segunda-feira, 28 de abril de 2008

"Um teste genético para esquecer"?

Em seguimento de uma conversa de café:

"Graças ao Alzheimer's Mirror, um teste genético vendido por 399 dólares [253 euros] e lançado em Março de 2008 pela empresa americana Smart Genetics, pessoas saudáveis podem saber se têm especial propensão para desenvolver a doença de Alzheimer.(...) Certos investigadores manifestam, porém, reservas quanto à comercialização do teste. Anunciar a qualquer um que pode vir a ser atingido por uma doença para a qual não há prevenção nem tratamento, e que conduz invariavelmente à morte, pode ter consequências psicológicas desastrosas. (...)Henry Greely, professor de Direito da Universidade Stanford, na Califórnia, co-presidente de um grupo de trabalho sobre testes genéticos à doença de Alzheimer (...) não considera que haja interesse para essas pessoas em conhecer o seu perfil da APOE*. Allen Roses, da Universidade de Duke, que evidenciou a relação entre a APOE e o Alzheimer, é da mesma opinião. «É inútil, dado que a medicina nada pode contra esta doença», afirma".

*gene que codifica a apolipoproteína E, com papel preponderante na doença de Alzheimer

Jennifer Couzin, original Science, tradução Courrier Internacional



Tinha a ideia que era possível adiar os sintomas da doença, através de tratamento prévio, mas o artigo não menciona nada disso. A única coisa que diz é que para algumas pessoas pode ser benéfico saber, porque podem tomar decisões financeiras ou subscrever um seguro de saúde antecipadamente.
Mas tirando estes pormenores... quereriam saber?

sexta-feira, 25 de abril de 2008

25 de Abril. Sempre?

Ele disse um poema com voz de lágrimas. Os nossos corações pequeninos de o ouvir. Ele não percebe que não queremos ouvir despedidas nem lamentos. Nós gostamos tanto dele que não cabe no peito, queremo-lo feliz. Sorridente, como sempre foi.
Olho para o lado na altura do bichanar sobre como está enfraquecido. Uma pequena folha murcha ao vento. Ele não acredita que a força está mesmo no interior. É verdade, avô, acredita. Somos jovens no coração, mesmo que custe descer as escadas, mesmo que as paisagens já não sejam nítidas.
O poema, de Camilo Castelo Branco, dizia assim:

Amigos, cento e dez, ou talvez mais,
Eu já contei. Vaidades que sentia:
Supus que sobre a Terra não havia
Mais ditoso mortal entre os mortais!

Amigos, cento e dez, tão serviçais,
Tão zelosos das leis da cortesia,
Que já farto de os ver me escapulia
Às suas curvaturas vertebrais.

Um dia adoeci profundamente:
Ceguei. Dos cento e dez houve um somente
Que não desfez os laços quase rotos.

– Que vamos nós – diziam – lá fazer?
Se ele está cego, não nos pode ver!...
– Que cento e nove impávidos marotos.

O que eu lhe quis dizer é que o poeta podia ter amigos desses, mas ele não. E que naquela mesa, com os olhos ou sem, todos vão permanecer. Porque ao contrário do que se costuma dizer, o amor não "demora uma vida para se ganhar, e um minuto a perder", isso são balelas. O amor a sério é coisa que bate e fica. Permanece. E ele não sabe, mas nós não fazemos as festas de anos só para ele. Fazemo-las para nós também, para apurar este sentido de família.
Gostava de lhe dizer que é o elo. Somos todos rezingões à nossa maneira, mas ele é a alma da mesa, das histórias, da vida. É a memória e o presente.
Ele é o nosso 25 de Abril. A nossa democracia familiar.
Ele não pode dizer: "Um dia adoeci profundamente: /Ceguei. Dos cento e dez houve um somente". Porque nós, avô, somos seis.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

E se Alberto João Jardim fosse primeiro-ministro?

