quarta-feira, 30 de março de 2011

A importância de vestir a camisola

Sempre que trabalho para uma organização não posso senão fazer a mesma coisa: dar o meu melhor e ser simpática com os colegas. Mas vestir a camisola é uma coisa diferente de dar o melhor. Não tem a ver com o nosso empenho, mas com o respeito que temos pela organização. Não se pode fingir que se veste a camisola, nem se pode forçar. Ou acreditamos ou não. Isto tudo para explicar, afinal, o que eu estou a fazer em Glasgow. Este vídeo explica tudo o que há para saber sobre o Street News Service e explica também porque é que eu visto orgulhosamente a camisola deste projecto.

terça-feira, 29 de março de 2011

Quero ser mil

Gostava de saber o que estarei a fazer daqui a um ano. Daqui a dois, daqui a 10. O motivo é sempre o mesmo: responder à pergunta "valeu a pena?" Olho para a parede à minha frente e admiro os postais e recadinhos que colei para me sentir mais acompanhada. São vestígios de pessoas, de momentos, de fases da vida. Fazem-me sorrir e fazem-me ter medo também. Tenho medo que a vida continue demasiadamente e eu já não caiba nos diários dos meus amigos. Tenho medo que quando nos encontremos de novo não tenhamos nada para falar. Quero esticar-me pelo mundo, chegar a todo o lado, estar com toda a gente, alimentar todas as amizades, visitar todos os sítios. Ter tudo no meu bolso. Colar os cacos do que se partiu, regar a plantinha que ainda agora despontou e já está a morrer. Quero ser mil e fazer tudo. Porque tenho saudades vossas. Porque agora que sou eu contra o mundo, entendo ainda mais como vocês são importantes. Todos os riscos, as dores de cabeça, as incertezas, o telemóvel que não toca... daqui a 10 anos: valeu a pena?

Um dia no Kelvingrove Museum

"Clay the life/ Plaster the death/ Marble the revolution"












domingo, 27 de março de 2011

Regressada das trevas, aqui estou

Mudanças. Nas duas últimas semanas a minha vida deu uma volta 360. A volta foi tão grande que me deu febre - o corpo tem os seus limites.
Já tenho casa, mas é um pouco como morar numa residência: estou no meu quarto e escuto à porta para tentar ir à cozinha quando não está lá ninguém. Nesta cidade grande não sei onde fica o supermercado, os correios ou a Primark. Não sei onde fica nada - mas o médico já descobri! Nesta cidade de sotaque difícil de entender não conheço ninguém e fico em casa ao sábado à noite.
O entusiasmo dos primeiros dias, de mapa na mão, galochas e flocos de neve, esfumou-se. Mas eu sei como é, por vezes bate a realidade e nós temos que a empurrar para longe. Para a combater decoro o meu quarto com postais e bilhetinhos e faço listas de locais turísticos a visitar. E de cidades próximas. E planeio fins-de-semana que nunca vou conseguir concretizar. E penso: caraças, estou na Escócia!
E é isto amigos: estou na Escócia. Com saudades de casa, com saudades de conhecer as ruas e os corredores do supermercado. Com saudades de andar a pé. Mas estou aqui. Determinada a tirar o melhor dos próximos seis meses e de vos contar todas as novidades.

