Uma coisa que me aconteceu depois de sair da faculdade, foi aperceber-me do valor e da importância de alguns dos meus professores. Só quando já não tinha aulas é que ouvi falar deles e do seu trabalho.
Um bom exemplo disso é o professor de Fotografia, Sérgio Mah. Sociólogo de formação, e provavelmente a maior cabeça que o país tem no estudo da fotografia, encontrei-o em jornais, revistas, e nas listas de ídolos dos fotógrafos. "Tu tiveste aulas com o Sérgio Mah???" disse-me uma vez um grande amigo que tenta vingar no mundo da fotografia. Depois de quatro anos na Arco a estudar a "arte da imagem", sem ter tido oportunidade de ter aulas com ele, sabia mais sobre o meu professor do que eu.
Hoje, mais uma vez, tropecei num pequeno perfil/ entrevista, aquele feito nas primeiras páginas da Única, que nem sempre é sobre pessoas conhecidas, mas sim sobre alguém que se distinguiu na sua área. Fica um bocadinho que gostei:
"A primeira imagem que me impressionou muito encontrei-a no livro "Americanos", de Robert Frank. Era uma espécie de entrada de bar, com um vulto em sombra e ao fundo um indivíduo vestido à cowboy com ar desafiador. Na fotografia há um lado humano e à flor da pele que não necessita de convocar o pensamento do especialista. Tento preservar esse olhar. Em casa não tenho fotografias nas paredes.
Gostar ou não gostar de fotografia é como gostar ou não gostar de linguagem"
sábado, 31 de maio de 2008
sexta-feira, 30 de maio de 2008
Aventureiros
Inês diz:
foste a irlanda?
Mn - BACK! diz:
yah =)
Inês diz:
ena!
Inês diz:
foi optimo?
Mn - BACK! diz:
optimo e maluco :X
Mn - BACK! diz:
assim do nada.. tava com um primo meu numa terrinha pa la
Mn - BACK! diz:
e deu-nos na bola e alugamos bicicletas
Mn - BACK! diz:
e fomos fazer 180 kilometros :X
Mn - BACK! diz:
so com o k tinhamos vestido e mai nada :X
Mn - BACK! diz:
prenoitamos em 2 hostels conhecemos uma data de ppl XD foi mesmo giro =)
Inês diz:
Mn - BACK! diz:
compramos t-shirts e meias e desodorizante e o resto que sa lixasse...
Mn - BACK! diz:
bem mas foi tipo pa morrer
Mn - BACK! diz:
mas deu pa tirar umas fotos em sitios bué remotos brutalmente lindos =) ehhe
Há pessoas assim. Para quem o verdadeiro sentido da frase "quando chegar a velho quero sentir que vivi" é fazer estas coisas. Nos filmes, então, há muitas. E vêmo-las no ecrã e sentimo-nos logo inspirados. Sentimos logo que as nossas vidas são uma seca e que somos uns mariquinhas comodistas.
No entanto, quando li este diálogo, a primeira reacção não foi nada de admiração. Foi um pensamento rezingão de "pfff, é mesmo típico dele!". Depois tive remorsos. Afinal, quem me dera. Por outro lado sei que se fosse eu, não o faria. Um emaranhado de pensamentos esquizofrénicos percorrem-me o cérebro. Vontade de agarrar numa mochila e sair por aí, pelo mundo fora. 18593745 razões para não o fazer.
E é sempre assim, as pessoas "aventureiras" sentem uma obrigação em ultrapassar-se, em quebrar os seus próprios limites. Na verdade - e foi isso que me irritou, eu sei - é que há pessoas que se tornam escravas das suas aventuras. Quando estão mesmo cansadas, continuam. Não vão em passeio, vão em desafio. E não sei exactamente porquê, isso incomoda-me.
Em última análise, confesso que queria ter dentro de mim esse impulso louco e inconsciente de pegar na bicicleta (partindo do princípio que eu não era uma naba a conduzir o dito veículo) e ir, apenas. Talvez seja falta de coragem. Coragem para fazer MESMO aquelas coisas que admiro. Não ter a vida direitinha dos meus pais, não viver das 9 às 5, não ter pátria nem amarras. Fazer só aquilo que me apaixona. E logo a seguir sou invadida de argumentos "responsáveis", "maduros" e "adultos".
Crescemos. Será que com isso ficamos com um défice de irresponsabilidade?
foste a irlanda?
Mn - BACK! diz:
yah =)
Inês diz:
ena!
Inês diz:
foi optimo?
Mn - BACK! diz:
optimo e maluco :X
Mn - BACK! diz:
assim do nada.. tava com um primo meu numa terrinha pa la
Mn - BACK! diz:
e deu-nos na bola e alugamos bicicletas
Mn - BACK! diz:
e fomos fazer 180 kilometros :X
Mn - BACK! diz:
so com o k tinhamos vestido e mai nada :X
Mn - BACK! diz:
prenoitamos em 2 hostels conhecemos uma data de ppl XD foi mesmo giro =)
Inês diz:
Mn - BACK! diz:
compramos t-shirts e meias e desodorizante e o resto que sa lixasse...
