segunda-feira, 30 de março de 2009

A Nata dos Amigos

Hoje andava a cirandar por memórias literárias e lembrei-me de uma crónica do Pedro Mexia (onde andas, man?) em que ele se lamentava porque os seus amigos e amigas - amigos estes de alta qualidade - arranjavam sempre uns namorados/as abaixo de morangos com açucar.
Aviso já que não estou a criticar os respectivos de ninguém, não comecem com ideias. O que eu queria fazer era um elogio à nata da nata que são os meus amigos (os poucos mas bons). Além de bonitos são cultos, divertidos, informados, criativos e participativos. O Pedro Mexia não é o único a ter amigos de classe. Não sei se é uma coisa de geração, de área de estudos, de zona do país, do que for. Mas sei que têm os melhores blogues que por aí andam e não fosse a crise, estavam todos nessa rampa de lançamento para o sucesso. Têm bom gosto (helloooo, são meus amigos!), vêem os melhores filmes, lêem os melhores livros e ouvem a melhor música. Não usam lugares comuns, não vêem novelas e falam várias línguas. São gay friendly e apoiam a mistura de nacionalidades. São a melhor companhia de sempre para uma noite de copos e para uma sessão de conversas ao pôr-do-sol. São a nata, como disse.
E pronto. Achei que mereciam. Sim, estou especificamente a pensar na mão cheia que me comenta mas também naqueles que de vez em quando me confessam ser adeptos deste espaço.
Posto isto, amigos, devo confessar que vocês sabem pôr a fasquia alta. Não é para qualquer um. Glup.

sábado, 28 de março de 2009

Isto é ser boss

"Uma das mais prestigiadas revistas de medicina, a Lancet, acusou ontem o Papa de distorcer as provas científicas quanto à eficácia do preservativo no combate à sida e pediu a Bento XVI que se retractasse. Na semana passada, durante a sua primeira viagem a África, o líder da Igreja Católica disse que a proliferação da sida "não pode ser vencida só com dinheiro, nem com a distribuição de preservativos, que até pode aumentar o problema".
"Quando uma pessoa com tal influência, seja uma figura religiosa ou política, faz uma declaração científica falsa que pode ter consequências devastadoras para a saúde de milhões de pessoas, deve retractar-se ou corrigir publicamente o que foi dito", lê-se no editorial da Lancet.
(...)
"Não é claro se o erro do Papa se deveu à ignorância ou a uma tentativa deliberada de manipular a ciência para apoiar a ideologia católica", adiantou a revista.
(...)
Não é comum a Lancet pronunciar-se de forma tão incisiva sobre declarações de personalidades públicas. Desta vez, no entanto, a revista pede a Bento XVI que se retracte. "Menos que isso seria um péssimo serviço para o público e para todos aqueles que promovem a saúde, incluindo milhares de católicos, que trabalham incessantemente para travar a disseminação da sida em todo o mundo". "

Isabel Gorjão Santos, in Público
Não é qualquer revista que manda o Papa retractar-se. Nem sequer estou a ver um governo quanto mais. Isto é que é coragem

quarta-feira, 25 de março de 2009

Crise

O sem-abrigo da Parede hoje estava a pedir esmola. Foi a primeira vez que o vi fazer isso. E custou-me ainda mais do que vê-lo diariamente pelos cantos, agarrado a um livro (a bíblia?), com as mesmas roupas imundas, a barba enorme e a pele queimada e suja. Quando o vi de mão estendida a balbuciar qualquer coisa, doeu-me a sério.
Acho que a crise chegou aos sem-abrigo.

Espírito de equipa

Há uma coisa que me consola: todos dizemos mal do mesmo. Quando ele vira as costas todos agradecemos. Por isso quando ele levanta a voz com uma vítima em mente, existe a magnífica certeza que toda a sala apoia o mesmo lado da barricada. E ele está, orgulhosamente, só.

Quem tem medo do dentista?

- Vamos dar aqui uma anestesia para tirar esse bocadinho de carne.
Oh não, eu que nunca tive medo de ir ao dentista, que nunca sofri nestas cadeiras... é hoje, é hoje que isto vai correr mal, que vou ficar traumatizada!
Anestesia acontece. Não dói nada (é a única do mundo). Espero sangue, facas, decepações. Nada. Só brocas.
- Então, o que é que tinha o meu dente?
- Foi como lhe disse, uma cárie.

