É uma pena não haver mais nós. Digo isto de forma objectiva. Sem sentimentalismos. Nós tínhamos uma certa qualidade que me fascinava. O meu rolar de olhos perante as tuas... manias de escrever dentro das linhas de forma obsessiva, chamemos-lhe assim. E ainda assim a minha busca pela tua aprovação e a tua recusa. Não, dizias, não te safas tão facilmente. Show me what you got. E eu mostrava: explicava-me, prós, contras, racionalmene, emotivamente, com chantagem, com inteligência, com referência histórica, com ironia. Com tudo o que tinha. E no fim, quase suando, via como estavas orgulhoso, mesmo que estivesses um tanto irritado com a minha teimosia.
Não há assunto nenhum que não tenha passado por esse doloroso processo de debate. E no fim de cada luta - sim, por vezes eram lutas - eu sentia-me um passo mais perto, um passo mais certo, conhecedora de um segredo que mais ninguém sabia.
Havia dias em que não me apetecia ser nós. Só queria ver um filme, comer pipocas, dizer disparates. E tu esperavas... esperavas... e quando eu enjoava das pipocas, bocejava do filme, pimba, apresentavas-me outro painel de debate.
Porém, não se pense que as nossas conversas eram sempre disputas. Por vezes eu dizia "não sei" e tu concordavas. E ficavamos a ponderar pela noite fora. E eu contava os meus pensamentos mais abstractos, mais obscuros, mais incompreensíveis. E tu compreendias. Tentavas interpretar a minha confusão.
Foi num desses momentos que te expliquei porque precisava de ir. E tu respondeste que tudo correria perfeitamente bem.
É pena que isto já não exista. Porque se já não existe é como se nunca tivesse existido. E isso é deveras triste.
4 comentários:
adorei! menos o fim. se quiseres debatemos m eu posso garantir que se já n exsite nao é, de maneira nenhuma, como se nao tivesse existido.ao contrário, se já nao existe, é precisamente porque existiu.
E é por isso que "nós" é tão, tão diferente de "eu e tu"...
:)
:(
se ja nao existe é como se nao tivesse existido?! nao podes dizer isso! ninguem te tira o que ja aconteceu. mesmo que nao faça sentido agora, fez na altura. e é isso que interessa.
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