Mn - BACK! diz:
bem mas foi tipo pa morrer
Mn - BACK! diz:
mas deu pa tirar umas fotos em sitios bué remotos brutalmente lindos =) ehhe
Há pessoas assim. Para quem o verdadeiro sentido da frase "quando chegar a velho quero sentir que vivi" é fazer estas coisas. Nos filmes, então, há muitas. E vêmo-las no ecrã e sentimo-nos logo inspirados. Sentimos logo que as nossas vidas são uma seca e que somos uns mariquinhas comodistas.
No entanto, quando li este diálogo, a primeira reacção não foi nada de admiração. Foi um pensamento rezingão de "pfff, é mesmo típico dele!". Depois tive remorsos. Afinal, quem me dera. Por outro lado sei que se fosse eu, não o faria. Um emaranhado de pensamentos esquizofrénicos percorrem-me o cérebro. Vontade de agarrar numa mochila e sair por aí, pelo mundo fora. 18593745 razões para não o fazer.
E é sempre assim, as pessoas "aventureiras" sentem uma obrigação em ultrapassar-se, em quebrar os seus próprios limites. Na verdade - e foi isso que me irritou, eu sei - é que há pessoas que se tornam escravas das suas aventuras. Quando estão mesmo cansadas, continuam. Não vão em passeio, vão em desafio. E não sei exactamente porquê, isso incomoda-me.
Em última análise, confesso que queria ter dentro de mim esse impulso louco e inconsciente de pegar na bicicleta (partindo do princípio que eu não era uma naba a conduzir o dito veículo) e ir, apenas. Talvez seja falta de coragem. Coragem para fazer MESMO aquelas coisas que admiro. Não ter a vida direitinha dos meus pais, não viver das 9 às 5, não ter pátria nem amarras. Fazer só aquilo que me apaixona. E logo a seguir sou invadida de argumentos "responsáveis", "maduros" e "adultos".
Crescemos. Será que com isso ficamos com um défice de irresponsabilidade?
terça-feira, 27 de maio de 2008
Ele era um agente secreto (turururururu)
Este fim-de-semana decidi tornar-me uma groupie do David Fonseca.
O concerto na Queima das Fitas deu para pular, para gritar, para cantar e principalmente para emocionar. E qual foi o meu espanto quando percebi que até deu para chorar. As vozes erguiam-se em coro para a famosérrima "Someone that cannot love", quando reparo que ao meu lado uma rapariga chorava de olhos fechados, sozinha no recinto. Tentei ignorar e continuar a cantar em plenos pulmões mas o canto do olho ia sempre parar à rapariga que chorava sozinha. Felizmente lá para o fim da música chegou alguém que lhe deu um abraço e eu fiquei mais descansada.
Adiante. Houve de tudo neste concerto. Até houve quem, num acesso romântico, decidisse ligar às 3h da manhã para um amor impronunciado, ao som de "kiss me, kiss me, if that would make it great". Isto foi sem querer. Mas não importa porque ele não atendeu.
Houve o truque da luz, houve ecrãs de televisão a preto e branco e até houve hits dos silence four "I'm taking no calls unless it's her voice/ I'm seeing no one unless it's her". Mas o melhor momento (houve tantos, tantos, tantos) foi quando descobrimos que o David Fonseca, para além de ser um rocket man, também já foi um agente secreto. É verdade. E sempre que ele dizia as palavras "agente secreto" saltava uma música à suspanse, estilo "turururururu".
Mas a verdade é que o David se deixou dessa vida de aventuras. Mesmo assim, e só para nós, havia no palco um telefone daqueles com fio enroladinho à antiga, em cima de uma mesa alta. Esperámos. Tocou. Atendeu. E foi isto que aconteceu:
O concerto na Queima das Fitas deu para pular, para gritar, para cantar e principalmente para emocionar. E qual foi o meu espanto quando percebi que até deu para chorar. As vozes erguiam-se em coro para a famosérrima "Someone that cannot love", quando reparo que ao meu lado uma rapariga chorava de olhos fechados, sozinha no recinto. Tentei ignorar e continuar a cantar em plenos pulmões mas o canto do olho ia sempre parar à rapariga que chorava sozinha. Felizmente lá para o fim da música chegou alguém que lhe deu um abraço e eu fiquei mais descansada.
Adiante. Houve de tudo neste concerto. Até houve quem, num acesso romântico, decidisse ligar às 3h da manhã para um amor impronunciado, ao som de "kiss me, kiss me, if that would make it great". Isto foi sem querer. Mas não importa porque ele não atendeu.
Houve o truque da luz, houve ecrãs de televisão a preto e branco e até houve hits dos silence four "I'm taking no calls unless it's her voice/ I'm seeing no one unless it's her". Mas o melhor momento (houve tantos, tantos, tantos) foi quando descobrimos que o David Fonseca, para além de ser um rocket man, também já foi um agente secreto. É verdade. E sempre que ele dizia as palavras "agente secreto" saltava uma música à suspanse, estilo "turururururu".