A discussão está instalada: quem será o próximo líder do PSD? Tenho seguido o assunto, não com especial entusiasmo porque não sou do PSD, mas tendo em conta que a pessoa escolhida vai estar a concorrer para o governo daqui a um ano. Vão surgindo candidatos (quando cheira a poder saem todos do buraco), uns já oficiais, outros ainda em boato.
Em zapping hoje de manhã passei pela SIC Notícias, onde estava a dar o Opinião Pública (aquele programa em que as pessoas ligam e dão a sua opinião), e vi que a convidada era a Raquel Abecassis, da Renascença, por isso fiquei a ver. A pergunta do dia era "Concorda com a candidatura de Pedro Santana Lopes?", mas naqueles minutos em que fiquei a ouvir, só se falou do Alberto João Jardim. As pessoas diziam que ele é que seria um bom primeiro-ministro, a Raquel Abecassis comentava que se ele se candidatasse (o que não aconteceu oficialmente, apesar da pressão de uma facção do partido) teria grandes hipóteses de ganhar a presidência do partido.

HEIN????
Eu não queria acreditar naquela discussão (em que o Santana Lopes não foi mais que uma desculpa para falar do Jardim). Quer vergonha.
Abri a gaveta da minha secretária e tirei de lá um recorte de jornal com dois anos, amachucado, que guardei para uma altura como esta. Não me venham cá dizer "ah mas a madeira é um espectáculo", "ah mas ele fez obra", "ah, mas toda a gente gosta dele lá". Vão plantar batatas.

«No tom que se lhe conhece há três décadas, Alberto João Jardim está preocupado com a destruição dos "valores da sociedade portuguesa", temendo que se venha a "assistir a casamentos de homossexuais". No ritual do Chão da Lagoa, que justifica o aportuguesar da expressão silly season (estação tola), o madeirense que já se fantasiou de Zulu pareceu querer dizer que o seu arquipélago é um sítio de gente sem "pecado". Ali nunca houve - pelo menos com o conhecimento do Governo Regional - ninguém com a orientação sexual de Oscar Wilde ou Adriana Calcanhoto.»

in Diário de Notícias (Agosto 2006)


«O presidente do Governo Regional da Madeira manifestou-se, domingo à noite, contra a entrada de imigrantes na ilha da madeira. No encerramento das festas "24 horas a bailar", em Santana, Alberto João Jardim, criticou a entrada em Portugal de imigrantes chineses, indianos e dos países da Europa de Leste. "Portugal já está sujeito à concorrência de países fora da Europa, os chineses estão a entrar por aí dentro, os indianos a entrar por aí dentro e os países de leste a fazer concorrência a Portugal... Está-me a fazer sinal aí porque? Que estão chineses aí? É mesmo bom que eles vejam porque não os quero aqui", disse o presidente do Governo Regional da Madeira.»

in TSF (Julho 2005)


Faço minhas as palavras de Miguel Sousa Tavares na última crónica no Expresso:
«Eu faço parte de um grupo, só aparentemente minoritário, dos que não acham o dr. Alberto João Jardim "engraçadíssimo". Não lhe acho mesmo piada nenhuma. Portugal já não é, felizmente, aquela tristíssima gente que vimos nas reportagens televisivas desta semana à espera da comitiva dos drs. Cavaco e Jardim. Aquilo é o Portugal no seu pior - inculto, ignaro, subserviente perante o poder, mendicante, reverente, alimentando a 'sopas de cavalo cansado' e vendendo o voto por um chafariz.»

Não é que ache que as pessoas na Madeira são incultas, nem acho que era isso que MST quis dizer. É que me irrita aquela coisa de "a Madeira é tão desenvolvida", quando me parece que a democracia lá não tem valor, e AJJ quer é manter o seu "povo simples e humilde", estilo "pobrezinhos mas lavadinhos". E isso para mim, é Portugal no seu pior.

Já imaginaram o que seria ter esta pessoa como chefe do governo? Imaginam a posição dele sobre qualquer coisa que não seja obras públicas? E política social? E cultura? E política externa (oh jesus que vergonha seria numa cimeira, num reunião da comissão europeia...)?
E a liberdade de expressão? Recordo que o único jornal do país que é estatizado é o da Madeira, onde os jornalistas piam baixinho quando se trata de política.

Não acredito que cheguemos a este ponto (mas também não achei que o Salazar fosse eleito como o maior português), mas aviso já, se o Alberto João Jardim chegar a primeiro-ministro, eu emigro.


