Que o desporto mova multidões sempre foi coisa que me intrigou. Não é só porque era absolutamente desajeitada a tudo o que incluíssse atirar ou receber uma bola e totalmente incapaz de coordenação motora ou graciosidade de movimentos.
Isso eu compreendo, nem todos nascemos com dotes para a coisa e além disso nem sequer investi na actividade física (já que a considerava um verdadeiro sacrifício).
O que me faz questionar a validade dos meus genes é mesmo o facto de nenhum desporto me provocar qualquer vestígio de emoção. Será que o meu ADN é diferente do do resto da humanidade?
Eu já tentei, a sério que sim. Já me enrolei na bandeira portuguesa, num bar cheio de pessoas entusiasmadas, em pleno europeu. Pensei que talvez precisasse daquele empurrão. Já não me lembro com quem estávamos a jogar (talvez Inglaterra) mas a verdade é que lá para meio do jogo já estava a bocejar. Quando marcávamos golo eu ficava contente, mas é o mesmo grau de contentamento de quando não há fila para o multibanco "ah que bom, não preciso esperar". Da mesma forma fico satisfeita pelo golo, pelo jogo ganho e triste por perdermos o campeonato. Quer dizer, ligeiramente aborrecida, do género "que chatice. E agora acho que vou comer um gelado".
Não há aqui um sentimento de desprezo. É que simplesmente não me entusiasma. Jogo nenhum, nada. Nem sequer quando é alguém que eu conheço que joga. Se tivesse que me levantar da cadeira e gritar seria totalmente fingido.
Isto até me preocupa um bocado, porque há que aceitar que o resto da sociedade não vive assim. Claro que há os que não gostam de futebol, que até são "anti". Mas toda a gente se diverte com isso do ser de aguma equipa, torcer por um grupo. Eu pergunto qual foi o resultado do Benfica, porque quando era pequena decidi que era do clube, porque o meu pai era.
Ainda se vivesse numa comunidade sports-free. Mas não. Toda a gente à minha volta gosta de alguma modalidade de desporto, de alguma forma.
Preciso de terapia?
segunda-feira, 31 de março de 2008
domingo, 30 de março de 2008
quinta-feira, 27 de março de 2008
Para a minha família
Caros pais, primos, tios e avô,
Durante anos escrevinhei em folhas de papel. Guardava-as em gavetas, no meio dos cadernos, no fundo das malas. Pequenas cartinhas irritadas, sonhadoras, medrosas, agitadas. Iam fora, perdiam-se, amachucavam-se.
A tecnologia trouxe-nos "milagres" que permitem enviar uma mensagem a dizer "as papoilas da minha rua estão mais bonitas hoje". Podemos partilhar pormenores como nunca antes. Pensamentos de minuto. Isso é bom.
Os blogs surgiram como cadernos abertos para o mundo, para dizermos o que bem entendermos. No conforto do nosso quarto podemos fazer um tratado político revolucionário, sem sentir o peso da responsabilidade. Podemos declarar amor eterno à pessoa mais odiada do mundo sem sentir a censura dos demais. Podemos escrever "a minha mãe hoje estava mesmo chata" sem sentir remorsos. Sentimos que o nosso blog pertence a um círculo restrito de amigos com cliques mais ou menos silenciosos, comentários que só nós percebemos e trocamos confidentemente.
Depois aparece um comentário desconhecido e interiorizamos o que já sabíamos racionalmente: escrevo para quem quiser ler. Há até um certo orgulho ao pensar que alguém totalmente desconhecido se interesse pelos nossos desabafos e bitates virtuais. Pela nossa poesia cibernauta e irresponsável. Pelas nossas crónicas atrevidas e sinceras.
Mas de tempos a tempos surgem casos bizarros, que nos provocam nós mentais. Isso acontece quando a família começa a ler o blog secreto público.
A partir daí colocamos o e-mail, a password, "escrever mensagem", os dedos correm desenfreados e antes do "Publicar", incorre a dúvida: e se o meu pai lê isto?
O drama é ridículo, bem sei. Mas dou por mim que nem protagonista de um livro de Foucault ninguém me censura, mas eu penso em fazê-lo.
Debati-me com o conflito por algum tempo. Agora decidi expurgá-lo. Tudo o que é público trás consigo responsabilidade. Por isso vou vestir a camisola. Sejam bem-vindos, então, novos leitores. Tragam comentários e levem ideias. Afinal, é este o encanto da coisa.
