quinta-feira, 28 de julho de 2011

See you in a wee bit!

Vou ter saudades de falar inglês. E de todos os dias perguntar ou me perguntar "Where are you from?" - as respostas nunca deixam de me surpreender. Aos que me lêem: I'll see you on the other side! Estou pronta para pisar solo luso, calçar os chinelos e abraçar-vos a todos.

Um beijo
i

"I came from a country where fear of others had not found a foothold"

O escritor Jo Nesbø fala sobre a vida depois do ataque à Noruega. A must read.


Ah, e o editor da revista Megafon, que tive o prazer de conhecer a semana passada, escreveu este arrepiante artigo. Talvez por o conhecer, talvez pelo apelo humano, arrepiei-me ao ler isto.

"At the same time, 2.25 pm local time in Glasgow, Scotland I am attending the last day of the International Network of Street Papers conference. It's been four, long days of work, fun and partying with good friends and colleagues from all across the world. The topic of the day is our news agency, the Street News Service. Earlier I had attended a workshop with the world famous photographer David Burnett. He spoke about, amongst other things, his photos from Vietnam, and how a young mind can cope with the horrific images of the war. He emphasizes the importance of storytelling, using your skill as a photographer to tell a story and make a difference.
...
The images that comes from Oslo look the same as the images I saw in David's workshop. Destruction, demolished buildings, injured people and people in shock. Last time I saw these kinds of images from Norway was in a film about the Second World War.
...
I am a reporter, a photographer. I want to be there, telling the story, not here in a ballroom in Glasgow. It is a fight between my phone and the award ceremony on the stage. We won the award, for best design, together with our good friends from The Big Issue in Scotland and Wales. It is nice to win an award, but my mind is some were else."

O Ponto do i is proud to present...

... o workshop que a INSP e o colectivo Photographers for Hope organizou para os vendedores da Big Issue Scotland. Este vídeo foi apresentado na abertura da exposição, na sede da BBC Scotland, evento incluído na conferência INSP 2011.



Espero que consigam entender o Malky.


Podem ver aqui algumas das fotos da exposição e aqui ler tudo sobre o lançamento e ver fotos do evento.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Digam-me com toda a sinceridade

A exactamente uma semana de completar 25 anos (não imaginam como me está a bater a crise da idade) sinto-me uma miúda. Pergunto-me se a saia é muito curta, numa insegurança de adolescente, releio 5874 vezes o que escrevi, num amadorismo de estagiária, só agora vou assinar o meu primeiro contrato de trabalho e não faço ideia em que casa estarei a morar daqui a um mês ou em que país daqui a um ano.
Sou uma pirralha. Sei-o. E não acho isso estranho. Por isso digam-me, com toda a sinceridade, não me escondam nada: acham normal tanta gente com a mesma idade estar a casar-se (ou algo semelhante)?? Mas estará tudo a crescer mais depressa que eu??

terça-feira, 26 de julho de 2011

O tampão chinês

Da primeira vez que me disseram não liguei. Da segunda pensei "esta gente deve achar que Macau é o Bangladesh!" (sem ofensa minha querida Sanjida!). À terceira comecei a preocupar-me...
Primeiro foi a Helen que vagamente com os copos disse que ouviu dizer "que na China não há tampões". Depois foi a Emília que me puxou para um canto e segredou ao ouvido que "tenho uma amiga que mora na China e o namorado leva-lhe sempre carregamentos de tampões porque sabes... lá não há".
Não querendo entrar em grandes pormenores, achei que conseguia sobreviver sem os ditos - e na verdade não acreditei mesmo que não existissem. Mas depois foi a minha futura chefe que alertou: "Não tragas muita coisa, aqui há tudo! Menos evax, claro".
Espera lá... Se não há tampões nem evax... isso pode representar um sério problema. Fiquei na dúvida se queria dizer Evax a marca, ou evax pensos higiénicos no geral.
O mistério permanece. Afinal, as mulheres chinesas também têm o período, ou não? (Se a resposta for não é todo um novo mundo que se abre à minha frente)

E já que entrámos neste tópico tão agradável, queria deixar aqui um anúncio absolutamente incrível. Prestar atenção ao mágico segundo 8.



