segunda-feira, 5 de maio de 2008

Morre lentamente

Para ler devagar e reflectidamente.

É talvez cliché (mas dos bons. quem foi mesmo que disse que há clichés bons e maus?), mas é um dos meus poemas-prosa favoritos. E sempre que o leio dá aquele aperto no coração por me reconhecer nalguma linha.


Morre lentamente quem não viaja, quem não lê,
quem não ouve música,
quem não encontra graça em si mesmo.

Morre lentamente quem destrói o seu amor-próprio,
quem não se deixa ajudar.

Morre lentamente quem se transforma em escravo do hábito,
repetindo todos os dias os mesmos trajectos,
quem não muda de marca, não se arrisca a vestir uma nova cor
ou não conversa com quem não conhece.

Morre lentamente quem faz da televisão o seu guru.

Morre lentamente quem evita uma paixão,
quem prefere o negro sobre o branco
e os pontos sobre os "is" em detrimento de um redemoinho de emoções
justamente as que resgatam o brilho dos olhos,
sorrisos dos bocejos, corações aos tropeços e sentimentos.

Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz,
quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho,
quem não se permite pelo menos uma vez na vida fugir dos conselhos sensatos.

Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da sua má sorte ou da chuva incessante.

Morre lentamente quem abandona um projecto antes de iniciá-lo,
não pergunta sobre um assunto que desconhece
ou não responde quando lhe indagam sobre algo que sabe.

Morre lentamente...

Pablo Neruda

3 comentários:

Fátima disse...

Gosto tanto deste poema de Pablo Neruda. À primeira vista parece cliché mas é tudo verdade, é uma lição. Tenho a versão em espanhol no pc, e adoro a parte "Muere lentamente quien evita una pasión, quien prefiere el negro sobre blanco y los puntos sobre las "ies" a un remolino de emociones"... =) é mesmo verdade

Helga disse...

eu, às vezes, morro lentamente... :/

Ale disse...

Por isso é q eu tou cheia de vida!