sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Inspira, expira, inspira, expira

E diz assim: Não importa, não quero saber, não me vou enervar, não vou argumentar. Zen. Sê Zen.

O amigo de infância

Já aqui escrevi uma vez sobre ele. Uma das pessoas mais marcantes da minha infância/adolescência. Depois sumiu-se, a vida levou-nos para cantos diferentes. Hoje, quando o vejo é uncanny. Se o conhecesse agora talvez nem gostasse dele, não sei. Não consigo decidir. E as nossas conversas são banais - mantém-se apenas a capacidade de me tirar do sério. Mas não consigo deixar de ter a sensação de que existiu, existe, e existirá sempre entre nós um mar de coisas não ditas. Não é que haja coisas por dizer, não. São coisas que nem existem no vocabulário. É apenas isso, um discurso subliminar não dito.

Não consigo evitar

Quando alguém me diz que não gosta de Lisboa é como quando me dizem que os pastéis de Belém são iguais aos pastéis de nata: eu devia aceitar como uma coisa natural da vida mas fico verdadeiramente chateada. Fraquezas, pronto.

O que é ser culto?

Hoje num café com dois "cientistas" disseram-me uma coisa interessante. Que uma pessoa considerada culta é alguém que sabe de arte ou política, mas não de ciência. Claro que a definição é redutora, mas percebo a ideia. A minha teoria é que para perceber de "arte ou política" não é preciso ter aulas, é uma questão de interesse, civismo ou sensibilidade. E principalmente é uma questão de opinião. São assuntos subjectivos, que criam debate. Regra geral na ciência ou é ou não é. O que não quer dizer que não se fale sobre ela, mas torna a coisa menos acesa.
Eu confesso que aquilo que me impressiona mais numa pessoa - aquilo, vá, que me faz pensar que é inteligente - não é tanto perceber que há saber acumulado, mas que há raciocínio, filosofia. Uma pessoa que tenha uma teoria, uma opinião. Sobre a existência de Deus, sobre a guerra do Iraque, sobre células estaminais. Claro que já se sabe, para cada autor um público e há assuntos que me interessam mais e vão cativar a minha atenção, mas ficarei impressionada primeiro com a teoria, depois com o tema.
Criatividade, por exemplo, é para mim um grande sinal de inteligência. A capacidade de criar. Geralmente pessoas que se questionam sobre muitas coisas são, a meu ver, inteligentes. Porque as perguntas levam, mais cedo ou mais tarde, a respostas.
Para tudo isto pode ser-se homem de ciência, artes ou letras.

2011

Tenho esperanças grandes para 2011. Vai ser o ano - figas, figas, figas - em que vou mudar a minha vida. Com crise ou sem ela, 2011 é o meu ano zero.
Quem sabe é o ano em que pinto o cabelo de ruivo.

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

SS

Eu podia contar-vos como foi o meu dia na Segurança Social, chegar uma hora antes de abrir e já ter 50 pessoas à frente, o segurança que é uma besta com a mania que sabe de burocracia e de como, afinal, não era preciso ter ido. Podia mesmo e havia muito material para um texto trágico-cómico. Mas é daquelas coisas que mais cedo ou mais tarde todos terão que passar, por isso não quero estragar-vos a diversão.

Não há como ignorar II

Hoje arranjou uma miúda para me ligar a fingir que era a namorada. Ao que chegámos...!

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Acho insuportável o secretismo em que as redacções em Portugal estão envoltas. É suposto os jornalistas estarem em contacto com as pessoas, mas para entrar em contacto com um jornalista é uma complicação dos diabos.

Não há como ignorar

Tenho um amigo com uma namorada fictícia. A pressão social é lixada. Não era preciso!

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Será ingenuidade?

Eu confesso que estou com esperança para 2011. 2010 foi o ano mais contrastante que tive. Foi o melhor de todos e o pior de todos. Acho que 2011 me reserva algum equilibrio. Figas.