*Tracey e Chico, gostava de vos informar que a elaboração deste post foi realizada com a aprovação da Silly. Há que respeitar as entidades competentes.

domingo, 24 de julho de 2011

Um presente apropriado

The point of no return

Eu sei que este blog já começa a parecer um interminável fiar de "conlusões" e "morais da história". But... indulge me, will ya? É que estou reflectiva.
Vou começar uma nova etapa. Muito diferente das anteriores. Penso muito que posso detestar e que para voltar vai ser uma confusão, é longe, é caro e tudo mais. Mas quanto a isso nada posso fazer. O importante é aprender com o que já aconteceu.
Na altura em que vivemos as coisas raramente nos apercebemos da sua dimensão. É só depois que absorvemos, digerimos e colhemos os frutos.
Eu conheci pessoas excepcionais. E nesta vida tudo se resume a isso: pessoas. Tento lembrar-me de mim antes de ir para Cardiff, tento lembrar-me do tipo de pessoa e jornalista que eu era. Claro que toda a gente sabe, a imagem que temos de nós próprios é a mais distorcida possível. Aquilo que vejo é alguém que queria aprender mais sobre o mundo, mas que sabia muito pouco. Alguém que se acreditava tolerante mas guardava alguns preconceitos. Alguém que achava que falava bem inglês!... mas falava como nos filmes americanos.
Não acho que poderei mais voltar atrás. Voltar a escrever sobre insignificâncias, voltar a ter um dia-a-dia que ignora o mundo à volta. Estou demasiado ligada a tudo, sou uma espécie de internet, com ramificações globais. Não quero perder isso, vou lutar por não perder isso.
Sim, vou para Macau, um lugar minúsculo, para um jornal pequeno e bastante local. Mas vou para me tornar mais global ainda, para colmatar essa lacuna gigante que é a Ásia.
A pessoa que eu era pré-2009 sempre quis ajudar. Sempre apoiou causas solidárias. Mas era uma coisa inócua, um apoio apenas mental. Hoje isso parece-me ridículo. Completamente absurdo. Ser bomzinho não basta, é preciso fazer alguma coisa. Há tanto por fazer, em tantos lugares. A minha experiência a trabalhar na International Network of Street Papers reforçou o ditado que quem dá é quem mais recebe. Nunca eu estendi tanto as horas laborais, nem trouxe tanto trabalho para casa. Porquê? Porque acredito no que estou a fazer e nas pessoas que o fazem comigo.
Observei os meus colegas, ouvi as suas histórias. Senti-me um pouco egoísta, um pouco mimada, um pouco infantil por até hoje me ter ficado pelas boas intenções. Agora que estou prestes a ir embora, preciso substituir a INSP por outra acção, outra actividade que ajude alguém neste mundo. Não sei o que será - aliás, estou aberta a sugestões. Em termos monetários busco uma organização para apoiar, mas também em termos práticos. Em Portugal seria - já decidi - a Comunidade Vida e Paz. Em Macau não faço ideia, a barreira linguística pode ser problemática. Mas vou investigar.

Aos que me aguardam em Portugal, amigos, estou a caminho! Aos outros todos, façam figas para que não me perca no império chinês.

Pausa

Acabei de descobrir que vou ter um nome em chinês. Para cartões profissionais e afins.

Como se dizia nos meus tempos de escola: ganda pausa.

sábado, 23 de julho de 2011

As vantagens da emigração

Viver fora tem muitas vantagens mas para mim a mais importante de todas é mesmo a visão que nos dá do mundo.
Quando estamos sempre no mesmo lugar, temos uma imagem dos outros países e nacionalidades muito estereotipada. Muito "eles e nós". A coisa mais importante que eu aprendi no contacto com gente de vários países é que as pessoas são sempre pessoas. De onde elas vêm tem pouca importancia ao final do dia. Sim, claro que define a sua maneira de estar. Mas não deixam de ser pessoas e aquilo que nos aproxima ou afasta delas terá sempre muito mais a ver com o ser humano do que com o passaporte que guardam.
Sempre que algo acontece num país onde conheço alguém, o meu interesse triplica - dando força ao tão polémico critério jornalístico de proximidade. Não é por estar preocupada com os meus amigos - muitas vezes sei perfeitamente onde estão e até costuma ser noutro lugar. É porque esses países têm agora uma cara. São gente. E eu tenho por eles afecto e interesse. Foi isto que a experiência internacional me deu: uma relação de proximidade com o mundo.
Ontem, quando nos preparavamos para entrar na sala onde iria decorrer a cerimónia de entrega de prémios, vestidos a rigor e totalmente contagiados por aquilo a que chamamos "street paper energy", demos conta das notícias vindas de Oslo. Entre nós 4 noruegueses e algumas lágrimas. Hoje, ao inteirar-me com mais pormenor das notícias, o meu coração aperta ao pensar na simpática Mona e no excêntrico Thomas. Que não tenham más notícias ao regressar a casa*