(P.S. Não sei porque é que a formatação do texto muda. Sim, é bastante irritante).

domingo, 20 de abril de 2008

Sugestão:

Quem devia mesmo ser convidado a moderar um debate sobre o acordo ortográfico era o Joe Berardo.

...

Não?

A psicologia do Lobo

Eles dizem sempre "um jogo?", com o sobrolho franzido e cara de enjoo. "Sim, mas é muito giro". E é vê-los arrastados para a mesa, palma da mão estendida no tampo, contrariados. Há terceira jogada a expressão facial começa a mudar, as intervenções saem mais exclamadas, começam a apontar o dedo aos adversários.
O jogo do Lobo é um exercício psicológico. Faz-nos discutir com pessoas conhecidas cinco minutos antes. Acusamo-las de morte, sim. Dizemos que são mentirosas, manipuladoras, lêmos-lhes os movimentos e os olhares. Mentimos também. Somos detectives e fugitivos. Ninguém sabe quem é quem.
E as pessoas revelam-se, a sério. Enrolam-se de vergonha, gritam ofendidas, calam-se de medo. As gargalhadas rolam quase até às lágrimas.

E por isso, não posso deixar de registar as três frases da noite de ontem:

«É o Luís! Quando escolheram o lobo ele fez 'Mmmmmmmmm', eu ouvi!!» Pedro, amigo da Fátima


«Eu não posso ser o lobo, acabei agora de ser mãe!» Marina


«Ok, eu confesso, o lobo sou eu» Margarida

quarta-feira, 16 de abril de 2008

"Isso não serve para nada!"

O curso "não serve para nada". O Erasmus "não serve para nada". O Mestrado "não serve para nada". Estudar "não serve para nada". Pensar "não serve para nada". "Fazer reportagens para quê? Isso só dá é trabalho".
Conversa puxa conversa, entre uma e outra garfada de massa. "Enriquecimento pessoal" é tanga.
Mastigo a pastilha mais depressa porque a conversa me irrita e não o quero demonstrar. "Isto pode parecer arrogante mas é verdade: Estão todos no desemprego agora e eu tenho trabalho". Sim, parece arrogante. Parece conversa de quem se orgulha da sua mediocridade. Estilo esperteza saloia. Em três segundos eu penso em dezenas de pessoas que não seriam quem são a pensar assim. "Isso depende dos teus objectivos" disse eu a tentar chegar a algum lado. Por detrás desta frase escondem-se tentativas de "se queres fazer mais que editar agências e escrever aquele bê-á-bá do dia-a-dia sem nada de novo trazer, sem uma nesga de sentido crítico, de criatividade, de aprofundamento, de raciocínio, então talvez tenhas que ser mais exigente que isso com a tua cabeça".
Porque quando me dizem "bem, foi o que deu para arranjar", eu compreendo. Aliás, eu solidarizo-me a 100%. Mas quando me dizem: acomoda-te e faz lá a tua vidinha que isso de querer ser bom é para os parvos. Aí, tenho vontade de sair pela porta e nunca mais voltar.

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Frase do Dia

"Segunda-feira é dia de douradinhos"


Após um período de reflexão não resisti em perguntar o que significava a frase, já que estava a ser tão repetida e eu tinha a certeza que não se referia ao almoço. Quer dizer que à segunda há sempre uma publicidade muito grande aos douradinhos na página de entretenimento.
Certo.

A Amnistia Internacional também dá boas notícias!

Para que não se diga que instituições como a Amnistia Internacional não conseguem obter resultados favoráveis, aqui fica uma boa notícia:

«Indultada de morir lapidada

Mokarrameh Ebrahimi ha sido absuelta de la condena a morir lapidada por un delito de adulterio, por el que ha pasado once años en la cárcel y ya está en libertad. La campaña contra las lapidaciones en Irán está consiguiendo algunos éxitos como éste. Los activistas en Irán sienten que la presión internacional está surtiendo efecto.»