Mas a verdade é que o David se deixou dessa vida de aventuras. Mesmo assim, e só para nós, havia no palco um telefone daqueles com fio enroladinho à antiga, em cima de uma mesa alta. Esperámos. Tocou. Atendeu. E foi isto que aconteceu:
Esta viagem no tempo foi a introdução para uma das minhas músicas preferidas do David Fonseca:
"I should have kissed you in the 80's
back when i was young and free
Maybe you think that i'm too old for loving
well tonight i'll make you love me
dance, dance, dance like you were 16
dance, dance ,dance you know what i mean."
segunda-feira, 19 de maio de 2008
Agri-doce (sim, com hífen)
Uns dias sim, uns dias não. Todos queremos, lá no fundo, ter a nossa colunazinha de jornal. Uns dias sim, uns dias não. Somos críticos de cinema, de música, de política, de gastronomia e principalmente de valores. Sabemos que podemos converter o "ela anda com x, mas na verdade gosta é de y e para se esquecer curtiu com o w na festa" num texto de humor e inteligência acutilantes.
Somos génios engarrafados. Abafados "pela sociedade", "pelos padrões", "pelas massas". Mas há dias, os dias sim, em que temos a certezinha que seremos grandes. Também nós seremos relembrados no "Perdidos & Achados" da SIC. E depois os dias não, trazem a segurança do falhanço. Seremos lembrados por meia dúzia de amigos e familiares que recordarão o nosso "bom coração". Vamos ter filhos e uma vida "remediada". O mundo está cheio de possibilidades, mas as possibilidades custam 6 mil euros que não existem na conta.
Uns dias sim, uns dias não. E os outros dias. Os dias agri-doce. Altos e baixos que nem gráfico de ritmo cardíaco. Um elogio que enche o ego, mas a caixa de email vazia de repostas de emprego. Uma carta de amor seguida de um raspanete dos pais. Um dia vai-não-vai, que mexe para cima ou para baixo consoante as música do mp3.
Os dias agri-doce são mais vulneráveis a intervenções exteriores. Por isso, nesses dias, escolho três ou quatro números de telefone que sei que não me vão deixar mal.
O pior é quando estão ocupados.
Somos génios engarrafados. Abafados "pela sociedade", "pelos padrões", "pelas massas". Mas há dias, os dias sim, em que temos a certezinha que seremos grandes. Também nós seremos relembrados no "Perdidos & Achados" da SIC. E depois os dias não, trazem a segurança do falhanço. Seremos lembrados por meia dúzia de amigos e familiares que recordarão o nosso "bom coração". Vamos ter filhos e uma vida "remediada". O mundo está cheio de possibilidades, mas as possibilidades custam 6 mil euros que não existem na conta.
Uns dias sim, uns dias não. E os outros dias. Os dias agri-doce. Altos e baixos que nem gráfico de ritmo cardíaco. Um elogio que enche o ego, mas a caixa de email vazia de repostas de emprego. Uma carta de amor seguida de um raspanete dos pais. Um dia vai-não-vai, que mexe para cima ou para baixo consoante as música do mp3.
Os dias agri-doce são mais vulneráveis a intervenções exteriores. Por isso, nesses dias, escolho três ou quatro números de telefone que sei que não me vão deixar mal.
O pior é quando estão ocupados.
Ser jovem (já não é) = futuro
Isto é sobre a sociedade americana, mas não deixa de suscitar um sentimento de reconhecimento:
"Hoje não há uma guerra contra os jovens, mas há uma guerra contra o futuro. Há uma presença acentuada de discursos apocalípticos e, os jovens, que representam o futuro, sofrem as consequências. Qualquer coisa que sempre demos como adquirido, como ter uma carreira ou uma pensão de velhice, é posto em causa. O problema é que se não acreditamos no futuro, não podemos ser responsáveis pelo que vai acontecer. Ou seja, não podemos ser responsáveis pelos jovens?Exacto. Nesse sentido, eles têm que ser qualquer coisa que pode ser controlada, porque não nos queremos sentir culpados - por não terem acesso à medicina, por serem toxicodependentes ou por não investirmos na educação pública ou na universidade.Simplesmente, porque não acreditamos que a nossa responsabilidade é investir no presente e preparar o futuro. O contexto social mudou tanto que é difícil aceitar ou abraçar o risco. Os adolescentes estão preocupados com o futuro económico de uma forma que a minha geração não estava."
"Hoje não há uma guerra contra os jovens, mas há uma guerra contra o futuro. Há uma presença acentuada de discursos apocalípticos e, os jovens, que representam o futuro, sofrem as consequências. Qualquer coisa que sempre demos como adquirido, como ter uma carreira ou uma pensão de velhice, é posto em causa. O problema é que se não acreditamos no futuro, não podemos ser responsáveis pelo que vai acontecer. Ou seja, não podemos ser responsáveis pelos jovens?Exacto. Nesse sentido, eles têm que ser qualquer coisa que pode ser controlada, porque não nos queremos sentir culpados - por não terem acesso à medicina, por serem toxicodependentes ou por não investirmos na educação pública ou na universidade.Simplesmente, porque não acreditamos que a nossa responsabilidade é investir no presente e preparar o futuro. O contexto social mudou tanto que é difícil aceitar ou abraçar o risco. Os adolescentes estão preocupados com o futuro económico de uma forma que a minha geração não estava."
