sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Machismo

Venho aqui recuperar um tema que já deu pano para mangas: o machismo. Isto porque esta semana li um artigo no Courrier que diz que Portugal é uma sociedade profundamente machista. Deixo uns excertos:

"A liberdade sexual é «para as estrangeiras», porque «uma mulher portuguesa como deve ser não sai com um rapaz sem o conhecer bem, e só sai à noite se o namorado for com ela. Ver um grupo de amigas num bar, à noite, é uma imagem terrível», afirma Ana, juíza de 35 anos, que não sai à noite. «Sou juíza numa cidade pequena e, se me virem por aí, deixam de me respeitar», explica".

De seguida vem a opinião de um homem que diz que «uma rapariga que conhece na noite é para diversão» e não serve para casar.
O artigo centra-se muito, também, nos baixos números de mulheres na política, em cargos altos de empresas ou de professoras universitárias. E claro, no drama da violência doméstica, usando o exemplo de um homem que matou a mulher e teve a pena reduzida para quatro anos por se considerar que tinha havido "violação dos deveres conjugais".
Estas últimas questões são óbvias, infelizmente. Mas é no que toca à "esfera social", onde, diz o artigo, "Portugal exibe um machismo mais preocupante" que as dúvidas me assaltam.
Não acho que socialmente as coisas sejam assim, como no exemplo citado. Se me vierem dizer que o País é mais machista no interior, nas pequenas cidades, até posso acreditar. Desde que não me venham com essa do "País real", porque Lisboa e Porto (e com certeza muitas outras cidades) também são o País real e a minha experiência é tão válida como a de uma senhora em Freixo de Espada à Cinta. Se não se pode dizer que Lisboa representa Portugal, também não se pode dizer que as aldeias rurais é que definem a sua essência.
Com isto não quero dizer que não há machismo. Quando os chamados "homens das obras" gritam "ó boa" (para não estar a dar exemplos menos próprios) e a sociedade aceita isso como sendo uma coisa "normal", isso é machismo do mais nojento. Quando troco de passeio na rua porque sei que vou ser assediada, e entendo isso como parte do dia-a-dia, só posso assumir que o machismo existe.
Mas custa-me entrar naquela conversa muito revoltada, quando nunca senti que uma oportunidade me era vetada por questões de género. Um grupo de amigas num bar, à noite, nunca foi mal visto. Nem raparigas sairem sem o namorado. Nem ficar com má fama por sair à noite. Portugal não é isso. O meu Portugal, pelo menos, não é.

Bom, mas o motivo porque estou a escrever o post é exactamente porque esta questão não é clara. Há demasiadas nuances. O artigo que citei foi escrito, curiosamente, por um jornal espanhol. Não são os espanhóis tão machistas quanto os portugueses? Ainda se fosse um jornal sueco, eu percebia que um enviado especial sentisse um contraste.
Peço a todos que deixem um comentário com a vossa opinião. Principalmente quem mora, morou ou conhece bem a vivência de outros países.

Afinal, somos machistas ou não? E: não serão as próprias portuguesas culpadas de muitas das situações referidas? Não são muitas vezes elas que se afastam de determinadas profissões por considerarem ser "um trabalho de homens"?

3 comentários:

Fátima disse...

é a maior estupidez basear a imagem de um país em opiniões de aldeias. claro que nas aldeias há famas, há olhares de lado, mas também, nos dias de hoje, quem se importa? pedes para quem está noutros países dar o seu parecer, mas eu, que convivo muito com esse "Portugal rural", tenho a dizer que, mesmo nas aldeias, há pessoas com cabeça e outros sem ela. e a isso se chama gerações. no entanto, os jovens não deixam de fazer a sua vida por causa das manias dos idosos, até bem pelo contrário.

Rui Coelho disse...

hummm..

Talvez 50 anos ainda frescos de ditadura dos paizinhos do céu, que nos deixaram orgulhosamente sós, na base do respeitinho, que é muito bonito, aos quais a Espanha, curiosamente, também não escapou durante 40, sejam uma boa explicação para que ainda haja quem pense assim sobre esse grupo de raparigas que sai à noite; a suécia é outra conversa.

Talvez hoje ainda convivam, dentro de casa, três gerações que se chocam com os hábitos do outro: a dos nossos avós, que foi ensinada na base dos diminutivos; a nossa, que consome, refecte, faz escolhas; e a dos nossos pais, espartilhada entre o que foi e o que já é, a tentar desesperadamente colar e unir as coisas sem porventura se sentir demasiado ligada a qualquer uma delas.

Talvez por isso a tal mentalidade de avestruz, em que os melhores exemplos à nossa volta não se encaram de frente, e prevalece o respeitinho, que é bonitinho. É a história. Ou o sul.

p.s - recebeste o meu email escandalosamente tardio?

Helga disse...

Nestas situações não se pode generalizar... Na minha terrinha há muito boa (ou má) gente machista. Mas, lá está, já ninguém liga a isso. Gosto muito de ir a um bar à noite com as minhas amigas. Se há quem fale, o melhor é ignorar. Não me afecta nada que falem...
Há sempre diferenças. Tenho um irmão que, por ser homem, começou a sair mais cedo e podia chegar mais tarde a casa. Eu, como era menina, tinha mais regras. E isso acontece com a generalidade das pessoas na minha terrinha. Por isso concordo que há um certo machismo, sobretudo na geração dos nossos pais e avós, mas tem vindo a esbater-se. E não acho que seja tão diferente dos outros países, nem acho que seja tão acentuado como o artigo faz crer. Apesar de ainda hoje o meu avô me ter dito "os homens a fumar é mau, mas as mulheres é pior, são umas badalhocas!"... Já nas grandes cidades, nunca senti isso!