segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Hoje um amigo contou-me como o seu tio morreu nos ataques terroristas ao hotel de Mumbai. Contou-me isto enquanto eu choramingava sobre a minha vida. Enquanto eu lhe dizia, frustrada, que não compreendia o mundo. Que me sentia perdida. E então ele contou-me isto. E disse-me que somos capazes de ultrapassar tudo. Até aberrações como as que aconteceram à família dele. E desta vez, desta vez eu acreditei. Desta vez eu rasguei a folha do caderno, amachuquei-a, meti-a no lixo, levantei o queixo e respirei fundo. Não tenho direito a choramingar.
Próximo desafio.

1 comentário:

Gustavo Jaime disse...

Inês, tem uma fábula oriental que gosto muito de lembrar nestes momentos de sofrimento. Porque ela diz exatamente o que disseste - que acabamos por superar tudo. É assim:

"Um rei pede ao homem mais sábio do reino que lhe escreva num papelzinho palavras para ler num momento de extrema aflição, um conforto da adversidade. O sábio cumpre a tarefa. Não muito tempo depois, o reino é invadido. O rei, sem saída, foge. Perdera tudo: poder, dinheiro, relevância. Ele então recorre ao bilhete do sábio. Ali está dito: 'Nem sempre será assim'. O rei caído consegue, aos poucos, rearrumar suas forças. Retoma seu reino. E encontra o sábio. Ouve, agora no fausto reconquistado, no poder recuperado, mais uma vez a sentença: 'Nem sempre será assim'."

A frase resume o perpétuo vai-e-vem das elevações e quedas, a inconstância da sorte, a fugacidade de tudo que acontece sob o sol. Toda pessoa deveria ter no bolso um papel com a advertência do sábio oriental. O sofrimento aparentemente insuportável vai desaparecer. O que parecia ser um inverno eterno dentro de nós receberá a visita redentora do sol que avisa que o verão ou já chegou ou está aí. A tristeza que estávamos certos de ser imortal revela-se frágil e é batida por uma lufada cálida de alegria.

Nem sempre será assim, Inês.