terça-feira, 30 de outubro de 2007

Sarkozy e Santana: uma nova moda?

Sarkozy abandonou uma entrevista ao famoso programa 60 Minutos, quando a jornalista Leslie Stahl (aquela loira, de cabelo curto) lhe perguntou pelo esposa Cecilia, de quem se vai divorciar. Parece que o assunto estava envolto em imenso secretismo e a deixar toda a gente curiosa. O homem levantou-se, indignadíssimo, chamou imbecil ao assessor que marcou a entrevista que classificou como "estúpida" e saíu porta fora, num acto dramático que deixou a jornalista embasbacada. Eu vi a cena, ela nem conseguiu dizer nada.
Eu cá acho que ele tinha razão. «Se tivesse alguma coisa a dizer sobre Cecília, com certeza que não o faria aqui», disse. De facto, a vida privada do presidente não interessa e ele não tem, nem deve, responder a essas perguntas. Tem razão, sim senhor. O Santana Lopes também tinha razão em se indignar ao ver a sua entrevista interrompida pela chegada do Mourinho. Mas o que parece uni-los neste caso, é a reacção espalhafatosa com que se manifestaram. A Santana só faltou chorar; Sarkozy quase mandou um sopapo em alguém. Mas será que eles não sabem como as coisas se passam? Parece que entraram na política o mês passado.
Não percebo... a mulher do presidente desempenhava funções diplomáticas e faltou a um encontro oficial importante. Andava ali qualquer coisa estranha no ar, rumores de divórcio (que depois se vieram a confirmar). Não me digam que ele não estava à espera lhe fossem perguntar pelo assunto? Acho que não era preciso aquela fita toda, bastava dizer que não respondia.
São estilos. Ao menos ninguém se esquece.

domingo, 28 de outubro de 2007

Diz que é uma espécie de Magazine

Se alguma vez se perguntaram o que é que eles estariam para ali a cantar, aqui vai:

Une, deux, trois, quatre

Diz que é uma espécie de magazine
Diz que é uma espécie de magazine
Nós vamos fazer humorismo
Recorrer sobretudo à pilhéria
Mas vamos também discutir
Mas vamos ter gente séria

Digamos...

Que vai haver variedades
E vamos dizer as verdades
À maneira de antigamente
Tipo Gil Vicente e tal

Diz que é uma espécie de magazine
Diz que é uma espécie de magazine
Escarneçer e afinfalhar
Mal dizer e achincalhar
Será um pouco isto que iremos efectuar

E volta e meia também vão aparecer gajas nuas

;)

Para o meu avô (que não tem computador)

O meu avô sempre foi uma estrelinha. Desde pequenina que o achava mais brilhante e diferente das outras pessoas. Tinha por ele um fascínio daqueles que se tem pelos livros de fadas e magos. O meu avô nunca foi velhinho como os outros avôs, não tinha muitas maleitas, adorava ler e contava histórias como ninguém. Acho que se diz de todos os avôs, que são contadores de histórias, mas o meu é mesmo. Conta-as em catapuda, pegadas umas nas outras, com um entusiasmo contagiante. Repete as histórias vezes sem conta até já as sabermos de cor, mas eu nunca me canso delas - e não é só para ser simpática.
Teve uma vida tão cheia de aventuras que dava um livro. Mas não quer escrever, apenas contar. São histórias de mistério e suspanse, passadas na ditadura. Quando se passavam bilhetes às escondidas e se aprendiam línguas proíbidas em caves de restaurantes. Quando "ser livre" era ler livros interditos, era criticar, reunir e discutir. E depois há as histórias infinitas do teatro, das digressões pelo país (e pelo mundo), as peripécias nos palcos, nos ensaios, com os amigos, com os patrões, com o público.
O meu avô sabe todas as lengalengas e os poemas mais famosos.

"Batem leve, levemente, como quem chama por mim... Será chuva? Será gente? Gente não é certamente, e chuva não bate assim..."