Flatmates

Agora que busco casa em Macau, tenho pensado bastante nesta coisa dos flatmates.
Quando me mudei para Cardiff fui morar numa residência de raparigas - simplesmente porque era super perto da universidade, era a mais barata e com melhor aspecto. Quando no início dizia onde morava as pessoas ficavam com a ideia de que era a atirar para o conservador. Mas a verdade é que a ideia de morar com rapazes nunca me fez confusão nenhuma.
Quando o tempo da residência acabou mudei-me para a nossa mítica casa com dois rapazes. Aconteceu. Eramos muito amigos e estavamos todos à procura de casa. Fazia sentido.
Claro que algumas coisas levaram o seu tempo. No início eu oferecia-me sempre para estender a roupa porque não queria marmanjo nenhum a estender as minhas cuecas. Mas também vos digo que a mania passou-me em duas ou três semanas.
A verdade é que nos demos muito bem e nunca foi minimamente incómodo. Hoje tenho com eles uma relação tão próxima que só podia ter resultado daquelas manhãs descabeladas com pijamas velhos e canecas de café na mão.
Quando se divide a casa com amigos partilha-se muita coisa. Ajuda-se a tirar os sapatos e deitar na cama, acude-se em acidentes com facas na cozinha e discute-se que papel higiénico comprar.
Como a minha experiência foi sempre muito boa - ao longo do tempo fui mudando de flatmates mas sempre entre amigos - achei que ia ser o mesmo aqui em Glasgow. Bom, e não é que eles não sejam simpáticos, mas aqui não partilhamos nada. A casa é uma confusão e eu estou sempre no meu quarto. Moro com dois rapazes e uma rapariga e mais uma vez o género nunca foi uma questão.
Agora que procuro novo poiso e fui espalhando a mensagem que procurava casa, um amigo do amigo do amigo disse-me que procurava alguém. A primeira coisa que me perguntaram foi se me importava de morar com um rapaz. Não, disse eu, claro que não. Mas depois pus-me a pensar: será que é estranho morar com um rapaz (apenas uma pessoa) que não conheço previamente? Não estou preocupada com segurança, o rapaz tem as melhores referências. Simplesmente pergunto-me se será meio desconfortável.
Mas no fundo, no fundo, eu sei que digo isto porque morro de saudades no nr 89 strathnairn street e do estendal de roupa interior no quintal.

O Reino Unido

O Reino Unido foi a minha casa desde Setembro de 2009. Tenho com ele uma relação de amor-ódio, daquelas que povoam as mais apaixonadas e doentias histórias de amor.
O Reino Unido e o frio. A chuva, o nevoeiro. Mas também os jardins a abarrotar de gente no verão, os BBQs e as house parties. O inglês e as suas excepcionais expressões idiomáticas - as inglesas, as escocesas, as galesas e as irlandesas. Casa do jornalismo, escola desta jornalista. Os britânicos e a sua educação - simpatia ou apenas delicadesa? A eterna discussão. A BBC, o Guardian e a Economist. As universidades, os brasões e as catedrais. O multiculturalismo. O snobismo. O "Areyoualright?", o bacon, o irun-bru, os pubs. A relação com o álcool. A comida terrível, as sobremesas deliciosas. O fascínio que têm pela Espanha. O meu nome mal pronunciado. O café-mistela. O chá preto. Os scones. O jantar às 18h. A música, o teatro, o cinema. Os uniformes da escola numa sociedade verdadeiramente igualitária. Os "Miss", "darling" e "dear". As 2332 portas de incêndio e os interruptores de electricidade. As libras, o David Cameron e a rainha. Os protestantes e os carros do lado esquerdo.