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Depois de ligar QUATRO vezes para a Segurança Social e finalmente conseguir convencer a senhora do outro lado que é rídículo pagar aquela enormidade de dinheiro por uns quantos recibos, sou informada que tenho que preencher o formulário FHS325r7GDJ67213 e entregar mais uns quantos documentos para efectuar o pedido de isenção de contribuição - documento esse que não consegui preencher porque nenhuma das opções se aplica a mim, o que me fez pensar que aquilo não ia dar em nada.
Passo então ao drama que é IR à Segurança Social de Cascais, onde TODAS as pessoas do concelho vão porque já não fecharam as sedes mais pequenas. Ora eu já tinha tentado ir. O horário é das 9h às 16h e eu fui às 15h. Disseram-me que as senhas acabaram ao meio dia. Certo. Hoje pretendia ir abrir a Segurança Social e acordei de madrugada mas como precisava de ir fazer uma análise antes que se atrasou um pouco cheguei precisamente às 10h10. JÁ NÃO HAVIA SENHAS! Repito: DEZ E DEZ!
Eu sou a favor de se meter uma bomba. Morte à Segurança Social!

domingo, 26 de dezembro de 2010

A purga

Um dia uma amiga disse-me que o nosso cérebro vicia no sofrimento. Como uma trip de um alucinógeneo. Insiste em lembrar, em pensar e repensar naquilo que não deve. Como enfiar um dedo cheio de sal numa ferida aberta.
A minha amiga tinha uma certa razão. A gente só vê a trip, nunca a purga. É isso que eu tento fazer agora, quando o sal começa a arder. Pensar que isto é uma purga, é como tirar veneno de dentro de nós. É como o álcool nas feridas: dói mas cura. E então quando dói mais eu sorrio e deixo arder até dar, e sinto o veneno a sair, a sair. E sinto orgulho em mim própria. Porque crescer é também estender a nossa resistência às dores e sair vitorioso, forte e melhor.

sábado, 25 de dezembro de 2010

i, o Scrooge do amor

Odeio casalinhos. E digo isto sabendo que TODOS os meus amigos estão numa relação (mais ou menos estável). Eu gosto muito de vocês, a sério, do coração. Mas como pessoas. Agora como seres integrantes num casalinho... odeio-vos. Então nesta época natalícia é mesmo do pior. Imagino os vossos olhares comovidos, um sorriso apatetado, quase lagriminha ao canto do olho, enquanto abrem aquela prenda especial que mais ninguém percebe mas vocês sabem que tem história por trás e ó que história. E depois os abraços e os beijinhos e umas declarações de amor ao ouvido.
Despachem lá isso e façam-me o favor de ter um bruto desgosto de amor. Depois liguem-me e vamos beber uns copos e lamber as feridas juntos. Isso sim é bom um Natal!

A língua é uma coisa maravilhosa

Ontem fui ao cabeleireiro e pela primeira vez ocorreu-me que BrÉshing (aka, esticar), é Brushing, os seja, pentear.
É claro que se eu disser "Bom dia, venho fazer Brushing" vou soar um bocado snob. Então Bréshing, vá. Quando em Roma...

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Filho único

As pessoas perguntam-me muito se eu queria ter irmãos. Isto é um assunto que me fascina e pretendo escrever sobre isto a nível profissional.
Não, eu nunca quis muito ter irmãos. Quer dizer, em criança indaguei-me uma vez ou outra sobre isso. Se me dessem a escolher teria tido um irmão, sim. Mas não foi coisa que me atormentasse. Sempre fui muito sociável em criança, tinha muitos amigos, era faladora (até demais). Não tive problemas de desenvolvimento ou socialização. Olhando para trás não acho que saltei nenhum passo importante da infância por causa disso.
Hoje que sou adulta sim. Sinto imensa falta de ter um irmão. Imensa. Há coisas que ninguém compreende como alguém que cresceu connosco. Hoje sim, a solidão pesa.