quarta-feira, 23 de março de 2011

domingo, 13 de março de 2011

A manif

Já não era sem tempo. Não uma manifestação, mas este tumulto, este protesto. A coisa que mais me choca na sociedade portuguesa é a sua incapacidade de se indignar. Então sim, já era sem tempo que os jovens, o sangue fresco de um país, deixasse de se comportar como um rebanho de carneiros mansos.
Estive vários dias a pensar que ia ficar caladinha para não ferir susceptibilidades, mas afinal desde quando é que eu comprometo as minhas ideias aos melindres alheios? E afinal, todos temos o direito à opinião.
Então sejamos duros. A conversa do "e a senhora da limpeza que trabalha mil horas por semana e ganha 300 euros?" ou "eu trabalhei 1 ano de graça e morei em casa dos meus pais até aos 35 por isso vocês aprendam, meus meninos" dá-me nojo. A ideia que a minha geração é mimada é repugnante. Ofensiva, desprezível. A minha geração é a primeira a viver pior que os seus pais.
Nós estudamos - como nos atrevemos com tanta gente que não teve essa oportunidade? - fazemos mestrados e doutoramentos - devemos ter a mania que somos doutores, só pode - fazemos estágios não remunerados consecutivos - é experiência, o que é que queremos mais? - sabemos falar três línguas - devemos achar que o português não é bom o suficiente... - e quando finalmente conseguimos um trabalho (se conseguirmos) a recibos verdes ou algo do género, vendem-nos a ideia que 500 ou 600 euros não é nada mau.
Eu sou da geração que não foi à guerra - comodistas! - mas também nunca teve horário de trabalho, férias pagas (ou férias de todo), paga despesas sempre do seu bolso, faz trabalhos por fora quando consegue para ter uns tostões para viajar no fim de semana com ponte - como se atrevem a querer viajar se há tanta gente que nunca saiu de Portugal??
Eu sou da geração que está disposta a receber menos (ou nada) se poder fazer um trabalho minimamente relevante, interessante ou criativo mas a quem sempre empurram para a mediocridade. A geração que tem ideias, que quer fazer, mudar, revolucionar e a quem dizem para estar mas é quietinho.
Eu sou da geração que sai do país porque em Portugal vendem-lhe a atitude do "já não é nada mau, come e cala". Onde nivelar por baixo é palavra de ordem. A crise sente-se em todo o lado, mas a vergonha de pagar misérias a pessoas qualificadas só não existe em Portugal. No Reino Unido a crise é grande - podem não o saber, mas é. No entanto, a classe política e os empregadores desdobram-se em desculpas porque sabem que um jovem de 25 anos qualificado merece mais que o salário mínimo. E parecendo que não, esse sinal de respeito conta para alguma coisa.
Eu sou da geração que tem três empregos para pagar a renda. Mas que só o pode fazer porque mora fora, pois em Portugal isso seria impossível - encontrar um trabalho "casual" é difícil e paga perto de nada tendo em conta o valor das habitações. Eu sou da geração que queria mesmo voltar para Portugal mas não consegue encontrar nenhum trabalho na área que pague 800 euros - sim, porque era só isto que eu pedia.

terça-feira, 8 de março de 2011

Adoro este anúncio

O sol, Cardiff e a magia dos mixed feelings

Há dias que decidi começar a arrumar malas. Tralha de um ano e meio. Faltam dois dias para dizer adeus a Cardiff e ainda não mexi uma palha. Vivo os dias como se não fosse embora, sem pressas, com os mesmos horários desregulados e sonos trocados. Acho que ainda não entendi que vou mesmo, que aterrarei novamente numa cidade que me é estranha, sem amigos, referências ou mesmo uma casa para me acolher.
E continuo a adiar o fazer das malas, continuo a adiar o último café, a última cerveja, o último abraço, o último beijo. Continuo a pensar que agora que o sol despontou, posso tomar o pequeno-almoço no jardim. Não marquei visitas para ir dizer adeus a professores e amigos menos próximos. Não vou visitar os meus locais preferidos nem comer fudge do mercado da baía. Finjo que tenho tempo para matar saudades daquilo que ainda agora comecei a conhecer. Não sei o que se passa, eu sou uma pessoa de rituais. Mas é que desta vez não consigo evitar este profundo estado de negação.

domingo, 6 de março de 2011

Freud explica, provavelmente

Pensar que sim, que não e que talvez com alguma ponderação. Hesitar, respirar fundo, sentir o coração na boca, no peito, nas mãos. Querer, não querer, duvidar, ter a certeza e depois logo a seguir mudar de opinião. Suspirar eternamente, procurar o ar todo acumulado entre os músculos, entre os poros, dos pés à cabeça. Tentar entender se o que me move é apenas medo irracional ou um aviso sábio do inconsciente que grita "cuidado".

sábado, 5 de março de 2011