domingo, 31 de outubro de 2010


O Certo e o Errado

Há dois anos a minha vontade era esta: partir. Sentia uma vontade incontrolável de conhecer novos lugares e pessoas, um sentimento com uma força insuperável. E sabia, então, que era apenas isso que podia fazer. Ir. Tudo o resto se arranjaria (mais tarde concluí que nem tudo se arranjou, pelo contrário, mas "no regrets").
No entanto, depois da minha última visita a Lisboa fui invadida por um sentimento profundo de querer estar ali. Não ali em Portugal, ali em Lisboa. E tal como antes, um cenário se desenhou na minha cabeça.
Estas coisas não se explicam. Tenho vontade de voltar. Quero voltar. Quero a minha casa na Baixa, pronto. Não se trata de uma casa, trata-se de uma vida. Trata-se sempre de uma vida. Não consigo parar de pensar nisso. Tenho mesmo vontade de voltar, caraças. O problema? Um emprego. Procura-se emprego para jovem jornalista. Senhor empregador, se me está a ler, isto é um pedido de ajuda: da Baixa ao jornal/ rádio/ TV/ revista seria um pulinho, eu nunca estaria atrasada e o meu grau de entusiasmo? Nos píncaros! Aguardo resposta!

sábado, 30 de outubro de 2010

Hoje iniciei três posts e cheguei à conclusão que não os posso escrever.

Ser viciado numa droga deve ser assim. Querer, querer, querer e continuar a dizer, não, não, não, não. E esperar, esperar, esperar.

Baralhar? Sim, claro, claro que quero.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Eu gosto de comer esparguete cru!



Porque realmente, de perto, ninguém é normal.

O meu conceito de religião

"Eu estava ligada ao mundo por uma quantidade de fios, tu por poucos e robustos cabos. Era a mesma coisa com o patriotismo. Tu gostavas da ideia dos Estados Unidos muito mais do que do país real, e era graças aos teus ideais sobre as aspirações americanas que podias ultrapassar o facto de ver os teus parentes ianques que faziam bicha de noite à porta da FAO Schwartz, com termos cheios de sopa quente, para comprar a Nintendo num lançamento de promoção, limitado. No particular reside o piroso. No conceptual, o grandioso, o transcendente, o duradouro. Os países e um qualquer rapaz mau podem ir para o inferno, mas a ideia de países e filhos triunfa para todo o sempre. Embora nenhum de nós frequentasse a igreja, eu cheguei à conclusão de que tu eras uma pessoa naturalmente religiosa."

Lionel Shriver, in Temos de falar sobe Kevin

Bom e Mau

Há qualquer coisa boa e má nisto do blog. Eu podia escrever sem parar sobre o mesmo tema. Dezenas de posts. Mas claro, não posso. No entanto, de cada vez que quero pegar no telefone, de cada vez que o desligo de cara amassada, quero escrever. Tenho uma necessidade enorme de explicar. Porque sei que tenho de parar de ser esta pessoa obstinada que não soube ouvir um Não. Mas não consigo. E vir para aqui escrever ajuda. É como fazer batota. Ai queres que fique calada? Então está bem, mas levas com umas indirectas. Claro que não é bem assim, mas quem liga a nuances?
Como disse, é bom mas é mau.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Viciada em

*Na série, não na banda sonora.

2011 onde estás?

Ainda estamos em Outubro e já estou com medo do Natal. Atenção, eu adoro o Natal. Corrijo: adoro o conceito de Natal. Mas no Natal eu fico sempre triste, mas triste a sério. Só quero que passe depressa, apesar de adorar a decoração, as músicas, a comida e todos os rituais da consoada. Apesar de gostar de escolher prendas. Apesar de tudo de bom que tem o Natal, fico terrivelmente triste. E é coisa que dura imenso tempo, estragando-me invariavelmente o Ano Novo - para o qual tenho sempre expectativas e saem sempre frustradas. Portanto o que eu gostava era que fosse Janeiro, lá para dia 5 ou 6 (quando começo a recuperar) e eu fosse invadida pelo meu sentimento preferido: começar de novo. Resoluções, um novo ânimo. Esperança. Fechar 2010 a sete chaves e dar a 2011 um quarto limpinho, imaculado, cheio de força de vontade.

