domingo, 29 de junho de 2008

Catarse

Eu tenho uma amiga que me fez passar num grande teste de integridade. É que esta minha amiga... é mesmo melhor que eu em tudo. E sabem como é, essas pessoas convém não manter muito muito perto porque fazem mal à auto-estima. Mas isso é ceder ao facilitismo.
Qualquer coisa que façamos as duas, ela faz melhor. Em tudo o que se mete é bem sucedida. É mais simpática, mais bonita, mais divertida e mais inteligente. Toda a gente se lembra dela. Não estou a fazer fita, estou a assumir.
Sim, porque agora vem a parte em que eu recebo os louros. É que apesar disto tudo não me custa nada ser amiga dela. Consegui decidir que fico feliz por ela e pronto. Não tenho inveja, tenho carinho.
Claro que ela não sabe de nada disto. Aposto que agora vai ficar convencida.
Os cafés matinais aos fins-de-semana com os meus pais acabam sempre mal. Ou no meu salário miserável ou no meu emprego deprimente. Num misto de pena com rancor. E, secretamente, nos meus sonhos mais audazes esmagados debaixo da cadeira.

Pessoas adoráveis

Ainda não consegui perceber se é bom ou mau ser "adorável". É bom porque, muito ou pouco, toda a gente gosta de pessoas assim. Não se tem inimigos. Têm muitos "amigos" mas poucos Amigos, porque pouca gente reconhece um verdadeiro valor para além da adorabilidade da pessoa "adorável". Por outro lado, a pessoa "adorável" não pode deixar os outros na mão, fazer birra, ir-se embora, dizer coisas francamente injustas só porque naquele dia acordou com os pés de fora da cama. Ninguém admite isso da pessoa "adorável". É uma falta de respeito reservada para os caprichos de pessoas com humores selectivos.
Além disso a pessoa "adorável" faz óptima companhia, mas nunca é indispensável.
Por isso quando alguém me diz que sou "gostável", ou que "toda a gente gosta de mim", penso em todos os "adoráveis" que conheço e fico na dúvida se será mesmo um ponto a meu favor.

terça-feira, 24 de junho de 2008

Ossos do Ofício

O impacto das palavras pode ser imenso, mesmo ser darmos conta disso. Ontem escrevi uma crítica de concerto/ crónica de ambiente sobre os Fingertips. Os fãs manifestaram-se aos magotes, insultando-me de várias maneiras. Muitos (quer dizer, há vários comentários dos mesmos) dizem que com certeza eu não estive lá e não presenciei aquele espéctaculo transcendental, e que inventei tudo. Não consigo expressar quão ofendida isso me fez sentir. As críticas foram de tal forma absurdas e agressivas que começo a desconfiar da honestidade de quem as escreveu. A mim é que me apetece dizer: de certeza que viram o mesmo concerto que eu?


Para limpar a minha honra posto aqui duas fotos que tirei ao público:















Primeiro português condenado por "downloads" ilegais ouvia hino do Benfica em versão "pimba"

"Cidadão de 28 anos violou direitos de autor ao disponibilizar na Internet conteúdos não autorizados. Terá agora de pagar uma multa de mais de mil euros
Músicas de Quim Barreiros, Tony Carreira, João Pedro Pais, Bob Sinclar e até um hino do Benfica em versão "pimba" contam-se entre as 146 faixas que um cidadão algarvio de 28 anos disponibilizou na Internet e que lhe valeram a primeira condenação de sempre de um utilizador português por troca ilegal de ficheiros online.O arguido foi condenado quarta-feira, no Tribunal de Portimão, a uma multa de 1160 euros, por autorizar que outros utilizadores transferissem para os seus computadores músicas que ele próprio disponibilizava através dos sistemas peer-to-peer (ponto por ponto), violando assim a legislação sobre direitos de autor. O caso remonta a 2006, quando a Associação Fonográfica Portuguesa (AFP) e a Associação para a Gestão e Distribuição de Direitos (Audiogest) entregaram na Polícia Judiciária 38 queixas-crime contra a partilha ilegal de ficheiros de música na Internet."