Adenda: tenho andado a ver o In Treatment

A capacidade que eu mais queria desenvolver é a de me distanciar das coisas. Não importa quão importantes são para mim. A sério. Se está fora do meu controlo, então pronto. Se não há nada que possa fazer, é respirar fundo e deixar a barraca arder.
Faço já uma resolução para 2011: não achar que é minha responsabilidade consertar as relações entre as pessoas. Eu sou só uma, falo só por mim e só posso ser responsável por aquilo que faço. E por mais que deseje que as pessoas se dêem bem e que as pessoas de quem eu gosto gostem umas das outras, vou parar de me descabelar por isso. É isso ou vou morrer cedo.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Jornalismo à filme

Acho isto fascinante...

Eu não queria acreditar mas é verdade

Por cada mês que passo recibos verdes pago 159 euros à segurança social. Mesmo que passe um recibo de 50 euros. Isto é chocante mas é verdade.

domingo, 19 de dezembro de 2010

Um namoro daqueles

Enquanto estou aqui rodeada de papéis com frases marcadas a amarelo brilhante, a polir parágrafos, a interromper a toda a hora para ler x e y, no livro em cima da cama, no jornal, na blogosfera, no facebook, não há como tirar uma conclusão diferente: adoro namorar as palavras.

As palavras que são como as cerejas, que são como os beijos.

B-I-Z-A-R-R-O!!!

Cum caraças, o Putin a cantar! (saltem para 1.20, o início é só música)



Um verdadeiro Michael Bublé!

sábado, 18 de dezembro de 2010

Já dizia Sartre "O Inferno são os outros". É verdade. E o Paraíso também. E se não podemos acertar com tudo, fazer toda a gente feliz, podemos ao menos escolher, ter paciência, respirar fundo e sabermos que a felicidade somos nós. Totalmente nós.

Stephen King II

"She began to giggle and he kissed her soundly and later took her to bed and they slept together like spoons. He remembered waking up once, listening to the wind, thinking of all the dark and rushing cold outside and all the warmth of this bed, filled with their peaceful heat under two quilts, and wishing it could be like this forever - only nothing ever was. He had been raised to believe God was love, but you had to wonder how loving a God could be when He made men and women smart enough to land on the moon but stupid enough to have to learn there was no such thing as forever over and over again".

The Tommy-Knockers

Stephen King I

"Her mind worried restlessly at what it might be, and this time she allowed it to run - she has learned that if your mind insisted on returning to a topic no matter how you tried to divert it, it was best to let it return. Only obsessives worried about obsession."

The Tommy-Knockers

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Fazer pela vida

Às vezes o meu pai, quando me vê a ser explorada, diz "Ó filha isso nem vale a pena o trabalho que tás a ter". E eu sorrio, aprecio até, mas depois lá continuo. A verdade é que fiz poucas coisas até hoje que valessem o que ganhei por elas... mas quem é que não pode dizer o mesmo?
Não é uma questão de não me valorizar. É que desde que deixei de ter "almofada financeira" - e muito grata estou por isso - percebi que tenho mesmo que fazer pela vida. E por mais que tenha vontade de fazer estágios no Reino Unido (tenho muita!) não acho que faz sentido. Nem sentido faz para mim desistir do que quero fazer. A solução é desdobrar-me. Pagar as contas E ir publicando. Não ter dias de folga. Chegar a casa de corpo moído e ir preparar entrevistas.
Eu não me estou a queixar. Deixei de me queixar e passei a fazer o que posso - e nem sempre o que posso é suficiente, mas o importante é nunca deixar de tentar. Isto quando uma pessoa apanha balanço, é muito mais fácil.

Entrevistas III

"Partir pratos é estranho mas alivia imenso"

A porcaria da independência emocional

Sempre que acabo uma entrevista interessante saio aos pulinhos e a querer imenso partilhar o que acabei de viver. Quero sempre pegar o telefone e contar. Hoje concluí que nos últimos anos liguei sempre à mesma pessoa. Sempre, sempre. Hoje olhei para o telefone e percebi que não podia mais ligar à mesma pessoa, que não quer saber das minhas entrevistas para nada. Mas a vontade de partilhar aquilo ficou. Engoli-a. Não tinha mais ninguém a quem fizesse sentido ligar.
Quase no fim de uma longa pesquisa sobre o mundo dos restaurantes, chego à conclusão que os chefs são um pouco como o Cavaco Silva: nunca se enganam e raramente têm dúvidas.

