quarta-feira, 30 de julho de 2008

Discussões

Nunca percebi essa coisa de gostar de discussões (sim, estou a escrever o post depois de ler o da Marina). Eu odeio-as. Detesto o conflito, o trocar de palavras amargas. E depois quando fico obcecada e me sinto uma papa humana, e repito na cabeça cada frase, digo alto, sozinha, as coisas que devia ter dito na altura e não consegui.
É que não gosto mesmo de discussões. Da forma como o meu coração fica minúsculo e angustiado, como todo o meu corpo treme e me sinto revoltada com o mundo inteiro.
O problema é que não sou muito boa a evitá-las. É claro que engulo sapos, toda a gente engole. E muitas vezes discussões parvas são evitáveis. Esse tipo de discussão acho que evito bem. E quero deixar claro, não o faço porque sou cobarde, é uma convicção. Acho mesmo que a maioria das vezes as pessoas são egoistas. Querem entrar em confronto e não têm consideração pelos outros, pelas suas opiniões ou crenças. São discussões mimadas.
Mas há outro tipo de discussões (pelo menos na minha cabeça). Talvez tenha a ver com isto: sou muito opinativa. E quando vejo alguém dizer uma coisa intolerável, não sou capaz de ficar calada. Acho mesmo que, em certas situações, ficar calada é falta de carácter. Uma questão de defender princípios. Sabem como é, todos temos temas que nos são queridos, coisas em que acreditamos. E quando vemos alguém ofender essas crenças, começa a subir aquela indignação pelo estômago acima, até que já não dá para não intervir.
Lembro-me sempre de umas férias no sul de França que fiz com os meus pais. Fomos numa excursão com muitas pessoas, entre elas uns amigos dos meus pais. Para mim essa viagem ficou marcada pelos comentários racistas de uma pessoa que foi connosco. Aquilo incomodou-me mesmo. Não disse nada, mas fiquei com umas trombas de ver ao longe. A mulher era mesmo parva e só por um triz não causei ali um mau ambiente enorme.
Também há as "discussões saudáveis", que tantas vezes acabam adoentadas, que envolvem troca de opiniões. Muitas vezes estou a ouvir o início e penso "era tão bom se eu conseguisse apenas concordar e rir-me também". Mas não consigo. Às vezes é tão óbvio que é bom concordar, que passamos por porreiros, e não por impertinentes?
Sim, detesto discussões, mas não sei como fazer para não as ter.

Sim, isto é cá!

"A maior exploração fotovoltaica solar do mundo, que geral electricidade directamente a
partir da luz do sol, toma forma perto de Moura (na Amareleja), pequena cidade numa região pouco povoada e empobrecida, que se vangloria de ter a maior incidência de luz do Sol por metro quadrado ao ano na Europa. Quando estiver inteiramente instalada no final deste ano, a exploração de 600 milhões de euros, instalada numa propriedade estatal abandonada, terá o dobro do tamanho de qualquer outro projecto similar no mundo. Espera-se que forneça, todos os anos, 45 megawatts de electricidade, o suficiente para abastecer 30 mil lares."

Quem disse isto não fui eu, foi o Guardian! E o artigo é bem grande, todo sobre o investimento de Portugal nas energias renovaveis. Fiquei mesmo espantada. É sempre estranho ver um país "mais desenvolvido" elogiar o nosso, que está sempre na cauda de tudo.
Será possível dizer, partindo do pressuposto que Deus existe, que Ele tem sentido de humor?
Hoje fui ao psicólogo.
- Fale-me de si.
Que pergunta...
- O que quer que lhe diga sobre mim, concretamente?
- O que quiser.
- Chamo-me Inês.
Que situação...
- E gosta do seu nome?
- Gosto muito.
- Não a incomoda que muita gente tenha o seu nome?
- Não. Uma coisa não deixa de ser bonita só porque é repetida muitas vezes.