Daniela Gouveia, in Público
Ilegais e bimbos.

Cartoons

Há vida em Marte?




















Nova sequela da aventura social-democrata

sexta-feira, 20 de junho de 2008

O espírito do Euro chegou até mim (um pouco tarde, talvez)

Maldito jogo. Ontem que eu sofri pela primeira vez na vida. Naqueles últimos dez minutos eu já dizia "Ai ai ai ai", "mas não sabem chutar sem ser para cima da baliza??" e outras coisas que tais. Depois o senhor do relato invocava o jogo República Checa - Turquia, e a esperança não ia embora. Mas pronto, acabou-se. A verdade é que há mais, é só esperar.
Mas hoje de manhã, na minha saga de transportes públicos, dei por mim a ler as primeiras páginas do jornal, dedicadas obviamente ao jogo. Não li tudo tudo, mas li! E havia textos bem giros, a começar por o de uma jornalista que foi ver o jogo com os emigrantes em França e que contava como no café do Senhor António "as poucas mesas disponíveis tinham sido reservadas com dias de antecência. U-la-la". Não resisto em mostrar este bocadinho:

"«Os portugueses, aqui, são mais portugueses do que em Portugal, mais orgulhosos das raízes», comparava Rui. Além disso, «se se atirar uma pedra ao ar, cai na cabeça de um português». Ao lado de Rui, um amigo perguntava à jornalista para que chaîne trabalha. Rui indignava-se: «Canal, pá. Vê-se logo que és emigrante!» Mas tudo isto foi antes do primeiro golo da Alemanha. E do segundo. E do terceiro. O humor tomou a forma de cão e as lágrimas já caíam de algumas caras, enquanto as mãos se chegavam para rezar e putain! emocionados tropeçavam de algumas bocas. "

E o melhor de tudo, além dos textos de análise do jogo e dos comentários internacionais, foi esta crónica que o Mário Lopes (sim, o do Ípsilon!) escreveu antes do fatídico jogo começar:

"Há um doce perfume de nostalgia a percorrer o Euro 2008. Sinto-o ao ver a Holanda despachar campeões e vice-campeões do mundo, animada por um elo que liga directamente Robben, Sneijder e Van Nistelrooy a Cruyff, Rensenbrink e Neeskens. Está a jogar um futebol magnífico, mas ninguém me tira da cabeça que o segredo reside tanto na táctica e nos jogadores como nos números estampados nas camisolas: poderoso feitiço, esse de recuperar o design utilizado pela «Laranja Mecânica» original na década de 1970.
Sinto também um agradável odor perfumado ao acompanhar esta Rússia que se ergueu das cinzas para, numa mescla letal de talento e férrea organização eslava, me recordar nomes como Rinat Dasaev, Igor Belanov ou Alexei Mikhailichenko.
Tal como acontecia nos tempos da União Soviética, esta Rússia é formada quase em exclusivo por jogadores do seu campeonato nacional e, dado que ninguém acompanha o campeonato russo para além dos próprios russos, a sua selecção surge envolta numa fascinante aura de mistério (depois do endeusamento 365 dias por ano dos Drogbas, Robinhos e Messis deste pequeno mundo de Premier League e La Liga, é refrescante confirmar que Arshavin é um monstro do futebol ou aprender a soletrar correctamente Pavlyuchenko, só para lhe demonstrar o nosso apreço).
Portugal não tem acesso a este tipo de nostalgia. O Mundial de 1966 foi um caso isolado e os sucessos relativos de 2004 e 2006 são demasiado recentes. Assim sendo, sem as referências que têm Rússia ou Holanda, resta-nos acreditar em Deco e Ronaldo e recorrer à mais nobre e antiga receita futebolística para a vitória, a superstição.
À hora em que escrevo esta crónica, estamos a poucas horas do jogo com a Alemanha. Já tenho tudo preparado. A camisola da selecção, réplica da de 66, engomada e pronta a vestir. A mesa de madeira nobre, envernizada e ao alcance da mão, que lhe dará três toques cada vez que um herege invocar a ínfima possibilidade de derrota. Ao lado da TV, a foto do Sérgio Conceição, o homem do hat-trick aos alemães em 2000. No centro da sala, o totem índio que, 10 minutos antes do jogo, rodearei em saltos rituais e gritos ululantes (Scolari devota as suas energias a Nossa Senhora do Caravaggio, eu sinto-me mais dado ao animismo). Nada pode falhar. Não temo Ballack, Podolski ou Klose.
Apenas uma coisa me atormenta. Imagino-o em Hamburgo. Tem já vestida a camisola de Oliver Bierhoff, autor do golo de ouro da final de 1996, e prepara cuidadosamente um altar a Thor. Raios!: vejo-o a encerar uma mesa de madeira. Pânico!: o poster afixado sobre o plasma não é do Schweinsteiger, o tipo que nos marcou dois golos em 2006?
Se Portugal perder com a Alemanha (três toques na madeira, um beijo na foto do Sérgio Conceição, uma volta ao totem), a culpa é de um tipo em Hamburgo que engendrou um feitiço de superstições mais poderoso que o meu. E, se acontecer isso que não vai acontecer (três toques na madeira, um afagar da foto do Sérgio Conceição, volta ao totem em sentido contrário), nunca perdoarei o anónimo adepto alemão que nos impediu de continuar a construir o magnífico edifício de nostalgia."

