrelas, não é? Potenciemos as explosões, para que delas surja algo novo.
Ironias
As coisas mudam. Mudam todos os dias em pequenas doses e não nos apercebemos. Até que um dia mudam de rompante. Há quem deixe de cravar as unhas na vida, que agarrava a esforço. Há quem abra mão do poder, desista de uma luta. Há quem embarque em aventuras. E há quem aceda viver, com uma renovada mas diferente esperança, um rodopio mais ou menos sereno, mais ou menos novo, de emoções.
O mundo mudou e com ele mudei eu também. É engraçado, de todas as vezes que disse a mim própria "agora é que é", que prometi tornar-me uma pessoa mais impulsiva, que prometi atirar-me de cabeça na vida, e nunca consegui. E agora sim, sei que o salto foi dado e não caí e não fiz alarido, não esfolei os joelhos. Cresci.
Dizem que esta terra a que agora chamo casa, é lugar de especificidades. Há quem o diga como insulto, quem o faça como elogio. É uma cidade que consome, que suga os mais ávidos em espirais de frustração e vício. Que cansa. Dizem isso, sim. Dizem isso e ficam por cá. Porque o vício é fácil, justificam alguns. Eu diria que a paixão vicia, que o amor exacerbado é doentio, é feio mesmo. Todos esses homens que odeiam Macau são como amantes de novela: prometem sempre que a vão deixar, que não aguentam, que querem outra vida, mas chegada a noite não resistem a deslizar para debaixo dos lençóis com ela.
Eu, por mim, confesso a minha admiração por esta cidade do kitch. Tiro o chapéu à sua capacidade de sedução. E vejo nela tanto mais que isso, tanto mais que as mulheres e os casinos e os homens amargurados. Vejo nela os resquícios de um Portugal orgulhoso e misturado. Vejo o tradicional adaptado ao urbanismo, vejo as tasquinhas e os templinhos e os rituais para sempre inexplicáveis. Os restaurantes e as tendinhas e os sumos com bolinhas estranhas. Em Macau convive-se porta-a-porta com o desconhecido e, muitas vezes, nem se levanta os olhos para o questionar. Vivemos, nós e eles, lado a lado mas não nos cruzamos. Em vez disso, alguns de nós observam, intrigados, fascinados, as vidas rotineiras de pessoas tão distintas, com casas diferentes das nossas, que comem coisas diferentes, falam uma língua diferente, divertem-se e frequentam locais diferentes e acreditam, fundamentalmente, num mundo diferente do nosso. Olhamos para eles, e depois olhamos para nós, doentes dos vícios desta terra, olheiras profundas, culpas do tamanho do mundo, e não podemos deixar de notar, aqui, nesta Macau do século XXI, uma ironia imensa.
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