Fiquei a pensar nas minhas palavras e senti uma ponta de remorso. "Uma coisa não deixa de ser bonita só porque é repetida muitas vezes". Será que dizer muitas vezes "Amo-te" a alguém que verdadeiramente se ama faz a palavra "deixar de ser bonita"?

terça-feira, 29 de julho de 2008

Novelas

"As novelas têm a graça de apresentar a vida quotidiana como uma sucessão de clichés em primeiro grau e têm a desgraça de condenar actores interessantes a textos indigentes. Os telefilmes exibem aquela mistura de voyeurismo e moralismo típica da imprensa tablóide e um culto do «kitsch» em grande estilo. Em ambos os casos vemos quase o todo tempo uma classe média-alta de papelão, imediatamente sinalizada pela gravata sóbria, as amantes com belas omoplatas e o sumo de laranja com o café da manhã. Só que as novelas, talvez por influência da tradição pedagógica brasileira, levam-se demasiado a sério, julgam que dizem coisas relevantes sobre a sociedade em que vivemos, estão convencidas do seu «realismo» documental."

Pedro Mexia, in Estado Civil

A crença nesta dimensão documental das novelas (que tantas pessoas apregoam), foi sempre algo que me espantou. Parece que dizer "vejo por que me entretem" é uma ofensa.

Puristas

Amigos jornalistas e aspirantes, a sério, não passem à frente sem ler este texto do Giles Coren, crítico de restaurantes do Times. Fiquei de boca aberta. Aliás, li três vezes a frase até encontrar a alteração (antes de prosseguir o texto, claro).
Fez-me pensar de todas as vezes que mordi a língua (e continuo a morder) quando alteram alguma coisa para, na minha opinião, ficar pior. Li isto (de boca aberta) e pensei: nunca mais me digam que estou a exagerar!

http://www.guardian.co.uk/media/2008/jul/23/mediamonkey

segunda-feira, 28 de julho de 2008

My Way

Sempre achei que o verdadeiro rei não era o Elvis, mas o Sinatra:

I've lived a life that's full
I've traveled each and every highway
And more, much more than this
I did it my way

Regrets, I've had a few
But then again, too few to mention
I did what I had to do
And saw it through without exemption

Yes, there were times, I'm sure you knew
When I bit off more than I could chew
But through it all, when there was doubt
I ate it up and spit it out
I faced it all and I stood tall
And did it my way

sábado, 26 de julho de 2008

A casa dos gatos

Há anos que passo, todos os dias, por aquela casa. É no coração da vila, no entanto, tem sempre todos os estores fechados e um aspecto totalmente inabitado, com grades nas janelas e tudo isso. Havia por lá um gato, facto que chama sempre a minha atenção. Depois descobri que o gato era, efectivamente, uma gata. Isto porque o pátio vazio (dizer jardim não se adequa, já que não há relva) recebeu uma família que fazia as delícias desta passante apressada: uma ninhada de gatinhos, de todas as cores e padrões, do tamanho da minha mão.
Só queria pegar num e levá-lo para casa. Não podendo isso acontecer, limitava-me a parar ali todos os dias e espreitar os animaizinhos. Depois deixei de parar, mas olho sempre, sempre para lá. Muitos meses depois, lá andam os gatos, agora maiores, mas ainda "jovens".
E de todas as vezes, sem excepção, ocupo a mente, naquele resto de percurso até à estação, com divagações sobre aquela casa. O mais provável é que os donos não vivam de todo lá, seja uma herança, coisa do género. No entanto, todos aqueles gatos... os gatos que são donos da casa. Os gatos que se fundem com a casa. Os gatos, na verdade, são a casa.
Faz imaginar que lá dentro mora alguém que nunca vê a luz do dia. Alguém que nunca faz barulho, nunca vê o correio. E só à noite, quando ninguém passa, abre a porta para os gatos entrarem.
"In the dance of life, is it possible to have an equal partner or does someone always has to take the lead?"