Concluo que a culpa foi do "tipo de Hamburgo". Esses descrentes!

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Isto assusta-me

Hoje é a apresentação da peça de teatro da minha mãe. Ela fez um pequeno curso e no fim fazem uma apresentação. O drama foi ter calhado no "Dia do Jogo" e não dar para mudar. O meu pai já refilou, e o facto tem gerado revolta entre os familares dos "artistas". Hoje a minha mãe ligou-me a avisar que a hora da peça foi mudada novamente. Agora é só as 22h20. Já é a segunda vez que atrasa, para que todos possam ver "O Jogo".
Ontem telefonou a senhora do Círculo de Leitores para falar com o meu pai. "Ele agora não está", "A que horas posso ligar amanhã então?", "Ligue por volta desta hora [20h30]". "Ok, está bem. Ah espere, a essa hora é o jogo, não pode ser!". "Bem, então ligue assim 15 minutos antes do início...".
Não existe nada, mas mesmo nadissíma, que consiga parar o país assim.

(actualizando)

Acabei de ouvir a pivot do telejornal na RTP dizer, após a última notícia que era sobre o Euro2008, "Desejamos muito boa sorte à nossa Selecção!".
Acho que sim, que a RTP deve manifestar-se. E já agora "Força Ronaldo!".

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Romantismo

«Não quero fazer grandes generalizações sobre as mulheres. Não estou aqui para isso. Acho de mau gosto. Só digo isto: elas não têm sentimentos.

Porque na verdade os homens é que são românticos. Os homens é que dizem coisas como:

"Conheci uma pessoa. Ela é fantástica. Se eu não fico com ela, estou fodido. Não aguento mais. A sério. Ela transformou completamente a minha vida. Tenho um emprego, uma casa; e tudo isso já não vale nada. Não aguento mais. Tenho que estar com ela. Porque senão acabo entrevado, alcoólico e com umas calças piolhosas. E nunca mais saio à rua".

