terça-feira, 18 de setembro de 2007

Chinatown

Vamos lá começar com a conversa séria.

Maria José Nogueira Pinto, que não sei como parece que tem a seu cargo a zona da Baixa-Chiado (ainda agora foi eleito e o António Costa já anda nestas aventuras?), achou que boa ideia mesmo era fazer uma chinatown onde ficassem todas as lojas chinesas, esses espaços comerciais que toda a gente detesta mas onde ninguém se escusa de comprar umas pechinchas.
Ora, já sabemos que os chineses são muito sociais e é notório o quão integrados estão na sociedade portuguesa. Ou então, definitivamente, NÃO.

Há tempos tive a oportunidade de entrar em contacto com vários estudantes estrageiros a viver em portugal. Fiz uma reportagem sobre isso, e fiquei surpreendida com a quantidade de alunos provinientes de outros países que estão nas escolas portuguesas. E também com a diversidade enorme de nacionalidades, seguramente mais de 20 na maioria das escolas. Falei com eles, filmei-os, assisti às aulas, falei com os professores. Cada um com o seu sotaque e aspecto de "forasteiro". Búlgaros, ucranianos, turcos, brasileiros, romenos, moldavos, uma lista interminável. Uns mais tímidos, outros mais espevitados, todos responderam às perguntas, deram opiniões, lançando os já esperados olhares curiosos para a camara.
Mas de quem eu nunca me vou esquecer é do Yilin. Um rapaz de 17 anos, chinês, que chegou a portugal com a família sem saber uma palavra de português. Com o apoio da escola foi aprendendo umas palavras, que adquiriram uma importância incrível, já que permitiram que se tornasse responsável por tudo o que implicasse comunicação na sua familia. Com o seu português de criança de 3 anos, o Yilin pagava contas, faltava às aulas sempre que alguém precisava de ir ao médico, fazia compras, ajudava o irmão na escola... era a voz de 4 pessoas.
Para falar comigo fez um esforço notoriamente grande. Pediu-me uns minutos antes de gravar e ficou calado, olhos fixos na mesa, numa clara tentativa de organizar o discurso. Pôs um sorriso e falou do primeiro dia de aulas, em que não percebeu nada do que se passava, mas agora já ia percebendo "mais ou menos".
Mais tarde a professora mostrou-me uma composição que o Yilin escreveu sobre o início das aulas em portugal. Era um texto atabalhoado, que podia ter sido escrito por uma criança da escola primária, e onde contava como se sentou na última mesa da sala e ninguém se quis sentar com ele. A aula era com a directora de turma, mas ela "falava falava" e ele não percebia nada do que ela dizia. Ninguém lhe tentou explicar. Nesse dia e nos seguintes o Yilin andou sempre sozinho. Acha que os colegas têm medo de falar com ele porque não o percebem. Mas ele gostava de fazer amigos, conta. O Yilin teve que aprender tudo do início, desde o alfabeto, mas não lhe é concedido nenhum estatuto especial, ele tem de cumprir o mesmo que os outros alunos do 11º ano.

E agora eu digo, vamos isolar estas famílias em guetos?

Vale a pena ler a crónica de Rui Tavares, ontém, no Público:
"...Há gente que minimiza a questão dizendo que «os chineses não se importam». Não sei em que dados se baseiam. Mas a pergunta aí passa a ser: o facto de uma comunidade aceitar "guetizar-se" torna a "guetização" desejável? Imaginemos quais seriam as reacções se a comunidade em causa fosse, por exemplo, de muçulmanos. Que tal fazer uma IslamTown em Lisboa? Que diriam as mesmas pessoas que acusam os muçulmanos de não quererem "integrar-se"? "

E pronto, já está. Manifestem-se.

3 comentários:

Enolough disse...

Abram as fronteiras...
Essas ideias dos chineses para um lado e portugueses para o outro fazem lembrar a idiotice do falecido Sebastião de Carvalho e Mello ao expulsar os judeus. Dizia-se que era por causa deles serem ricos que os portugueses não comiam. Agora é por os chineses venderem que os portugueses não vendem. Expulsaram os judeus e o país ficou mais pobre...

Tem mais! Ainda não se resolveram as asneiras de outros guetos de portugueses em Lisboa e já querem arranjar mais problemas? Bairros onde não entra a polícia nem a lei? Tenham paciência, a comunidade chinesa não arranjou problema nenhum a não ser "roubar" clientes.
Adaptem-se e larguem a ideia do Estado-Paizinho que vem defender os filhos dos chineses.

Rebentem os muros!!

Fátima disse...

é uma estupidez, para além do facto de que quando precisamos de umas pilhas ou qualquer coisa simples, podemos ir à loja do chinês na esquina mais próxima, não é preciso metermo-nos num guetto (a ideia é assustadora, uma rua de chineses dum lado e doutro, amontoados e sempre com aquele ar triste e nostálgico sei lá)... enfim.

não à segregação! avante camaradas... :P

Anónimo disse...

Espero que se possa apagar os comentários.
Fátima: 17:30 no cais é? não consegues mais cedo, n? Combinamos exactamente onde? nas escadas lá de baixo do metro?

p.s. sou eu que te tenho tado a ligar