De há uns anos para cá mudei radicalmente de opinião acerca deste fenómeno sulista que é ter os filhos a morar com os pais até aos 30. Quando vivia em Portugal achava isso normal - afinal se toda a gente o faz, mais ano menos ano, é porque deve ser assim. Até perceber que Portugal não é o único país no mundo e que os pais em Portugal não amam mais os seus filhos que nos outros lugares.
Sim, é verdade que ganhamos miseralvelmente e sair de casa é muito difícil. Mas não é impossível, muitas vezes. A maioria das pessoas só quer sair quando tem uma situação muuuuito estável, quando pode comprar uma casa (comprar casa!!!) grandita, bem localizada, com tudo o que desejam. Sair de casa não é uma prioridade.
Isto não é culpa de X ou de Y, é uma coisa social. Os pais não querem que os filhos saiam de casa. Não sei dizer quantas vezes tive esta conversa com colegas de outros lugares: se eu sem mais nem menos, sem marido ou namorado, sem um salário generoso, sem motivo que me obrigue a deslocar-me para outra cidade, chegar a casa e disser que me quero ir embora, vou deixar os meus pais tristíssimos. Eles vão perguntar-me qual é o problema da nosssa casa e porque é que não quero estar aqui. E isto representa a esmagadora maioria das famílias.
Os filhos por outro lado estão confortáveis e não acham uma prioridade abandonar o ninho. Nem sempre estão numa situação em que não o podem absolutamente fazer - mas para arrendarem casa teria que abdicar de viagens, jantares e outros pequenos luxos. Não acham que vale a pena.
Eu antes entendia isso. Hoje acho isso patético.
Há uns tempos numa conversa com uma amiga holandesa, ela dizia-me indignada: "O meus pais pagaram tudo, os meus estudos até terminar a universidade, tudo o que eu precisei enquanto crescia. NUNCA lhes voltaria a pedir dinheiro ou voltaria a morar com eles. Agora é o tempo deles terem a sua vida e eu a minha!".
Claro que eu disse que em Portugal a situação económica obrigou a esta coesão familiar, que por sua vez se tornou um traço social que agora está muito enraizado. Ela acenou que sim, que entendia, mas continuava chocada.
A questão é que, com excepção dos países do sul (Portugal, Espanha, Itália e Grécia) as pessoas entendem que quando os filhos vão para a universidade não regressam mais de forma permanente ao lar. E se durante os primeiros tempos vão sendo ajudados financeiramente aqui e ali, o objectivo é dar-lhes asas. Não se quer um filho de 28 anos a arrastar-se em casa. Não é que se goste menos deles ou da sua companhia, é que essa é a atitude certa a ter perante jovens inseguros: lançá-los no mundo.
Mas quando eu digo estas coisas as pessoas ficam muito ofendidas comigo.
8 comentários:
Eu concordo plenamente, até porque já há uns anos que sinto o peso esmagador de não conseguir sair de casa dos pais.
Mas, enorme diferença cultural, principalmente para países como o RU, os EUA, os Nórdicos, etc, parece-me ser a existência de campus universitários. Os filhos são mesmo obrigados a sair de casa se quiserem ir para uma boa universidade.
Ora aqui em Portugal (pelo menos, em portugal, não falo pelos outros)existe uma policefalia do ensino superior que permite a uma grande parte da população não se afastar muito de casa. E acho que isso dificulta muito as coisas....
"Policefalia"
esse chico tem mesmo a mania :P
Ainda agora passei um mês com americanos (entre cá e lá) que estavam chocados com isso mesmo. Como é que alguém com 22 ou 23 anos ainda vive com os pais? Como suportam essa situação?! Como não se sentem uns parasitas!? Não conseguiram perceber a parte "cultural" da nossa sociedade de arrastar ao máximo a saída.
Bem, quer dizer... Tenho a sensação que essa coisa de estar em casa dos pais até aos 30 acontece sobretudo nas grandes cidades. Lisboa, principalmente. Pode não passar disso mesmo, uma sensação, mas...
Na minha terrinha - Viseu - não é assim tão normal ficar em casa dos pais depois dos 18 anos. Todos querem vir para Lisboa ou ir para o Porto, Coimbra ou assim - as melhores universidades. Só mesmo quem não vai para a faculdade ou quem não tem média é que fica por lá (ou os que são recambiados por só andarem a fazer asneiras e a gastar dinheiro aos pais). A minha mãe sempre me incentivou a sair e tenho a certeza que ela gosta muito de mim! Mas nunca se pôs em questão ficar, quer pela fraca qualidade do ensino superior em Viseu, quer pela experiência de vida que é ter de saber "desenrascar-me".
Claro que tenho amigos que depois da faculdade voltaram para casa dos pais uns tempos até se organizarem. Só que depois torna-se tão intolerável morar com eles que a malta tenta organizar-se o mais rapidamente possível :) Aliás, conheço gente de Viseu com mais de 30 anos a morar com os pais, também. Mas a esses, que são poucos, considero-os mesmo parasitas porque arrendar casa lá é super barato, não custa nada. Só moram em casa dos pais para terem dinheiro de sobra para noitadas e telemóveis - isso é parasitismo, sim.
Se formos a ver, com que idade é que os nossos pais saíram de casa dos nossos avós? Muitos casaram aos 18 anos, caramba! E por piores que as coisas estejam agora, dá sempre para sair, mesmo com o ordenado mínimo. Juro que dá!
Helga
:D pumba! ganda helga *
Concordo com muitas das coisas que aqui foram ditas, mas não percebo como se sai da casa dos pais ganhando um salário mínimo. Desculpem. É o preço de uma renda. Comem o quê? Acho que os baixos salários são o motivo principal para as pessoas não sairem de casa dos pais. A sério.
Precisam de uma casa inteira? Não basta um quarto com acesso à cozinha? Ou não podem juntar-se a amigos? Tenho 500€ por mês, partilho casa em Lisboa, alimento-me (e como muito!), uso transportes públicos, pago contas, e não devo nada a ninguém. Não compro tanta roupa quanto gostaria nem consigo ir ver espectáculos ou ir ao cinema as vezes que gostaria... são opções! Em caso de muito muito muito aperto tenho a possibilidade de recorrer à minha mãe, mas confesso que isso já não acontece há mais de um ano.
Helga
As pessoas ficam ofendidas contigo porque tu e os estrangeiros do norte da europa não sabem o que é o desemprego e salários baixíssimos a recibos verdes. Eu conheço bastante bem esses pseudo-hippies holandeses todos cool, um país no qual lavas uns pratos numa tasca e já tens trocos para pagar um quarto. Eles que venham para Lisboa bulir como engenheiros e arquitectos a receber 400 e 300 euros líquidos.
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