Ora isto é o que as mulheres dizem sobre sapatos»

Dylan Moran, in Monster
(cortesia do Estado Civil)

terça-feira, 17 de junho de 2008

Quando ouvem as mesmas pessoas dizerem mal de todos os partidos e políticos, não ficam intrigados? Eu penso sempre «mas então, nunca votam?».

segunda-feira, 16 de junho de 2008

A Viagem do Elefante

«José Saramago afirma que foi a primeira vez que se "atreveu" a dizê-lo: se existe alguma mensagem nos seus livros, ela está no momento em que um cão lambe as lágrimas de uma mulher, no romance Ensaio sobre a Cegueira. É por essa passagem que o Prémio Nobel da Literatura (1998) gostaria de ser recordado no futuro. Em conversa com o PÚBLICO e a Rádio Renascença, Saramago comentou a suposta gaffe de Cavaco Silva, lamentou o espírito de resignação dos portugueses e falou sobre a pneumonia que o deixou às portas da morte. Em Lisboa, onde vai ficar até meados de Julho, continua a escrever todos os dias as páginas do seu próximo romance, A Viagem do Elefante, que deverá estar concluído em Agosto. »

in Público

Não apetece ir já ler o livro?

domingo, 15 de junho de 2008

Equipas abençoadas

Comentário de final de jogo: "Esperamos chegar às finais, se Deus quiser".
Ora aí está um dilema. É que não sabemos se Deus quer que Portugal ganhe. Com tanto país na Europa, corremos o risco de perder se tivermos dependentes da vontade divina.

"Estes gajos do queijo, pá!"

Frase do dia:
Durante o jogo com a Suíça, quando por motivos que já não me recordo, Paulo Ferreira é assobiado pelos adversários, um dos meus colegas exclama: "Estes gajos do queijo, pá!". De facto, não há respeito. Um país que é conhecido pelo queijo, aqui a assobiar os descobridores do mundo!

O prometido é devido

Peço imenso desculpa pelo atraso. Isto é inadmissível. E agradeço desde já à Alexandra pela lembrança.
Caros leitores e amigos, para anos futuros aqui fica a recomendação, em tom de revista turística: em época de Santos Populares na cidade de Lisboa, visitem a tasca da Ti Cacilda, estabelecimento carismático, conhecido pela boa disposição do casal que o dirige. Recomenda-se a ginginha de cair para o lado e eventualmente uma rodela de chouriço exposto na vitrine.
O nome não vem escrito em lado nenhum visível, mas vale a pena entrar e perguntar. Porque o café da Ti Cacilda, em pleno coração de Lisboa, é dos poucos (quase me atrevia a dizer o único!) que deixa os clientes fazerem xixi. E um bom frequentador de Santos sabe avaliar a importância deste acto caridoso.
Ti Cacilda: no Destak talvez seja difícil, mas olhe que o meu blog é muito lido!

quarta-feira, 11 de junho de 2008

"Gostos não se discutem"

Hoje tive uma discussão que me perturbou bastante.
"Não vou deixar de ser amigo do gajo só porque é skinhead". Como não? Só porque é skinhead?
Às tantas já estavam umas cinco pessoas à volta, todas a concordar com o amigo do "gajo". "Conheço-o desde os cinco anos, vou lá deixar de ser amigo dele". A minha indignação era imensa. Estava a parecer-me que todas aquelas pessoas não usavam critérios para escolher os amigos. Sim, porque se há coisa que se escolhe são os amigos. Eu não quero associar-me, nem jamais conseguirem gostar de alguém que defende ideais que eu considero desprezíveis. Alguém cujo modo de vida, basicamente me enoja.
"Isso é lá com ele, também tenho amigos do PSD". Alguém me explique o que é que uma coisa tem a ver com a outra? Como é que se podem confundir opiniões políticas que cabem dentro dos parâmetros morais, com ideais nazistas. Como é que eu posso ser amiga - até dói ver o termo amizade usado tão levianamente - de alguém que considera outras pessoas inferiores simplesmente porque são de uma raça diferente?
Mas que raio, então não são exactamente esses os critérios que tenho que usar para escolher os meus amigos? Mas a minha questão era até mais básica: "consegues gostar dele assim?".
O "gajo" podia ser meu amigo desde que nasci! As pessoas mudam e nós deixamos de gostar delas, consoante aquilo emq ue se transformam.
Fiquei mais perturbada por aquela não ser a opinião de uma pessoa, mas de 4 ou 5 que ali estavam. Assustei-me um pouco pela sociedade. Senti que não há critérios. Será que podemos gostar de uma pessoa desde que ela seja "porreiraça", mesmo que isso implique defenderem aniquilação de outras raças??
E que não haja enganos: eu não sei qual o grau de agressividade do "gajo" (até acredito que diga umas piadas giras e tal), mas quando digo skinhead não estou a confundir o termo. O meu colega até disse: "Tenho amigos blacks e skinheads", como sendo oposiçao. Aliás, ele disse-me isto para explicar que dá jeito ter amigos dos dois lados para ter "as costas quentes".
Vim para casa a pensar nisto. Quer dizer que se alguém se meter com a namorada, é rancor para toda a vida, mas se for skinhead, "isso é lá com ele".