Teve sempre um espírito divertido e bem disposto. Como se diz na família "está sempre a fazer teatro". Quando eu era pequena ensinava-me que o melhor truque para enganar alguém é parecermos descontraídos. Era assim que levava no bolso paezinhos do pequeno almoço dos hóteis das férias para comermos ao lanche. Mas só ele é que sabia fazer aquele ar de que nada se passa, que para mim foi sempre um mistério.
Agora o meu avô está mais avô e mais velhinho. Tem dificuldade em ver e andar. Está triste e queixa-se. Não das dores mas daquilo que elas roubam: a independência, a actividade, a vida de saudáveis correrrias. Agora tudo se resume a um dia-a-dia de rotina morna. E todos lhe dizem "Ó senhor Gilberto, com essa idade isso é normal, até está muito bom!". Mas ele não se conforma. Irrita-se e bate o pé. Ninguém o preveniu que as pernas lhe iam faltar. Ele queria ter vida de artista, não vida de moldura. E eu olho para ele e sinto vontade de lhe dar alguma coisa. Alguma coisa que o ajude a resgatar o passáro que bate furiosamente as asas dentro da gaiola. O corpo que não deixa o espírito saltar de alegria. Uma prisão de pernas e braços que anestesia a alma até ficar dormente. Até não se levantar mais.
Tenho a certeza que o meu avô nunca se vai render. Vai sofrer até ao fim nesta luta com a velhice. Não vai deixar que façam com ele conversa de mantinha no colo, nem dos programas de televisão que "fazem companhia". Nem vai jogar às cartas com os senhores lá da rua.
Barricou-se numa réstia de juventude e não abre mão. Eu sei que vai ser sempre assim. De espada em punho afugenta as canjas de galinha e meias quentinhas. Quer ir ao cinema e ao teatro, quer jantar com os amigos e dançar no ano novo. Sabe que não pode, mas não se rende. E eu olho para ele com medo daquela angústia, mas sei, lá no fundo, que é um herói.

sábado, 27 de outubro de 2007


Matem a Júlia Pinheiro!

Não há nada que eu mais deteste neste momento na televisão do que Júlia Pinheiro. Nem tenho palavras para descrever... ela é simplesmente detestável. Os programas que está a fazer são medíocres até à náusea. A sério, despeçam-na.
Mas adiante.
Confesso que ganhei um novo respeito pelo José Rodrigues dos Santos depois daquela polémica entrevista que deu à Pública. E às tantas dei por mim a pensar que ele é armado em mete nojo mas deve ser um bom profissional, já que não é toda a gente que faz denúncias daquelas, arriscando o próprio emprego. Até pensei "é de gente assim que precisamos!". Estava eu nesta fase de reconciliação com a "cara laroca da RTP" quando... CHOQUE... o vejo nas Tardes da Júlia a falar do seu livro novo. Estragou-se tudo. Eu nem consegui ver mais que 1 minuto. O ar emproado com que falava do seu novo best-seller (o homem também faz livros que nem pipocas!) era insuportável, mas pior que tudo era a conversinha idiota que mantinha com a Júlia P. Ela ia fazendo perguntas cliché, no meio de risinhos que combinavam com o cenário rosa choque - ele contava que escreveu sobre o convento de Tomar sem ter lá ido, e quando finalmente foi descobriu que se pagava para entrar e, por isso, teve que alterar o texto; "E tinha mesmo que alterar isso? (hihihihi) É o jornalista em si que não se cala (hihihi) Não o deixa em paz, não é? Ai ai ai! (hihihi)".
Mudei de canal e zanguei-me de novo com o senhor. Da última vez que tinha visto de passagem o dito programa, apanhei a Júlia P. a dizer que achava um escândalo que a Kate MaCcan tivesse pintado o cabelo: "Onde é que já se viu uma pessoa que perdeu a filha fazer uma coisa dessas? É porque não sofre assim tanto".
E agora digo eu: onde é que já se viu uma pessoa que até fazia uns programas com piada, como a Noite da Má Língua, prestar-se a semelhantes figuras?

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Dumbledore é gay?

Vi ontem num programa de humor referências a alegadas declarações de J.K. Rowling, que diziam que Dumbledore é gay. Hoje já recebi uma mensagem de uma amiga francesa que, tal como eu, é fã da saga e se deparou com esta novidade.
Mas... como assim? Como assim é gay?? É uma personagem inventada! Ela agora pode dizer aquilo que quiser, ora! Também pode inventar que o Harry tinha um cancro fatal ou que o Ron era bombeiro nos tempos livres.
Que raio... Ainda por cima é uma coisa que não tem nada a ver com nada. Quem leu os livros sabe que a personagem do Dumbledore é totalmente desprovida de características sexuais ou amorosas. É um velhinho sábio e poderoso, que dedica a vida a dirigir uma escola centenária. Teve dramas familiares e defrontou grandes feiticeiros, mas nunca teve namoradas e muito menos namorados.
A seguir vamos descobrir que a mãe do Ron tinha um caso torrido com o tio gordo do Harry.
Acho lindo poder-se inventar a posteriori pormenores da vida das personagens. Se a saga já acabou, toda a existência delas está nos livros! Não há fora! As personagens não vivem fora das páginas... Que ideia!
Aposto que ela ficou sem saber o que fazer, agora que terminou o sétimo livro, e pôs-se a pensar "Hummm... o que é que eu posso fazer para não deixar isto morrer?". E deu nisto.

domingo, 21 de outubro de 2007

Quem disse que há regras?