Frustração

Às vezes sinto mesmo que as pessoas não se esforçam. Cada vez mais se torna claro para mim como as pessoas são egoístas, caprichosas. Por acharem que podem sempre dizer o que querem, por acharem que os seus sentimentos devem sempre ser compreendidos. Por acreditarem que não têm que engolir sapos, fazer sacrifícios. Olho para isto e entristece-me. Sinto que me desdobro em mil para que toda a gente esteja bem, se dê bem, e fico a lutar contra a maré sozinha.
A sociedade, por mais defeitos que tenha, é o melhor sistema que temos. E implica os nossos pequenos teatrinhos diários, implica dizer que estamos bem quando não estamos, fingir que gostamos do que não gostamos e relevar coisas não queríamos ouvir. Se não o fizermos, se não aceitarmos que a vida é assim, acabamos, invariavelmente, sozinhos.

Coração dividido

Por um lado em Portugal, família, amigos... por outro, aqui uma embalagem de cogumelos frescos custa 85 cêntimos e em Portugal custa 7 euros. E perante isto não consigo decidir.

Em casa


























Suspiro...
Um beliscão de volta a quem me aturou SEM compensações alcoólicas. Não é fácil ;)

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Um sincero e profundo obrigada a todos os meus amigos que nestes dias me aturaram, convenceram, confortaram e principalmente ouviram. Aos que não tocaram no assunto e aos que me elogiaram até mais não. Aos cafés intermináveis, aos copos e aos jantares. Aos que me deram essa tão ansiada nova perspectiva.
Vir a casa foi muito bom. Não é sempre, mas desta vez foi mesmo o que eu queria. Sol, café, mar e as ruas mágicas da minha cidade preferida.

Um beijinho ao N., que eu não sabia que me lia. (ai, que vergonha)

E aos que me lêem mas não falam comigo, um pedido encarecido que não se ponham a conjecturar sobre a minha vida.

Está decidido

Antes dos 30 moro em Lisboa. Que cidade! (seguir-se-ão fotos)

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Adultos

A gente pensa que quando cresce tudo é diferente. Somos mais distintos, não fazemos cenas. Temos orgulho, senso de dignidade. Somos racionais. A gente pensa que quando somos adultos não imploramos, não choramos, não queremos que nos mintam. Quando somos adultos sofremos em silêncio, de forma madura. Não em restaurantes, bares, carros ou mesmo ruas. E somos sensatos, não impulsivos. Nunca desesperados. Nunca pedinchas plo que não nos pertence.
A gente pensa isso tudo sim, e apesar da idade no BI, ficamos sempre à espera do dia em que a dita adultice chegue.

Pep talk

A coisa boa de se bater no fundo é sabermos que depois disso só pode melhorar. Este é um dos meus clichés preferidos. Porque é mesmo verdade. É coisa que me conforta, esse sentido de esperança no futuro. Essa reconstrução. Tijolo a tijolo.
Agora é assim, tudo novo. Se pudesse deitava fora todas as minhas roupas e começava um estilo completamente diferente. O cabelo já cortei. Talvez devesse aprender uma língua nova, mudar de casa. Começar a usar um perfume diferente. Aprender a cozinhar um prato exótico. Talvez tudo isso ajude. Talvez eu não consiga escapar a mim própria, mas por enquanto tento isto: uma perspectiva diferente. O mundo, afinal, é uma questão de ponto de vista. E o que tenho a fazer, é mudar o meu.

Além disso, está sol. O ar cheira bem e o mar é já aqui.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

domingo, 17 de outubro de 2010

Houmus


Não sei como vivi tanto tempo sem esta pequena maravilha. Houmus, que só experimentei há pouco mais de uma semana, é uma espécie de paté de grão, de origem, acho, libanesa, que é muitíssimo comum no Reino Unido, esse maravilhoso melting pot.
No supermercado custa menos de 1 libra e é a coisa mais deliciosa de sempre.


P.S.

