Há uns anos eu jogava freneticamente a isto:
E não se diz tantas vezes que a vida é um jogo? Pois bem, é. Desde Setembro que trabalho como empregada de mesa num hotel no centro de Cardiff e ontem iniciei as mesmas funções num restaurante turco.
Porquê? Perguntam vocês, sabendo das minhas aspirações jornalísticas. Bem, porque o jornalismo, começo a achar, é como a arte: não põe comida na mesa. E eu tenho uma renda para pagar.
A experiência, no entanto, não deixou assim tanto a desejar. Tenho aprendido imenso e começo a ponderar colocar uma referência no meu CV. As minhas chamadas 'problem solving skills' melhoraram drasticamente.
No hotel sou o que eles chamam 'Meeting and Events operator', ou seja, faço parte da equipa que organiza eventos - conferências, grandes jantares, festas de Natal, bailes de finalistas, etc. O meu trabalho pouco tem de glamoroso: montar 'coffee stations', trazer águas, papéis, canetas, extensões, pôr mesas, dobrar guardanapos, encher baldes com gelo e claro, na hora H servir o jantar, composto por cerca de cinco fases. Tudo sempre de uniforme preto e branco, seguindo atentamente as ordens dos managers.
No restaurante é diferente. Sou eu e oito mesas. Um menu em turco que me dá dores de cabeça e um chefe cujo nome tenho dificuldade em pronunciar. Aqui posso vestir o que me apetece e levo comida caseira para casa ao fim da noite. Ah, e sou paga de forma ilegal e abaixo do valor mínimo, mas tenho direito a gorjetas.
Este é o cenário. Depois é apenas: Good evening, sorriso, here are your menus, sorriso, would you like to order your drinks?, sorriso, are you ready to order? sorriso, may I offer you a tea on the house?
É preciso saber o que é a sopa, atenção. E é preciso saber que a senhora de vermelho na mesa 10 é vegetariana e a de preto da sete é intolerante à lactose. É preciso saber cortar manteiga em perfeitos rectângulos, fazer café, chá, deitar vinho tinto em 120 copos sem manchar a toalha e conseguir empoleirar por vinte minutos um tabuleiro com taças de champanhe em cima de apenas uma mão. E sorrir sempre.
É preciso dizer Madam or Sir, trazer na língua um automático "but of course" e um "no problem at all". E para os clientes mais simpáticos um "you're welcome".
Neste mundo da hotelaria e restauração há que ter o ouvido treinado para mil sotaques e entender a diferença de um ovo escalfado servido em pão integral ou pão branco. É que faz toda a diferença. É preciso adorar o tilintar dos copos, o chocalhar dos talheres.
No hotel gosto da disciplina, que me obrigou a aprender um infindável protocolo de como pôr a mesa, de como tapar os cabos electricos, mover mesas, cadeiras, deixar tudo na perfeição. Não usar verniz, ter treino para caso de incêndio e saber como dobrar um guardanapo em leque. E levar três pratos de cada vez - se estes não estiverem tão quentes que tenho que usar dois pares de luvas, claro. Um hotel de 4 estrelas tem recepção, tem wedding planner, tem um Chefe estrela, tem managers autoritários, tem senhoras da limpeza, tem um sem número de pessoas que se movem como uma máquina perfeita.
No restaurante gosto do sentido de responsabilidade. Ali não sou mais uma, aquelas mesas não são nada sem mim. E ali as pessoas fixam a minha cara e conversam comigo e pedem a minha recomendação. E eu aprendo turco. Sai um Adana Kofte para a mesa 5!
E pronto, está oficialmente aberto este capítulo blogueiro. Podem esperar histórias, porque elas nunca faltam - só nunca me deu para as contar. E ficam já a saber o meu segredo: sempre que faço asneira ou não sei a resposta a uma pergunta muito óbvia, ponho o meu ar mais cândido, um olhar culpado, um sorriso meiguinho e digo "Ai desculpe! Sabe, hoje é o meu primeiro dia". It works like a charm.
4 comentários:
Então bonita esta página está muito estruturado.........Boa pinta :/
Adorei Continua assim !!
Vou gostar de saber as histórias...=)
Dinner dash é muuuuito bom ;)
fazer os trabalhos que estás a fazer é mt m mt mais dificil do q as pessoas pensam e aprendes coisas que nunca pensaste. umas noites enchi o ryans tanto q p o bar n colapsar tive q me pôr de bartender eu tb e foi o deus nos acuda! memoria, calculo, execução de bebidas, coisas q se acabam loiça suja loiça lavada, gente bebeda...
bem, isto tudo so p dizer q tens a minha total admiraçao!
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