Durante anos escrevinhei em folhas de papel. Guardava-as em gavetas, no meio dos cadernos, no fundo das malas. Pequenas cartinhas irritadas, sonhadoras, medrosas, agitadas. Iam fora, perdiam-se, amachucavam-se.
A tecnologia trouxe-nos "milagres" que permitem enviar uma mensagem a dizer "as papoilas da minha rua estão mais bonitas hoje". Podemos partilhar pormenores como nunca antes. Pensamentos de minuto. Isso é bom.
Os blogs surgiram como cadernos abertos para o mundo, para dizermos o que bem entendermos. No conforto do nosso quarto podemos fazer um tratado político revolucionário, sem sentir o peso da responsabilidade. Podemos declarar amor eterno à pessoa mais odiada do mundo sem sentir a censura dos demais. Podemos escrever "a minha mãe hoje estava mesmo chata" sem sentir remorsos. Sentimos que o nosso blog pertence a um círculo restrito de amigos com cliques mais ou menos silenciosos, comentários que só nós percebemos e trocamos confidentemente.
Depois aparece um comentário desconhecido e interiorizamos o que já sabíamos racionalmente: escrevo para quem quiser ler. Há até um certo orgulho ao pensar que alguém totalmente desconhecido se interesse pelos nossos desabafos e bitates virtuais. Pela nossa poesia cibernauta e irresponsável. Pelas nossas crónicas atrevidas e sinceras.
Mas de tempos a tempos surgem casos bizarros, que nos provocam nós mentais. Isso acontece quando a família começa a ler o blog secreto público.
A partir daí colocamos o e-mail, a password, "escrever mensagem", os dedos correm desenfreados e antes do "Publicar", incorre a dúvida: e se o meu pai lê isto?
O drama é ridículo, bem sei. Mas dou por mim que nem protagonista de um livro de Foucault ninguém me censura, mas eu penso em fazê-lo.
Debati-me com o conflito por algum tempo. Agora decidi expurgá-lo. Tudo o que é público trás consigo responsabilidade. Por isso vou vestir a camisola. Sejam bem-vindos, então, novos leitores. Tragam comentários e levem ideias. Afinal, é este o encanto da coisa.
Frases do caraças
Bob Geldof
músico britanico
"Quem é que o escreveu por si, Geldof?", perguntou George Bush ao defensor do continente africano, quando este lhe ofereceu o livro que acabara de publicar. "Quem é que o vai ler por si, senhor Presidente?", respondeu Geldof
The Sunday Times
Mark Boyle
militante britânico pela economia da gratuitidade
Acompanhado por dois amigos, queria ir, a pé e sem dinheiro, de Bristol até à Índia, para promover a paz no mundo. Teve, porém, de dar meia volta em Calais. "Não só ninguém falava inglês como nos tomavam por vulgares viajantes, o que não corresponde, de todo, ao espírito da nossa peregrinação", explica. Planeia, agora, dar a volta à Grã-Bretanha.
Sky News
Mohammed Hamid
terrorista islamita
"Cinquenta e duas vítimas nem chega a ser um aperitivo para mim". Condenado por ter dirigido campos de terroristas no Reino Unido, comentou nestes termos o balanço dos atentados cometidos em londres, em Julho de 2005
The Times
Lula da Silva
Presidente do Brasil
"É a maior geladeira que já vi na vida", disse numa visita à Antárctida
Veja
músico britanico
"Quem é que o escreveu por si, Geldof?", perguntou George Bush ao defensor do continente africano, quando este lhe ofereceu o livro que acabara de publicar. "Quem é que o vai ler por si, senhor Presidente?", respondeu Geldof
The Sunday Times
Mark Boyle
militante britânico pela economia da gratuitidade
Acompanhado por dois amigos, queria ir, a pé e sem dinheiro, de Bristol até à Índia, para promover a paz no mundo. Teve, porém, de dar meia volta em Calais. "Não só ninguém falava inglês como nos tomavam por vulgares viajantes, o que não corresponde, de todo, ao espírito da nossa peregrinação", explica. Planeia, agora, dar a volta à Grã-Bretanha.
