O artigo principal do último Ípsilon fez-me pensar em vários amigos, coisa que não é assim tão comum. Era sobre os novos cinéfilos e dizia coisas bem interessantes. Aliás, de salientar que esta sexta-feira o Ípsilon tinha grande categoria, não era só gente desconhecida (e aqui reconheço a minha quota parte de ignorância).
Aqui deixo uns excertos que sei que vão dizer muito a vários dos meus prezados e queridos leitores:
"(...)
Digitamos "cinefilia" no Google. O mais perto que ficamos de uma entrada dalgum dicionário "online" é a Wikipédia em língua portuguesa: "quem se interessa pelo cinema é considerado cinéfilo". Vago: basta dar uma volta pela expressão máxima da democracia opinativa, a blogosfera, para se perceber que toda a gente se "interessa" pelo cinema. Somos todos cinéfilos?
Convém desvalorizar a etimologia. Decomposta, a palavra "cinefilia" quer de facto designar um "amor pelo cinema". Como é feio julgar a qualidade do amor dos outros, tanto o indivíduo que passa os dias enfiado na Cinemateca como o que sai de casa uma vez por ano para ver o filme que ganhou os óscares têm igual legitimidade para se reclamarem "cinéfilos". Mas, e é aqui que convém perder de vista a etimologia, historicamente a palavra "cinefilia" - inventada, como tantas coisas relacionadas com a análise a percepção do cinema, pelos franceses - quis designar mais do que o seu etimológico amor. Antes, uma relação especial, uma condição quase ontológica, uma "cultura", como diz a entrada para "cinéphilie" na versão francesa da Wikipédia. Aliás, reproduzimos daí um parágrafo, absolutamente justo: "a cinefilia foi uma cultura porque possuía os seus próprios códigos distintivos e o seu próprio discurso. Ser cinéfilo era ser, ao mesmo tempo, espectador e crítico. Neste sentido a cinefilia foi uma prática de vida, a sós ou em grupo, entendida como forma de reflectir a arte e o mundo".
O artigo debruça-se sobre a tese que não é preciso conhecer ou gostar de Godard, Antonioni ou os russos para se ser considerado cinéfilo. Os cinéfilos de hoje vêem Tarantino e filmes série B. Artigo muito interessante (bem maior do que vem no site) de Luís Miguel Queirós
3 comentários:
:) a sensação que fiquei quando li o artigo foi: "err.. nice try, mas não sei se concordo muito com isto".
Se cinéfilo for o termo no cinema relativo ao melómano na música, que define o bichinho-toupeira, inquieto, que procura e por isso conhece, que não se cansa, afasto-me desta tese.
Mas se o problema for só com o termo então não há problema algum: estenda-se o "cinéfilo" ao povo que sai de casa uma vez por ano p ver o filme que ganhou os óscares e arranje-se outro para quem se interesse pelo antonioni e o godard - e assim perceber uma ou duas coisas sobre os filmes do tarantino.
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eu acho que o que o artigo diz é:
todos têm a mania que são cinéfilos, no entanto a cinefilia está datada e tem características específicas; ou seja, de tantos cinéfilos que andam por aí já não há nenhum.
mas quase toda a gente gosta de filmes, isso é verdade. também todos ouvem CDs e nem todos são audiófilos. acontece...
Ando a pensar neste artigo há muito tempo. O conceito de cinefilia é muito vago e não podemos dizer que o gajo que viu todos os tarantino é cinéfilo porque se calhar não conhece mais nada. Mas aquela pessoa que faz um esforço por conhecer os principais nomes da praça do cinema e que segue a indústria com interesse, é cinéfila. Aquela que sabe os nomes dos actores e dos realizadores, que gosta de criticar o que vê, ou pelo menos tentar. Mesmo que não seja muito bem. Porque esse interesse é louvável. E acho que isso pode ser considerado cinéfilo, mesmo que não tenha visto todos os Godard e afins
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