Eu não gosto da Bárbara Reis - é preciso começar por o dizer. Quando estive no Público achei-a uma pessoa extremamente desagradável, antipática, arrogante. O que foi um choque para mim pois sempre fui fã do P2 - secção que ela editava - e adorava ler as crónicas dela. Mais tarde, quando ela assumiu a direcção do jornal achei aquele primeiro editorial um escândalo. Não gostei de muitas das suas opções e parece-me claro que conseguiu alienar muitos excelentes profissionais que lá trabalham/ trabalhavam.
E no entanto...
Hás coisas que me intrigam. Ando a ouvir o Pessoal e Transmissível (TSF, Carlos Vaz Marques, provavelmente o melhor jornalista radiofónico português) e encontrei uma entrevista com a Bárbara na altura em que assumiu a direcção do Público. A entrevista é de Novembro de 2009. Fui ouvir, claro, curiosa. E esta pessoa, que simpaticamente foi respondendo às perguntas sobre o presente o passado, deixou-me encantada.
Volto a dizer, eu não gosto mesmo da Bárbara Reis. Acho-a prepotente. Mas nesta entrevista - e aos jornalistas que me lêem, aconselho vivamente - ela é aquilo que eu gostava de ser: interessante, conhecedora, apaixonada pelo que faz, cativante. Conta histórias de dar inveja. Conta de uma carreira à qual tiro o chapéu. Da Somália, a Timor, passando por Nova Iorque e pelas Nações Unidas.
Eu confusa ouvia pela segunda vez esta história, que nos dias de hoje parece retirada de contos de fadas (salvo seja): Aos 21 ou 22 anos (não se recorda ao certo) enfureceu-se ao ver que todos os dias o jornal publicava uma breve sobre as crianças que diariamente morriam à fome na Somália. Irritada - quantas vezes não partilhei desta opinião ao ler os jornais - disse "ou não noticiamos isto de todo, ou fazemos algo de jeito!". O director da altura ia a passar e ouviu a conversa. Disse-lhe "tens toda a razão. Vai para a Somália!". E ela foi, durante um mês.
Aos 25 anos foi convidada para ser sub-editora da secção onde trabalhava. Recusou porque queria sair do país - só não sabia bem como. Uns tempos depois convidaram-na para ser correspondente do Público em Nova Iorque. "Claro, vou amanhã, se for preciso”. “Não queres pensar primeiro, perguntar ao teu pai, ao teu namorado?”, “Não preciso de perguntar a ninguém, quero é ir!”. E foi. Cinco anos.
Mais tarde acabou por trabalhar no departamento de comunicação das Nações Unidas - e nesta entrevista fala dessa coisa de "estar do outro lado", da qual não gostou especialmente. Fala de Timor. Fala do que foi reportar sobre Timor.
E fala sobre o Público, dos seus projectos, das suas obcessões. Fala - música para os meus ouvidos - de captar nichos, de saber para quem se escreve, e de parvoeira que é essa coisa do escrever tudo muito curtinho porque as pessoas "cansam-se". Porque se eu quiser apenas saber o que está a acontecer, eu leio na internet. Se eu quiser saber mais sobre seja o que for, compro o jornal/ revista.
Há quase dois anos que não moro em Portugal. Deixei de ler o Público, espreito - cá está - o online diariamente. Mas quando vou a Portugal acho-o cada vez mais magro e mais simplista. E culpo sempre a Bárbara Reis (e a crise). Se calhar nem é culpa dela.
3 comentários:
EU TINHA TE DITO que essa entrevista tinha sido mta gira! bahhhhh nao me ligas nenhuma =)
Sabes cada vez mais acho que não devemos fazer juízos de valor das pessoas, porque uma pessoa é um mundo inteiro de coisas e estórias, que nos merecem respeito. Acho é que à luz das nossas vivências não conseguimos fazer a "leitura" das pessoas da melhor forma. Em relação a entrevistas na rádio, como acho que já comentei no teu blogue antes, há qq coisa de diferente. E também, o Carlos Vaz Marques sabe tirar o melhor de cada pessoa como ninguém...
por que razão perder tempo a falar de barbára reis, a sempre indelicada, a sempre prepotente?
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