domingo, 9 de novembro de 2008

Pequenos ditadores

Todos nós já nos cruzámos com um: nas finanças, no centro de saúde, nas repartições públicas ou na polícia. Abusam do pouco poder que têm e muitas vezes maltratam quem lida com eles. A maioria das vezes somos apanhados de surpresa e submetemo-nos a esses caprichos de pequeno Hitler. Só depois nos apercebemos e amaldiçoamos a passividade: para a próxima, prometemos, dizemos-lhe das boas.
O problema é quando o pequeno ditador nos testa a paciência diariamente. Aí, meus amigos, o drama é outro. O desafio é conseguir equilibrar entre morder a língua vezes suficiente para não tornar o ambiente insuportável e fazer valer a nossa opinião, para que não nos tome por carneiro.
Podemos imaginar que seremos tão diplomáticos, tão eloquentes, tão compreensivos, que o nosso interlocutor se vai render às evidências. Imaginamos até uma interessante troca e opiniões, em que acabamos bem cotados na escala da consideração. Sim, podemos imaginar isso tudo. Se não nos calhar na rifa um daqueles espécimes que nasceram não com o rei, mas com o imperador na barriga. Só com uma cesariana mesmo.
Ao apercebermo-nos da clareza dos factos, a mente enche-se de notas mentais que apelam à calma, ao estado zen, à mais plácida indiferença. Postura que alterna com piadinhas mentais e ironias cruéis. "A partir de hoje não vou ligar, não vou provocar, não vou responder". Sou o Gandhi cá do sítio.
Mas quando o pequeno ditador exprime barbaridades em catadupa a língua ganha um formigueiro. E há um momento em que pensamos "vou só atirar com esta, mas não respondo a retaliações". Qual quê! Não vão nessa, é o meu conselho. A resposta vem tão rápida que nem vamos ter tempo de evocar imagens de prados e música à "Oceano Pacífico". Quando damos por nós já é tarde demais. As palavras já saíram e são indisciplinadas: indignadas e ofendidas, não querem saber de mais ordens, apenas querem repor a justiça.
Com o caldo entornado, arrependemo-nos. E logo a seguir não, porque era merecido. E logo a seguir sim, porque era dispensável. E logo a seguir não, porque temos que impor respeito. E logo a seguir sim, porque, como todos dizem, "não vale a pena".
O problema é que ignorar os delírios dos pequenos ditadores faz-me sempre sentir que compactuo com eles. Se uma pessoa, digamos, disser "Aqui nunca se vai contratar um preto porque detesto pretos"* e eu não disser nada, sinto-me um verme humano.

O bom senso é uma coisa muito difícil de utilizar.

* frase fictícia, apenas a título de exemplo. Sim, eu conheço os meus leitores, já estavam com ideias.

2 comentários:

Fátima disse...

acho que sabes que tenho tendências homicidas. proponho um plano perfeito para acabar com a existência desse pequeno ditador. e depois tomavamos conta do teu local de trabalho e lançávamos algo completamente revolucionário!!! sim????

Marina disse...

Vai te a ele!!! Morte aos ditadores!!! LOL