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Mesmo a propósito

(Nada foi dito antes disto)

2080 diz:
vais à islândia em retiro espiritual?
Inês diz:
lool
Inês diz:
quem sabe um dia
2080 diz:
tenho duas referências de lá
2080 diz:
uma é uma amiga que la fez voluntariado
2080 diz:
e adorou até ao osso
2080 diz:
outra é um outro que é o tarantino, que diz ter sido lá que experienciou as grandes festas de perdição - o povo islandês saber-se-á divertir como poucos
2080 diz:
deve ser pa aquecer, percebe-se

Sim, percebe-se bem.
Surpreende-me sempre a forma como a pessoas têm tão diferentes percepções dos outros. Para nós, pessoa x é assim, mas acabamos sempre por descobrir que para outra pessoa, é uma coisa totalmente diferente. Às vezes isso é irritante, porque desejamos que os outros vejam o que nós vemos. Mas o mais alarmante é mesmo quando isso se aplica a nós próprios.
Porque vivemos connosco desde sempre. Conhecemo-nos e criamos sobre nós uma imagem pormenorizada, e temos a certeza que é assim que toda a gente nos vê. Porque é assim que nós somos. (Isto está a ficar confuso?)
No entanto, surge um comentário, uma discussão. "Não acredito que está a dizer isto sobre MIM". Que afronta.
Às vezes as supresas são boas, e descobrimos que houve alguém que sempre nos achou corajosos, numa época em que nos sentíamos transparentemente inseguros.
É tudo um mistério para mim. Eu que me conduzo pela vida mais ou menos da mesma maneira, com uns mais sincera, com outros mais reservada. O normal. No entanto já me chamaram arrogante, insensível e fria. Já me disseram o oposto, quase no mesmo dia. Já me disseram que sou apegada e que sou independente demais.
No meio disto tudo, fico a pensar se serei eu que não sei bem o que sou.

Limpezas

Debaixo da tralha acumulada em zonas longínquas do armário, escondem-se anos de nós. Na altura das limpezas mexe-se em tudo aquilo, são sacos e sacos de lixo. Dei as barbies a quem ainda brinca com elas (vá, tirem essa cara de choque meninas, não eram 20, eram umas quatro, ok?), e uma ou outra boneca encaixotada.
Fotografias da escola, um susto. Era mesmo feia. E pacotinhos da kodak recheados com imagens que nunca pus nos respectivos álbuns. Na maioria, sempre as mesmas amigas sorridentes. Sempre as três. Onde andam elas? As coisas mudam mesmo. As certezas são sempre tão efémeras aos 13 anos (não serão sempre?).
E ainda havia aquela amiga que desenhava tão bem. Vejo-as às vezes na rua, dizemos "olá", prometemos uns cafés que nunca se realizam. E eu que guardo os desenhos dela, tão perfeitinhos para o 6º ano (perfeitos hoje, garanto). Até há desenhos meus, completamente irreconhecível mas irresistivelmente bonita.
Papeplinhos. "Boa sorte para o 7º ano". Beijinhos de assinaturas que já não evocam caras. "Para a minha inimiga Inês Santinhos, do Vasco". Um sorriso. Algumas coisas ficam.
Pois é, as limpezas libertam mesmo espaço para arrumações. E não só.

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Malditos viajadeiros

Ultimamente toda a gente fala de viagens. Começo a ficar perturbada. É que sempre disse: só quero o dinheiro para viajar. Não me importo de um carro lata-velha, uma casa apertada e com vista para o parque de estacionamento. Nem a comida mini-preço, nem a roupa do C&A. Quero é viajar!
Não obstante, não me vejo em grandes viagens nos próximos anos, porque simplesmente não vejo grande forma de reunir dinheiro para isso. A coisa preocupa-me mesmo a sério. Quase invejo aquelas pessoas que têm três ou quatro destinos favoritos e depois de cumpridos, fazem paz com o Mundo. Eu anseio percorrer os grandes da Europa, mas também os pequeninos. Tenho uma curiosidade espiritual em ir a África, uma curiosidade cultural em ir à Ásia (esse pequeno continente...), e um velho desejo de percorrer a América do Sul de mochila às costas durante um mês. E isto é só a ponta do iceberg.

Não sei resolver este dilema.

"O meu amigo primeiro-ministro"

"O ar mais fresco que já arrepiava àquela hora não impediu que Chávez se mostrasse especialmente caloroso: "Estamos em casa de amigos", comentou por várias vezes. Dirigindo-se a Sócrates, fez questão de agradecer ao "amigo primeiro-ministro" a "generosidade e calor humano" e salientou o "carinho" entre os dois povos. "Fazemos um compromisso de honra nesta relação", reforçou."