Para ler mais "buenas noticias":
http://www.es.amnesty.org/boletindenoticias/buenas-noticias.html

Alberto João Jardim - take 4357

O Alberto João lá fez mais uma das suas. Eu não consigo deixar de me chocar, mesmo assim:

«Cavaco Silva desloca-se esta semana à Madeira naquela que é a sua primeira visita oficial àquela Região Autónoma. Até ao próximo sábado, o Presidente da República repartirá a sua agenda por todos os concelhos da Madeira. Entre os muitos actos oficiais a cumprir pelo Chefe de Estado está previsto um jantar no Parlamento madeirense. Porém, não haverá qualquer sessão solene, uma decisão que os partidos da Oposição na Região Autónoma dizem coarctar a possibilidade de expressar, em tribuna parlamentar, os seus pontos de vista face à situação política.
Já Alberto João Jardim prefere fazer uso da ironia para aplaudir a decisão de excluir a sessão solene da agenda de Cavaco. Referindo-se à Oposição, o presidente do Governo Regional considerou que a cerimónia no Parlamento daria uma imagem negativa da Madeira, ao “mostrar o bando de loucos que está dentro da Assembleia Legislativa”.
“Eu acho bem que não haja sessão solene. Acho que o bando de loucos que está dentro da Assembleia Legislativa seria uma péssima imagem da Madeira”, afirmava no sábado o chefe do Executivo madeirense. “Acho que isso daria uma imagem péssima da Madeira e teria repercussões negativas no turismo e na própria qualidade do ambiente”, prosseguiu. Depois de aludir a deputados da Oposição com termos como “o fascista do PND, o padre Edgar (PCP)” e “aqueles tipos do PS”, Jardim rematou: “Eu cá não apresento aquela gente a ninguém”.»

Carlos Santos Neves, in RTP

Prejudicar a qualidade do ambiente??? LOL

E acrescentando:

«Coito Pita, presidente da bancada parlamentar social-democrata, deixa críticas aos partidos da oposição. O PSD refuta ainda as acusações de défice de democrático na Madeira. Coito Pita diz que pelo contrário, na Madeira até há democracia a mais.»

Ora uma pessoa que se chama Coito Pita não tem qualquer credibilidade...

Bem... no comments. Faço minhas as palavras da oposição, nomeadamente do PS-Madeira que pede ao governo que aperte com o Jardim, porque em mais lado nenhum tal coisa era permitida. Não consegui encontrar em texto, mas ouvi hoje de manhã no RCP, era qualquer coisa assim: "Imaginam o que seria o primeiro-ministro começar a ofender os membros da assembleia? Tal nunca seria admitido". E é verdade. Eu cá voto que o Alberto João sabe os podres todos do pessoal e por isso tem as costas quentes. Se a explicação não for essa... então não entendo...

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Parabéns Carol & Cedric !

Para a mais linda história de amor:

A Colherzinha

Era uma vez um amor de talher
Bem arrumadinho num gavetão
Uma colherzinha pequena de prata
E um garfo lindo antigo de latão

Só de longe é que se olhavam
Nunca, nunca se encontravam
Só desarrumados
É que eles se tocavam

Assim foi, durante muito tempo
Até que o garfinho tão velho ficou
Que o deitaram fora
Ninguém se ralou
E a história triste quase chorou...

Era uma vez um amor de talher
Mal arrumadinho num gavetão
Só que a linda colherzinha
Que era esperta e pequenina
Tinha-se escondido escondidinha
Atrás dele...
E finalmente longe de toda a gente...
A sós
O beijou.

Jorge Palma


Lá estarei debaixo da Torre Eiffel para brindar ao vossos "felizes para sempre"

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Dicas para não deixar morrer o entusiasmo

Por indicação da Helga encontrei um blog muito engraçado, chamado "Diário de uma jornalista no desemprego". Digo "engraçado" porque ela conta nos últimos posts que recentemente encontrou emprego como jornalista (não revela o local), com um bom ordenado e numa publicação (não sei se é jornal ou revista) de que gosta muito. São boas notícias, mesmo tratando-se de uma estranha.
Pelo que percebi ela esteve cerca de um ano "de mãos a abanar", e agora que se despede do blog, deixou umas dicas para não perder o entusiasmo, que achei muita piada:

"10 pequenas coisas que fizeram a diferença:

De modo a nunca "deixar cair por terra" a minha vontade de ser jornalista, quando não estava a fazer mesmo nada no jornalismo (e num período de grande desânimo), tomei 10 pequenas atitudes que me prenderam a vontade de não desistir:
1 - Substitui a RFM pela TSF no rádio do carro;
2 - Actualizei a minha agenda de contactos;
3 - Enviei curriculos todos os dias;
4 - Nunca deixei de ler jornais diários;
5 - Apontei ideias para futuros trabalhos;
6 - Investi em material profissional (gravador, máquina fotográfica digital, etc..);
7 - Pedi o dístico de Imprensa ao ICS para colocar no meu carro;
8 - Tornei-me sócia do Clube de Jornalistas;
9 - Inscrevi-me no Cenjor; 10- Criei este blog.
10 Pequenas coisas que, hoje, reconheço que fizeram toda a diferença."

