terça-feira, 30 de setembro de 2008

O charme do Paper Cup*

Ontem abriu o primeiro Starbucks em Portugal. Fui logo lá dar uma espreitadela. Ok, fui em trabalho, mas iria brevemente na mesma.
Infelizmente este primeiro é num centro comercial, mas já está pensado um café de rua em Belém, até ao fim do ano, e vários outros no futuro.
O meu entusiasmo é facilmente explicável: são anos e anos de filmes, de séries, de anúncios, de fotografias, enfim… daquela imagem romanceada de uma qualquer Nova Iorque ou Londres, em que as pessoas transportam cafés pela rua. O meu imaginário alterna entre o ritmo apressado das cidades – há sempre um café na mão quando as duas personagens chocam uma com a outra na rua e se apaixonam (“ai desculpe, sujei-a!”) – e o passeio melancólico e pensativo por paisagens de neve.
Starbucks lembra frio, claro. Tem o charme irresistível do inverno. O copo alto e fumegante que aquece as mãos geladas. Engolir aquele líquido familiar que nos aquece o esófago e tantas vezes a alma.
Hoje bebi um frappuccino de caramelo, que ainda faz calor e apetece um refresco.
Mal posso esperar pelo frio.



*Em Portugal adoptou-se a política de servir os cafés em loiça (chávenas e canecas muito catitas!), para ir de encontro à nossa tradição. Só os cafés que são para levar é que vêm nos “paper cups”.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

O pé de cinco anos

Lobo Antunes foi a Nova Iorque promover o novo livro “Que fazer quando tudo arde?”. O Público foi com ele:

“- Comecei a escrever por causa do Mickey Mouse, do Flash Gordon, do Sandokan, aos cinco.
Até que, por falar em cinco anos, e quase de repente, contou do hospital de crianças cancerosas onde trabalhou depois de voltar da guerra de Angola e de como nesse hospital se zangou com Deus, apesar de não ser um homem religioso. Estava lá um miúdo de cinco anos com leucemia, muito bonito, de olhos grandes e, na sua opinião, Deus não tem o direito de pôr uma criança a gritar por morfina. O rapaz morreu e vieram dois homens com uma maca, mas como o morto era muito pequeno, bastou um homem enrolá-lo num lençol e levá-lo ao colo pelo corredor, mas um pé da criança saiu do lençol e ele viu o pé afastar-se, balançando no ar.
- Nesse dia decidi: vou escrever para aquele pé.
Talvez já tenham visto uma plateia de nova-iorquinos, professores, académicos, leitores, intelectuais, as pessoas mais cosmopolitas do mundo, a engasgarem-se nas próprias salivas silenciosas”.


Rui Cardoso Martins, escritor

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Coisas que não percebo

“Bem, no programa da Teresa Guilherme perguntaram a um homem se queria ter um pénis maior!” – disse chocada.
Silêncio dos meus colegas que costumam comentar avidamente programas televisivos.
Uns 30 segundos passados: “Não é assim tão mau, há perguntas piores. Além disso, não quer dizer que ele tenha um pénis pequeno, pode apenas ser ganancioso”, respondem.
“Mas a questão não é essa!” – digo – “O facto de perguntarem isso num programa de televisão e lhe darem dinheiro pela resposta é, no mínimo, aberrante!! Ou não?”
Silêncio. Encolhem os ombros.
Não percebo.

sábado, 20 de setembro de 2008

Um dos livros/ filmes que mais me marcou nos últimos tempos



Comes the morning
When I can feel
That there's nothing left to be concealed
Moving on a scene surreal
No, my heart will never, will never be far from here

Sure as I am breathing
Sure as I'm sad
I'll keep this wisdom in my flesh
I leave here believing more than I had
And there's a reason I'll be, a reason I'll be back

As I walk the hemisphere
I got my wish to up and disappear
I've been wounded, I've been healed
Now for landing I've been, for landing I've been cleared

Sure as I am breathing
Sure as I'm sad
I'll keep this wisdom in my flesh
I leave here believing more than I had
This love has got no ceiling