Inês Sequeira, in Público

Esta relação está a ganhar contornos deveras comoventes.
"Amigo primeiro-ministro". Ora aí está uma frase que um dia gostaria pronunciar. "Amigo primeiro-ministro, venha daí beber umas jolas fresquinhas!"
(sim, porque quando eu tiver um amigo primeiro-ministro já vou gostar de jolas)
Só é pena fazermos amizades com as más companhias.

quarta-feira, 23 de julho de 2008

O assassino é...?

"Quando nos sentávamos à mesa, com os pratos em nossa frente servidos com um líquido gelatinoso, olhei em redor e estudei as possibilidades.
Se Poirot tinha razão, e mantinha ainda o seu cérebro ímpar e lúcido, um dos convivas seria um perigoso assassino, provavelmente, um lúnatico.
Poirot não o dissera, mas presumi que X fosse provavelmente um homem. Qual desses homens poderia ser?
De certo não seria o coronel, com as suas indecisões e aspecto de fraqueza geral. Norton, o homem que eu vira sair de casa com o binóculo, para ver os pássaros fazer ninho? Parecia um tipo agradável e falto de vitalidade. Contudo, disse para os meus botões, há assassinos que não são mais que homenzinhos insignificantes, impelidos ao crime por essa mesma circunstância. Sofrem ressentimentos por passarem desapercebidos e ignorados e Norton poderia ser um homicida desse tipo. Mas tinha a seu favor essa loucura por pássaros e eu sempre considerara que o amor à Natureza constituía um atestado de saúde mental.
Boyd Carrington? Fora de questão. Um homem cujo nome era conhecido em todo o mundo; um fino desportista; um hábil administrador; uma figura apreciada universalmente e aplaudida pelo seu carácter, não podia encaixar-se no papel de um paranóico.
Quanto a Franklin, pu-lo logo de parte, pois sabia como Judith o respeitava e admirava.
Restava-me pois o Major Allerton. Atirei-me a essa ideia com apraizimento. O parceiro mais sórdido psiquicamente que eu jamais vira. O género de tipo que é capaz de esfolar a própria avó. E toda a sua imundície moral embrulhada em maneiras de superficial encanto.

(...)

A verdade é que Poirot não precisara definitivamente que X seria um homem. Considerei Miss Cole como uma possibilidade a observar. Todos os seus gestos eram impacientes e nervosos. Por vezes dava-me a impressão de uma mulher angustiada. Era bonita, atraente e de certa maneira talvez até espiritualmente encantadora, se a pudesse conhecer melhor. Exteriormente parecia absolutamente normal, mas sabe-se lá o que se passa dentro do cérebro de uma pessoa, se apenas a contactamos, pela primeira vez, durante uma refeição?
Mrs. Luttrell, Miss Cole e Judith eram as únicas três mulheres presentes à mesa. Mrs. Franklin jantava no seu quarto, no piso superior e a enfermeira que cuidava dela tomava as suas refeições depois de todos nós".

Oh meu caro Hastings, estás tão à nora como eu...

Pensando bem...

Tinha visto uns queijinhos frescos no frigorífico. Uma hora depois do jantar começa aquela vontade de "morder" qualquer coisa em frente da televisão. Fui a cozinha buscá-los. A embalagem dizia "Queijo fresco light". Oh não...fresco E light? Um bocado de mais para mim. Logo por baixo, uma tablete de chocolate. Pensando bem...

terça-feira, 22 de julho de 2008

Não mata mas mói

Nem todas as dores são desastres, são choros compulsivos, são desgostos profundos. Algumas são apenas aquele suspiro ao fim do dia, aquela dúvida impronunciável, aquele encostar melancólico da cabeça no vidro no comboio. São as pequenas dores:


A tua pequena dor
quase nem sequer te dói
é só um ligeiro ardor
que não mata mas que mói

É uma dor pequenina
quase como se não fosse
é como uma tangerina
tem um sumo agridoce

De onde vem essa dor
se a causa não se vê ?
se não é por desamor
então é uma dor de quê?