A transmissão optimista seguirá dentro de momentos.
No espaço dos últimos dois dias, duas pessoas que não se conhecem disseram-me que tinham a certeza que eu iria ser muito bem sucedida. Que a luta ia acabar muitíssimo bem, era só uma questão de tempo.
Fico comovida com o facto de ter amigos que têm tanta fé em mim, mas confesso que odeio ouvir isto. Porque os meus amigos não têm qualquer razão válida para dizer isto. É apenas porque gostam de mim, calculo. Porque acham que eu me dedico e por isso vou ser recompensada. Mas eu, eu não tenho qualquer tipo de fé. Dizer que tenho medo é pouco - eu estou aterrorizada. O tempo todo. E as expectativas dos outros são apenas mais gente que poderei desiludir.

E depois deste post regressaremos a assuntos banais e levezinhos

Ocorre-me por vezes que há demasiadas pessoas a ler este blog que eu não gostaria que lessem alguns posts. Mas depois encolho os ombros. Tenho de parar de tentar controlar tudo. Eu gosto de escrever, é terapêutico. E ajuda-me a sentir-me mais próxima de alguns amigos.
Claro que sem o blog é muito mais fácil dizer o que me apetece quando encontro as pessoas. Não ter que responder a perguntas difíceis.
Oh well... azar.

You can't have your cake and eat it too

A minha mãe sempre me disse uma frase que eu odiava: "Não podes ter tudo". Parecia-me sempre absurdo e cruel. Desnecessário. A vida é tão curta e só temos esta oportunidade de viver tudo o que o mundo tem para oferecer. Há sempre uma solução, um compromisso, podemos sempre dividir o tempo e multiplicar... tudo.
Hoje, sentada no jardim, a ver o sol subir no céu e invadir a mesa, percebi a sabedoria nas palavras da minha mãe. Claro que ela aplicava este slogan a coisas simples como querer ir a duas festas no mesmo dia ou comprar duas camisolas em vez de uma. Mas se calhar ela estava a querer preparar-me para decisões mais sérias. Se calhar ela sabia que ia sempre tentar fazer tudo, chegar a todo o lado, ter tudo. "Have your cake and eat it too". Se calhar ela sabia que as coisas nunca correm assim e que as escolhas são sempre cruéis, nunca nos dão total satisfação. Mas o compromisso tem os seus limites e só podemos esticá-lo até certo ponto.
Se calhar a minha mãe sabia disto tudo e quis preparar-me. E eu nunca lhe liguei nenhuma.

Onde está?

Onde está o botão off? Quero desligar a cabeça - quero desligar tudo. E se não há botão (como não há botão?), então quero prender as mãos com algemas e dormir por 15 horas. Quero ser sedada, quero estar amarrada a uma cama como os doentes das alas psiquiátricas. Imagino-me a suar, a debater-me, a gritar. Até finalmente parar. Ou então um exorcismo, com padre e tudo. Sim, isso também me parece adequado. No fim vomito um qualquer veneno e não preciso mais amarrar as mãos, os braços, as pernas. Sim, isso seria bom. Tudo por um pouco de paz de espírito.
Mas o botão off parece-me muito mais sensato.

sábado, 16 de outubro de 2010

Porque a genialidade das palavras só se entende quando se aplicam



O Primeiro Dia

A principio é simples, anda-se sozinho
passa-se nas ruas bem devagarinho
está-se bem no silêncio e no burburinho
bebe-se as certezas num copo de vinho
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

Pouco a pouco o passo faz-se vagabundo
dá-se a volta ao medo, dá-se a volta ao mundo
diz-se do passado, que está moribundo
bebe-se o alento num copo sem fundo
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

E é então que amigos nos oferecem leito
entra-se cansado e sai-se refeito
luta-se por tudo o que se leva a peito
bebe-se e come-se e alguém nos diz: bom proveito
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

Depois vêm cansaços e o corpo fraqueja
olha-se para dentro e já pouco sobeja
pede-se o descanso, por curto que seja
apagam-se dúvidas num mar de cerveja
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

Enfim duma escolha faz-se um desafio
enfrenta-se a vida de fio a pavio
navega-se sem mar, sem vela ou navio
bebe-se a coragem até dum copo vazio
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

E entretanto o tempo fez cinza da brasa
e outra maré cheia virá da maré vaza
nasce um novo dia e no braço outra asa
brinda-se aos amores com o vinho da casa
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida


P.S Bem lembrado Sr Maia.

