domingo, 11 de maio de 2008

Acreditar ou não acreditar?

Eu até me considero uma pessoa de fé. Acredito, geralmente, na humanidade. Na bondade das pessoas, na honestidade. Acredito que há bons políticos, com boas intenções e bons projectos, que vão conseguir concretizar. Até acredito que os MacCann não fizeram mal à pobre Maddie.
Acredito "que tudo vai acabar bem", e que "um dia" haverá um jardim ao pé da minha casa. No fundo, até acredito no tão improvável "felizes para sempre".
Aquilo em que eu não acredito é em Deus. E digo isto sem qualquer rasgo de afronta. Não é mesmo para provocar ninguém. É que a ideia não faz qualquer sentido na minha cabeça. Desde que comecei a desenvolver uma capacidade de raciocínio mais refinada (depois da fase do "mas a minha mãe disse por isso é verdade"), que percebi logo que ia ter problemas com o assunto. Deixem-me ser explícita: eu quero mesmo acreditar. Enfrentar a morte sem promessas de paraíso não é fácil. Não há nada depois da terra nos engolir? Só a ideia arrepia. Acredito nalguma coisa, confesso. Mas não é Deus. Não consigo. É incoerente. Acho mesmo que é chocante, face às desgraças, à miséria, ao sofrimento, às injustiças.
Pronto, já sei, o livre arbítrio, blá blá blá. Há tantas coisas que nos acontecem que estão fora das nossas mãos. Há as catástrofes naturais, por exemplo. Em última análise até se pode dizer que são culpa do Homem, mas isso não passa de uma desculpa, porque aqueles que morrem, que perdem filhos e pais e casas e tudo o que possuem, não têm culpa disso. Se Deus não interfere, então porque é que as pessoas rezam? Então Ele existe exactamente para quê? Como é que isso serve de conforto? Um Deus que apenas olha para baixo e assiste a uma criança a morrer de fome...
Eu quero acreditar mas num piscar de olhos tenho logo mil razões que me impedem.
É claro que toda a gente já teve este raciocínio, mas mesmo assim acredita. Assim sendo concluo que algo se passa com elas, dentro delas, que me passa ao lado. Acreditam, mesmo que não faça sentido. Sentem qualquer coisa. Mas eu não sinto nada. Não me sinto acompanhada, não me sinto escutada, nem protegida.
Porquê?

3 comentários:

Fátima disse...

eu quis acreditar durante imenso tempo. era bom saber se há uma segurança depois de morrer, se ficamos de algum modo a salvo dos bichinhos da terra, nós «alma», coisa que também não existe... dou por mim a pensar nas pessoas que já morreram e a imaginar que ficariam orgulhosas por mim por isto ou aquilo e a pensar que me podem estar a ver, o que contradiz o que acredito. acho que não existe nada, mas realmente custa.

Anónimo disse...

Os meus amigos mórmon, que são tipo os "ultras de deus" disseram-me que acreditavam porque tinham falado com ele... que tinham perguntado se ele estava lá e ele tinha respondido. Disseram que se eu fizesse isso, se falasse com Deus, ia entender. Comigo não funcionou mas tu podes tentar!

Enolough disse...

Eu acredito no Grande Arquitecto mas não tenho seguro de morte na mesma. Acho que temos de viver aqui, odeio frases como "a vida é uma passagem" e desleixe por estar à espera de outro mundo.
É aqui que se vive. :)

Quanto às crianças que morrem e outras calamidades... Tu não acreditas numa divindade que intervém, que salva, etc. Eu também não. Rezar para ganhar o campeonato, para curar a perna, etc não deve ter grande efeito sobre causas naturais. A ciência explica.
Mas e quem disse que um deus tem de servir para alguma coisa? Para que serves tu? (tirando fazeres-me feliz e eu gostar muito de ti, mas isso são contas de outro rosário :P)

Deixa lá existir um deus ordenador que não intervém. Cá para mim Deus é tudo. Tu és uma célula por isso cabe-te a ti fazer bem ou mal, és parte do Deus. Se salvares a criancinha é Deus/Humanidade/Universo que a salva. Se não o fizeres és uma parte que negligencia ou pratica o mal.
Soa bem?

The Force is with you, Skywalker!