Não exponhas essa dor
é preciosa, é só tua
não a mostres tem pudor
é o lado oculto da lua

Não é vicío nem costume
deve ser inquietação
não a nada que a arrume
dentro do teu coração

Certo é ser a dor de quem
não se dá por satisfeito
não a mates guarda-a bem
guardada no fundo do peito...

Cabeças no Ar

domingo, 20 de julho de 2008

E esta?

Nos dias de hoje, não é assim tão difícil de imaginar...

"Os sites de relacionamento social, como o MySpace ou o Facebook, promovem novas relações e alargam o cibercírculo de amigos. Mas também põem uma questão de etiqueta cada vez mais comum: e s eo chefe quiser ser meu amigo? Isto pode ser incómodo para pessoas que tentam manter separadas as esferas pessoal e profissional.
A questão suscitou o debate entre os bloguistas e outros maníacos da web. Deverá aceitar o convite do chefe para estabelecer amizade «on-line», dando-lhe acesso à sua lista de conhecidos, fotos de festas, vídeos e actividades sociais? Atrever-se-á a rejeitar a oferta de amizade virtual e, possivelmente, dar cabo da sua carreira profissional?"

Jonny Diaz, in The Boston Globe (Tradução do Courrier Internacional)

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Situações difíceis

Hoje a directora perguntou:

"Está bonita a capa, não está?"

E eu que já tinha chamado todos os nomes possiveis àquela capa (incluindo o pior de todos: "parece do 24 horas!"), sorri, fiz um movimento de vaga concordância com a cabeça e murmurei uma espécie de "sim" (tipo "imm").

E depois pensei: sou tão corbarde.

Dinheiro

Toda a gente implica com alguma regra social. A maioria de nós até embirra com várias. Uma delas, no meu caso, é o tabu que é falar de dinheiro.
Bem sei que a maioria das pessoas foi educada desta forma e essas coisas são difíceis de combater. Mas continuo a achar insuportável que as pessoas sejam tão púdicas no que toca a ganhos. É uma grande indiscrição perguntar valores: quanto ganhas, quanto custaram as férias, o carro, etc. Não se diz, que é falta de educação. Porquê?
Percebo que quem ganha a miséria que eu ganho tenha vergonha de o dizer. Mas aí é porque acho que as pessoas pensarão que sou uma falhada, que não tem qualidade para conseguir em emprego melhor. Não é por tornar o facto público. Aliás, noto que as pessoas que mais problemas têm são as que ganham mais. É uma coisa que me perturba.
"Se não é indiscrição, quanto custou? Ai desculpe a pergunta...". Irrita-me. Parece que estou a perguntar pela cor das cuecas. Isso é que é indiscrição!
Quanto mais velhas ficam as pessoas, pior é. Os estudantes costumam andar sempre a contar tostões, por isso não há crise. Mas depois... acho mesmo hipócrita a atitude de "não vou dizer quanto custou o hotel porque depois vão dizer que somos ricos". Digam lá que não conhecem pessoas assim. Está-lhes escrito na cara.
A mim, parece-me a forma mais atroz de ser materialista: tratar o dinheiro por "você", é tão sagrado lá no alto do pedestal que não se pode falar dele.
Às vezes olho para mim - mesmo com todos os meus sonhos frustrados e objectivos por cumprir - e gostava que tivesse sido possível sossegar a pessoa que eu era há cinco anos. Dizer-lhe que não tivesse medo porque os caminhos iam estar certos e certa estava eu, também, ao manter-me fiel ao que sou.
Gostava mesmo de me ter dito isso.