Longe de ser perfeito, o Reino Unido é um lugar onde cabe tudo, onde cabem todos e onde eu sinto um pouco que faço parte.

Não direi adeus porque espero voltar vezes e vezes sem conta. Aqui ficaram muitas viagens por fazer, muitas coisas por experimentar. E dessas não desisto até riscar da lista, uma por uma.
Por isso digo apenas: I'll see you soon*

Os 7 dias mais intensos da minha vida

Warning: post muito longo

A semana passada pus-me a fazer malas. Esperavam-me 4 dias em Cardiff para a cerimónia da graduation, seguidos de outros 3 dias da conferencia INSP (International Network of Street Papers). O facto dos dois eventos se seguirem (sobreporem-se, já que a conferência começava na terça e eu tive que perder o primeiro dia) foi uma coincidência, uma daquelas que me faz duvidar da aleatoriedade das coisas. Não poderia ter tido uma melhor despedida do País de Gales, da Escócia, do Reino Unido!
Chegada a Cardiff pelas 3 da manhã, senti que nunca me tinha ido embora. Ao sair do autocarro os meus pés moveram-se de forma automática, sabendo exactamente onde ir. A partir daí seguiram-se dias que se colaram uns nos outros, noites mal dormidas - e não dormidas - uma infinidade de abraços e fotografias, gargalhadas de meia noite e conversa de inglês internacional.
Que bom estar em casa! Foi isso que senti. Foi isso que todos com quem falei me disseram. Que bom percorrer as ruas e ir relembrando pequenos episódios aqui e ali, dos mais banais aos mais memoráveis. Que bom, que bom, ver aquelas caras, ouvir aqueles sotaques, saber daquelas novidades.
A graduation é talvez ago que os estudantes britânicos não valorizam. Tal como eu não ligo em Portugal. Mas para nós que viajámos de outros lugares, juntámos dinheiro, estudámos em língua estrangeira, aprendemos ali os costumes de outra terra, para nós, os alunos do Mestrado de Jornalismo Internacional, aquele momento teve um gosto especial.
Munidos de umas vestes tiradas directamente de um filme do Harry Potter, chapéu à filme, e ar solene, entrámos no St David's Hall. Ouvimos os discursos , em inglês e galês. Os professores vestiam uns fatos ainda mais impressionantes - os britânicos, caraças, sabem fazer as coisas com pompa! Havia uma banda e uma plateia de familares orgulhosos. E nós, que nem família que somos, acenávamos aos muitos e queridos amigos que não eram da nossa turma mas fizeram questão de estar na audiência a tirar fotografias e torcer por nós. Nunca, por um segundo, me senti sozinha. Sentia apenas uma energia inebriante, um nervoso miudinho, uma sensação clara de "this is it" - depois disto acabou. O sentimento geral, acho que posso dizer, era de orgulho e alegria, mas também de tristeza pelo fim desta etapa tão maravilhosa.
Quando finalmente chegou a nossa vez, em fila quase a entrar no palco, um amigo olhou para trás, para onde eu estava, e disse "I'll see you on the other side". E assim foi. Deixei de ver o resto das pessoas, deixei de perceber onde estava. Ouvi o meu nome ser chamado - com uma pronuncia bastante aceitável! - entrei no palco e com um sorriso meio aparvalhado apertei a mão do Vice-Chancellor, homem que apertou milhares de mãos em 3 ou 4 dias. E ainda assim, as suas felicitações pareceram-me sinceras.
Nessa noite todos ríamos. Eu sentia-me numa bolha. O momento era tão esmagador para mim: o regresso a Cardiff, a graduation, o fim do estágio em Glasgow, a ida para Macau.
Como tinha que apanhar um autocarro tardio, fui ficando. Disse adeus a todos os meus amigos, um por um. No fim, só me apetecia chorar. Aquelas pessoas, dos 4 cantos do mundo, foram afinal a minha família nos últimos dois anos. Vivi com eles tudo: o stress das aulas, as crises de identidade, o choque cultural, a busca de casa, as compras do supermercado, os desgostos de amor, as bebedeiras, as ressacas, as jantaradas, os filmes, os BBQs no parque, os dias de chuva, as mudanças de casa, as buscas de emprego, os part-times e a total ausência de dinheiro. Vi-os no seu melhor e no seu pior. Aprendi a dizer frases nas suas línguas e eles aprenderam na minha.
Não sei quando os vou voltar a ver. Se calhar nunca.