Eddie Vedder

A Boa

No outro dia cruzei-me com "a boa" da escola. Isso já tinha acontecido antes, já que moramos na mesma cidadezinha (é vila, é vila). Mas desta vez ela estava na mesma loja que eu e não me viu, o que me permitiu observá-la melhor.
"A boa" da escola não é nada boa. Está gorda, tem um nariz adunco horrível e uns dentes da frente tortos, grandes e saídos. Olhando para trás, ela já era assim no 9º ano. Menos gorda, mas também não tinha tido um filho.
Não me levem a mal, não tenho nadinha contra ela, sempre foi muito simpática comigo, aliás, com a generalidade das pessoas. Se falo assim dela é só porque constato que na escola o conceito de "boa" é distorcido. Como quase tudo na escola.
O que a fazia "boa" na escola eram as suas roupas justas (se bem que hoje em dia talvez não fossem assim tão justas...), a sua atitude de "comigo ninguém se mete", tão diferente de nós, que tínhamos que pedir autorização à mamã para fazer tudo. Era como falava de adultices, tinha namorados "a sério" (ou seja, dormia com ele), com um aspecto mauzão, tinha resposta na ponta da língua. Era como andava, como se inclinava quando ia ao quadro. Lembro-me claramente desses momentos em que os rapazes cochichavam e riam baixinho enquanto ela escrevia, ainda com giz.
Nunca duvidei que ela fosse "boa". Era assim. Talvez houvessem raparigas mais giras, mas ela era "boa" e acabou. Na escola havia imensas verdades inquestionáveis. Se não gostávamos da discoteca da moda, havia claramente algum problema connosco. Isso e muitas outras coisas.
Agora que a vi "a boa" na loja das fotografias, penso que não tenho mesmo saudades nenhumas da escola. No entanto, tenho que admitir que era uma época que, apesar de nada fácil, era simples, bastava seguir as regras. As amigas, quando decidíamos que eram amigas, eram para sempre. Nunca duvidávamos da validade das amizades. Da mesma forma que não duvidávamos que a "boa" era boa, apesar de ser feia.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

domingo, 14 de setembro de 2008

Para quem ainda não percebeu porque é que eu quero ir para Inglaterra

"Do you want to study journalism in the city which many call the media capital of the world? Learn broadcast journalism in the city where the BBC began? Be installed in a newspaper tradition that goes back nearly 400 years?"

Sim, University of Westminster, eu quero. Fazes-me um desconto?

O Post do Desassossego

No outro dia o meu pai disse que eu era uma pessoa desassossegada. Acha que sou uma alma insatisfeita, independente e que se desgasta sempre em busca de qualquer coisa que nunca é o que tenho na mão.
Nunca pensei em mim própria como uma pessoa desassossegada, apesar de achar que sim, é capaz de ser verdade.
Seguiu-se uma longa conversa sobre as pessoas que nascem com um sossego interior, que são felizes onde estão e com aquilo que constroem, e as outras. Era eu, portanto.
Não percebi bem se esta característica me foi atribuída como elogio ou não. O desassossego sempre fez as pessoas infelizes, pensei. Mas também lhes deu o impulso para criar vidas mais cheias, mais felizes, mais coloridas.
Por outro lado... o desassossego, esse que parece que tenho, não garante aventuras, não garante riscos, não garante idas sem voltas marcadas. Só garante uma vontade enorme que assim seja.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Sarah Palin

A candidata a vice-presidente de John McCain é uma verdadeira aberração política. Quanto mais olho para as eleições americanas (que sigo com imenso interesse) mais me orgulho de ser europeia.


"É suposto os republicanos quererem baixar impostos e combater défices. Ninguém nota que Sarah Palin aumentou os impostos num estado que não precisa deles (porque tem petróleo) e deixou 22 milhões de dólares em dívida a uma cidade do tamanho de Celorico da Beira, que antes tinha uma dívida de zero. É suposto admirarmos o facto de ela ter tido um filho deficiente, que é uma decisão pessoal. No plano público, ninguém se incomoda com ela ter cortado sessenta por cento dos fundos para apoio escolar a crianças deficientes. Ninguém se incomoda? Ninguém noticia, sequer. É suposto levar a sério o desprezo dos repúblicanos pelos "intelectuais". Ao mesmo tempo, ninguém investiga a sério as notícias de que Sarah Palin pressionou a biblioteca do seu município para censurar os livros do seu acervo"


Rui Tavares, in Público


sábado, 6 de setembro de 2008

Au Revoir é até breve



Assim de uma assentada vão todas embora. As despedidas já são o meu forte (mais ou menos).
Nos últimos anos aprendi que o mundo é bem mais pequeno do que parece e que nada é definitivo. Não é como quando mudávamos de escola e deixávamos os amigos para trás, porque parecia incomportável uma amizade sem o mesmo recreio.
Agora somos mais habilitados e sabemos como desmultiplicar o tempo e encolher o espaço.
Os dias passam entre preparativos, depois da emoção das etapas vencidas. É divertido. Mas depois chegam os autocarros e os comboios, eu encosto a cabeça no vidro e pronto - o que é que posso fazer? - penso. De uma maneira fraca, sentimental, filosofante. É um perigo.
Desta mistura sai um bolo de entusiasmo, de previsões futurológicas de sucesso, juntamente com uma nostalgia antecipada e uma leve melancolia solitária.
Dou-me conta do quanto confio nos seus conselhos, de como busco a sua companhia num dia mais desanimado. De como são o ingrediente perfeito para o "nada que fazer". Para um café solarengo, ou tardio. Para uma daquelas muitas mensagens de telemóvel "só porque sim", porque preciso de dizer esta ideia a alguém. De como me interesso pelas suas histórias, de como peço actualizações para me certificar que tudo está bem. Dou-me conta que de uma vez só vão-se as aventuras inusitadas, as fofocas mal intencionadas, as toalhas de praia e os mergulhos nada ousados. As indecisões profissionais, o maldizer dos colegas, o entusiasmo que se pode partilhar por uma folha de jornal.
A vida continua, sim. Mas com menos graça.