Lawrence Grossberg
"Um dos mais importantes pensadores de estudos culturais americanos, foi uma voz central nos debates sobre o pós-modernismo nos anos 1980 e teve papel essencial na legitimação do estudo da música popular e "cultura jovem" na universidade. (...) Há uma semana deu uma conferencia na Universidade Católica, em Lisboa, sobre Estudos Culturais e Problemas da Modernidade. Para ele, os estudos culturais são em primeiro lugar política e, só depois, cultura popular. Na sua última obra, denuncia a "guerra aos jovens" que é, afinal, segundo ele, a tradução de um contexto onde ninguém acredita no futuro." - Vítor Belanciano, in Público
domingo, 18 de maio de 2008
sábado, 17 de maio de 2008
Sucesso
Qual é a importância do sucesso?
Aliás, o que é sucesso? Ser bem sucedido é antingir um alto cargo profissional? É ter um negócio próprio? É um salário grande? É ser famoso?
Por esta linha de pensamento uma dona-de-casa é um falhanço. Uma professora primária também. Sem falar de um simples empregado de balcão.
Mas é, de facto, o sucesso um factor profissional estreitamente relacionado com dinheiro? A pergunta não é retórica, é genuína. Será que é incoerente uma pessoa dizer "sou bem sucedida, porque sou Feliz"?
Aliás, o que é sucesso? Ser bem sucedido é antingir um alto cargo profissional? É ter um negócio próprio? É um salário grande? É ser famoso?
Por esta linha de pensamento uma dona-de-casa é um falhanço. Uma professora primária também. Sem falar de um simples empregado de balcão.
Mas é, de facto, o sucesso um factor profissional estreitamente relacionado com dinheiro? A pergunta não é retórica, é genuína. Será que é incoerente uma pessoa dizer "sou bem sucedida, porque sou Feliz"?
quarta-feira, 14 de maio de 2008
Os oradores da bola
As serpentinas de palavras que o futebol propicia. Eu fico embasbacada. Que fenómeno. Isto já não tem nada a ver com usufruir de um par de horas de entretenimento desportivo. É que dá para discussões complexas; dir-se-ia que falam da estratégia económica para resolver os conflitos armados mundiais - mas não. São pontuações e jogadores a entrar e a sair, faltas, treinadores, e francamente, mais uma data de coisas que não sei enunciar.
Eu fico mesmo perplexa. Há aqueles caladinhos, que nunca têm opinião sobre nada, mas quando é bola, é bola! Salta-lhes a eloquência pelos lábios que é uma coisa impressionante.
Ando admirada, confesso, com a Vanessa Fernandes. Não nos deixa ficar mal, a rapariga. Mas ninguém discute a Vanessa Fernandes, apesar de me parecer que se é para falar de desporto, ela é bastante mais relevante. É que jogos há a toda a hora, e gerem-se sempre pelos mesmos padrões.
Mas quem sou eu para dar bitates sobre o assunto.
Eu continuo sem perceber a utilidade de perguntar: "Então e quais são as suas expectativas para o europeu?"
("As equipas adversárias são fortes, mas nós temos bons jogadores e acho que temos boas oportunidades de vencer" - não é sempre isto?)
Eu fico mesmo perplexa. Há aqueles caladinhos, que nunca têm opinião sobre nada, mas quando é bola, é bola! Salta-lhes a eloquência pelos lábios que é uma coisa impressionante.
Ando admirada, confesso, com a Vanessa Fernandes. Não nos deixa ficar mal, a rapariga. Mas ninguém discute a Vanessa Fernandes, apesar de me parecer que se é para falar de desporto, ela é bastante mais relevante. É que jogos há a toda a hora, e gerem-se sempre pelos mesmos padrões.
Mas quem sou eu para dar bitates sobre o assunto.
Eu continuo sem perceber a utilidade de perguntar: "Então e quais são as suas expectativas para o europeu?"
("As equipas adversárias são fortes, mas nós temos bons jogadores e acho que temos boas oportunidades de vencer" - não é sempre isto?)
terça-feira, 13 de maio de 2008
"Se o regabofe continua..."
Quanto mais Angola esperneia (e por Angola leia-se o governo e os jornais controlados), mais me parece que se enterram.
http://dn.sapo.pt/2008/05/13/nacional/lisboa_ainda_e_o_centro_conspiracoes.html
http://dn.sapo.pt/2008/05/13/nacional/lisboa_ainda_e_o_centro_conspiracoes.html
segunda-feira, 12 de maio de 2008
Museu do Oriente
Se ainda não tiveram oportunidade de espreitar o Museu do Oriente, fiquem com um cheirinho da coisa, através desta excelente fotogaleria da autoria do Pedro Cunha:
http://static.publico.clix.pt/docs/cultura/museuoriente/index.html
http://static.publico.clix.pt/docs/cultura/museuoriente/index.html
domingo, 11 de maio de 2008
Acreditar ou não acreditar?