Esse autocarro levava-me a Bristol, de onde parti para Glasgow. De directa e pronta para outra aventura, aterrei no mundo dos street papers.
Demorei algum tempo a ajustar o coração, mas quando finalmente olhei em volta e me deixei contagiar pelo espírito da conferência, percebi que aquele estava a ser sem dúvida a experiência profissional mais significativa da minha breve carreira. Um evento que é muito mais do que trabalho, é também um exemplo e uma inspiração a nível pessoal.
No Crown Plaza hotel reuniram-se mais de 80 jornalistas, editores e não só, vindos de 20 países diferentes. Cada um com o seu projecto mas todos unidos por um objectivo: fazer bom jornalismo e ajudar os sem-abrigo. A sinceridade e o empenho daquelas pessoas que trabalham quase sem dinheiro nenhum foi das coisas mais bonitas que já presenciei. Os workshops foram vibrantes, a troca de ideias surpreendente e o espírito de entreajuda comovedor. Curiosamente, o único cínico era mesmo o português, um homem embirrante e amargo que não mais fez que ridicularizar os colegas. Felizmente estava lá eu para dar boa imagem ao país!
Em Portugal o jornal de rua, a Cais, não é muito proeminente. Mas noutros países, os jornais de rua são verdadeiras forças de mudança. Uns são apenas uma folha de papel a preto e branco, outros são revistas que apetece comer, com paper brilhante e fotografias de fazer inveja. Uns são muito activistas, outros generalistas. Desde março que troco emails diariamente com os jornalistas destas publicações. Até à conferência eles eram apenas emails, arroba qualquer coisa ponto com. Mas desde quarta-feira que passaram a ser caras, abraços e "obrigadas". Todos sabiam da minha viagem para Macau (afinal, são jornalistas!), todos me desejaram felicidades, todos agradeceram o nosso esforço, enquanto rede, para os ajudar. A minha vontade era responder que quem devia agradecer era eu, que sou hoje uma jornalista infinitamente maior e melhor, graças ao seu exemplo.
A conferência é a recompensa por tudo o que fazemos ao longo do ano. É quando vemos que aqueles jornais são pessoas. Pessoas que ajudam pessoas. Este ano tivémos o prazer de receber uma vendedora de um jornal canadiano - uma verdadeira inspiração.
Muitas coisas aconteceram durante a confêrencia. Tivémos painéis de discussão com verdadeiras celebridades do ramo, jornalistas da Reuters, o impressionante repórter especializado em direitos humanos Billy Briggs e o lendário fotógrafo americano David Burnett, por exemplo. Burnett e o seu colectivo Photographers for Hope, organizaram um workshop com os vendores do jornal de rua britânico, Big Issue. Este workshop resultou numa exposição de fotografia absolutamente maravilhosa, onde tivemos a oportunidade de conhecer os novos "fotografos". O Daniel, o Malky e a Joan brilhavam, orgulhosos de ver as suas fotos no edifício da BBC Scotland e contentes por serem o centro das atenções.
A conferência culminou na entrega de prémios. Uma cerimónia com pompa e circunstância onde premiámos a melhor reportagem, entrevista, capa, design e vendor essay. Para mim foi melhor que os Oscares. No fim, tivémos direito a uma sessão de dança tradicional escocesa, o Ceilidh. Como escoceses haviam poucos, foi algo a roçar o hilariante. Pela parte que me toca, deixei de perceber onde tinha os pés ao terceiro rodopio.
O novo estagiário, que começou uma semana antes da conferência, está agora integradíssimo. Não há realmente melhor forma de começar.

Nem de acabar.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Deve ser dos meus olhos azuis

Hoje a cabeleireira disse-me que eu era parecida com a Zooey Deschanel.
E foi assim que fiz uma franja direita.

A isto eu chamo profissionalismo.

Completamente agarrada

Até sonho com isto. Compete taco a taco com a minha série preferida Sete Palmos de Terra.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Promessas

O agridoce da vida é que quando vamos à procura de experiências e pessoas que nos enriqueçam, encontramo-las, mas depois temos que lhes dizer adeus. É tão inevitável como as promessas que faremos na altura do último abraço.

