sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Piscar o olho

Para mim o Público é feito de piscares de olhos. Numa maré de gente envolta em telefones e blocos de notas, em pequenas reuniões espontâneas, entre ministros e estrelas de cinema, eu estagiária fico na ponta da praia, molho timidamente os pés à beira-mar.
Mas depois há aquelas pessoas que nos piscam o olho. A quem confessamos que estamos cheios de medo, a quem contamos aquela ideia que "não sei se vão gostar", a quem confessamos que embirramos solenemente "com aquela pessoa".
São estas pessoas que sabem bem o nosso nome e perguntam pelas nossas ambições. São elas que nos vão dar um abraço quando, um dia mais tarde, as encontrarmos na rua. São os números delas que vamos guardar no telemóvel.
Contam-se pelos dedos. Ana Machado, Nuno Ferreira Santos, Pedro Cunha, Ana Fernandes, António Granado, Joana Ferreira da Costa. Poucos mas bons, como os amigos, como os carros, como os amores.
Merecem ser referidos porque me fazem não invisível e isso sabe bem. Obrigada.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

"São mais ou menos
Cento e vinte e quatro lados
Redondinhos, afiados
Do tamanho de um pardal
Mas sem as penas
Nem as partes comestíveis
Nem a caixa dos fusíveis
Nem a corda do estendal"

Dou um beijinho a quem adivinhar o que é ;)

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Obama é um "Homem do Presidente"?

"Um político carismático, vindo de um grupo étnico minoritário dos EUA, que arrebata um país e que aposta na união, partidos à parte, para galvanizar as massas. Retrato de Matt Santos, candidato democrata à Casa Branca de Os Homens do Presidente (The West Wing), em 2004. Ou retrato de Barack Obama, o fenómeno das primárias dos democratas em 2008? Ambos.
Eli Attie, argumentista e produtor de Os Homens do Presidente, inspirou-se num político do Illinois para criar a personagem. Chamava-se Barack Obama e chamou-lhe a atenção na convenção que nomeou John Kerry candidato à presidência em 2004. "Inspirei-me nele para desenhar esta personagem. Ele tinha feito um óptimo discurso e as pessoas começavam a falar nele", explicava ontem Attie no Guardian.
Como escreveu o diário britânico, muitos dos espectadores da série (1999-2006) de Aaron Sorkin andavam intrigados com as semelhanças entre a messiânica personagem interpretado pelo hispânico Jimmy Smits e o candidato que está a roubar protagonismo a Hillary Clinton.
A arte, de facto, imitou a realidade. Attie, que escrevia os discursos de Al Gore em 2000, contactou David Axelrod, assessor de Obama que hoje é o seu estratega de campanha, para saber sobre como o político abordava a questão racial. Mas também sobre o seu star-power. "Depois daquele discurso, a vida de Obama mudou. Alguma da aura de celebridade de Santos veio daí", detalhou Eli Attie.
Na série, Santos disputa umas primárias renhidas contra um candidato favorito. Do lado republicano, opõem-se um pastor cristão e um senador mais liberal, evocativos de Huckabee e McCain. "Estamos a viver os seus guiões", brincou Axelrod num e-mail para Attie. A série dá a vitória a Santos nas primárias e nas eleições presidenciais".

Joana Amaral Cardoso, in Público

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Feliz Dia da Independência, Kosovo!

"O sentimento de libertação era visível na forma como todos se lançaram sobre o bolo gigante oferecido por uma pastelaria de Pristina, cheio de creme, como são os bolos neste cantinho da Europa, com a palavra independência escrita com bagos de uva. As pessoas arrancavam pedaços do bolo às mãos cheias, como se fossem troféus. Durante uns momentos, toda a gente tinha creme espalhado por todo o lado - na cara, no cabelo, nas mãos, nos casacões obrigatórios por causa do frio cortante, nas bandeiras..."

Clara Barata, In Público


Deve ser incrível estar lá, acompanhar um momento histórico assim, em que um país se torna independente. Um dia também foi ser enviada especial!