Achei mesmo piada ao dístico para pôr no carro, nem sabia que isso era possível não estando a exercer!!

quarta-feira, 9 de abril de 2008

«And in this crazy life, and through these crazy times
It's you, it's you
You make me sing
You're every line, you're every word, you're everything»

Peixe fora de água

Abre a boca, fecha a boca. Onde está o ar? "O peixe fresco tem as guelras bem vermelhas de sangue e os olhos brilhantes", explicou-me a minha mãe.
Tic-tic-tac-tac, risadas desconhecidas. Posters da Ana Malhoa e conversas do Micael Carreira. "Não sei, não conheço". Faço listas para me entreter. A Câmara de Lisboa está mesmo individada, chiça!
Sou um peixe fora de água neste aquário. Leio revistas às escondidas e mando mensagens debaixo da mesa. Toda a gente parece saber o que está a fazer menos eu. O que é que estou a fazer?
"Inês, finalmente chegou!". Abraços e beijinhos complicados (eu dou dois, não me dê só um!). Não sei de ninguém que saiba o que eu devo fazer. Sei do comboio e do autocarro mas não sei de nada depois de passar a porta. Sinto-me fora. Vejo os e-mails repetidamente, o refresh é meu amigo.
Sou inútil no meio desta máquina oleada, sou uma peça enferrujada. Carrego nas teclas para me fingir ocupada, que ninguém olhe para mim. Que ninguém dê por mim, quero ser invisível, caladinha. "Nunca dizes nada rapariga, fala!". Sorrisos amigáveis para dar e vender, tenho-os à beira dos lábios.
Devia começar a fumar, para poder ir lá fora "fumar um cigarro" e dizer "então esse fim-de-semana?"

terça-feira, 8 de abril de 2008

Hoje é o Dia Internacional dos Ciganos

Aqui fica um excerto de uma excelente peça da Bárbara Wong:

"Está sentada no chão, junto à carroça, toda vestida de negro - o lenço que traz à cabeça (porque é viúva) já tem alguns buracos, assim como a saia comprida -, os pés descalços e muito sujos de terra. Cláudia da Conceição Silva tem 50 anos, mas o rosto curtido pelo sol, pelas ralações e pelas noites passadas ao relento parece carregar muitos mais. Cláudia é a matriarca da família Ganhão, tem oito filhos e muitos netos. São portugueses de etnia cigana e são nómadas.
Em Portugal, existem cerca de 4200 ciganos itinerantes, que pernoitam por poucos dias num sítio, levantam o acampamento e seguem caminho. Não têm morada fixa, por isso, não têm trabalho, nem põem os filhos na escola. A pobreza, no caso da família de Cláudia Silva, é extrema, sobrevivem da caridade e da esmola que ela vai pedindo. Como não tem os miúdos na escola, não está em condições de aceder ao Rendimento Social de Inserção (RSI). Ninguém sabe ler. Como está sempre a caminho, não pode trabalhar. "A fazer o quê? Se ninguém lê?", pergunta. Como não pára no mesmo lugar não pode candidatar-se a nenhuma habitação social, lamenta. "Todos os dias peço a Deus uma casinha", confessa.
As inúmeras mantas estão todas dobradas, já em cima da carroça de madeira com pneus de um automóvel. Está quase tudo pronto para abandonar aquela beira de estrada, em Porto Alto, no Ribatejo. A GNR já lhes fez uma visita e advertiu-os a sair, conta o filho José Manuel, de 19 anos, que tem uma perna ligada com um trapo sujo de sangue. Cortou-se com uma foice quando apanhava erva para as mulas que puxam as carroças. Precisava de levar uns pontos, mas não há dinheiro para isso.
Pelo campo, andam os filhos e os netos da matriarca, todos mais ou menos das mesmas idades. Têm os rostos, as mãos e os pés sujos, mas não cheiram mal, orgulha-se Cláudia Silva. Embora lamente ser difícil conseguir água para beber, cozinhar e para os banhos tomados num alguidar. "Somos pobres, mas com a graça de Deus gosto de asseio e de limpeza", diz, ao mesmo tempo que adverte a filha mais nova, de sete anos, que pega num tacho e tira água de uma enorme leiteira de alumínio para beber: "Cuidado, Marcelina, que a água ainda é longe..."Todos os dias Cláudia Silva pede a Deus uma casinha em Évora, porque foi lá que viveu toda a vida, numa casa de madeira, até há quatro anos, quando a câmara derrubou tudo, conta.
Agora, sempre que a família regressa a Évora, a GNR expulsa-a. O que acontece em qualquer lado onde estão muito tempo. "Os guardas não nos deixam estar em lado nenhum, eles vêm numa carrinha grande, são mais de 20, pegam em coisas e batem-nos. Cortam-nos os panos [as lonas com que montam o acampamento], já me ficaram com uma das carroças", lamenta.
Antes, a família fazia trabalho sazonal, na agricultura. Agora já não o faz, a culpa é das máquinas que apanham o tomate e a azeitona. "Já ninguém precisa de pessoal", conclui. "