Sky News
Mohammed Hamid
terrorista islamita
"Cinquenta e duas vítimas nem chega a ser um aperitivo para mim". Condenado por ter dirigido campos de terroristas no Reino Unido, comentou nestes termos o balanço dos atentados cometidos em londres, em Julho de 2005
The Times
Lula da Silva
Presidente do Brasil
"É a maior geladeira que já vi na vida", disse numa visita à Antárctida
Veja
in Courrier Internacional
Extinção da Rússia?
"(...) a Rússia está a desaparecer. Perde 500 mil habitantes por ano e em 2025 terá uma população equivalente à da Turquia, mas com um território tão vasto que perde sentido como país. Vai ter de optar, escreve Parag Khanna, entre uma existência pacífica como activo da União Europeia e tornar-se um «petro-vassalo» da China (...)"
Fernando Madrinha, in Courrier Internacional
E esta, hein?
quarta-feira, 26 de março de 2008
Cabelos, cabelos, cabelos
Encontrei este blog, que achei muito engraçado. Só fala de cabelos: penteados, cuidados, modas, cabelos "célebres", tudo o que possam imaginar!
http://blogdocabelo.blogspot.com/
http://blogdocabelo.blogspot.com/
terça-feira, 25 de março de 2008
segunda-feira, 24 de março de 2008
domingo, 23 de março de 2008
Ainda se lembram disto?
Há músicas que têm a propriedade de nos tranportar no tempo. Ouvi esta na rádio hoje e senti-me automaticamente miúda. Que idade tinhamos quando isto não era antigo?
Há algo de senil em mim
Que já não me deixa lembrar
Há quanto tempo foi o fim
Ou se cheguei a começar
Mas sei que foi sempre assim
Mais olhos que barriga
Mais sono que fadiga
Há sempre um tempo para parar
Saber se vale a pena
Ou fico ou mudo a cena
É só contar até três
(1...2...3 vai nascer outra vez)
Fechar os olhos
(1...2...3 vai nascer outra vez)
Respirar bem fundo
(1...2...3 vai nascer outra vez)
Começar de novo
(1...2...3 vai nascer outra vez)
Nunca foi boa escolha
Ficar à espera para ver
Por mais que a gente sofra
Um dia havemos de morrer
Mas sei que foi sempre assim
Mais garganta que vontade
Mais treta que verdade
Há sempre tempo para pensar
Mudar alguma coisa
Ou durmo ou parto a loiça
É só contar até três
(1...2...3 vai nascer outra vez)
Fechar os olhos
(1...2...3 vai nascer outra vez)
Respirar bem fundo
(1...2...3 vai nascer outra vez)
Começar de novo
(1...2...3 vai nascer outra vez)
Há algo de senil em mim
Que já não me deixa lembrar
Há quanto tempo foi o fim
Ou se cheguei a começar
Mas sei que foi sempre assim
Mais olhos que barriga
Mais sono que fadiga
Há sempre um tempo para parar
Saber se vale a pena
Ou fico ou mudo a cena
É só contar até três
(1...2...3 vai nascer outra vez)
Fechar os olhos
(1...2...3 vai nascer outra vez)
Respirar bem fundo
(1...2...3 vai nascer outra vez)
Começar de novo
(1...2...3 vai nascer outra vez)
Nunca foi boa escolha
Ficar à espera para ver
Por mais que a gente sofra
Um dia havemos de morrer
Mas sei que foi sempre assim
Mais garganta que vontade
Mais treta que verdade
Há sempre tempo para pensar
Mudar alguma coisa
Ou durmo ou parto a loiça
É só contar até três
(1...2...3 vai nascer outra vez)
Fechar os olhos
(1...2...3 vai nascer outra vez)
Respirar bem fundo
(1...2...3 vai nascer outra vez)
Começar de novo
(1...2...3 vai nascer outra vez)
Ritual Tejo
sábado, 22 de março de 2008
Blogs: o nosso espaço público
Três anos de CC sempre fizeram alguma coisa a esta cabeça.
Estava ali a ler uma reportagem do P2 de hoje sobre blogs e não pude deixar de pensar num específica aula e num específico professor.
Parece que os blogs em Portugal vieram para ficar. Já haverá uns 200 mil e ganham cada vez mais importância. Os internautas começam a ter um blog que gostam especialmente de visitar regularmente. Quer por motivos de classe (como é o caso da proliferação de blogs de professores, sobre ser professor), quer artísticos, poéticos, de viagem e principalmente de análise política e social - eles estão aí.