terça-feira, 10 de junho de 2008

Invejas

"A minha inveja é a que nutro por aqueles indivíduos que conseguem decidir, que optam por um caminho e não se questionam a meio, que sabem sempre se lhes apetece coelho à caçadora ou uma pizza com alcachofras, que sabem sempre dizer um não decidido ou um sim convicto. Aqueles que sabem o que estão a fazer quando vão pela esquerda ou pela direita, que sabem o que dizem quando dizem que amam alguém, que sabem realmente se gostaram de um livro ou não."

Pedro Marques Lopes, in Sinusite Crónica

Juntando a este caso, confesso a minha inveja por pessoas naturalmente boas em tudo o que fazem. Ou mesmo quando não é em tudo, são excelentes nalguma coisa. Malditas sejam, o mundo é delas.

domingo, 8 de junho de 2008

Ainda bem que há quem saiba o que é Poesia

Ter saudades

Não sei se é sintoma da casa dos vinte, só sei que de há um par de anos para cá já disse a palavra "saudades" mais vezes que na minha vida toda anterior.

sábado, 7 de junho de 2008

Sexo e a Cidade

O filme foi uma espécie de embrulho. Tínhamos ali todas as pontas mais ou menos soltas e era preciso atá-las, dar-lhes um "happy ending". Para mim, ficou-se nas três estrelas, esperava um "vavavum" maior.

Mesmo assim o filme desperta óptimas gargalhadas, e para as fãs da série há aquele sentimento de "welcome back" às personagens de quem tínhamos tantas saudades. Eu tinha.

Histórias de amor à parte, para mim o Sexo e a Cidade é uma grande história de amizade. Não defende que as mulheres podem ser felizes sozinhas, defende é que a companhia não tem que ser necessariamente masculina (esse é um dos pontos em que o filme cedeu ao romantismo barato). É uma ode à amizade. Uma pessoa sai do cinema e só quer abraçar as amigas e dizer "gosto de ti até sermos velhinhas".

Nesse ponto o filme é extremamente bem conseguido. Elas são divertidas, acutilantes, e inseparáveis. E claro, lindas, bem vestidas e populares. Muito New York.

A Carrie ainda é apaixonada pela cidade, e nós reforçamos intimamente a vontade de lá ir. Os dramas amorosos estão todos lá e as conversas descomplexadas também.

O romance... oh, o romance. Uma luta interna: queremo-las felizes, mas não cliché. Eu pessoalmente nunca gostei do Big, mas deixava-me levar quando ele se excedia em demonstrações amorosas. Apesar dos dramas (não revelando o fim a quem não viu) acho que o filme foi o momento em que gostei mais dele, em que pareceu mais honesto e menos, vá, idiota.

Ontem à noite disse adeus ao Sexo e a Cidade. Não repetirei DVDs, nem quero ver "behind the scenes". Foi um adeus às armas. Só tive pena que o derradeiro final tivesse caído tanto na facilidade de dar uma colherzinha de mel às "pobres meninas solteiras".

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Se acham que Parede dá para fazer piadas...

"Será que isto é uma daquelas piadas dos presses ou há mesmo uma terra chamada Sarilhos Grandes?"
Há mesmo.