Eu até me considero uma pessoa de fé. Acredito, geralmente, na humanidade. Na bondade das pessoas, na honestidade. Acredito que há bons políticos, com boas intenções e bons projectos, que vão conseguir concretizar. Até acredito que os MacCann não fizeram mal à pobre Maddie.
Acredito "que tudo vai acabar bem", e que "um dia" haverá um jardim ao pé da minha casa. No fundo, até acredito no tão improvável "felizes para sempre".
Aquilo em que eu não acredito é em Deus. E digo isto sem qualquer rasgo de afronta. Não é mesmo para provocar ninguém. É que a ideia não faz qualquer sentido na minha cabeça. Desde que comecei a desenvolver uma capacidade de raciocínio mais refinada (depois da fase do "mas a minha mãe disse por isso é verdade"), que percebi logo que ia ter problemas com o assunto. Deixem-me ser explícita: eu quero mesmo acreditar. Enfrentar a morte sem promessas de paraíso não é fácil. Não há nada depois da terra nos engolir? Só a ideia arrepia. Acredito nalguma coisa, confesso. Mas não é Deus. Não consigo. É incoerente. Acho mesmo que é chocante, face às desgraças, à miséria, ao sofrimento, às injustiças.
Pronto, já sei, o livre arbítrio, blá blá blá. Há tantas coisas que nos acontecem que estão fora das nossas mãos. Há as catástrofes naturais, por exemplo. Em última análise até se pode dizer que são culpa do Homem, mas isso não passa de uma desculpa, porque aqueles que morrem, que perdem filhos e pais e casas e tudo o que possuem, não têm culpa disso. Se Deus não interfere, então porque é que as pessoas rezam? Então Ele existe exactamente para quê? Como é que isso serve de conforto? Um Deus que apenas olha para baixo e assiste a uma criança a morrer de fome...
Eu quero acreditar mas num piscar de olhos tenho logo mil razões que me impedem.
É claro que toda a gente já teve este raciocínio, mas mesmo assim acredita. Assim sendo concluo que algo se passa com elas, dentro delas, que me passa ao lado. Acreditam, mesmo que não faça sentido. Sentem qualquer coisa. Mas eu não sinto nada. Não me sinto acompanhada, não me sinto escutada, nem protegida.
Porquê?
Acredito "que tudo vai acabar bem", e que "um dia" haverá um jardim ao pé da minha casa. No fundo, até acredito no tão improvável "felizes para sempre".
Aquilo em que eu não acredito é em Deus. E digo isto sem qualquer rasgo de afronta. Não é mesmo para provocar ninguém. É que a ideia não faz qualquer sentido na minha cabeça. Desde que comecei a desenvolver uma capacidade de raciocínio mais refinada (depois da fase do "mas a minha mãe disse por isso é verdade"), que percebi logo que ia ter problemas com o assunto. Deixem-me ser explícita: eu quero mesmo acreditar. Enfrentar a morte sem promessas de paraíso não é fácil. Não há nada depois da terra nos engolir? Só a ideia arrepia. Acredito nalguma coisa, confesso. Mas não é Deus. Não consigo. É incoerente. Acho mesmo que é chocante, face às desgraças, à miséria, ao sofrimento, às injustiças.
Pronto, já sei, o livre arbítrio, blá blá blá. Há tantas coisas que nos acontecem que estão fora das nossas mãos. Há as catástrofes naturais, por exemplo. Em última análise até se pode dizer que são culpa do Homem, mas isso não passa de uma desculpa, porque aqueles que morrem, que perdem filhos e pais e casas e tudo o que possuem, não têm culpa disso. Se Deus não interfere, então porque é que as pessoas rezam? Então Ele existe exactamente para quê? Como é que isso serve de conforto? Um Deus que apenas olha para baixo e assiste a uma criança a morrer de fome...
Eu quero acreditar mas num piscar de olhos tenho logo mil razões que me impedem.
É claro que toda a gente já teve este raciocínio, mas mesmo assim acredita. Assim sendo concluo que algo se passa com elas, dentro delas, que me passa ao lado. Acreditam, mesmo que não faça sentido. Sentem qualquer coisa. Mas eu não sinto nada. Não me sinto acompanhada, não me sinto escutada, nem protegida.
Porquê?
quinta-feira, 8 de maio de 2008
O mundo é Erasmus!
Ontem recebi uma visita da Holanda. Da Itália na verdade, mas para mim temos todos pátria holandesa.
O inglês, meu Deus, tão enferrujado. O nosso e o dele. Pisquei os olhos 20 vezes para ter a certeza, bati-lhe no braço (com força), só me apetecia saltar. "Não acredito que estás aqui!". Meia hora depois, à mesa de um restaurante lisboeta ("prova as espetadas que são boas!") a sangria sabia a doce, e o ar sabia a uma euforia que eu já tinha perdida na memória. Não há nada como um inglês adocicado assim. "Como é que se diz carneiro?", "Lamb", "Lamb, what's lamb", "the male sheep!", "hun?". Risos enrolados, compulsivos, tão tão saudosos. Emotivamente saudosos.