terça-feira, 15 de julho de 2008

O texto que me reconciliou com o Mr. Dylan

"Era o nome mais esperado do festival Optimus Alive!. Passou brevemente pelo mais recente álbum, 'Modern Times', mas deu prioridade às suas memórias. Contudo, fê-lo seguindo as suas próprias regras: este é um ícone 'rock'n'roll', fiel apenas à sua vontade em não ser uma resposta às expectativas.
Entre a multidão - cerca de 30 mil pessoas - há dançarinos de twist, ancas como as de Elvis e chapéus que foram brindes festivaleiros e agora pertencem a cowboys à beira-Tejo. Outros esperam por versos de protesto, para satisfazer o desejo secreto de entoar bem alto o refrão de Mr. Tambourine Man. Quem canta é Bob Dylan - "Mr. Dylan", como foi apresentado no início do concerto - e as duas reacções encontram-se numa só: o Dylan que esteve no Optimus Alive!, na noite de sexta-feira, não é o da romântica década de 60. Mas, ao mesmo tempo, é o único Dylan que poderíamos receber em 2008.Like A Rolling Stone chega no final. Dylan continua de olhos presos nas teclas que agora o acompanham em todos os palcos. E foge à melodia que ficou para a história como uma das melhores de sempre (dizem as tabelas publicadas ao longo de décadas). Mas este é o último tema e os coros libertam-se: aquele refrão tinha de ser cantado como foi originalmente gravado, depois de duas horas de reinvenção. Bob Dylan é, hoje, vocalista de uma banda de rock'n'roll que adapta harmonias e tons às suas limitações. "

Tiago Pereira, in Diário de Notícias
Irritaram-me as críticas demasiado boas para um concerto claramente aquém de todas as expectativas. No entanto ocorreu-me que pudesse estar a ser dura de mais com um músico cuja história não conheço assim tão bem. Esta crítica deu-me uma certa sensação de equilíbrio. Consolou-me um bocadinho.
Acaba assim: "A voz tem os 67 anos bem marcados e pode recordar a frase "Dylan não canta mal, canta diferente". Espera-se pela harmónica para viajar até aos discos que originalmente revelaram aquelas canções.Mas, no final, a memória é só uma: Bob Dylan esteve em palco. Mostrou a sua dança minimalista (apenas com uma perna), foi ícone rock inimitável e esboçou um sorriso na despedida. Histórico."
Histórico é sempre bom.

domingo, 13 de julho de 2008

Modernices

"A recusar os casamentos homossexuais como argumento de que a procriação é o objectivo essencial da família, Manuela Ferreira Leite pô-se a jeito: o discurso politicamente correcto é dominante no país com acesso aos «media», intolerante com opiniões diferentes e não lhes perdoará".

in Expresso

Eu cá não perdoo.

"Eu nunca..."

A Inês é bebé. É unânime lá onde trabalho. Como sou a mais nova, as conversas acabam sempre assim. Principalmente porque não assisti ao casamento da princesa Diana. E só os bebés é que não viram.
É da maneira que não me dá crises de idade, pronto. A verdade é que nestes três meses repeti a expressão "Eu nunca..." mais vezes que na vida toda. Eu nunca fui a um casamento. Eu nunca peguei um recém-nascido. Eu nunca fui a um festival de verão (em Lisboa não conta). Eu nunca fui ao Lux. Eu nunca comi um bolo acabadinho de fazer no regresso de uma night out. Eu nunca fumei ganza. Eu nunca viajei para fora do país com amigos. Eu nunca fui ao Chapitô. Eu nunca fui ao Fantasporto. Aliás, eu nunca fui ao Porto.
(São muitas mais, mas a memória falha)
"Não? Ora, não faz mal, vais ter tempo de fazer isso tudo, ainda és bebé".

sábado, 12 de julho de 2008

Elefantes com bolsos

Toda a gente sabe que não há nada mais sexy que um homem que toca guitarra (não, não, eléctricas não contam).
Para essas namoradas será sempre fácil responder à fatídica pergunta "Porque é que gostas dele?". Ninguém discute o charme que é um rapaz e a sua viola. Mas para toda a população restante pode ser complicado. É como quando perguntam "Qual foi o momento mais importante da tua vida?" ou outras questões esmagadoras deste género. É que uma pessoa sente-se mesmo um verme por não saber responder. Que vida secante... se o momento fosse assim tão marcante vinha logo à memória.
Mas a verdade é que tenho dificuldade com estas perguntas. "Gosto dele porque...sim". Um sorriso atrapalhado, enrola uma madeixa de cabelo no dedo, olha para o lado, mexe no telemóvel. Não parece que gosta muito, nem sabe dar uma boa razão.
Tudo menos o "ele faz-me rir". Só a expressão me irrita. Que cliché barato. (Mas ele faz-me rir...). Não sei dizer assim de repente. Posso ir pensar para casa? Assim é fácil, vem um textinho que até comove, prometo. Não? Tem que ser assim espontâneo?
Dois ou três lugares comuns. Que raiva. Eu queria dizer que volta e meia ele me aparece à porta de elefante e me leva até à Índia. Mas isso não é verdade. Mas é mesmo isso que parece. Deixa-me um chocolate no bolso do elefante. Milka, sempre.

