quinta-feira, 1 de maio de 2008

Maio de 2008

"Há 40 anos, o movimento que ficou conhecido como o Maio de 68 inflamou milhares de jovens franceses. Universidades fechadas, bairros feitos quartel, confrontos violentos com a polícia, palavras de ordem: uma revolução. As universidades tornaram-se trincheiras num campo de batalha social e política, com soldados-estudantes na casa dos vinte".

Escrevi-o como introdução para um texto no Público, mas não havia espaço para introduções (é preciso ir directo às conclusões). Dou-lhe uso aqui como deixa para relembrar que o presidente francês Nicolas Sarkozy disse que é preciso "enterrar o Maio de 68".
A frase foi proferida no meio de protestos cerrados em Paris. Uma espécie de reacção contra os "revolucionários", esses tumultuosos que só querem causar distúrbio.

Tal declaração preocupa-me. Quarenta anos depois, fomos revolucionários o suficiente? Não me refiro a manifestações contra medidas governamentais (que também devem ter o seu espaço), mas a revoluções culturais como aquelas de 68. Dúvidas não há que a década de sessenta para sempre mudou as sociedades. E isso pouco tem a ver com regimes políticos (esses vêm de arraste). O Maio de 68 quis acabar com os naperons em cima da mesa, com o "jesus credo" das mães, com o conservadorismo do ensino, com o medo a diferença. Quis liberdade política, sim. E o fim da guerra, também. Mas quis sobretudo cortar com os valores cheios de mofo que existiam antes. O Maio de 68 representa os valores mais cristalinos daquilo que é "ser jovem".

Chamem-me utópica, mas eu ainda acredito que "Debaixo da calçada, [está] a praia".

10 comentários:

Fátima disse...

Mais uma prova que o Sarkozy é um totó. Eu gosto do Maio de 68. Não há conquistas sem ideais mesmo que pareçam utópicos. Sem poesia e sem luta, o que era de nós?
Soyez réalistes, demandez l'impossible!

Fátima disse...
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Fátima disse...
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Fátima disse...

tive de te citar no meu blog. tá TÃO giro o artigo. e para ti, um pequeno momento de nostalgia por constar novamente entre as grandes páginas do Público =)

Alison disse...

Oh, o Sarkozy não é totó! Ai, ai que fico chateada! Ele é que é agora o grande revolucionário de 2008.

Fátima disse...

"Porém, para outros, como o atual presidente francês, Nicolas Sarkozy, que tinha apenas 13 anos na época, Maio de 1968 representa a anarquia e o relativismo moral, a destruição de valores sociais e patrióticos que, ditos a grosso modo, "devem ser liquidados". O feroz debate sobre o que aconteceu há 40 anos é algo muito francês. Chega a existir uma luta sobre rótulos - a direita chama o incidente de "evento", enquanto a esquerda afirma que foi um "movimento".

(...)

"Como um homem divorciado, Sarkozy não poderia ter sido convidado para jantar no Palácio do Eliseu, liderando sozinho e eleito presidente da França", Geismar afirmou. Tanto a vida pessoal e o sucesso político de Sarkozy, com estrangeiros e judeus, "são inimagináveis sem 1968", acrescentou. "Os neoconservadores são inimagináveis sem 1968".



André Glucksmann, que ainda apóia Sarkozy como a melhor opção para modernizar "o dourado museu da França", e reduzir o poder do "Estado sacramentado", está preocupado com o modo como a campanha do presidente atacou os eventos de Maio de 1968. "Sarkozy é o primeiro presidente pós-1968", disse Glucksmann. "Para liquidar 1968, ele teria que liquidar a si mesmo".

In Estadão, jornal brasileiro

Ele pode estar a reformar, mas tb não se faz a liquidar, porque ele vive os novos valores que o maio de 68 trouxe, mais liberdade, porque já se divorciou

Fátima disse...

http://www.estadao.com.br/internacional/not_int165460,0.htm

Fátima disse...

Sarkozy "está a defender a brutalidade e a violência", afirmou ontem a candidata socialista à Presidência de França, aumentando as cusações ao seu adversário às eleições de domingo. Ségolène Royal não gostou de ouvir Nicolas Sarkozy dizer que é preciso enterrar o Maio de 68, "procurando criar uma sociedade em que as pessoas só têm deveres".

"Desafio os franceses a romperem realmente com o espírito, com o comportamento e com as ideias de Maio de 68", disse Sarkozy a mais de 20 mil simpatizantes, num ataque direccionado às mais velhas gerações de socialistas. Ou seja, segundo o adversário de Royal, "trazer a nação de volta à política através da moral, da autoridade, do respeito e do trabalho".

Royal, que lançou uma plataforma económica ortodoxa e de Esquerda, com forte base na intervenção estatal, acusa Sarkozy de pisar nas conquistas do movimento de 1968 que - recorda - inspirou simpatizantes de Esquerda por todo o Mundo.

"Foi um discurso de grande violência e grande brutalidade. A França não precisa disso hoje em dia. A França precisa de se reconciliar e de calma. A França precisa de união para que se levante", disse Royal na que terá sido até agora a mais dura intervenção de campanha."

O trabalho é importante, mas não é tudo...

Alison disse...

Não quero entrar em debate político porque são sempre as mesmas clivagens entre os partidos: se a direita diz que é preciso distanciar-se de Maio de 68, a esquerda diz que são as bases da democracia. Já deu pa entender que não gosto cá de socialismo, nem de manifastações e sindicatos. Mas claro que considero importantes e fundamentais certas consequências de Maio de 68. Os acordos de Grenelle representam um marco essencial na sociedade francesa. Mas outros aspectos são menos lindos: "On assiste à une désaffection des Français pour la sphère publique et politique et pour le militantisme en général."
Penso que a mensagem que Sarkozy quer deixar é que não é com greves e macacadas a pedirem sempre aumentos salariais e melhores condições de trabalho que chegam lá. A "crise" já se instalou e é preciso força e ambição para combater os efeitos nefastos. Neste momento, não precisamos de queixas nem de nostalgias.
Sabes, os franceses são muito preguiçosos e os estrangeiros que vivem em França aproveitam-se do sistema para receber pensões pa tudo e mais alguma coisa sem mexer o cu.
Não pode ser assim, pá! E o Sarkozy tá a trabalhar para mudar as coisas. Tá a reformar o país de maneira sensata e eficaz.
Ah, e a Segolène é que é "totó"!!

Fátima disse...

Sim, é verdade que não é com manifestações que se resolvem os problemas, mas acho que ele deveria ter moderado o tom quando «atacou» desta forma um marco na história como é o Maio de 68.