Diz tudo

Ensaia. Sem medo, é só a almofada. Coloca-te de forma confortável debaixo dos lençóis e olha para a almofada, que é verde e e assim - com desenhos de folhas. E depois diz-lhe. Diz-lhe tudo. Todas as hipóteses. Tens que dizer tudo ou não se torna real. Diz-lhe que fazes as malas hoje. Feito. Sem hesitação. Diz-lhe que não aceitas não como resposta, que vais mudar de vida, que vai ser melhor. Que vai ser perfeito. Sente o corpo tremer com esta ousada afirmação. Sorri de entusiasmo. Depois, respira. pausa. Continua a olhar para a almofada tão fofa e apetecível. Não digas nada, mas pensa em tudo o que poderá correr mal. Pensa em lugar A, B e C. Pensa que queres lá ir. Pensa como isso vai correr. Pensa em D, E, F, coisas que queres fazer. Pensa na reacção. Franze o sobrolho, tem dúvidas. E depois novamente, pensa que isso são moedas de um cêntimo, não contam. Que com elas não compras nada. Volta a falar. Leva tudo ao extremo, fala de vestidos brancos e bebés. Fala de uma casa no campo. Enlouquece.
Admite a ti própria que tens que tomar uma decisão radical. Morde a língua até fazer sangue - tu sabes que não queres fazer isso mas tem de ser. Sim ou Não. Tem total consciência que o que tu queres são batatas, mas ainda assim tens que saber o que isso é.
Pára de olhar para a almofada. Olha para o tecto. Pensa noutra coisa qualquer. Pára de murmurar essa canção. Pára de pensar na galinha de peluche na cadeira. Pára! Deixa o carro estacionado no cantinho escuro - ele que fique vazio. Não consegues. Continuas a desfiar pensamentos aleatórios. Sentes o coração bater desenfreadamente. Não ousas sequer olhar para a almofada. Esqueces-te que é um almofada e temes que vá falar. Vá dizer que tudo isto é inútil, que o meu desespero é desnecessário porque as decisões estão tomadas, eu só tenho que as mastigar até desaparecerem. Sente uma bola de ráfia na boca. Respira fundo ou não vais conseguir prosseguir.
Disseste tudo. Sentes-te melhor. Respiras melhor. Vais lá fora, apanhas ar. Está sol, mas frio. Perfeito. Sentes o gelo penetrar plo pijama, plo robe, pla manta. Agradeces.
Regressas. Imploras por sabedoria. Desejas ter 70 anos de idade e respostas. Desprezas os teus 24 anos por não te terem ensinado nada.
Planeias fazer o mesmo exercício amanhã. Quem sabe, amanhã será melhor.

Sérgio Godinho... sabias do que falavas ou era só poética?

O Fim de tudo é o Recomeço.

Recomeço estou à tua espera. Nunca mais chegas, hein?

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Já diz o filme que o Amor é um lugar estranho. Estranhíssimo. O Amor não é óbvio, como as pessoas pensam. Não é ama-se e pronto. Não... Ama-se mas não se ama, ama-se mas não se pode, ama-se mas não se sabe. O amor é feito de tantas pequenas coisas que só o podemos apreciar de longe, como uma pintura. São viagens de carro, são passeios de centro comercial, são beijos profundamente apaixonados, são amuos, são discussões acesas. O amor são mensagens antes de dormir e ao acordar. São palavras que não se dizem, mas sabem-se. O Amor não é nada uma coisa enorme, esmagadora. São essas pequenas peças de puzzle, todas juntas. São momentos íntimos e também públicos. São gestos grandiosos e outros que passam despercebidos. São essencialmente segredos preciosos que partilhamos.
E um dia percebemos que tudo isto não será eterno. Há sempre esse momento trágico em que entendemos que a possibilidade de ser eterno é pequena, é ínfima. Claro que já o sabíamos de cor antes, toda a gente sabe. Mas quando sentimos isso, que nem aparição religiosa, é um dos maiores choques da vida. Este nosso amor não é eterno. Não somos eternos. E com essa realização, vem a temível verdade, aquela que jamais quisemos admitir. Que um dia ele vai olhar embevecido para outro sorriso que não o nosso. Um sorriso novo, fresco, sem passado, sem peso, sem história, sem mágoas. Um sorriso que promete um mundo de compreensão e felicidade. E quando esse dia chega percebemos que estamos finalmente sozinhos.