Bárbara Wong, in Público

segunda-feira, 7 de abril de 2008

DestaKKKK (maldito kapa)

Pois é caros amigos, cá estou sentada em cadeira alheia, nesta imensa redacção que é o jornal Destak (para os que estão fora do assunto, "imensa" era ironia).
Disseram-me para chegar às 10h, cheguei dez minutos depois a achar que estava atrasada e afinal parece que o pessoal só começa a dar o ar da sua graça lá para as 10:30/ 11h. Deve haver aqui uma regra estranha sobre dizer sempre as horas erradas, porque já ontem saíamos "lá para as oito" e foi mais "lá para as dez".
Mas vá, vou parar de me queixar. Hoje é só o segundo dia de manhã e os domingos, pelo que percebi, são atípicos. Hoje vou conhecer a minha editora, que só vi durante a entrevista e aliás, só quando me estava a vir embora é que percebi que ela não era outra candidata ao lugar mas sim a minha futura chefe. Portanto já vêem que que é novinha. Estou desconfiada que a minha secção é composta, basicamente, por mim e por ela. E passo a anunciar qual é! Poderão ler-me diariamente nessa vasta secção de uma página, intitulada "Grande Lisboa". Ou seja, se houver aí o maior acontecimento do ano em Portugal, não posso falar sobre ele a não ser que seja em Lisboa. Isso é para o pessoal de "Actualidade". Ficarei, então, uma croma de assuntos autárquicos lisboetas. Qualquer dia trato o António Costa por "man".
Entretanto chegou aqui um senhor engravatado que olhou para mim "Você é a pessoa nova, não é? Ainda não tem lugar, não é? Pois..." e foi-se embora.
Amanhã darei a minha opinião oficial sobre o Destak, já que ontem só fui capaz de responder: "Foi uma seca". Prometo que serei mais eloquente.
Agora vou ler o Público antes que chegue mais gente (oh não, oiço passos!). Aqui o café não é de graça. Bah!

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Uma inocente inclinação para o mal

amanhã serei
jornais antigos
doente de amor
fabriquei um romance

amanhã morrerei
em voz baixa
pequena de destino
no banco traseiro

Na página seguinte, A Naifa

TVI: a rainha das novelas com nomes...horrendos?