Para aprender a ter os olhos abertos

Da última vez que estive em Cardiff, em Abril, fiquei surpreendida com a quantidade de pessoas que encontrei ao acaso na rua. É que naqueles dias não estava lá quase ninguém meu amigo - mas afinal conheço mais pessoas do que pensava.
Arrastada por uma das minhas antigas companheiras de casa, fui para uma praça ver o casamento real no ecrã gigante. Lá encontrei uns quantos alunos do mestrado deste ano a filmar. Um deles, meu amigo, trouxe a câmara para ao pé de mim e aí ficámos na conversa, comentando o que se passava na TV.
De um lado a minha amiga suspirava de forma embevecida - ela adora casamentos - do outro ele suspirava também, mas com uma certa tristeza. "Mas o que é que tens?", perguntei-lhe. "Sabes, há uns tempos comecei a namorar com uma rapariga do mestrado. Ela acabou comigo esta semana. Era só o que me faltava ter que levar com o casamento dos outros!". Pus-lhe a mão no ombro e tentei confortá-lo: "Deixa lá, seja como for o Príncipe William está a ficar careca".
O meu amigo, apesar de ter apenas 29 anos, só consegue acumular cabelo em duas pequenas zonas por cima das orelhas. Mas essa é uma daquelas coisas que, à força da convivência, deixei de reparar.
Só quando a frase me saíu pla boca e vi a cara dele é que percebi o que tinha acabado de dizer. No seu ar de espanto lia-se: não me basta ter levado com os pés, ainda tenho que aturar ofensas.
Realmente, de boas intenções está o inferno cheio.

domingo, 10 de julho de 2011

Hoje comprei o News of the World pela primeira vez - e última

The final edition is downright odd. If I were editor, I'd have scrawled nobs all over the front and plastered a cut-out-and-keep effigy of Brooks across the centre pages. Instead, the front page mumbles THANK YOU AND GOODBYE over a collage of previous headlines.

Inside is an account of the paper's history so rose-tinted you can smell the petals, focusing on its scoops and ignoring ghastly low points like the 1988 story about the actor David Scarboro (who played EastEnders' Mark Fowler before Todd Carty), in which it printed images of the psychiatric unit where he was receiving treatment. He later killed himself.

In 2009 a NoW editorial attacked this paper's phone-hacking coverage as "inaccurate, selective and purposely misleading". "NO INQUIRIES, NO CHARGES, NO EVIDENCE" it thundered. "Like the rest of the media, we have made mistakes . . . When we have done so, we have admitted to them."

Yet today, apart from a brief mention about the paper "losing its way" on page three, the closest the final edition gets to addressing the scale of the scandal comes in Carole Malone's column: a page that has previously functioned as a rectangular bin full of tutting, spite and rabble-rousing lies about illegal immigrants being given "free cars". This week she bemoans the paper's demise, but also says the relatives of murder victims have been "blighted by the actions of this newspaper", describes the hacking as "indefensible", and says she's "sorry for the sins of people who've hurt you and who shame us all".

Deus está em todo o lado

Tenho uma criatura que cita a Bíblia no Facebook. Ninguém merece.

sábado, 9 de julho de 2011

O que odeio em mim própria

Está um dia radiante. Um sol esplenderoso - e raro. Eu penso "apetece-me ir para o parque deitar-me ao sol a ler". E depois "não posso porque tenho que arrumar e empacotar toda a minha tralha". Então lá começo, devagarinho, a virar o quarto do avesso. Depois decido parar para almoçar, enquanto vejo uma série no pc. Depois faço um café. Depois penso que me apetecia ver outro episódio e logo a seguir digo a mim mesma que se era para procastinar ia para o parque. Depois decido que vou tomar banho. Depois penso que ainda tenho amanhã para fazer as malas e deve dar tempo. Então penso que podia ir ao parque. Mas lembro-me que combinei skypar às 5. E às 6.30 tenho que sair para o trabalho. E então já não vale a pena ir ao parque porque ia estar sempre a olhar para o relógio.
Portanto, nem fiz as malas, nem aproveitei o sol.
E isto é apenas uma metáfora para toda a minha existência.

