quarta-feira, 16 de abril de 2008

"Isso não serve para nada!"

O curso "não serve para nada". O Erasmus "não serve para nada". O Mestrado "não serve para nada". Estudar "não serve para nada". Pensar "não serve para nada". "Fazer reportagens para quê? Isso só dá é trabalho".
Conversa puxa conversa, entre uma e outra garfada de massa. "Enriquecimento pessoal" é tanga.
Mastigo a pastilha mais depressa porque a conversa me irrita e não o quero demonstrar. "Isto pode parecer arrogante mas é verdade: Estão todos no desemprego agora e eu tenho trabalho". Sim, parece arrogante. Parece conversa de quem se orgulha da sua mediocridade. Estilo esperteza saloia. Em três segundos eu penso em dezenas de pessoas que não seriam quem são a pensar assim. "Isso depende dos teus objectivos" disse eu a tentar chegar a algum lado. Por detrás desta frase escondem-se tentativas de "se queres fazer mais que editar agências e escrever aquele bê-á-bá do dia-a-dia sem nada de novo trazer, sem uma nesga de sentido crítico, de criatividade, de aprofundamento, de raciocínio, então talvez tenhas que ser mais exigente que isso com a tua cabeça".
Porque quando me dizem "bem, foi o que deu para arranjar", eu compreendo. Aliás, eu solidarizo-me a 100%. Mas quando me dizem: acomoda-te e faz lá a tua vidinha que isso de querer ser bom é para os parvos. Aí, tenho vontade de sair pela porta e nunca mais voltar.

3 comentários:

Marina disse...

Não imaginas o quanto me identifico com isso. Se calhar o meu problema é mesmo esse. Não conseguir ficar calada e dizer so "depende dos teus objectivos". Pk discutir com o teu editor sobre as "supostas" qualidades do correio da manha na segunda semana de trabalho, nao foi, decididamente a melhor opção.
Mas o meu pai costuma dizer "quando achares que já nao há mais nada a propor porque rejeitam tudo, ai sim, tens de ficar preocupada".
Parece que por eqto temos de nos orgulhar por nos chamarem "idealistas"

Fátima disse...

Já somos três a contestar os critérios editoriais... odeio o facto de muitas vezes serem regulados por questões económicas e não pelo interesse que por exemplo uma reportagem sobre as formigas pode ter (sabe-se lá). por isso é que gosto da take, somos todos livres e tal! =)

Anónimo disse...

Então mas porque raio fazer coisinhas todos os dias há-de ser mais importante que acumular saber e viver? Não. Erasmus é uma experiência única, um curso é uma maneira de ver o mundo, etc.
Não gosto da visão de "eu faço coisinhas iguais todos os dias na mesma".