São totalmente democráticos: não há limite de idade, raça, sexo, ou classe social. Até quem não tem computador pode ter um blog, já que há computadores a que podemos aceder em vários locais. Eu já li o blog de um preso, que passava os textos à mulher em papel.
Estudámo-los nas aulas e vimos crescer o zum-zum em torno deles. Mas a verdade é que não havia nada disto há meia dúzia de anos, e tenho que admitir que é mesmo uma revolução. Informação e troca de ideias a nível mundial, que não são, como sempre foram, unilateriais. Consigo ver o Piçarra a saltar na cadeira de contentamento. Há salvação para esta multidão! Poderemos voltar a ser Públicos.
"Um grande bem-haja" a todos os bloggers que contribuem para o alargar do opinion-makerismo. Já fartava serem sempre os mesmos.
Estava ali a ler uma reportagem do P2 de hoje sobre blogs e não pude deixar de pensar num específica aula e num específico professor.
Parece que os blogs em Portugal vieram para ficar. Já haverá uns 200 mil e ganham cada vez mais importância. Os internautas começam a ter um blog que gostam especialmente de visitar regularmente. Quer por motivos de classe (como é o caso da proliferação de blogs de professores, sobre ser professor), quer artísticos, poéticos, de viagem e principalmente de análise política e social - eles estão aí.
São totalmente democráticos: não há limite de idade, raça, sexo, ou classe social. Até quem não tem computador pode ter um blog, já que há computadores a que podemos aceder em vários locais. Eu já li o blog de um preso, que passava os textos à mulher em papel.
Estudámo-los nas aulas e vimos crescer o zum-zum em torno deles. Mas a verdade é que não havia nada disto há meia dúzia de anos, e tenho que admitir que é mesmo uma revolução. Informação e troca de ideias a nível mundial, que não são, como sempre foram, unilateriais. Consigo ver o Piçarra a saltar na cadeira de contentamento. Há salvação para esta multidão! Poderemos voltar a ser Públicos.
"Um grande bem-haja" a todos os bloggers que contribuem para o alargar do opinion-makerismo. Já fartava serem sempre os mesmos.
quinta-feira, 20 de março de 2008
Professores
Todos nós que andámos na escola há pouco tempo, temos bem presente o que são professores.
Aliás, passámos mais tempo entre professores do que com qualquer outra classe profissional. Toda a gente teve um professor que marcou a sua vida, que lhe ensinou alguma coisa especial, que disse uma frase que não esquecemos. Professores que detestámos, adorámos, os que eram uma seca, os que eram amigos, o que eram estranhos ou manientos.
O assunto é-me especialmente próximo, já que os meus pais são professores, os meus tios são professores, os amigos dos meus pais são professores, eu própria tenho amigos professores e filhos de professores.
Mas não é das avaliações, da carreira docente ou da ministra que queria falar. Sobre isso há quem o faça melhor e de forma mais fundamentada. Queria falar dos alunos.
Não deve haver por aí ninguém mais contra os discursos de "juventude perdida" do que eu. E não foi isso que pensei quando hoje vi o já "famoso" vídeo do "Dá-me o telemóvel já!!!". Mas senti-me extremamente envergonhada, não só por aquela miúda histérica, mas pela turma inteira de cobardes idiotas.
Claro que os miúdos de 9º ano são parvalhões, isso é normal. É óbvio que põem bombinhas de mau cheiro e gozam com a roupa da professora. Essas coisas fazem parte, e os próprios professores sabem.
Mas a história muda de figura quando uma fedelha mimada acha que pode levantar-se, tratar a professora por tu, falar-lhe mal e agarrar-lhe o braço furiosamente. Isto porque a professora lhe tirou o telemóvel, que provavelmente estava a usar na aula. Gera-se ali uma luta ridícula e bastante humilhante para a professora, com as duas a puxarem o telemóvel e a turma a filmar e a dizer "sai da frente, deixa ver".
Que vergonha. Lembro-me bem de professores meus tirarem telemóveis aos alunos durante a aula, mas para além de um resmungo o que haveríamos de fazer? Sabíamos que a professora tinha razão, apesar de ser uma chata. Neste caso (que são muitos casos pelo país), consta que a mãe foi chamada à escola e quando a confrontaram com a história, tentou agredir a presidente do conselho executivo. Pronto, está tudo explicado, então.