Estou a rir-me mas não sei porquê

Vida de Hotel

Eu ando há muito, muito, muito tempo para escrever sobre a minha vida de hotel. E vou fazê-lo. Mas hoje recebi a dica do ano, vinda de um dos chefs portugueses mais famosos: o blog Psst ó Menina. Acrescentem-lhe entrevistas aos dias de folga, horas a desgravar, muitos envios de CV e cover letter em inglês, e isto, isto amigos é a minha vida. Sem tirar nem pôr.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Eu não acredito no destino mas...

Lemos os sinais que queremos, já se sabe. Por vezes é coincidência, por vezes é um sinal com significado.
E então a conversa deu para o torto e as nuvens negras acumularam-se por cima da cabeça, mesmo depois do acordar bem disposto. A mágoa, a desilusão, raiva, a tristeza, o desprezo e o amor. Tudo junto com palavras amargas, misturado com teclas furiosas, terminado num "bye" seco. Preparava-se para levantar da cadeira e tratar das mil coisas do dia, mas com aquele peso no peito que tanto odiava. Quando, já os joelhos se preparavam para esticar, uma janela pisca. Pisca, pisca, pisca. Um sorriso um tanto corado. E o peso solta-se, o amargo da boca desaparece e um certo alívio surge: é o destino a dar-me uma colher de açucar, eu sei.

Antecipar

Gosto de imaginar coisas que vão acontecer. Por vezes nem dou conta que o faço, vou pela rua e na minha mente mil cenários fantasioso. Nos últimos tempos tenho imaginado sempre a mesma coisa. Com diversos desenlaces, felizes, tristes, enigmáticos. Em que ganho, perco, empato ou acho que perco mas na verdade ganho. O mal de ter esta mente saltimbanca, mal comportada, é que a realidade não pode se não desiludir. A realidade tende a ser embaraçosa, estranha, com muito menos cinematografia. E eu na realidade tenho um cabelo menos sedoso, um sorriso menos cintilante e nunca uso saltos altos. Na realidade eu tenho muito menos impacto no mundo.
E agora vou fazer a minha mala que amanhã parto para três semanas em Portugal. Fazer a mala enquanto antecipo o que se vai passar.

E tenho dito

Leio no Correio da Manhã: «O Presidente da República, Cavaco Silva, considerou que os portugueses têm de se sentir “envergonhados” por existirem em Portugal pessoas com fome, um “flagelo” que se tem propagado pelos mais desfavorecidos de forma “envergonhada e silenciosa”».

Envergonhados, nós? Porquê? E ele, não? Como?

Confesso que o que verdadeiramente me envergonha é verificar que esta frase foi dita pelo mesmo político que foi Ministro das Finanças e do Plano do VI Governo (1980-81), Presidente do Conselho Nacional do Plano, Primeiro-ministro durante dez anos (X, XI e XII Governos, 1985-1995), Presidente da Republica desde 2005, candidato a Presidente da Republica em 2011.

Acordou hoje para o país que tem directa e/ou indirectamente governado desde há 30 anos?

Achará que os portugueses são atrasados mentais ao ponto de o excluírem do Portugal que vivemos em 2010?

Prendas

Há uns tempos li que Passos Coelho disse que não ia dar prendas de Natal às filhas mais velhas por causa da crise. É um tipo de demagogia que me da vómitos e é razão suficiente para não votar num político. Odeio quando se tenta manipular a tacanhez das pessoas.
Falo disto porque leio por aí essa nova moda do "este ano não dou presentes". Por causa da crise, claro. Mas afinal quantos presentes é que têm que comprar? Eu não tenho um tostão furado (e isto não é exagero) e comprei uns 4 ou 5 presentes. Simples, baratos, mas escolhidos com carinho. Não me digam que não se podem oferecer prendas baratas? Não me digam que têm familiares tão chiques que não apreciam um presente que custe menos de 15 euros (e podia dizer menos ainda, não importa)? Que é feito das fotografias, dos postais feitos à mão, dos bolos personalizados? Isso fica tudo a meia dúzia de tostões.
Crise...tá certo. E então o Passos Coelho deve tar até a cortar no pão, coitado.

domingo, 12 de dezembro de 2010

WikiLeaks atinge Portugal

Aqui e aqui (esta é apenas uma confirmação do que já sabíamos).