Carne, cárie... Ah.

domingo, 22 de março de 2009

Políticos pouco educados

Eu já tinha ouvido falar da história: uma jornalista escreveu no seu blog sobre o ministro da Administração Interna, Rui Pereira, e ele foi lá responder. "O ministro blogger" e zum zums que tais. Achei piada e até fui espreitar o blog, Escola de Lavores, mas como estava com pressa não encontrei imediatamente o dito post e não pensei mais nisso.
Hoje estava a folhear o Expresso, e parei numa rubrica chamada "Gente", que geralmente inclui uma foto e um comentário irónico sobre algum acontecimento divertido ou bizarro da semana. Lá estava o Ministro Blogger. Ao ler a legenda é que percebi o que de facto aconteceu. Mais, percebi que conhecia perfeitamente a jornalista em questão, a Dina da Renascença. Ao ler o motivo para tanto barulho, ocorreu-me que também eu tinha uma história para contar.
Passo a explicar: a Dina foi acompanhar a visita oficial a Cabo-Verde e no último dia foi convidada a levantar-se do lugar onde estava sentada a jantar para que o ministro se pudesse sentar ao pé de José Sócrates. A jornalista contou este episódio no seu blog e o ministro comentou, indignadíssimo.
Agora chega a parte onde eu acrescento um ponto ao conto dos políticos pouco educados. Recentemente fui a uma conferência de impressa, num hotel do Bairro Alto, sobre as medidas de limpeza e segurança para a zona. A sala era pequena e muita gente ficou em pé. Como fui das primeiras a entrar consegui um lugar na segunda ou terceira fila. Costa estava no "palco" com mais alguns responsáveis pelo projecto de limpeza e delicadamente apontou um lugar vago na primeira fila para a uma senhora, que não era jornalista (provavelmente fazia parte do projecto). Ela sentou-se. Uns minutos depois, a sala ainda estava a encher, chegou um "senhor engenheiro" qualquer - não dúvido da importância do seu trabalho, mas como pessoas somos todos iguais, lamento - e Costa não faz mais nada: aponta-lhe o lugar onde a senhora se tinha sentido, como quem diz "tens aqui um", e por gestos manda-a sair. No meio da confusão o incidente passou despercebido, mas os jornalistas em meu redor aperceberam-se, já que trocámos olhares entre o chocado e o divertido.
Eu não tenho nada contra António Costa. Não acho que ele é um mau presidente da Câmara, apesar de achar que podia fazer melhor. Por isso sou insuspeita. Tal como acredito que a Dina seja, apesar do ministro a chamar de mentirosa.

sábado, 21 de março de 2009

sexta-feira, 20 de março de 2009

Os Pilares da Terra

Hoje de manhã acabei finalmente de ler o calhamaço de 1076 páginas que andava a carregar para todo o lado. "Os Pilares da Terra" é um livro tudo menos chato. Passado na Inglaterra do século XVII, gira em torno da construcção de uma catedral. Ken Follett, o autor, explica no início que sempre foi apaixonado por catedrais e a sua grandiosidade e sofisticação intrigavam-no. Em tempo tão longínquos, como é que eram construídas? Quem as desenhava?
Depois de ler este livro nunca mais olharei para um desses edifícios sem ter a nítida noção que eles são um incrível testemunho do passado. O mundo, a vida, eram completamente diferentes quando aquelas paredes foram erguidas e elas continuam cá, a acompanhar a mudança dos tempos.
A verdade é que este livro - que eu sorvi ansiosamente - não é sobre catedrais. É sobre quem as construía, sobre os reis, os bispos, os condes, os priores, os padres, os camponeses e os comerciantes. Sobre os primórdios da corrupção. Sobre alianças, guerras e histórias de amor. É sobre a coragem e a podridão humana.
Nas primeias páginas conhecemos as personagens ainda como crianças. No desfolhar das últimas páginas elas já têm cabelos brancos. São nossas amigas. Ou inimigas - confesso que ganhei verdadeiros ódios por personagens fictícias.
Muito bem escrito e empolgante. Não é nenhum "Código DaVinci", não mete mistérios nem segredos, não tem um lado esotérico ou místico. Acompanha a vida de um conjunto vasto de pessoa, a evolução de um país e salienta o papel da Igreja. As personagens são ricas e a acção é constante. Talvez seja um pouco constante demais - o que nos faz pensar "xiça, isto parece um videoclip", mas tendo em conta que entre os acontecimentos se passam anos, podemos desculpar esse pormenor.