A juventude não está perdida. Não somos mais rascas que os outros, somos é rascas de maneira diferente. Mas quando vi aquele video, tive vontade de entra na sala e intervir, de espetar uma bofetada na miúda e dizer-lhe que a vida não são os morangos com açucar. Tiver vergonha porque aquela ainda é a minha geração e não posso deixar de dizer que foi repugnante. Tenho que o dizer para poder continuar a defender os jovens.
Hoje, o meu post apoia os professores, que passam a vida a ensinar os filhos dos outros e ainda ouvem dos pais. Espero que eles não desistam dos alunos, porque eles parece que já desistiram dos professores.
Aliás, passámos mais tempo entre professores do que com qualquer outra classe profissional. Toda a gente teve um professor que marcou a sua vida, que lhe ensinou alguma coisa especial, que disse uma frase que não esquecemos. Professores que detestámos, adorámos, os que eram uma seca, os que eram amigos, o que eram estranhos ou manientos.
O assunto é-me especialmente próximo, já que os meus pais são professores, os meus tios são professores, os amigos dos meus pais são professores, eu própria tenho amigos professores e filhos de professores.
Mas não é das avaliações, da carreira docente ou da ministra que queria falar. Sobre isso há quem o faça melhor e de forma mais fundamentada. Queria falar dos alunos.
Não deve haver por aí ninguém mais contra os discursos de "juventude perdida" do que eu. E não foi isso que pensei quando hoje vi o já "famoso" vídeo do "Dá-me o telemóvel já!!!". Mas senti-me extremamente envergonhada, não só por aquela miúda histérica, mas pela turma inteira de cobardes idiotas.
Claro que os miúdos de 9º ano são parvalhões, isso é normal. É óbvio que põem bombinhas de mau cheiro e gozam com a roupa da professora. Essas coisas fazem parte, e os próprios professores sabem.
Mas a história muda de figura quando uma fedelha mimada acha que pode levantar-se, tratar a professora por tu, falar-lhe mal e agarrar-lhe o braço furiosamente. Isto porque a professora lhe tirou o telemóvel, que provavelmente estava a usar na aula. Gera-se ali uma luta ridícula e bastante humilhante para a professora, com as duas a puxarem o telemóvel e a turma a filmar e a dizer "sai da frente, deixa ver".
Que vergonha. Lembro-me bem de professores meus tirarem telemóveis aos alunos durante a aula, mas para além de um resmungo o que haveríamos de fazer? Sabíamos que a professora tinha razão, apesar de ser uma chata. Neste caso (que são muitos casos pelo país), consta que a mãe foi chamada à escola e quando a confrontaram com a história, tentou agredir a presidente do conselho executivo. Pronto, está tudo explicado, então.
A juventude não está perdida. Não somos mais rascas que os outros, somos é rascas de maneira diferente. Mas quando vi aquele video, tive vontade de entra na sala e intervir, de espetar uma bofetada na miúda e dizer-lhe que a vida não são os morangos com açucar. Tiver vergonha porque aquela ainda é a minha geração e não posso deixar de dizer que foi repugnante. Tenho que o dizer para poder continuar a defender os jovens.
Hoje, o meu post apoia os professores, que passam a vida a ensinar os filhos dos outros e ainda ouvem dos pais. Espero que eles não desistam dos alunos, porque eles parece que já desistiram dos professores.
Reconhecem isto?
"O processo de aplicação de Bolonha nas universidades portuguesas poderá não passar da "mera operação de cosmética", caso as universidades não alterem rapidamente os métodos de ensino nas salas de aula. O alerta, em tom urgente, é lançado pelo secretário executivo da Associação Portuguesa de Ensino Superior (APES), Miguel Copeto, para quem a maior parte das universidades reduziu apenas a duração dos cursos e deixou para segundas núpcias a pretendida mudança de paradigma no processo de ensino. "As formações foram encurtadas, mas o método de ensino - que no fundo era o que im-portava mudar - continua igual, também porque aos professores não foi dada qualquer formação", acusa aque-le responsável. "
Natália Faria, in Público
domingo, 16 de março de 2008
Morrer
Toda a gente tem medo de morrer. Mesmo os audazes e os que clamam que a vida não tem valor, que é uma chama que existe para um dia ser soprada. Todos têm medo porque estar vivo é a única coisa que conhecemos.