"Do you remember when...". Só memórias. Tantas, tantas, tantas. Algumas com updates que queríamos contar todos ao mesmo tempo.
O Erasmos em Lisboa, outra vez. Mas agora foi diferente porque as outras visitas decorreram "em tempo útil", dentro daquele período em que se prometem viagens ao mundo todo. "Eu vou visitar-te, prometo". Alguns vêm, outros não. Mas depois pára, depois já não vem mais ninguém. Estamos já conformados, já não há mails a cada novidade, ficamo-nos pelos "Happy birthday" ocasionais. E mesmo assim, ele apareceu. Namorada portuguesa, fiquei orgulhosa. "Deixámos boa impressão" hehe. Ele que era o mais giro do erasmus (pelo menos o top5), que tinha uma carta "de amor" pregada ao lado da cama, que nos deixava ler porque sabia que nós não percebíamos o que dizia. Será que vamos ter outro casamento internacional?
Há pouco tempo disseram-me que fazer Erasmus era um desperdício. Hoje já não me apetece bater nessa pessoa, tenho apenas pena dele. Porque a minha vida é tão mais colorida depois do inglês multi-sotaques. Depois das confissões no escuro, depois daqueles laços que sabemos eternos.
As amizades de erasmus são muito estranhas. Eu não acreditaria nelas se não as tivesse vivido. Aquilo que une as pessoas é muito mais primário, muito mais essencial do que na "vida real". É uma coisa instintiva, harmoniosa. Aquele tipo de amizade que nos permite saltar para o colo de alguém, cantar em plenos pulmões sem ter vergonha, dançar em cima do balcão (só uma vez vá...). Não são ideias nem convicções, não são gostos. Essas coisas subentendem-se nos cozinhados conjuntos, nos chocolates-consolação oferecidos quando a tristeza bate, na partilha da euforia, nas aulas de "andar de bicicleta", nas festas de anos surpresa, nos "vem, vem, não é o mesmo sem ti". Naquele sentimento de grupo, de força.
"E lembram-se, lembram-se do que cantavamos [portugueses, espanhóis, holandeses, franceses, italianos, polacos, americanos, brasileiros, etc] nas discotecas?" Como esquecer. Abraçados em roda, que nem jogadores de futebol: "Siamo i campioni del mondoooooooo".
O inglês, meu Deus, tão enferrujado. O nosso e o dele. Pisquei os olhos 20 vezes para ter a certeza, bati-lhe no braço (com força), só me apetecia saltar. "Não acredito que estás aqui!". Meia hora depois, à mesa de um restaurante lisboeta ("prova as espetadas que são boas!") a sangria sabia a doce, e o ar sabia a uma euforia que eu já tinha perdida na memória. Não há nada como um inglês adocicado assim. "Como é que se diz carneiro?", "Lamb", "Lamb, what's lamb", "the male sheep!", "hun?". Risos enrolados, compulsivos, tão tão saudosos. Emotivamente saudosos.
"Do you remember when...". Só memórias. Tantas, tantas, tantas. Algumas com updates que queríamos contar todos ao mesmo tempo.
O Erasmos em Lisboa, outra vez. Mas agora foi diferente porque as outras visitas decorreram "em tempo útil", dentro daquele período em que se prometem viagens ao mundo todo. "Eu vou visitar-te, prometo". Alguns vêm, outros não. Mas depois pára, depois já não vem mais ninguém. Estamos já conformados, já não há mails a cada novidade, ficamo-nos pelos "Happy birthday" ocasionais. E mesmo assim, ele apareceu. Namorada portuguesa, fiquei orgulhosa. "Deixámos boa impressão" hehe. Ele que era o mais giro do erasmus (pelo menos o top5), que tinha uma carta "de amor" pregada ao lado da cama, que nos deixava ler porque sabia que nós não percebíamos o que dizia. Será que vamos ter outro casamento internacional?
Há pouco tempo disseram-me que fazer Erasmus era um desperdício. Hoje já não me apetece bater nessa pessoa, tenho apenas pena dele. Porque a minha vida é tão mais colorida depois do inglês multi-sotaques. Depois das confissões no escuro, depois daqueles laços que sabemos eternos.
As amizades de erasmus são muito estranhas. Eu não acreditaria nelas se não as tivesse vivido. Aquilo que une as pessoas é muito mais primário, muito mais essencial do que na "vida real". É uma coisa instintiva, harmoniosa. Aquele tipo de amizade que nos permite saltar para o colo de alguém, cantar em plenos pulmões sem ter vergonha, dançar em cima do balcão (só uma vez vá...). Não são ideias nem convicções, não são gostos. Essas coisas subentendem-se nos cozinhados conjuntos, nos chocolates-consolação oferecidos quando a tristeza bate, na partilha da euforia, nas aulas de "andar de bicicleta", nas festas de anos surpresa, nos "vem, vem, não é o mesmo sem ti". Naquele sentimento de grupo, de força.