A partir de agora vou tentar fazer uma crítica de todos os livros que ler. Sim, isto é uma ameaça :)

"Os Pilares da Terra" têm uma sequela - passada alguns séculos depois, durante a peste - e julgo que a próxima leitura será essa. Desta vez em português, porque vai ser emprestada. Cá estarei para comentar se isso fez diferença.

Hoje foi assim

Pus-me à procura de um post antigo e acabei a ler quem eu era há um ano. Os meus altos e baixos, as minhas implicâncias com o Alberto João Jardim, as minhas preocupações. Os comentários amalucados e aqueles que me fizeram o dia.
Deu-me para a reflexão.
Gostei do que li e pensei que hoje o blog talvez já não seja tão bom. "Bom" é uma palavra estranha para um espaço que não fala sobre nada em concreto e fala sobre tudo. Continuo sem perceber qual é o meu forte. Sei que desporto é chinês e ler sobre música me entedia. Sei que a literatura e o cinema são as minhas artes preferidas (o teatro também, mas a conta-gotas), mas não sei analisá-las com mestria. Sei que gosto de política, principalmente internacional, mas que há muitos países que são uma grande mancha em branco. Sei que o jornalismo local tem mais encanto do que eu imaginava, desde que não seja tão restrito que se torna ridículo (tipo jornal de São Domingos ou isso). Sei que é possível escrever sobre famosos sem descer o nível, mas que nunca o quereria fazer, ainda assim. Sei que o online ainda é repetição despersonalizada das agências e por isso não me atrai, mas gostaria de me aventurar num projecto ambicioso. Sei que gosto de ciência e ambiente e lamento não haver muito espaço nos meios de comunicação para isso. Sei que crime é um tema que facilmente se torna sensacionalista. E com tudo isto que sei, continuo sem saber qual é a minha "especialidade".

O cego furioso que toca e canta rap

Já toda a gente sabe que sou fã da Alexandra Lucas Coelho - para mim ela é a melhor jornalista de sempre. Mas claro que frases destas são parvas porque em cada género há um génio (boa frase, hein?), e no da reportagem no sentido mais puro da palavra - o de ir para a rua falar com as pessoas, saber descrever a essência de um ambiente - o Paulo Moura está lá em cima. Hoje a crónica dele merece ser transcrita. Não só porque, como sempre é deliciosa, mas porque é sobre uma pessoa que todos os utilizadores do metro de Lisboa conhecem:


"O cego entra no metro. Finalmente! Andava à espera de o apanhar, para lhe fazer uma entrevista. Entra e começa logo, ta-ta-ta ta-ra-ri-tu-ta-ra. Não há propriamente uma interrupção entre o cruzar da porta e o avançar pelo corredor, com a bengala e a caixa de esmolas, ta-ta-ra pim-pimpim, está tudo dentro do ritmo, cada movimento, cada palavra, “quei-ra ter-a-bon-da-de-m’aux’liar”, ta-tara-tim-tim-tim-tim. Tudo nele é balanço, downbeat e upbeat, andamento funk, com momentos de drum-and-bass e hiphop, paradiddle, paraparadiddle, a caixa de esmolas é a tarola, a bengala no chão do metro é o bombo, o varão das plataformas os pratos. De repente pára, faz um fi ll-in e dois breaks de tarola e kick, volta ao groove sincopado, tata pak-tch-pak-tch pim-pim-pim, lá vai ele, curvado, certinho, sem falhar um contratempo, paradiddle, paraparadiddle, “quei-ra ter-a-bonda-d’maux-liar...” ta-ta-pim pim-pim.
É um fenómeno. Com uma bengala e uma caixa de esmolas, faz melhor do que a maior parte dos percussionistas. Os seus ritmos são complexos, densos, ricos, subtis. Vê-se que foram aperfeiçoados durante anos. Às vezes, só de o ouvir entre duas paragens de metro, fico com aquelas formas rítmicas no ouvido o dia inteiro.
Não há dúvida: ele é muito bom. Confirmei-o com amigos bateristas, Djs. O homem tem uma cultura musical vastíssima, disseram. Vê-se pela maneira como “toca”. Influências funk, hip-hop, breakbeat, certas correntes jazzísticas do Bronx dos anos 70. Mas então como é que um artista desta craveira anda a pedir no metro, batendo com a bengala no chão e nos varões? É a minha grande questão.
Decidi dar a conhecer a sua história. Talvez, com a publicação da reportagem, alguém decidisse
apostar nele, o convidasse para integrar uma banda, ou dar um concerto. Ainda tenho esta visão idealista e naíve do jornalismo.
Levanto-me e vou atrás dele. É hora-de-ponta do fi m da tarde e a linha azul está à pinha. Toco-lhe no ombro e ele pára, erguendo a caixa das esmolas. Mas eu, em vez de lá deitar uma moeda, explico-lhe que sou jornalista e o quero entrevistar.
Há um pequeno compasso de espera. E logo a seguir, para uma das grandes humilhações públicas da minha vida, o pedinte começa aos gritos. “UMA ENTREVISTA? É PRECISO MUITA LATA! EU QUE AINDA HOJE NÃO ME CONSEGUI ESTREAR! E ANDA QUEREM IR GOZAR COMIGO PARA OS JORNAIS? NÃO VÊ QUE EU ESTOU UMA PILHA DE NERVOS? AINDA NÃO ME CONSEGUI ESTREAR!
O metro está em andamento, não há por onde escapar. Fica tudo a olhar para o pedinte e para mim. Principalmente para mim. Aproximo-me da porta. O cego não se cala. “QUER APROVEITAR-SE DE MIM! NO JORNAL! ERA O QUE FALTAVA!”
O metro pára na Baixa-Chiado e eu corro dali para fora. O pedinte sai também e estaca no
meio da estação aos gritos. “UMA ENTREVISTA! QUE LATA! NÃO HÁ UMA FILHA DA PUTA DE UMA PESSOA QUE ME AJUDE! NÃO ME CONSIGO ESTREAR!”
Nem eu, que queria vê-lo estrearse no pavilhão Atlântico, fui capaz de o estrear."

Aproveito para publicitar o seu recente blog. Porque, como diz a Sofia, "não sei quem é que teve a ideia de o pôr a fazer um blog, mas foi uma ideia genial!".
http://blogs.publico.pt/reporterasolta/

Público revisitado

Lá estava eu outra vez. À porta do prédio verde, a olhar de frente para o segurança que nunca quer deixar ninguém passar.
Tive a certeza que passaria quase totalmente anónima. Mas enganei-me. Encheram-me de abraços e beijos e sorrisos. E eu, fraca, deixei-me embalar pela saudade. Das televisões, dos telefones, dos cafés, dos cigarros, das teclas frenéticas dos computadores. Refugiei-me no cantinho do Portugal e ouvi de novo as discussões sobre a actualidade.
Ainda era tal e qual eu me lembrava. A Ferreira Leite ia falar sobre "aquilo" ao fim do dia e o artigo dos morcegos ia ser espectacular. Os jornalistas batiam-se com os textos, com as fontes e com as ideias. Até com o espaço - eles não sabem o que é sofrer de falta de caracteres crónica. Inspirei o ar cheio de letras.
Saí do nº 13 da rua Viriato com o fôlego que me estava a faltar. Cheia de ideias e inspiração. Com o coração quente por tanta gente me chamar "minha querida" e gritar "Santinhos, pá, apareceste!". Avistei ao longe os ódios de estimação e ignorei-os - é a vantagem de ser visita. Cruzei-me com os ídolos que nunca conheci e percebi que tinha perdido a oportunidade. Antes do estágio eu imaginava que nos sentaríamos na mesma mesa e conversaríamos horas sem fim. Eu tinha tanto para lhes perguntar.
Agora estou assim, neste misto de nostalgia e de coragem. Levo todos os "boa sorte" comigo e vou fazer deles sucesso. Vou pegar no meu tempo, na minha redacção, na "minha" página e fazer o mundo um bocadinho melhor, um bocadinho mais interessante, mais esclarecido, mais informado.
"Um dia, ainda me vais dar tu emprego", disseram-me. Quem sabe, quem sabe.

quinta-feira, 19 de março de 2009

Enquanto houver estrada pra andar


Eu às vezes...

