domingo, 13 de fevereiro de 2011

Já dizia o ditado "Never judge a book by its cover"

Nesta fase de percariedade (financeira, laboral, emocional, social, etc etc etc) tenho pensado muito na diferenças culturais entre Portugal e Reino Unido.
Além de uma fase breve lá para os meus 18 anos, nunca me ocorreu trabalhar enquanto estudava. Nunca conheci, aliás, ninguém que trabalhasse enquanto estudava, com a excepção de um amigo ou dois no Verão, coisa muito esporádica. Os meus pais nunca acharam que devia e a coisa por aí seguiu. Acho que posso dizer que isto se aplica à esmagadora maioria da classe média portuguesa.
No Reino Unido quase todos os estudantes universitários (e alguns do secundário) trabalham. Não vou dizer que acho muito bem "para saberem o valor do dinheiro" e essas tretas. Não é isso. No hotel onde trabalho acontece-me imenso os clientes fazerem conversa a falarem do seu tempo de empregados de mesa. Estamos a falar de executivos, médicos, professores, advogados - pois eu trabalho muito em conferências e grupos de trabalho. A verdade é que trabalhos "percários" (hoje em dia não sei se arrisco chamar-lhes assim) fazem parte do percurso natural do britânico médio. E isso cria um respeito por estas profissões que eu acho notável.
Isto eu noto que não existe em Portugal. Há uma clara rejeição por tudo o que sejam estes trabalhos "inferiores" porque há a ideia que só os faz quem não tem formação, é um triste, sem ambição e sem possibilidades.
No geral, os britânicos não assumem que atrás de um balcão de bar está alguém sem qualificações. E mesmo que esse seja o caso, por terem eles próprios estado naquela posição, têm um comportamento cordial, compreensivo, ajudam quando podem, não são condescendentes. O mesmo se pode dizer dos patrões, que em Portugal tratam os seus empregados como se fossem idiotas.
Admiro profundamente este sentido de igualdade. Numa nação fundada na hierarquia social, com casa real e brazão, a cidadania e senso democrático parecem estar mais apuradas que num país que matou o próprio rei.

4 comentários:

Silly Little Wabbit disse...

Quando estive em Espanha conheci dois portugueses a estagiar no hospital que diziam que cá (mesmo na área da saúde) fazem um esforço para ensinar o mínimo possível (não sei se por medo de vir a perder o emprego) enquanto que lá acompanhavam-nos e se estavam numa hora mais morta os levavam para uma sala e davam-lhes formação. Acho que o problema dos patrões se prende com insegurança de poderem perder o posto e não reconhecerem que os "subalternos" possam saber mais que eles. Daí a falta de respeito e distanciamento que mesmo quando não há razão acaba com um "mas eu é que sou dono/a disto portanto cala-te".

Fátima disse...

Sim, eu quando trabalhei na galeria de Oeiras para pagar o meu Mestrado também me senti um pouco desprezada, até por pessoas da mesma idade que eu. Tive pena, acho que ninguém compreendeu muito bem o porquê daquele esforço... Sempre trabalhei, desde o secundário, a dar explicações, a fazer pequenos trabalhos, e era sempre olhada com estranheza, por não ser um emprego "maior". É triste que em Portugal seja assim. Os meus primos em França também estudam e trabalham em pastelarias e ninguém lhes diz nada

Anónimo disse...

Isso é porque nunca experimentaste trabalhar num call center em Portugal. Aí é que ias ver a falta de respeito. Sejamos honestos, em Portugal as pessoas no geral têm uma falta de humildade gritante. E são mal formadas...

Enolough disse...

kill the king!!!