Humpf, sou tão Charlotte.

terça-feira, 8 de julho de 2008

Nomes

O texto é sobre a inutilidade dos Sérgios, mas essa parte não vale a pena. Passo-vos, sim, a parte inicial, que constatei ser de uma veracidade impressionante e muito, muito divertida. Digam lá se isto não é verdade!

"Os nomes não deviam ter nada a ver com a personalidade anexa, mas têm. Um João, um Pedro, um Paulo ou um Nuno, por exemplo, podem ser o que quiserem (todas as nossas namoradas ou mulheres tiveram, pelo menos, um ‘ex’ com um destes nomes), mas um Sebastião é, necessariamente, um pachola. Um Francisco garante boas conversas. Um Armando tem um passado complicado. Um Zé faz sempre falta. Sobretudo, um senhor Zé que trabalhe na restauração ou passe recibos verdes na categoria de engenhocas. Toda a gente tem um tio Manel. Há muitos Filipes bons tipos. Rodrigos e Tiagos são bons nomes de amigos. Os Ruis, quando antecedendo sobrenomes fortes, vão longe. Tal como os Luíses. Os Diogos, Martins e Salvadores podem ser o que lhes apetecer que hão-de sempre guiar carros melhores que os nossos. Um Artur não se encontra assim, sem mais nem ontem. E um Jorge é gajo para perceber imenso de mecânica."

in Sinusite Crónica

segunda-feira, 7 de julho de 2008

domingo, 6 de julho de 2008

Cego ou surdo?

Já me tinha posto a pensar o que seria pior: ficar cego ou ficar surdo? Sim, eu penso nestas coisas.
Nas minhas reflexões nunca chegava a uma conclusão. Se por um lado, sem visão não podia ver nada, sem ouvir o mundo parecia-me autista, afastado. Como iria eu sobreviver sem conversar?
Depois do passeio por Alfama, de olhos tapados, chamado “Lisboa Sensorial”, cheguei à minha conclusão: preferia ser surda. “Sem olhos” senti-me totalmente perdida e dependente do meu guia. Calculo que isso melhore, mas a mobilidade e independência ficam sempre comprometidas. Além disso, não há cinema, não há paisagens, não há moda, não há fotografia, não há rugas e sorrisos. (E olhares apaixonados). E viagens. Será que um cego tem vontade de viajar? A ideia de um mundo negro materializou-se e digo-vos, é assustadora.
E pronto, assim resolvi mais uma dúvida existencial. No entanto, não decidi ainda o que fazer em relação à ausência de música e de sussurros ao ouvido…

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Don't get me wrong

Don't get me wrong
If I'm looking kind of dazzled
I see neon lights
Whenever you walk by

Don't get me wrong
If I'm acting so distracted
I'm thinking about the fireworks
That go off when you smile

Pretenders

terça-feira, 1 de julho de 2008

E se isto tivesse sido um enunciado de um exame de Pragmática?

"«Amo-te» é uma performativa?, pergunta o Ivan. Se uma «performativa» é uma enunciação que faz coisas e não apenas diz coisas, então «amo-te» é de facto uma performativa. Porquê? Porque «amo-te», como explicou Barthes, é uma tautologia. «Amo-te» não tem conteúdo nem admite paráfrase: «amo-te» é uma expressão que quer dizer «amo-te» e que comunica que eu te amo. Uma frase que depois tem um efeito na pessoa a quem se diz. É certo que «amo-te» pode ter efeitos imprevistos. Se alguém diz «amo-te» e a outra pessoa responde «preferia que não tivesses dito isso», que coisa é que foi feita? Talvez alguma coisa tenha sido feita. Talvez desfazer uma coisa já seja fazer alguma coisa. "
in Estado Civil