Gaguejei, justifiquei, e por fim, fiquei à rasca

A minha sina Cardiffiana é, claro, ensinar ao mundo que Portugal não é Espanha e que Portugal tem alguma coisinha para além do vinho do Porto e do Vasco da Gama.
Pois bem. Estava eu a falar das rolhas (o maior exportador de rolhas do mundo - que deprimente!), quando menciono também os vinhos. Que exportamos vinho, que são muito bons, que temos muitos. Diga-se que não percebo nada de vinho, mas sei isto. Ao que os meus interlocutores, bebedores e conhecedores q.b., respondem "Não conheço nenhum vinho português nem nunca vi à venda. Vejo muito vinho espanhol [enumeração de nomes] e italianos [idem], mas portugueses, além do Porto, nunca vi". Eu também nunca vi nada, tenho que confessar.
Fiquei cá com uma cara de tacho.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Entrevistas II

"Food is like sex. Because you can have a quicky against the wall, finish, a cigarete. Or you can have a burguer, shove it in your mouth and move on. Or you can have a banquet, oysters, fish course, main course, pre-desert, desert, coffee, petitfour. So, you can have foreplay, we can dance, we put the candles, we can have long sex and afterwards we have a glass of champaing"

Entrevistas

- Do you have to make an effort to separate your work from your personal life?
- There is always crossover. You can't say this is work and then I'm totally different when I'm at home. It's part of your character. It's like you, you're very agressive when you're here, now you're very agressive.
(ar chocado)
- Me?? I'm not agressive!
- See, now you're getting worried.

O rapaz-mistério

Tenho um amigo que é um profundo mistério. Amigo é termo abusivo. Conheço-o. Tomámos café, conversámos sobre livros, sobre actualidade, sobre os transportes públicos. Eu achava-o acomodado com a vida, preguiçoso. Gostava da sua ironia, não dos seus cigarros. Desprezava o seu cinismo. Gostava dos seus gostos literários. Odiava a sua inércia. Não me despertava sentimentos fortes. Era mais uma pessoa no meu dia-a-dia.
Como o via todos os dias achava que lhe tinha tirado a pinta. Como é normal, fazemos um perfil mental das pessoas que conhecemos e principalmente das que podemos observar de perto: o que comem, o que vestem, o que fizeram no fim-de-semana. Chumbava todas as categorias.
No entanto uma peça não encaixava. Um dia li-o. E não sabia como interpretar aquilo. A sensiblidade, a fluídez, a beleza das palavras. A dor das palavras. A harmonia. Caraças, ele escrevia mesmo bem. Não só escrevia bem como escrevia como outra pessoa. E por mais que eu puxasse pela cabeça não conseguia associar o autor à pessoa. Não rimavam de forma alguma. Por vezes tentava descortinar as palavras escritas numa das nossas conversas banais. Nada, não havia ali nada. No entanto, os textos, sempre.
Evito lê-lo para não sentir este desconforto. Mas hoje, clique aqui, clique ali, deparei-me com mais uma das suas obras de arte. Palavras que me doeram como se fossem minhas. Reforcei o reconhecimento daquele talento. E novamente não compreendi.

Quiz Ponto do i

Algo efémero, que não dura, pode ser considerado arte?

WikiResgate

Julien Assange foi preso em Londres. Planeio um resgate à filme. Who is in?

Hoje estão -5

Pelo que vi das temperaturas em Portugal só levo roupa de verão na mala.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Será que posso enviar o meu CV para a Wikileaks? Ou tem que ser tudo anónimo?
Julien Assange, se me lês, eu sei que vocês tão um bocado atrapalhados com os 90 mil documentos que têm em mãos. Não hesites em contactar-me.
O que eu sei é que neva muito, muito em todo o lado mas aqui só nevou um dia. Agora digam-me para que servem temperaturas negativas sem a parte divertida?
Pfff....!