O quê, quem, onde , quando, como, porquê. Entrada, Lead, Objectivo, Claro, assim e assado.
São cheias de regras as reportagens, cheias de protocolos disfarçados. Nada de poesia, poucas metáforas, sem mariquices. Não estamos cá para comover ninguém.
Hoje li uma das reportagens que mais me agarrou. Curiosa a expressão, já que era sobre "agarrados". Sobre como se vive numa comunidade terapeutica. Publicada na Única, que não publica qualquer coisa. Quem diria que isto se podia fazer?

"A esta hora há gente a chutar. Garrote apertado, corpos magros como Cristo na cruz. Ele é um igual. Mas sabe-se sem saída - o tratamento ou a vida. Alberto é um tremor. Uma ferida junto à boca, a mãe de braço ao peito, o candeeiro arrancado do tecto, o lugar vazio do microondas, da varinha mágica. Coisas levadas à bruta, trocadas por um chuto. Perdeu 20 quilos, a cor dos olhos. «Fiz tanta merda, 43 anos de merda!» A esta hora, coça-se, engasga-se: «Cheguei ao fundo». Deu o último caldo de manhã, contorce-se por outro. Mas resiste. A ressaca é o primeiro passo: «Meu Deus, não aguento mais! Ajudem-me!».

(...)

«Chamo-me Rafaela, sou alcoólica e dependente química. Preciso de me responsabilizar pelo meu tratamento senão morro.» Tem 33 anos, rugas finas emolduram-lhe o olhar claro, nos últimos dois este três vezes na Creta. Recaíu, recai sempre. Desde que apanhou a primeira moca aos 13, com comprimidos roubados à mãe. Veio a primeira bebedeira, o primeiro charro, foi-se o futuro. Aos 15 já a menina da Linha comprava pó «numa onda fofinha». Aos 16 «fazia maletos», roubos por esticão, a acelerar na LC «bonitinha» que os pais lhe haviam oferecido.
Depois, foi a montanha-russa. Ora subir às salas da faculdade, ora descer aos becos do tráfico. Os anos a passarem e ela a vê-los passar. Mais uma viagem, mais uma corrida. A filha a nascer. Ficar bem.Outra recaída. Ficar mal. Sexo para ter pó, pó para ter sexo. A heroína, fumar até acabar, «heroin my love and my life», arranjar mais, sete dias inteiros no sofá, a heroína, consumir e vomitar e beber iogurte líquido, moca, ressacar sozinha, arranjar um gajo para safar, a heroína, e a filha, qual filha?, a heroína.

(...)

Guarda tantas mágoas esta casa, tantas culpas, que as paredes falam. Sem brancas, as cenas quotidianas. Como as do alcoólico que bebeu Old Spice. A do toxicodependente que tentou a morte no lavatório. A do que se masturbou até ficar em chaga. A da que saíu para uma «overdose». As visitas dos que partiram e nunca mais tocaram em drogas. «Isto
é um microondas de emoções». Palavra de coordenador terapêutico. «Às vezes explode». "

P.S. A comunidade terapêutica chama-se Creta e é na Parede. E eu nunca ouvi falar, o que é curioso.

