domingo, 21 de agosto de 2011

O piano que me deste

Um dia contaste-me que escreveste uma música de piano para mim. Triste que só ela. E quando ma mostraste, sem explicar nada, eu não liguei nenhuma. Disse que era bonita, pus um smile no chat e toca a andar.

Até hoje tenho remorsos dessa minha incapacidade para ler as tuas notas. Ainda hoje penso como teria sido bonito se eu tivesse entendido essa despedida demorada, sentida, merecida.

Mas as coisas são mesmo assim e o meu ouvido surdo é provavelmente uma perfeita metáfora da nossa incompreensão. Ambos tentamos – ainda hoje – dizer alguma coisa que deixe marca, mas as palavras que escolhemos só têm ressonar dentro da nossa cabeça. E então ficamos ali, às voltas na cama, a pensar no que fizemos de errado.

“Não se ama alguém que não ouve a mesma canção”. E o Carlos Tê sabe bem do que fala.

Minha gente, não desapareci. Dêem-me mais uma semana. Tenho muito para contar.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Abracinhos e beijinhos ao meu computador, que me despeço dele, deixo-o aqui sozinho com os avós.
Tenho uma relação estranhamente próxima com a máquina, que é uma espécie de extensão de mim. Tirei-me o telemóvel, a televisão, o que quiserem, mas o computador, aiiiiiiiiiii, isso não.

domingo, 7 de agosto de 2011

A todos os familiares e amigos que nos últimos dias me têm inundado de mensagens de carinho e apoio: um profundo obrigada. Não me faltarão boas energias. Guardo os vossos abraços e levo-os comigo.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Quando as pessoas me começam "mimimi o facebook é tão mau", "nhanhanhanha é o diabo na internet" e coisas que tais (mas tão sempre lá a cuscar as fotos dos outros!), eu agora respondo: encontrei o meu emprego no facebook. É assim que vou para Macau numa época de crise, com um contrato à minha espera.
Portanto vamos lá mas é dar beijinhos ao facebook.

How to draw bunnies

You're a lovely bunny, remember?

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

O papá e a mamã

De há uns anos para cá mudei radicalmente de opinião acerca deste fenómeno sulista que é ter os filhos a morar com os pais até aos 30. Quando vivia em Portugal achava isso normal - afinal se toda a gente o faz, mais ano menos ano, é porque deve ser assim. Até perceber que Portugal não é o único país no mundo e que os pais em Portugal não amam mais os seus filhos que nos outros lugares.
Sim, é verdade que ganhamos miseralvelmente e sair de casa é muito difícil. Mas não é impossível, muitas vezes. A maioria das pessoas só quer sair quando tem uma situação muuuuito estável, quando pode comprar uma casa (comprar casa!!!) grandita, bem localizada, com tudo o que desejam. Sair de casa não é uma prioridade.
Isto não é culpa de X ou de Y, é uma coisa social. Os pais não querem que os filhos saiam de casa. Não sei dizer quantas vezes tive esta conversa com colegas de outros lugares: se eu sem mais nem menos, sem marido ou namorado, sem um salário generoso, sem motivo que me obrigue a deslocar-me para outra cidade, chegar a casa e disser que me quero ir embora, vou deixar os meus pais tristíssimos. Eles vão perguntar-me qual é o problema da nosssa casa e porque é que não quero estar aqui. E isto representa a esmagadora maioria das famílias.
Os filhos por outro lado estão confortáveis e não acham uma prioridade abandonar o ninho. Nem sempre estão numa situação em que não o podem absolutamente fazer - mas para arrendarem casa teria que abdicar de viagens, jantares e outros pequenos luxos. Não acham que vale a pena.
Eu antes entendia isso. Hoje acho isso patético.
Há uns tempos numa conversa com uma amiga holandesa, ela dizia-me indignada: "O meus pais pagaram tudo, os meus estudos até terminar a universidade, tudo o que eu precisei enquanto crescia. NUNCA lhes voltaria a pedir dinheiro ou voltaria a morar com eles. Agora é o tempo deles terem a sua vida e eu a minha!".
Claro que eu disse que em Portugal a situação económica obrigou a esta coesão familiar, que por sua vez se tornou um traço social que agora está muito enraizado. Ela acenou que sim, que entendia, mas continuava chocada.
A questão é que, com excepção dos países do sul (Portugal, Espanha, Itália e Grécia) as pessoas entendem que quando os filhos vão para a universidade não regressam mais de forma permanente ao lar. E se durante os primeiros tempos vão sendo ajudados financeiramente aqui e ali, o objectivo é dar-lhes asas. Não se quer um filho de 28 anos a arrastar-se em casa. Não é que se goste menos deles ou da sua companhia, é que essa é a atitude certa a ter perante jovens inseguros: lançá-los no mundo.
Mas quando eu digo estas coisas as pessoas ficam muito ofendidas comigo.

Mea culpa

A coisa que mais me custa nisto de estar longe de casa não é as saudades da comida, nem do sol, nem dos amigos, nem sequer propriamente as saudades clássicas da família.
O que mais me custa é este sentimento de culpa constante de estar a fugir às minhas responsabilidades. De filha, de neta, de sobrinha, de prima. De amiga, também. É esta clara noção de que não estou cá para ajudar a aliviar as dores e os trabalhos e a trazer um pouco de alegria quando possível.
O tempo todo me debato com isto: quero estar aqui porque sei que devo estar aqui, e ao mesmo tempo suspiro de alívio por não estar aqui e pela paz de espírito que a ignorância me traz.
Admitir isso ainda me faz sentir mais culpada.