E sem dor, ok?

Escrever uma reportagem, para mim, é quase como curtir a trip de uma droga. Entro noutra, estou fora do mundo, rodeada de papéis, sublinhados, citações. Tenho epifanias, ataques de entusiasmo e momentos de total descrença também. No fim estou cansada e satisfeita. Feliz.
Agora, desgravar horas de entrevistas... ARG... matem-me já. Acabem com o meu sofrimento.

Aguenta firme

Se pudesse resumir todos os conselhos que me têm dado nos últimos meses, diria apenas "aguenta firme". De todas as palavras, mais doces ou mais duras, perante toda a minha eloquente argumentação falhada, o segredo é apenas esse: não faças nada drástico, aguenta, espera, deixa o tempo trazer clareza. No início claro, ouvir isto é tão agradável como comer agulhas. Mas com o correr das semanas concluí que é o melhor a fazer. Aguenta. Sustém a respiração um pouco mais. Não entres em paranóia, não decidas nada. Aguenta. Espera.
Depois disso fica mais fácil.

domingo, 5 de dezembro de 2010

Acreditar

Tenho uma assustadora capacidade de acreditar. Tenho sempre esperança que as coisas sejam o que muitas vezes não são. Que sejam como eu gostaria. E acreditar é coisa que dá trabalho, luta, esforço.
Quando vejo que os outros não se deram ao trabalho de lutar tanto quanto eu por algo que acreditam, fico furiosa. Quando se deixam morrer como uma planta que não foi regada, quero dizer-lhes que não valem nada. Plantas podres desde a raíz. Fracos. Quero dizer isso tudo mas não posso. Porque isso seria mesquinho da minha parte, não é?
Quero dizer que os sentimentos, tal como as convicções, não são só para quando dá jeito ou quando é facil. E de cada vez que alguém desiste me sinto profundamente desiludida. Não "alguém", alguém específico, claro. Alguém que dá desculpas de plantas não regadas para esconder fraqueza. Eu, que por vezes me sinto estúpida por ser tão crente, entendo em breves momentos de sanidade, que não tenho mais que me orgulhar da força dos meus sentimentos, da lealdade, da firme certeza.
Não podemos impedir que os outros nos desiludam - nem mesmo ao ponto de nos fazerem duvidar de toda a humanidade - mas devemos a nós próprios admitir que antes desiludidos que fracos.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Nós

É uma pena não haver mais nós. Digo isto de forma objectiva. Sem sentimentalismos. Nós tínhamos uma certa qualidade que me fascinava. O meu rolar de olhos perante as tuas... manias de escrever dentro das linhas de forma obsessiva, chamemos-lhe assim. E ainda assim a minha busca pela tua aprovação e a tua recusa. Não, dizias, não te safas tão facilmente. Show me what you got. E eu mostrava: explicava-me, prós, contras, racionalmene, emotivamente, com chantagem, com inteligência, com referência histórica, com ironia. Com tudo o que tinha. E no fim, quase suando, via como estavas orgulhoso, mesmo que estivesses um tanto irritado com a minha teimosia.
Não há assunto nenhum que não tenha passado por esse doloroso processo de debate. E no fim de cada luta - sim, por vezes eram lutas - eu sentia-me um passo mais perto, um passo mais certo, conhecedora de um segredo que mais ninguém sabia.
Havia dias em que não me apetecia ser nós. Só queria ver um filme, comer pipocas, dizer disparates. E tu esperavas... esperavas... e quando eu enjoava das pipocas, bocejava do filme, pimba, apresentavas-me outro painel de debate.
Porém, não se pense que as nossas conversas eram sempre disputas. Por vezes eu dizia "não sei" e tu concordavas. E ficavamos a ponderar pela noite fora. E eu contava os meus pensamentos mais abstractos, mais obscuros, mais incompreensíveis. E tu compreendias. Tentavas interpretar a minha confusão.
Foi num desses momentos que te expliquei porque precisava de ir. E tu respondeste que tudo correria perfeitamente bem.
É pena que isto já não exista. Porque se já não existe é como se nunca tivesse existido. E isso é deveras triste.