Prometo que não vou falar de todas as cosias terríveis da TVI. Juro que nem vou mencionar os Morangos com Açucar, nem a Júlia Pinheiro. Nem sequer vou falar dos enredos estupidificantes das novelas.
Eu preciso mesmo é de expressar a minha indignação/ divertimento com os títulos que arranjam para as ditas novelas. A sério, será que há um gajo que decide sempre os títulos? Gostava de o conhecer, deve ser uma pessoa com sentido de humor (ou então muito pimba).
Os outdoors na nova novela já andam por aí, e vejam-me só o nome: "A Outra". Han???
Recordo uns quantos títulos mais recentes, para comprovarem o quão... bimbalhões, digamos, são:

- Dei-te Quase Tudo
- Fala-me de Amor
- Tempo de Viver
- Doce Fugitiva(do original argentino "Kachorra", que é igualmente bom)
- Tu e Eu
- Deixa-me Amar
- Fascínios (que é uma palavra muito fácil de pronunciar. Experimentem lá: "São nove, vou ver a Fascínios)

Isto já para não falar do "Cantando e Dançando por um casamento de sonho". Aposto que foi o mesmo gajo. Não há nada como um programa com um nome bem longo e dois gerúndios.

"The man who made the house of cards fall"

Esta reportagem da Al-Jazira, para o programa People & Power, deixou-me de boca aberta. Ouvi falar dela no Público, que pôs um pequeno excerto no site, mas acho que vale a pena ver os 11 minutos.
A parte em que o irmão do Sá Fernandes conta sobre a "secret meeting" em que levou um gravador escondido... bem, "like in the movies" totalmente. 007 em Portugal.
Reparem como as palavras portuguesas estão tão bem pronunciadas, ao contrário do costume (se calhar têm lá uma portuguesa).

terça-feira, 1 de abril de 2008

Pôr a cabeça de férias

Jornalista é uma palavra tão bonita. Perdoem-me a lamechisse, mas é. O meu nome no papel e digo "sou jornalista" apesar do estatudo ainda ser incerto e pouco entranhado.
Jornalista é perspicaz, é culto, é inteligente, é jovial, é moderno, é cool, é corajoso, sem papas na língua, curioso , fala bem, escreve melhor, saber dar a volta, sabe contar histórias e retirar o sumo das que lhe contam. Trata por tu assessores, irrita-se nos debates, faz pressão, conta novidades, intriga pessoas. Vê sentidos no cinema, ouve a música com os olhos. Sabe ver essa coisa do tecido social. Vê o mundo fora do seu bairro, sabe o iva da Malásia e o quanto a água faz falta na Índia.
Conta a verdade.
Recebe e-mails de parabéns e e-mails furiosos.
Que texto tendencioso este, devem estar a pensar. E com razão. Mas este meu "jornal" não obedece a livro de estilo por isso estou safa.
É porque hoje, quando se avizinha o fim de uma era, compreendo que me sinto apaixonada. E isso é assustador e fantástico ao mesmo tempo. Esta paixão consome tanto que me cansa, às vezes. A angústia constante, seguida do entusiasmo exagerado. São os altos e baixos do amor.
Estou mesmo cansada de tantas emoções, de tantos rabiscos apressados. Já vou o terceiro bloco.
Preciso de dar férias à cabeça.
"Nos seus dois discos anteriores o projecto A Naifa ensaiava um curioso "gimmick": unir a guitarra portuguesa a linhas de baixo, voz e pequenos apontamentos digitais. A guitarra não soava a fado, antes a um meio caminho entre o riff e um postal pós-moderno de Alfama. O baixo estava mais próximo dos anos 80 que de qualquer tradição nacional, o canto não se decidia entre o redondo da pop e o melisma afadalhado e tudo isto fazia sentido. Havia igualmente um imaginário: liricamente, em vez da tragédia fadista, usava-se a melancolia parda dos poetas dos nossos dias. O estranho conjunto trazia a raiz para o nosso tempo, era felizmente desacertado, suavemente tosco, desconseguidamente delicioso."

João Bonifácio, in Público


Há textos que nos fazem perceber o quanto ainda temos a aprender. Quando eu souber escrever assim, seja qual for o tema, então sim, já sou profissional. Cheira-me que vai demorar.

Não há nada como ter medo a mais

Figas, rezas, respirações terapêuticas.
"A Anita não é mainstream!"
Pronto, lá vamos nós.
Coração pum pum pum pum. Ai ai ai ai.

Fiteira, mariquinhas.

Estava bem. Estava: "vê-se que puseste aqui muito trabalho".
Estava: "acrescenta só aqui uma introdução".
Estava B E M.

Sou invadida por uma felicidade despropositada, só explicável pelo medo exagerado que eu tinha.
Não há nada como ter medo a mais para depois dar sorrisos de alívio.