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Cafés

Moramos em cafés.
Senão todos, quase todos. Encontramo-nos em torno de chávenas pequeninas, em locais geralmente barulhentos. Uns preferem-nos à beira-mar, outros com múscia ambiente, talvez com esplanada. Uns gostam de variar, outros preferem ir sempre ao mesmo. Há quem estude, leia o jornal, comece os seus livros em guardanapos. Mas a função nobre dos cafés é, sem dúvida, a conversa. Ao café vamos aos pares ou em grupo. Para rir em catadupa ou contar as novidades. Nos cafés reencontram-se amigos de longa data ("Nunca mais te vi. Vamos tomar um café?") ou encontram-se os habituais, quase sem ser já necessário marcar hora.
O café é aquele local em que se pode estar sem fazer nada. Apenas estar. Quando queremos aproveitar a companhia de um amigo, mas não temos uma actividade estabelecida para fazer. Sem cinema ou exposições, nem jantar ou almoço.
Podemos ir "áquele cafezinho simpático por trás dos prédios", ou "áquela esplanada no meio da praça" onde sabemos que vamos conhecer todas as caras e receber eventuais olás sorridentes. É só escolher.
Cafés lembram-me amigos. Com bebidas fumegantes e conversas sobrepostas. Ou acompanhados de gelados com conversas molengonas ao sol.
Cafés dão-me saudades das horas que passam a voar. Cafés ponto de encontro. Cafés mata saudades. Cafés "brainstorming". Cafés de "tenho uma coisa para te contar". Cafés "nem vais acreditar".
Cafés "morro de saudades vossas".

terça-feira, 16 de outubro de 2007

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Chamem os Gato Fedorento!







Não têm vontade de lhe pregar um par de estalos??


P.S. O cartaz da esquerda diz ao cimo: "Este sistema liberta pedófilos, violadores e assassinos mas pressegue os nacionalistas ", referindo-se à prisão do seu dirigente Vasco Leitão.

A guerra custa dinheiro

Há coisas que são, simplesmente, incompreensíveis.
Entre 1990 e 2005, as guerras custaram a África 212,4 mil milhões de euros, valor idêntico ao da ajuda internacional destinada ao continente. "O valor gasto com as guerras poderia resolver a crise da sida, prevenir a tuberculose e a malária, fornecer água potável, saneamento e educação" - porta-voz da Intermón Oxfam, Consuelo López-Zuriaga.
Faz pensar, não faz?

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Descobertas

"Graças a ela enfrentei pela primeira vez o meu ser natural enquanto decorriam os meus noventa anos. Descobri que a minha obsessão de que cada coisa estivesse no seu lugar, cada assunto no seu tempo, cada palavra no seu estilo, não era o prémio merecido de uma mente ordenada mas, pelo contrário, um sistema completo de simulação inventado por mim para ocultar a desordem da minha natureza. Descobri que não sou disciplinado por virtude, mas como reacção contra a minha negligência; que pareço generoso para encobrir a minha mesquinhez, que passo por prudente por ser pessimista, que sou conciliador para não sucumbir às minhas cóleras reprimidas, que só sou pontual para que não se saiba que pouco me importa o tempo alheio. Descobri, por fim, que o amor não é um estado de alma mas um signo do Zodíaco."

in Memória das minhas putas tristes
Gabriel Garcia Márquez

Já agora, a dita crónica

Fica aqui um bocadinho da tal crónica, pa animar as hostes.
(não sei bem se andar a copiar crónicas dos outros é legal, mas enfim lol)

"(...) Somos avaliados no momento em que nascemos e, a partir daí, os relatórios da nossa performance nunca mais páram. Primeiro são avaliações com alguma inocência - "Tem 13 meses e ainda não anda?" ou "Só aprendeu a escrever aos 7 anos?" - mas tudo acaba, inexoravelmente, com a avaliação no ginásio e a maquina que mede o "stress cardíaco" a dizer que há um "serious deviation detected" (ao que o treinador acrescenta, lacónico, que "o programa deve estar avariado").
No meio disto, entre o nascimento e a morte, somos avaliados pelos filhos (que oscilam entre a poesia e o insulto brutal), pelos maridos (salto esta parte), pelos amigos, os colegas e, no fim, pelos nossos chefes.
Na Função Pública portuguesa, garantiu-me um especialista, 97 por cento dos funcionários foram avaliados durante anos, e sistematicamente, com um "Bom" ou "Muito Bom". E, como toda a gente sabe, ao fim de dois ou três anos eram automaticamente promovidos. Esta semana estamos todos a ser avaliados no jornal e todos queremos ser, por um dia, funcionários públicos do tempo pré-Sócrates."
Bárbara Reis, in Ípsilon

