domingo, 27 de novembro de 2011
Freud não sei quê, não sei que mais?
quarta-feira, 23 de novembro de 2011
terça-feira, 22 de novembro de 2011
Apelo
Passos em volta: Quase sem gaiolas
Macau é zum-zum-zum, lufa-lufa, corre-corre. Toda a gente corre-corre. Aqui não é o povo quem mais ordena, é o relógio. E nós, as formiguinhas, suspiramos de impaciência, acotovelamo-nos, pisamos os calcanhares ao desesperado da frente, porque queremos chegar mais depressa ao destino, não queremos ficar naquele passo lento dos passeios estreitos.
Mas para toda a azáfama há um limite. No Jardim de Camões acalmam-se as nervoseiras, as angústias pós-modernas, as dúvidas urbanas. Se foi a poesia do nome que inspirou a poesia do espaço, não sei. Mas a verdade é que ali, naquele jardim de altos e baixos, de miradouros quase celestiais, vê-se a vida por outro prisma.
Não é por acaso que a população que por ali passeia consiste em crianças e idosos – os que vivem na abençoada ignorância do futuro, e os que descansam dos anos que passaram. Eu, estrangeira de câmara na mão, começo por uns cliques tímidos. Sinto-me invasora dos rituais alheios. Puxo do zoom para não puxar da proximidade.
Um homem observa os ramos ancestrais de uma árvore rugosa. Estuda-os. Eu estudo-o a ele. Faço-me invisível. Ali fico a vê-lo colocar carinhosamente a gaiola, que segurava entre os dedos, num dos galhos mais altos. Sorri. Senta-se então no banco e ali fica, trocando dois dedos de conversa com o amigo do lado, enquanto os dois tomam conta das aves de estimação. No Jardim de Camões é assim, os velhos levam os netos e os pássaros a passear.
Uma, duas, três, quatro. À primeira não se vêem mas são muitas as gaiolas penduradas. Explicaram-me que o ritual serve para que as aves de estimação possam estar mais próximas do seu habitat natural e para que tenham a oportunidade de conviver com os chilreios umas das outras. Camões sorri com tal perfeição poética.
Não é uniforme a população deste refúgio. Há os desportistas, os jogadores, os músicos. No topo das colinas grupos de homens conversam, descalços, em cima dos muros. Em zona distinta, outros jogam – e ao vislumbre da câmara escondem as peças, tapam as cartadas. As mulheres riem alto, em grupo, à sombra. As crianças, essas, estão por todo o lado e ninguém as chama, ninguém se alarma.
E de repente uma melodia. Três curvas à direita, há banda sonora. Uns cantam, outros tocam. Alguns ensinam, muitos observam. Batem-se palmas, mas não se tiram fotos. Só a turista, lá está.
Um passeio no Jardim de Camões faz milagres. Lembra-nos que a vida é mais que obsessões quotidianas – aquelas que no dia seguinte deixam de ter importância. Da gaiola já não nos safamos, mas ao menos que nos deixemos estar, por momentos, num habitat natural.
domingo, 20 de novembro de 2011
E de repente, um pouco de perspectiva
sexta-feira, 18 de novembro de 2011
"Cultura geral não é comigo"
sábado, 12 de novembro de 2011
terça-feira, 8 de novembro de 2011
Preconceitos
sábado, 5 de novembro de 2011
sexta-feira, 4 de novembro de 2011
Humildade, acima de tudo
O jornalismo deve ser sempre um exercício de humildade. No dia em que o jornalista deixar de aprender, e deixar de sentir que está a aprender, acaba-se tudo. Torna-se um inútil.
Os jornalistas aprendem muito uns com os outros, e principalmente aprendem com as suas fontes. Primeiro porque somos especialistas em falar da especialidade alheia, sem sabermos a fundo sobre nada e, por isso, ao perguntarmos e ouvirmos, aprendemos. Mas o conhecimento não vem apenas da especialização, da economia, da política, do direito, da ciência, da saúde, até da cultura. Devemos aprender a ouvir as pessoas, as suas preocupações – mais do que tudo devemos saber ouvir o cidadão, dar voz aquele que não tem plataforma para expor os seus interesses. Cabe ao jornalista equilibrar a sociedade, e não apenas servir de eco a quem já era ouvido. A “expertise” de quem sabe, deve ser absorvida, entendida, estudada, para depois ser aplicada no combate à ignorância, à desvantagem, ao crime, ao preconceito, seja o que for.
Estamos cá para servir, para iluminar. Esse é um trabalho que só cabe aos humildes, aos que estão prontos para serem provados errados, aos que sabem pôr de parte o ego inchado e ouvir.
O jornalismo não se faz de vírgulas, faz-se de respeito. Pelo direito à informação – porque só com ela as pessoas podem decidir por si próprias. Não ensinamos, explicamos. Há uma diferença abismal.
Sempre me irrito quando vejo um meio de comunicação ser transformado num pódio. Seja para promover alegadas intelectualidades, seja para explorar a miséria alheia. Quando é notório esse exercício de vaidade, quando se escreve para o elogio – pior, para o elogio de classes profissionais – perdeu-se aquilo que realmente importa. E aí, mais vale então dedicarem-se a outra actividade qualquer. Vão vender seguros. Não se recebe mal e há total liberdade para o exercício do poder.