"E lembram-se, lembram-se do que cantavamos [portugueses, espanhóis, holandeses, franceses, italianos, polacos, americanos, brasileiros, etc] nas discotecas?" Como esquecer. Abraçados em roda, que nem jogadores de futebol: "Siamo i campioni del mondoooooooo".
terça-feira, 6 de maio de 2008
Numa conferência organizada pelo BES e pelo Expresso sobre Desenvolvimento Sustentável, Bob Geldof disse que "Angola é gerida por criminosos". O BES tirou logo o rabinho da mira da seringa e disse que se demarcava de tais afirmações e que as considerava "injuriosas". O embaixador angolano saíu da sala.
Hipocrisias à parte, podemos mesmo dizer que é mentira?
Hipocrisias à parte, podemos mesmo dizer que é mentira?
segunda-feira, 5 de maio de 2008
Morre lentamente
Para ler devagar e reflectidamente.
É talvez cliché (mas dos bons. quem foi mesmo que disse que há clichés bons e maus?), mas é um dos meus poemas-prosa favoritos. E sempre que o leio dá aquele aperto no coração por me reconhecer nalguma linha.
Morre lentamente quem não viaja, quem não lê,
quem não ouve música,
quem não encontra graça em si mesmo.
Morre lentamente quem destrói o seu amor-próprio,
quem não se deixa ajudar.
Morre lentamente quem se transforma em escravo do hábito,
repetindo todos os dias os mesmos trajectos,
quem não muda de marca, não se arrisca a vestir uma nova cor
ou não conversa com quem não conhece.
Morre lentamente quem faz da televisão o seu guru.
Morre lentamente quem evita uma paixão,
quem prefere o negro sobre o branco
e os pontos sobre os "is" em detrimento de um redemoinho de emoções
justamente as que resgatam o brilho dos olhos,
sorrisos dos bocejos, corações aos tropeços e sentimentos.
Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz,
quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho,
quem não se permite pelo menos uma vez na vida fugir dos conselhos sensatos.
Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da sua má sorte ou da chuva incessante.
Morre lentamente quem abandona um projecto antes de iniciá-lo,
não pergunta sobre um assunto que desconhece
ou não responde quando lhe indagam sobre algo que sabe.
Morre lentamente...
É talvez cliché (mas dos bons. quem foi mesmo que disse que há clichés bons e maus?), mas é um dos meus poemas-prosa favoritos. E sempre que o leio dá aquele aperto no coração por me reconhecer nalguma linha.
Morre lentamente quem não viaja, quem não lê,
quem não ouve música,
quem não encontra graça em si mesmo.
Morre lentamente quem destrói o seu amor-próprio,
quem não se deixa ajudar.
Morre lentamente quem se transforma em escravo do hábito,
repetindo todos os dias os mesmos trajectos,
quem não muda de marca, não se arrisca a vestir uma nova cor
ou não conversa com quem não conhece.
Morre lentamente quem faz da televisão o seu guru.
Morre lentamente quem evita uma paixão,
quem prefere o negro sobre o branco
e os pontos sobre os "is" em detrimento de um redemoinho de emoções
justamente as que resgatam o brilho dos olhos,
sorrisos dos bocejos, corações aos tropeços e sentimentos.
Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz,
quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho,
quem não se permite pelo menos uma vez na vida fugir dos conselhos sensatos.
Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da sua má sorte ou da chuva incessante.
Morre lentamente quem abandona um projecto antes de iniciá-lo,
não pergunta sobre um assunto que desconhece
ou não responde quando lhe indagam sobre algo que sabe.
Morre lentamente...
Pablo Neruda
sexta-feira, 2 de maio de 2008
É banha da cobra?
Já discuti o assunto vezes sem conta, com pessoas "pró" e com pessoas "contra". Já levei com olhares paternalistas e às vezes até duvido das minhas funcionalidades cerebrais. Mas como todos temos ídolos (e eu tenho uma mão cheia deles), aqui vai um excerto da crónica de hoje do Paulo Moura, coisa que eu copiaria (se isso não fosse proibido) para uma carta de motivação do género "porque é que quer jornalista" (entre outras explicações, claro está).
"(...)Não tenho nada contra agências de Relações Públicas e Comunicação. Se se tratar de gente honesta (...), fazem um trabalho legítimo e útil. Muitas vezes têm acesso a informação de que o jornalista precisa, e a que não tem acesso. Os jornalistas não podem, nem devem, andar a fugir das agências de comunicação. Mas é sensato terem medo delas. Tudo o que nos dizem é motivado por algum interesse e nem sempre conseguimos saber qual. As suas artes não estão sob o nosso controlo, nem têm de estar. Não há portanto outra solução senão colaborar, mantendo embora um receio metódico.
Isso não impede os jornalistas de serem corajosos e íntegros. Têm de o ser, por uma razão simples: é isso que os define. O jornalista é o único comunicador desinteressado. Aquilo que escreve ou diz não obedece ao interesse de ninguém, excepto de quem lê ou ouve. Qualquer outra informação é interessada. Esta situação confere ao jornalista uma credibilidade específica e, por isso, torna-o alvo de todas as tentativas de pressão, ou de influência.