A ideia de pertencermos a uma gigante cadeia de nascimentos e mortes, que avançam e fazem história, não é assim muito agradável. Todas aquelas pessoas que desde os primórdios da humanidade apodreceram debaixo da terra. Mais cedo ou mais tarde todos seremos esquecidos, até o Camões, até o Einstein, até o Rousseau.
A vida não "são dois dias", mas são menos de uma centena de anos, minúsculos. Depois de nós seguem-me outros, uma imensidão de pessoas que vai ocupar a nossa casa, a nossa cidade, o nosso país. Querer o mesmo que nós. Nascer, crescer, morrer. Os bebés vão ser avós num psicar de olhos. Uma lógica repetida matematicamente. É ciência.
Então porque é que tudo o que criamos está tão cheio de significados e intenções? É verdade que sentimos, pensamos, projectamos, escolhemos. Mas porquê? Para quê? É só afastarmos a lupa e percebemos que somos só mais um organismo igual aos outros todos da terra e do universo. Podiamos até ser as células dos planetas, coisinhas que só se vêem a microscópio. Somos glóbulos brancos e vermelhos, que combatem doenças. Tecidos que envelhecem, músculos que contraem. Podemos não ser mais que isto. Elementos.
P.S. Não ter conversas mórbidas antes de dormir previne posts problemáticos
A ideia de pertencermos a uma gigante cadeia de nascimentos e mortes, que avançam e fazem história, não é assim muito agradável. Todas aquelas pessoas que desde os primórdios da humanidade apodreceram debaixo da terra. Mais cedo ou mais tarde todos seremos esquecidos, até o Camões, até o Einstein, até o Rousseau.
A vida não "são dois dias", mas são menos de uma centena de anos, minúsculos. Depois de nós seguem-me outros, uma imensidão de pessoas que vai ocupar a nossa casa, a nossa cidade, o nosso país. Querer o mesmo que nós. Nascer, crescer, morrer. Os bebés vão ser avós num psicar de olhos. Uma lógica repetida matematicamente. É ciência.
Então porque é que tudo o que criamos está tão cheio de significados e intenções? É verdade que sentimos, pensamos, projectamos, escolhemos. Mas porquê? Para quê? É só afastarmos a lupa e percebemos que somos só mais um organismo igual aos outros todos da terra e do universo. Podiamos até ser as células dos planetas, coisinhas que só se vêem a microscópio. Somos glóbulos brancos e vermelhos, que combatem doenças. Tecidos que envelhecem, músculos que contraem. Podemos não ser mais que isto. Elementos.
P.S. Não ter conversas mórbidas antes de dormir previne posts problemáticos
quarta-feira, 12 de março de 2008
Medo
Às vezes tenho medo de não ter dado mais luta aos sonhos. De me deixar ir na maré sem espernear.
Todos os filmes dizem que a vida é feita de decisões, de caminhos escolhidos. Cruzamentos de esquerda e direita em sucessão. À terceira curva já não sabes como voltar apara trás. Contas aos netos como foi feito o desenho da tua vida.
O importante é ter um horizonte fixo. Não sair do rumo. Navegamos para lá por mais remoinhos que faça o mar. É assim, não é?
E se ao fim percebermos que não foi nada daquilo que sonhámos? E se um dia olharmos para nós próprios com sorrisos condescendentes e nos chamarmos idealistas tontos? Quem seremos nessa altura?
Todos os filmes dizem que a vida é feita de decisões, de caminhos escolhidos. Cruzamentos de esquerda e direita em sucessão. À terceira curva já não sabes como voltar apara trás. Contas aos netos como foi feito o desenho da tua vida.
O importante é ter um horizonte fixo. Não sair do rumo. Navegamos para lá por mais remoinhos que faça o mar. É assim, não é?
E se ao fim percebermos que não foi nada daquilo que sonhámos? E se um dia olharmos para nós próprios com sorrisos condescendentes e nos chamarmos idealistas tontos? Quem seremos nessa altura?
sexta-feira, 7 de março de 2008
Post terapêutico
O peito incha de indignação. Os dedos apertam-se de irritação e morde-se o lábio numa tentativa de calar a revolta pelo abuso de poder. "Também me fizeram-me a mim", como quem diz "come e cala que é mesmo assim". Eu penso "essa frase estraga-me o fim e parece colada à força", mas já sei que não posso parecer "teimosa".