Põe-me o braço no ombro
Eu preciso de alguém
Dou-me com toda a gente
Não me dou a ninguém
Frágil
Sinto-me frágil

Faz-me um sinal qualquer
Se me vires falar demais
Eu às vezes embarco
Em conversas banais
Frágil
Sinto-me frágil

Jorge Palma

Contagem decrescente

Quando chegas, quero deitar o relógio fora, esse ditador que não perdoa um minuto sequer. Estás sempre a ir, sempre de tempo contado e agora eu sei que criei esta bomba relógio que nos limita os dias, que parece dizer "atenção, isto vai acabar". Falta pouco. 100 anos seriam pouco. Isto então, é um segundo.
Desculpa.

domingo, 15 de março de 2009

Dormente

As dormências são o pior da vida, sinceramente.
Hoje estava a ler um post do Sinusite que começa assim:
“Hoje é assim, sabemo-lo: um tipo - um tipo novo, acabado de sair das Faculdades - tem qualidades, talentos, vocações, vontade de suar e disciplina e mesmo assim fica fora dos empregos. Mesmo daqueles a recibinho verde. O toque de bola e o esforço não chegam. Escrevo sobre o assunto porque assisti recentemente a um caso (um desses de talento e de trabalho) de alguém que não ficou a trabalhar na empresa que merecia e que o merecia. Porque, citando um chato qualquer do linguajar económico, as condições de mercado, neste momento, não são favoráveis à contratação de pessoas”
O texto acabava com um apelo: “Vai virar frangos, se for preciso. Mas do it. Não esmoreças, André. Não te fiques. Continua o sapateado”. Eu do André não sei, mas sei de outros e outras e sei de mim. Sei de cor o discurso do “do it”. Apoio-o. Subscrevo-o. Mas às vezes não consigo evitar a dormência, essa forma de adormecer as ambições e os desgostos. As frustrações, sim…. A irritação que me assolava tantas vezes. O que eu queria ser e não sou. Seja culpa da conjuntura ou da falta de talento. Se calhar da falta de garra. Essa dúvida dá cabo de mim. Não há nada pior que querer muito ser o que não se é, ou é-se apenas de coração e não de mãos e braços e corpo inteiro. Por isso adormeço.

Como eu disse, as dormências são o pior. O pior.
Há muitos ditados, frases feitas e clichés que são de uma sabedoria incontestável. Mas tenho para mim que "gostos não se discutem" e "perguntar não ofende" não fazem parte desse grupo.

'Homossexualismo' é uma bela expressão

"O homossexualismo, que enquanto deficiência psíquica e somática merece compaixão, é agora, arrogantemente, apresentado como 'orgulho'".

Comunidado da União das Famílias Portuguesas, distribuído à entrada da conferência de Manuela Ferreira Leite em Lisboa sobre os quatro anos de Sócrates


Já metiam a Manuela Ferreira Leite num frasquinho com fermol, não? Pronto, mantinha-se conservadinha numa prateleira, pelo menos até o neto piqueno já ser maior.

Prioridades trocadas?

Deixem-me cá ver se percebi bem: no Brasil, uma menina de nove anos, com apenas 30 quilos, é violada pelo padrasto e engravida de gémeos. É levada para o hospital onde os médicos "não tiveram dúvidas" que "corria risco de vida", e portanto realizaram um aborto, às 15 semanas - segundo conta o Expresso. Ora bem, há um arcebispo, do nome D. José Sobrinho, que não vai por meias medidas e excomunha a mãe da criança e os 14 clínicos envolvidos no aborto.
Certo...
A excomunhão é a pena mais severa da Igreja contra um fiel, e só pode ser retirada pelo Papa - que até agora não mexeu uma palha. Quando lhe perguntaram, em entrevista, porque é que o padrasto violador não tinha recebido o mesmo castigo, o dito arcebispo explicou - e isto deixou-me à beira da náusea - que a pedofilia é "um pecado gravíssimo", mas segundo as leis da Igreja, não é "tão grave como o aborto" e "não se achou oportuno para cada um desses pecados [pedofilia, violação, adultério] determinar a excomunhão".
Juro que não entendo esta lógica de "humanidade" e "respeito pela vida" e essas tangas que estão sempre a alegar. Acho isto demagogismo do mais reles e cobarde que há. Não vejo neste acto compaixão, justiça e muito menos respeito pela vida. E se a Igreja não preserva isso, então já não tem nada.