O que os homens querem?? A sério??

Quando leio estas coisas só me apetece desistir.


Se eu quiser ler sobre o que os homens querem a) pergunto-lhes b) leio no cabeleireiro.

A coisa certa

Às vezes saio fora de mim e quero voltar para casa. Quero casar e ter um bebé, levá-lo a ver os meus pais ao fim-de-semana. Quero dizer bom dia, todos os dias, ao senhor do café.
Em raros momentos reflexão, penso em mim como uma pessoa cheia de calma e rotinas. Penso na minha casa algures no centro de Lisboa e como andarei sempre de metro. Penso que se for menino será Francisco, se for menina não sei. Penso que terei uma mesa comprida na sala para caber muita gente. Penso no meu trabalho das 9 às 5 e em passeios familiares ao domingo no jardim da estrela ou em Belém. Férias no Algarve, compras semanais no Pingo Doce.
Às vezes imagino a vida com esse ritmo certo. Mais ou menos racional. Cronológico. Talvez uma vez por ano férias no estrangeiro. Ou se a crise apertar muito um fim-de-semana no Alentejo. Os miúdos podem ficar com os meus pais, ou com os dele - sim, porque passado uns anos virá o segundo filho, uma menina cujo o nome, por essa altura, já saberei.
E eu vou fazer lanchinhos para levar para a escola e vou estar sempre cansada mas feliz.
Às vezes penso nestas coisas. Que são sempre a vida dos outros. Mesmo quando penso sobre mim, é a vida dos outros. E no entanto, por segundos, sinto um apelo por essa reconfortante ordem das coisas, repetida há séculos, há milénios, pela humanidade. Deve ser bom sentir que se está a fazer a coisa certa.

Mudar

Mudar é bom. Mudar a posição dos móveis da casa. Mudar de ares, mudar de emprego. Mudar atira as pessoas para fora da sua zona de conforto. Obriga-as a reagir, obriga-as a pensar, obriga-as a confrontar inseguranças.
Mudar torna-nos mais capazes, mais resistentes, mais espertos, mais engenhosos.
Mudar abre-nos os horizontes - como sabemos que não gostamos se nunca experimentámos?
Mudar ajuda-nos a compreender.
Sempre que mudo tenho esperança. A uma escala maior ou menor, mudar dá-nos a sensação de começar de novo, de ter uma nova oportunidade para acertar.
Mudar traz também culpa. Aquilo que deixamos para trás pesa, gera remorso. A opinião dos outros, o julgamento alheio, o medo de falhar. O eterno "será que fiz a coisa certa?". Tudo se acumula.
Mas no fim, eu acredito, mudar compensa sempre.

Esquisofrenia

Acabei de descobrir que existe a Juventude Operária Católica. Resultado? Um piquenique contra a precariedade.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Why films either 'suck' or they're 'cool'

Este artigo de opinião acerta na mouche. Hoje em dia, é-se um herege por não gostar de determinados filmes e um pacóvio por gostar de outros. A snobice cinematográfica impera.

Eu acho que sim, um filme pode ser bom e mau ao mesmo tempo. Um artigo que pode interessar especialmente à Tracey, à Silly e ao Francisco.

"I doubt," wrote Kenneth Tynan some 55 years ago, "if I could love anyone who did not wish to see Look Back in Anger." Most of us will have experienced that pang of disappointment when someone we care about dismisses our film fétiche as drivel, or declares a piece of dross we've always despised to be their sainted talisman. There was a time when we filed this sort of misalignment away under "difference of opinion", but these days we seem to be increasingly intolerant of views diverging from our own.

Link

I've probably learned more about film-making from incompetent, badly written rom-coms than from any amount of perfectly constructed masterpieces. I've glimpsed extraordinary visions in otherwise awful films (one of my all-time favourite scenes is the upside-down severed head used as a slide projector in Wild Wild West), and cringe-making missteps in otherwise wonderful movies.

It's as though holding a viewpoint is no longer enough – a film's detractors need to pour scorn on its admirers and belittle their taste and intelligence as well. Winning the argument is no longer enough: the opposition must be annihilated!

A classe média da blogosfera

A sério, eu não quero ser daquelas pessoas que reclamam da boa vida dos outros. Ainda bem que o trabalho compensa (para alguns) e gosto de ver fotos de sítios bonitos e roupas bonitas e tudo mais.