Avaliações

Hoje li uma crónica que me fez cerrar os punhos. Respirei fundo e continuei a folhear as páginas do jornal, mas às tantas foi mais forte do que eu e voltei atrás. A crónica é gira e divertida, um tanto irónica, e fala das avaliações de que somos alvo ao longo da vida.
Não pude deixar de ficar a pensar nisso... As notas da escola que tirei mais para os pais do que para mim, a média do secundário, a média da faculdade. O nosso valor somado, dividido e multiplicado, publicado em tabelas sem espaço para poesia. Durante muito tempo somos números, não somos exactamente o que aprendemos. É isso que os pais exibem orgulhosos, valemos números e nomes de cursos pomposos.
Agora que saí para o mundo real, a avaliação é diferente, é mais precisa e contundente, mas ao mesmo tempo mais ambígua. Já não serve ser bom, é preciso ser o melhor. Porque só o melhor consegue os lugares bons, os que valem a pena. Só que agora há várias escalas, há vários conceitos de bom, há várias lupas para o mesmo papel. Mesmo assim, acreditamos cá dentro que fomos feitos para vencer. Acreditamos porque não vemos o que fazemos como um simples ganha-pão. Acreditamos que devemos procurar a excelência.
Mas acreditar só não chega. É preciso senti-lo em todos os pontinhos do corpo. Porque haverá sempre quem nos diga que sonhamos muito alto, que não devemos arriscar, que a vida tem que se resumir a voos baixos mas seguros. Haverá sempre quem não veja mal naquilo que nos choca, haverá sempre quem ache que "assim já estás muito bem". E essas pessoas podem até ser aquelas de quem mais precisamos de ouvir palavras de incentivo, podem até ser aquelas que esperávamos que nos exigissem exigência (a redudância era necessária).
É por isso que a vontade tem que ser mais forte., é por isso que não nos podemos perder no mais ou menos. Porque agora já é a nossa vida, não são boletins da escola para fazer os pais orgulhosos. No fim, a nota que recebemos pelo que fizémos, será a nota correspondente ao nosso lugar no mundo, ao nosso papel. Será nota da nossa felicidade.

domingo, 7 de outubro de 2007

Jornalismos

Às vezes ponho-me a pensar e enrolo as ideias umas nas outras até ao infinito. Todos temos um tema preferido, um assunto sobre o qual gostamos de ler e que nos faz pensar. As ideias saltam e encaixam umas nas outras como uma corrente de pensamentos que que querem mudar o mundo. Eu quero mudar o mundo. Quem não quer? A diferença é que cada um quer fazê-lo com as suas ferramentas. Através da política, da justiça, da economia, da educação, da ciência, do apoio ao ambiente, da criatividade, da arte. Eu quero mudar o mundo a contar histórias. E por isso penso na forma como se contam as histórias, em quem as conta e em quem as ouve. Cada vez penso mais. Às vezes pensar nisso transforma-se num mar de angústias, num grito abafado que diz "Oiçam-me! Temos que mudar isto tudo!".
Agora que vejo de fora, aprendi muita coisa durante o tempo que estive na Renascença. E reforcei e fundamentei algumas opiniões. O evoluir do jornalismo é inevitável; as novas tecnologias chegaram para ficar, e já é fácil encontrar notícias sem esforço com apenas alguns cliques a custo zero. É preciso REPORTAGENS. O mais nobre dos géneros jornalisticos. O mais apaixonante. O trabalho que não é de consumo rápido e implica investimento.
O último número da revista do Clube dos Jornalistas trata dos três Prémios Gazeta 2006. Um deles ganho pelo meu professor Jacinto Godinho, que escreve na revista um texto de uma sabedoria surpreendente (quem o ouve nas aulas acha-lo-á mais sem sal do que é na realidade). Outro dos prémios é entregue a um jovem jornalista chamado João Pacheco, que apesar de ter feito duas reportagens de investigação que lhe valeram o prémio de imprensa regional, encontra-se numa situação que caracteriza como "precária" (ou seja, recibos verdes). Deixo aqui dois excertos, um do texto escrito pelo Jacinto Godinho, a propósito do prémio, e outro da entrevista que a revista fez ao João Pacheco:
"(...) Os canais especializados em informação emitindo notícias um dia inteiro acabam por ser mais repetitivos e redundantes, amontoados de informação, que verdadeiramente diferenciadores ou inovadores na qualidade do jornalismo produzido. Isto para além de transformarem os válidos valores de rapidez, de informação em cima da hora, em precipitação, em angústia e ansiedades doentias, sacrificando aos poucos a ponderação, o rigor, discernimento do que é notícia válida.
Os ecrãs nacionais estão a transformar-se num vertiginoso e casuístico arremesso de notícias, em catadupa, na direcção do espectador. As informações válidas perdem-se no meio de exercícios mistos de reportagem, especulação e comentário. O Caso Maddie, em que desde maio as notícias factuais se podiam contar pelos dedos das mãos, transformou os jornalistas nos directos televisivos em repórteres transgénicos cruzando na mesma frase, dados de reportagem, com laivos de comentário especulativo e investidas na pele de especialistas forenses.
Não quero com isto desprezar a informação diária, pelo contrário, ela é o fundamento de todo o jornalismo. A forma como se faz é vital para a profissão. As suas virtudes dão saúde, os seus vícios tornam-se cancros. Um bom jornalista não é aquele que exige tempo para realizar as peças mas aquele que pensa depressa e bem. Depressa e bem só se alcançam com experiência e vivenciando profundamente, em toda a amplitude dos géneros, o fazer jornalístico. A informação diária não impõe só uma ditadura de meios mas também uma ditadura de valores e mentalidades. (...)"
Jacinto Godinho
"JJ - Uma das críticas que diriges à qualidade do jornalismo que se pratica hoje é a banalização da "reportagem rápida" e a permeabilidade aos interesses de corporações...
JP - Não sei se há uma perda de qualidade. O que sei é que agora, como jornalistas, temos desafios novos, que não estão a ter as melhores respostas. Não é pelo "sexy" que nós, jornalistas da imprensa paga, vamos conseguir competir com a televisão ou com os jornais gratuitos ou a Internet. Nem a informação amadora da Internet nem ou jornais gratuitos, pelo menos até agora, nem sequer a televisão, com o seu tempo de consumo muito rápido, conseguem substituir a reportagem. Uma das respostas para os novos desafios seria fazer mais reportagens, e mais reportagens com qualidade e com temas fora da agenda."
João Pacheco