quinta-feira, 12 de março de 2009

Quando começamos a falar de viagens, eu sei que vamos perder o pé. Começamos com uma road trip ao Alentejo e acabamos em escalas por Londres e Dublin. Pulamos toda a Europa, num entusiasmo crescente. Planeamos ao pormenor. Embriagados pelo desejo de ir. Os pés não estão na terra, estão no mapa e por isso perdemos noção da conta bancária, dos dias que não esticam, das férias que não existem.
No dia seguinte eu sei que foram só planos. No dia seguinte já nem pergunto.

Urinar talvez fosse mais polido

Hoje ouvi o António Costa conjugar o verbo mijar. Não é todos os dias. Segundo o presidente da Câmara de Lisboa, "se houver mais luz, os gajos mijam menos". É o lado decadente do Bairro Alto.
Eu ia escrever "Mal posso esperar pelo dia em que não tenha saudades de ninguém", mas não sei se isso pode contrariar aquela coisa de escrever direito por linhas tortas.
Por isso reformulo: estou sempre com saudades de alguém.

quarta-feira, 11 de março de 2009

As crianças podem ganhar Óscares?

Há pouco tempo o meu avô pediu-me para lhe contar dos Óscares. Quem tinha ganho o quê, e essas coisas. Isto porque ouviu falar que o Slumdog Millionaire tinha ganho muita coisa e estava intrigado quanto ao prémio para melhor actor. Ele sabia que o filme tinha muitas crianças e era aclamado por isso. Expliquei-lhe que não foram os prémios de melhores interpretações que o filme ganhou. E ele explicou-me a mim porque é que estava tão intrigado: era porque as crianças não podiam ganhar Óscares.
Bem vêem, o meu avô foi actor por muitos anos. E para ele representar implica entender muito bem a história e a complexidade intrínseca do personagem. É um processo introspectivo que obriga a estudo. Ou seja, coisas que uma criança não consegue fazer.
Fiquei a pensar naquilo. À partida pensei que não concordava, depois não tive bem a certeza. Hoje fiz uma rápida busca no google e não encontrei nenhuma criança que já tenha vencido um Óscar. Foi uma pesquisa de 10 segundos, por isso não me arrisco. Será que alguma criança já ganhou um Óscar? Será que podem?

terça-feira, 10 de março de 2009

O mundo do trabalho é:

Fazer ginástica para sair mais cedo porque o sol brilha a sério lá fora. Combinar um "café de fim de tarde". Fazer uma maratona de transportes em countdown com o pôr-do-sol, ao mesmo tempo que se troca mensagem com a dita companhia, em semelhante maratona. Autocarro, comboio, percurso até à espanada. "Já vou no comboio, estou a chegar!". Os raios já não batem, bolas. Mas vá, o céu ainda está laranja, isto é bonito. Talvez de casaco vestido. Enquanto espero leio um pouco. Ok, agora faz mesmo frio. "Estou quuuuaaase a chegar". Mudo-me para dentro do café. Como uma torrada. "Cheguei!". Está de noite.
Game over.
("Precisamos de dias maiores")

Apanhado offline

Depois de vários dias sem internet, acumulei uma longa lista de posts. Desde do magnífico artigo do Público sobre o destino dos jornais (esse assunto que me dá dores de alma), aos erros ortográficos no Magalhães, passando pela ilha no Tejo em leilão, por uma entrevista com o Paulo Portas e um sonho em que eu era uma bombista suicida (eu sabia que a falta de açucar teria consequências). Mas de alguma forma tudo isto já parece old news.
Por isso decidi não repescar estes pensamentos offline. É pena porque foi uma semana frutífera. Mas mais virão.

P.S. Vá, tenho que explicar a entrevista, ou o Chico ainda começa a fazer caras. Muito resumidamente - e para não dizerem "ah tal não dás crédito à direita" - posso dizer que vi uma entrevista no TVI24, com a Alexandra Lencastre a entrevistar o Paulo Portas e até achei interessante (não era sobre política, claro). E isto, meus amigos, é digno de nota.