Um jornalista cobarde ou corrupto já não é um jornalista. E já não serve para nada. Nem para uma agência de Relações Públicas. Mas igualmente inúteis são os valentões. Numa guerra, não duram muito. Nos lugares realmente perigosos, os verdadeiros duros são homens cautelosos, que levam a sério o próprio medo."
"(...)Não tenho nada contra agências de Relações Públicas e Comunicação. Se se tratar de gente honesta (...), fazem um trabalho legítimo e útil. Muitas vezes têm acesso a informação de que o jornalista precisa, e a que não tem acesso. Os jornalistas não podem, nem devem, andar a fugir das agências de comunicação. Mas é sensato terem medo delas. Tudo o que nos dizem é motivado por algum interesse e nem sempre conseguimos saber qual. As suas artes não estão sob o nosso controlo, nem têm de estar. Não há portanto outra solução senão colaborar, mantendo embora um receio metódico.
Isso não impede os jornalistas de serem corajosos e íntegros. Têm de o ser, por uma razão simples: é isso que os define. O jornalista é o único comunicador desinteressado. Aquilo que escreve ou diz não obedece ao interesse de ninguém, excepto de quem lê ou ouve. Qualquer outra informação é interessada. Esta situação confere ao jornalista uma credibilidade específica e, por isso, torna-o alvo de todas as tentativas de pressão, ou de influência.
Um jornalista cobarde ou corrupto já não é um jornalista. E já não serve para nada. Nem para uma agência de Relações Públicas. Mas igualmente inúteis são os valentões. Numa guerra, não duram muito. Nos lugares realmente perigosos, os verdadeiros duros são homens cautelosos, que levam a sério o próprio medo."
Paulo Moura, in Público
quinta-feira, 1 de maio de 2008
Maio de 2008
"Há 40 anos, o movimento que ficou conhecido como o Maio de 68 inflamou milhares de jovens franceses. Universidades fechadas, bairros feitos quartel, confrontos violentos com a polícia, palavras de ordem: uma revolução. As universidades tornaram-se trincheiras num campo de batalha social e política, com soldados-estudantes na casa dos vinte".
Escrevi-o como introdução para um texto no Público, mas não havia espaço para introduções (é preciso ir directo às conclusões). Dou-lhe uso aqui como deixa para relembrar que o presidente francês Nicolas Sarkozy disse que é preciso "enterrar o Maio de 68".
A frase foi proferida no meio de protestos cerrados em Paris. Uma espécie de reacção contra os "revolucionários", esses tumultuosos que só querem causar distúrbio.
Tal declaração preocupa-me. Quarenta anos depois, fomos revolucionários o suficiente? Não me refiro a manifestações contra medidas governamentais (que também devem ter o seu espaço), mas a revoluções culturais como aquelas de 68. Dúvidas não há que a década de sessenta para sempre mudou as sociedades. E isso pouco tem a ver com regimes políticos (esses vêm de arraste). O Maio de 68 quis acabar com os naperons em cima da mesa, com o "jesus credo" das mães, com o conservadorismo do ensino, com o medo a diferença. Quis liberdade política, sim. E o fim da guerra, também. Mas quis sobretudo cortar com os valores cheios de mofo que existiam antes. O Maio de 68 representa os valores mais cristalinos daquilo que é "ser jovem".
Chamem-me utópica, mas eu ainda acredito que "Debaixo da calçada, [está] a praia".
Escrevi-o como introdução para um texto no Público, mas não havia espaço para introduções (é preciso ir directo às conclusões). Dou-lhe uso aqui como deixa para relembrar que o presidente francês Nicolas Sarkozy disse que é preciso "enterrar o Maio de 68".
A frase foi proferida no meio de protestos cerrados em Paris. Uma espécie de reacção contra os "revolucionários", esses tumultuosos que só querem causar distúrbio.
Tal declaração preocupa-me. Quarenta anos depois, fomos revolucionários o suficiente? Não me refiro a manifestações contra medidas governamentais (que também devem ter o seu espaço), mas a revoluções culturais como aquelas de 68. Dúvidas não há que a década de sessenta para sempre mudou as sociedades. E isso pouco tem a ver com regimes políticos (esses vêm de arraste). O Maio de 68 quis acabar com os naperons em cima da mesa, com o "jesus credo" das mães, com o conservadorismo do ensino, com o medo a diferença. Quis liberdade política, sim. E o fim da guerra, também. Mas quis sobretudo cortar com os valores cheios de mofo que existiam antes. O Maio de 68 representa os valores mais cristalinos daquilo que é "ser jovem".
Chamem-me utópica, mas eu ainda acredito que "Debaixo da calçada, [está] a praia".
Aconselho:
O Bordado Inglês (blog convidado do Público) está a fazer uma série de perfis sobre portugueses a estudar ou trabalhar no Reino Unido. Pessoas que perseguem objectivos arrojados, impossíveis de concretizar em Portugal. Bastante interessante.
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