Mas chego a conclusão que a blogosfera está cheia de gente que se queixa de não ter dinheiro dia sim, dia não, de ter muito que fazer, dia sim, dia não, mas que vai de férias mais ou menos de dois em dois meses e compra coisas caras ou recebe presentes caros todos os meses.

Como li no outro dia na Lady oh my Dog, às vezes penso “será que tenho dinheiro suficiente para fazer parte da blogosfera?”

Se esta é a luta da classe média, que com casa para pagar e filhos para alimentar consegue ter um nível de vida muito acima do meu (que sou solteira e alugo casa), entao acho que Portugal não tem nada com que se preocupar.

Alguém devia dizer a estas pessoas que das duas uma: ou páram de se queixar, ou páram de consumir. As duas coisas é que não fazem lá muito sentido.

E se calhar alguém lhes devia dizer que não são lá muito classe média. Não há grande vergonha nisso.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Lixo

Eu não tenho especial amor a agências de rating - muito pelo contrário, mas isso seria outra discussão. Agora... estas demonstrações de ofensa nacional com a história do "lixo", com pessoas a mandar mails para a Moody, a criar páginas de protesto e a enviar sacos com lixo para os escritórios em Londres parece-me um bocado parola.
Vamos lá ver, o que foi considerado lixo - e admito que a expressão não é das melhores - não foi Portugal, foi a dívida. E sinceramente, muito mal estamos se não conseguimos ver a diferença.

News of the World (até parece nome de publicação decente... mas não é)

O Reino Unido está ao rubro com o caso News of the World. O maior escândalo de sempre - pelo menos no mundo dos media.
E eu que ando a seguir acoisa tipo novela, não consigo deixar de pensar que assisti a uma masterclass em jornalismo investigativo com o homem que descobriu e denunciou tudo, o jornalista do Guardian Nick Davies.

Mais uma colherada

Eu acho que os jornais devem ser como Deus e estar em todo o lado. Online clássico, em vídeo, podcast, formato interactivo, em fotografia, nas redes sociais, nos iphones e nos ipads. E no papel também e sempre. Em jornal, suplemento, revista, agenda. Talvez a circulação diminua mas se o número de leitores se manter ou aumentar, não há problema. Porque cada público é um público, e se se oferecer conteúdos para todos os nichos, não sei como pode falhar.
Para tudo isto, claro, são preciso jornalistas. Sim, esse pessoal por aí todo no desemprego.
Apetece-me escrever sobre a esperança, sobre a mudança, sobre a contagem decrescente que têm sido estes últimos tempos. Um horizonte de metas mal definidas.
Apetece-me escrever sobre a ironia e o conflito interior, sobre as várias vidas e os vários tus que imagino na minha cabeça. Apetece-me escrever sobre o quanto me aflige estar à beira dos 25 e nada ser como eu pensei que seria aos 22 - e como aquilo que eu mais gostava, a minha prioridade, o meu talismã da sorte, o meu conforto ao fim do dia, é exactamente aquilo de que abri mão. O tempo passa depressa e a vida não segue a ordem mais racional. Só, ao que parece, aos outros.
Apetece-me escrever sobre tudo isto. Mas hoje estou num dia em que paira uma espécie de culpa cristã - e acho que escrever faz de mim herege.

Indeed

Graduation – notas antecipadas

Terminar um curso em Portugal não é um “big deal”. Há alguma festarola, sim, mas não há muita pompa. Que eu saiba, os pais não oferecem aos filhos o relógio antigo que pertenceu ao avô e já ninguem sente que aquele é um Marco com M maiúsculo.

Mas no Reino Unido terminar um curso é uma coisa à séria. Há bailes como deve de ser e os pais levam os filhos a jantar fora num restaurante caro. Há prendas, lágrimas, abraços. Há roupa xpto, há música e discursos do reitor.

E eu que sou tão dada à tradição académica como à música electrónica, estou em pulgas para vestir o “gown”, ouvir o discurso, subir ao palco e receber o diploma. Porque, caraças, foi um ano daqueles. Foi O ano. E por todo o meu esforço, intelectual, financeiro, emocional, damn it, mereço um diploma.