Hoje conheci o estagiário que me foi "substituir" na Renascença. Sei que tenho, neste momento, a solidariedade de todos os meus companheiros estagiários por esse país fora (todos eles que me lêem avidamente).
O pior é que ele pareceu muito mais sério e muito mais competente que eu. Ao menos que comentassem "Ah, ele não tem muito jeito, mas é bom rapaz. Temos saudades tuas". Mas nem isso. Parece que o moço se desenrasca bem. Nunca fui muito boa a "desenrascar-me", mas ando a trabalhar nisso.
Conheci-o num almoço da Renascença a que fui hoje. Foi um dia de sentimentos contraditórios. Mal entrei na redação (faltavam dez minutos para o noticiário), respirei de alívio por já não estar lá: confusão total, problemas, stress, correrias, gente mal encarada e a resmungar. Pouco depois esta sensação foi substituída por uma nostalgia que me beliscava a consciência. A reunião onde falaram do trabalho do dia seguinte deu-me vontade de dar palpites, vontade de voltar a fazer parte daquilo, de criar alguma coisa, de ir atrás da informação, dar-lhe uma forma e oferecê-la ao público. Enquanto esperava, sentada num cantinho da redacção, tive um desejo imenso de ser mais uma daquelas pessoas de auscultadores nos ouvidos, concentradas nas manchas verdes que o som faz no ecrã. Cerrei os punhos para resistir à tentação de atender os vários telefones que tocam em simultâneo, quase por implicância. Tive vontade de ler a agenda e fazer setinhas de lado no que achava mais importante, como era meu hábito.
Depois foi o almoço. O Lux de um lado e as empadas do outro, as conversas cruzam-se por entre as pessoas tão diferentes. E eu estava ali mas não estava. Era conhecida mas não era da família. Não era nem de fora nem de dentro. Houve discurso do editor (porque era o almoço que marcava o início deste novo turno, com um novo editor) e senti aquelas palavras como se também fossem para mim, apesar de não serem. Ri-me com as brincadeiras e preocupei-me com os problemas. Orgulhei-me da exigência, da justeza e da competência do "nosso" editor. Quis que aquilo também fosse meu.
No final, já em conversa a dois falei do que achei que devia e do que não devia. A luz de fim da tarde solta-me a língua. Puxa-me à sinceridade. Dá-me vontade de contar as irritações e as incertezas. Depois, quando já está escuro, sinto aquele remorso de falta de calculismo. Vou acabar a lavar escadas por causa disto, bem sei. A culpa foi daquela sobremesa.
2 comentários:
gosto muitos destes posts sinceros e fortes!! é verdade, viveste em primeira mão o que muitos de nós está pra sentir, se bem que da minha parte se não ficar não irei voltar para não sentir isso..:P mas a energia do jornalismo está lá, eu tenho a certeza que vais ser grande, como diz a marina, "senhora capa da notícias magazine"!!!!
Comovi-me com este post. E é para escapar a esse sentimento de pertença sem pertença que vou evitar ao máximo voltar ao local de estágio, às pessoas que lá estiveram, às rotinas (ou falta delas?) que se criaram.
E não, não vais nada lavar escadas... com essa vontade sôfrega de fazer jornalismo - jornalismo "à séria" - escadas só as de tua casa.. (pq não vai haver dinheiro para empregada) LOL :D
Um beijinho
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