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Fotógrafos

Como jornalista verdinha que sou, tenho imensa curiosidade sobre tudo o que vive dentro deste jornal. E uma das coisas que sempre me intrigou foi a estranha relação que há entre os jornalistas e os fotógrafos.
Acontece que me fiz amiga do fotógrafo mais simpático do Público e conversa puxa conversa ele explicou-me a perspectiva deles e a verdade é que nunca tinha pensado naquelas coisas.
Para mim, confesso, a fotografia subordinava-se um pouco ao texto e por isso fazia todo o sentido que o jornalista visse as fotos antes da publicação e até desse palpites na escolha. Mas percebi desde logo que não podia pedir isso a um fotógrafo, porque eles se chateavam. Não percebia porquê, mas segui as regras do jogo.
Finalmente em conversa com o Nuno (o tal fotógrafo) comecei a entender. Ele explicou-me que as fotos não eram uma ilustração do texto, apesar de, claro, ter que haver coordenação. Para um fotógrafo, as fotos são a visão dele de determinado acontecimento. Tal como eu descrevo por palalvras, ele descreve por imagens. E tal como eu faço apontamentos parvos e esboços meio idiotas, que nunca vou mostrar a ninguém, também o fotógrafo tira muitas fotos só para ele, para compor a imagem na sua mente. "Pedir para ver todas as minhas fotos de um dia, é como pedir para ver as notas do teu bloco. Podes mostrar a um amigo, mas não tens obrigação de o fazer e certamente não o farás quando alguém te ordena", explicou-me. Aquilo fez sentido e percebi que tinha uma visão egoísta do nosso trabalho, que afinal vive em permanente coordenação.
Dei-me conta que o trabalho dos fotógrafos não é assim tão fácil e percebi, finalmente, porque é que são tão defensivos, tantas vezes. Julgo que se irritam com a atitude de alguns jornalistas, que "encomendam" as fotos, como se os fotógrafos trabalhassem a mando deles.
E percebi que não basta carregar no botão. "Gosto que as minhas fotografias espelhem aquilo que eu vi na pessoa", disse o Nuno, a propósito de um actor que foi ontem fotografar. Por isso, como senhor não era muito fotogénico e ele não conseguiu captar exactamente o que queria, voltou a marcar outra sessão. Mesmo que essas fotos não venham a ser utilizadas no jornal. Acho que é isto que significa "pôr a alma naquilo que se faz".


(Se alguma vez o Nuno chegar a ler este post, peço desculpa pelas citações não literais. Escrevi-as de recordação, mas ele não disse aquilo palavra por palavra)

Uns partem, outros voltam

A cadeira dela está vazia há dois dias. Pensamos que dois dias não são nada, mas são o suficiente para termos noção da finitude das coisas. "O que é bom acaba depressa", diz-se. Foi assim com ela, vai ser assim comigo. Sabê-lo não adianta nada. A cadeira vazia não diz "pah" como quer dizer que se desatou a rir às gargalhadas, nem usa a palavra "tola" como vocabulário rotineiro. A cadeira vazia não conspira e apoia as minhas revoltas jornalísticas, nem me dá sinónimos e ideias para frases emperradas. A cadeira não tem sotaque nem nome de canção popular.
(Espero que a cadeira fique vazia, por respeito!)
Estas coisinhas fazem o coração um bocadinho mais pesado, não há como evitar. Mas é sempre bom quando outras equilibram o quadro e trazem aquele calorzinho agradável de lareira ao nosso coração de inverno. E não há nada como o telemóvel voltar a tocar com mensagens disparatadas, não há nada nada nada como os abraços apertados que dizem "voltei". O alívio de poder "deixar para amanhã" sem medo dos dias contados. A normalidade já não precisa de dizer "gosto de ti" porque o que interessa são as canções inventadas, as series de televisão e as sobremesas proíbidas. Acabaram-se as janelas virtuais a piscar a cor-de-laranja e acabaram-se os "tenho saudades". Os dias podem voltar a escorrer sem valorizarmos nenhum momento em especial, porque essas coisas são para quando precisamos de recordações que nos confortem. Agora só quero conversar e rir e refilar e deixar ser assim mesmo.
Fazias mesmo falta. De verdade.