A capacidade de adaptação das pessoas é fascinante. Chegamos a um lugar novo, de malas e bagagens, e é claro: este não é o meu lugar. Oscilamos entre o low profile e a simpatia excessiva. O que é que vou fazer com estas pessoas? Nunca vou conseguir ser como elas. Somos peixes fora de água, que abrem a boca aflitos em busca de ar. Até que decidimos entrar na água. Não conscientemente. Vamos entrando. Molhando os pés (as barbatanas, aliás) até estarmos submersos.
E nessa altura é tudo mais fácil. Não é que não se notem menos aqueles "problemas". Mas aprendemos a contorná-los e a entrar naquela dança social. Sabemos fazer uma piada amigável com aquela "miúda mimada", dar uma resposta mais certeira ao "rapaz convencido". Aprendemos o ritmo. Sabemos que ir à maquina do café é sinónimo de perguntar se mais alguém quer. Sabemos que a directora se interessa por Sintra, e a colega de trás tem um bebé acabadinho de sair do forno. Alguns vão sendo quase amigos. E os dias passam mais despercebidos, menos alerta. Já não chegamos a casa a amaldiçoar o mundo. Aprendemos as regras.
Às vezes observo pessoas assim, como eu, fora do seu habitat. Fico sempre fascinada como se moldam. Parece que mudam o interruptor quando passam portas. "Modo trabalho", "modo família", "modo namorado", "modo família do namorado", "modo amigos daqui", "modo amigos dali". Lá no meio há uma identidade nossa que convém manter sólida. Que escapa de vez em quando, num suspiro zangado ou numa exclamação entusiasmada fora de contexto. O nosso eu desadaptado a escapar do protocolo.
Lá por sermos peixes debaixo de água não quer dizer que tenhamos guelras.
2 comentários:
sim. uau. não diria melhor.
Curioso, muito curioso.
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