E de repente o meu massacrar calado leva uma picada de agulha. "Não vais chorar, pois não?" ("sua parvinha" de certeza que pensou). Foi como quando dizem "agora não olhes para baixo" - é vertigem certa.
As lágrimas aos molhos gordos a rolar a mil à hora e eu a pensar "não, não não" a querer voltar o tempo atrás, meia dúzia de segundos bastavam. "Pronto. Vou buscar-te lenços". Chorar é perder a pose. Acabou-se. Sou uma idiota.
Na minha cabeça correm desenfreados e sem controlo sonhos futuros arruinados. Um pequeno drama. São horas até que os soluços abandonem de vez a minha garganta. Estão presos por um fio. "Sou p é s s i m a nisto". Uma angústia de não ter chão.
Hoje sobra uma raiva pelos "danos morais". Hoje sinto que estava bem e que eu fiz tão bem como os outros. Sinto que fiz um bom trabalho. Sinto que cuidei o meu texto e o fiz correctamente, com entusiasmo e com sensatez, reli as frases até soarem a cristal.
E depois... o pior: se calhar fiz isto tudo e continua uma porcaria. Se calhar não presto. Ou então os pequenos ditadores querem dizer "As águias-imperiais ocupam territórios muito vastos e podem voar para longe do ninho. Por isso, a equipa pode levar semanas a encontrá-lo" em vez de
"As águias imperiais ocupam territórios muito vastos e podem voar para longe do ninho, por isso é necessário vigiar os seus movimentos até o descobrir, o que pode demorar semanas" e nunca perceberemos bem porquê.
Hoje não consigo olhar para as páginas, porque me sabem a lágrimas e me trazem palavras incompreensivelmente ásperas e arrogantes.
Não quero voltar mais ao segundo andar.
E de repente o meu massacrar calado leva uma picada de agulha. "Não vais chorar, pois não?" ("sua parvinha" de certeza que pensou). Foi como quando dizem "agora não olhes para baixo" - é vertigem certa.
As lágrimas aos molhos gordos a rolar a mil à hora e eu a pensar "não, não não" a querer voltar o tempo atrás, meia dúzia de segundos bastavam. "Pronto. Vou buscar-te lenços". Chorar é perder a pose. Acabou-se. Sou uma idiota.
Na minha cabeça correm desenfreados e sem controlo sonhos futuros arruinados. Um pequeno drama. São horas até que os soluços abandonem de vez a minha garganta. Estão presos por um fio. "Sou p é s s i m a nisto". Uma angústia de não ter chão.
Hoje sobra uma raiva pelos "danos morais". Hoje sinto que estava bem e que eu fiz tão bem como os outros. Sinto que fiz um bom trabalho. Sinto que cuidei o meu texto e o fiz correctamente, com entusiasmo e com sensatez, reli as frases até soarem a cristal.
E depois... o pior: se calhar fiz isto tudo e continua uma porcaria. Se calhar não presto. Ou então os pequenos ditadores querem dizer "As águias-imperiais ocupam territórios muito vastos e podem voar para longe do ninho. Por isso, a equipa pode levar semanas a encontrá-lo" em vez de
"As águias imperiais ocupam territórios muito vastos e podem voar para longe do ninho, por isso é necessário vigiar os seus movimentos até o descobrir, o que pode demorar semanas" e nunca perceberemos bem porquê.
Hoje não consigo olhar para as páginas, porque me sabem a lágrimas e me trazem palavras incompreensivelmente ásperas e arrogantes.
Não quero voltar mais ao segundo andar.
domingo, 2 de março de 2008
Uma tremenda quantidade de vida
Depois de um sábado no Alentejo verdejante e solarengo, voltei um pouco mais "ecológica". Estar no meio de planicies a perder de vista, sem ver carros, pessoas, ou casas fez-me de facto sentir que somos só mais um ingrediente do planeta. Os ninhos fazem-se ano após ano e as águias voam em círculos num espetáculo misterioso. Há qualquer coisa que cheira a milagre debaixo daquele sol macio, naquela perfeição e paisagem que enche os olhos.
Respirei fundo e inspirei vida. A sério.
Respirei fundo e inspirei vida. A sério.
Subscrever:
Mensagens (Atom)