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Velha roupa colorida

Você não sente, não vê
Mas eu não posso deixar de dizer, meu amigo
Que uma nova mudança em breve vai acontecer
O que há algum tempo era novo, jovem
Hoje é antigo
E precisamos todos rejuvenescer

Nunca mais teu pai falou: "She's leaving home"
E meteu o pé na estrada like a Rolling Stone...
Nunca mais você buscou sua menina
Para correr no seu carro (loucura, chiclete e som)
Nunca mais você saiu a rua em grupo reunido
O dedo em V, cabelo ao vento, amor e flor, que é de cartaz?
No presente a mente, o corpo é diferente
E o passado é uma roupa que não nos serve mais

Você não sente não vê
Mas eu não posso deixar de dizer, meu amigo
Que uma nova mudança em breve vai acontecer
O que há algum tempo era novo, jovem
Hoje é antigo
E precisamos todos rejuvenescer

Como Poe, poeta louco americano
,Eu pergunto ao passarinho: "Blackbird, o que se faz?"
E raven never raven never raven
Blackbird me responde: "Tudo já ficou atrás"
E raven never raven never raven
Assum-preto me responde: "O passado nunca mais"
Elis Regina
Jornal mais vendido do país = Melhor jornal do país ???

Incito a opiniões.

terça-feira, 3 de junho de 2008

Assim mesmo, sem parágrafos

"(...) Os grandes proprietários atacavam o que lhes ficava mais próximo: o governo de poder crescente, a unidade trabalhista cada vez mais firme; atacavam os novos impostos e os novos planos, ignorando que todas essas coisas são efeitos e não causas. As causas escondiam-se bem no fundo e eram simples - as causas eram a fome, a barriga vazia, multiplicada milhões de vezes, fome na alma, fome de um pouco de prazer e de um pouco de tranquilidade, multiplicada milhões de vezes; músculos e cérebros que ansiavam por crescer, trabalhar, criar, multiplicados milhões de vezes. A última função clara e definida do homem - músculos que querem trabalhar, cérebros que querem criar para além das simples necessidades - isto é o homem. Construir um muro, construir uma casa, um dique, e pôr nesse muro, nessa casa, nesse dique algo do próprio homem, é retirar para o homem algo desse muro, dessa casa, desse dique. Obter músculos fortes à força de os mover, obter linhas e formas elegantes pela concepção. Porque o homem, ao contrário de qualquer coisa orgânica ou inorgânica do universo, cresce para além do seu trabalho, galga os degraus das suas próprias ideias, emerge acima das próprias realizações. É isto que se pode dizer a respeito do homem. Quando as teorias mudam e caem por terra, quando as escolas filosóficas, quando os caminhos estreitos e obscuros das concepções nacionais, religiosas, económicas, se alargam e se desintegram, o homem arrasta-se para diante, sempre para a frente, muitas vezes cheio de dores, muitas vezes pelo caminho errado. Tendo dado um passo à frente, pode voltar atrás, mas apenas meio passo, nunca o passo todo que já deu. Isto é o que se pode dizer do homem: dizer-se e saber-se. Isto verifica-se quando as bombascaem dos aviões negros sobre a praça do mercado, quando os prisioneiros são tratados como porcos imundos e os corpos esmagados se esvaziam imundos, na poeira. Pode verificar-se deste modo. Não tivesse sido esse passo, não estivesse vivo no pensamento o desejo de avançar sempre, essas bombas jamais cairiam e nenhum pescoço teria nunca sido cortado. Receiem-se os tempos em que as bombas não caiam enquanto existam os bombardeiros, pois que cada bomba é uam demonstração de que o espírito ainda não morreu. E receiem-se os tempos em que as greves cessem, enquanto os grandes proprietários viverem ainda, pois cada greve vencida é uma prova de que se está dando um passo. E isto pode saber-se - receiem a hora em que o homem não queira sofrer mais e morrer por um ideal, pois que esta é a qualidade base da Humanidade, é o que a distingue entre todas as coisas do Universo. (...) "

John Steinbeck, in As Vinhas da Ira