terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Fotógrafos

Como jornalista verdinha que sou, tenho imensa curiosidade sobre tudo o que vive dentro deste jornal. E uma das coisas que sempre me intrigou foi a estranha relação que há entre os jornalistas e os fotógrafos.
Acontece que me fiz amiga do fotógrafo mais simpático do Público e conversa puxa conversa ele explicou-me a perspectiva deles e a verdade é que nunca tinha pensado naquelas coisas.
Para mim, confesso, a fotografia subordinava-se um pouco ao texto e por isso fazia todo o sentido que o jornalista visse as fotos antes da publicação e até desse palpites na escolha. Mas percebi desde logo que não podia pedir isso a um fotógrafo, porque eles se chateavam. Não percebia porquê, mas segui as regras do jogo.
Finalmente em conversa com o Nuno (o tal fotógrafo) comecei a entender. Ele explicou-me que as fotos não eram uma ilustração do texto, apesar de, claro, ter que haver coordenação. Para um fotógrafo, as fotos são a visão dele de determinado acontecimento. Tal como eu descrevo por palalvras, ele descreve por imagens. E tal como eu faço apontamentos parvos e esboços meio idiotas, que nunca vou mostrar a ninguém, também o fotógrafo tira muitas fotos só para ele, para compor a imagem na sua mente. "Pedir para ver todas as minhas fotos de um dia, é como pedir para ver as notas do teu bloco. Podes mostrar a um amigo, mas não tens obrigação de o fazer e certamente não o farás quando alguém te ordena", explicou-me. Aquilo fez sentido e percebi que tinha uma visão egoísta do nosso trabalho, que afinal vive em permanente coordenação.
Dei-me conta que o trabalho dos fotógrafos não é assim tão fácil e percebi, finalmente, porque é que são tão defensivos, tantas vezes. Julgo que se irritam com a atitude de alguns jornalistas, que "encomendam" as fotos, como se os fotógrafos trabalhassem a mando deles.
E percebi que não basta carregar no botão. "Gosto que as minhas fotografias espelhem aquilo que eu vi na pessoa", disse o Nuno, a propósito de um actor que foi ontem fotografar. Por isso, como senhor não era muito fotogénico e ele não conseguiu captar exactamente o que queria, voltou a marcar outra sessão. Mesmo que essas fotos não venham a ser utilizadas no jornal. Acho que é isto que significa "pôr a alma naquilo que se faz".


(Se alguma vez o Nuno chegar a ler este post, peço desculpa pelas citações não literais. Escrevi-as de recordação, mas ele não disse aquilo palavra por palavra)

1 comentário:

Fátima disse...

é verdade, eu também senti isso em relação aos cameras, primeiro tinha as minhas ideias em relação aos vídeos, mas depois comecei a entender que eles já fazem aquilo há mais tempo e se acham que é melhor cortar aquela parte é porque na dinâmica do vídeo, pode cansar. e assim entendi que não posso contar tudo, tenho de contar o que fica mais bonito, em equipa com o camera. é giro isso! todo um mundo... =)