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Adeus RR

Acabei de escrever o meu "mail da despedida", como é praxe aqui na rádio quando alguém se vai embora.
Confesso que sinto uma pequena angústia, uma pequena nostalgia, uma pequena tristeza. Pela relação de amor/ódio que desenvolvi com esta equipa, esta sala, estes telefones e computadores. Foram dias mistos de momentos de alegria e entusiasmo, com irritação e frutração. Agora que acabou sei que terminou uma fase importante: o meu primeiro "emprego". Sem ordenado ou funções definidas, sem estatuto de igualdade para com os outros colegas e sem reconhecimento. Mas foi o mais perto que tive de execer esta profissão de paixões e ódios que é o jornalismo. Por três meses estive numa redacção que ferve de agitação todos os dias. E eu aqui no meio, perdida no agitar das ondas.
O futuro aparenta-se nublado e incerto. Um gigante ponto de interrogação.
Fartei-me de dizer que não gostava disto, que queria ir embora, mas neste momento em que arrumo as coisas na mala e saio pela última vez pela porta do número 14 da rua Ivens, tenho medo de estar a fechar uma porta que não era assim tão feia. Vá lá, admito, estou com saudades.

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

E os ursos polares?


«A ilha de Melville, no Árctico canadiano, é a maior ilha não habitada do mundo e é também um dos sítios mais frios das Américas. A temperatura não costuma ir acima dos cinco graus. Mas, neste Verão, quando o cientista canadiano Scott Lamoureux lá acampou, em Julho, até dava para apanhar banhos de sol de biquini, na maior das descontracções: "Houve dias em que as temperaturas foram até 22 graus", contou.

"Muitas vezes, registámos temperaturas entre 10 e 15 graus", contou Lamoureux, da Universidade da Rainha (Ontário), citado pelo jornal britânico The Independent. O calor era tão intenso que, no solo gelado (permafrost), o gelo se derreteu até um metro de profundidade.Os cientistas que estudam os gelos estão verdadeiramente alarmados com a intensidade do degelo no Árctico este Verão: só se esperava que ficasse assim em 2030, conta o jornal Edmonton Sun. "O gelo está a derreter tão rapidamente que não se acumula nem endurece. Daqui a dez anos, podemos bem olhar para 2007 e perceber que este foi o ano em que passámos o ponto de não-retorno", disse a esse jornal canadiano John Falkingham, do Serviço de Gelos do Canadá.

O ponto de não-retorno é a expressão usada pelos climatólogos para se referirem ao momento em que a formação de gelo durante o Inverno do Árctico deixar de ser suficiente para compensar o que se derrete durante o Verão. E este ano o gelo derreteu mesmo em sítios onde nunca se derrete. (...) »

in Público

P.S. Vamos todos morrer mas antes morrem os ursos polares!