Ontem recebi uma visita da Holanda. Da Itália na verdade, mas para mim temos todos pátria holandesa.
O inglês, meu Deus, tão enferrujado. O nosso e o dele. Pisquei os olhos 20 vezes para ter a certeza, bati-lhe no braço (com força), só me apetecia saltar. "Não acredito que estás aqui!". Meia hora depois, à mesa de um restaurante lisboeta ("prova as espetadas que são boas!") a sangria sabia a doce, e o ar sabia a uma euforia que eu já tinha perdida na memória. Não há nada como um inglês adocicado assim. "Como é que se diz carneiro?", "Lamb", "Lamb, what's lamb", "the male sheep!", "hun?". Risos enrolados, compulsivos, tão tão saudosos. Emotivamente saudosos.
"Do you remember when...". Só memórias. Tantas, tantas, tantas. Algumas com updates que queríamos contar todos ao mesmo tempo.
O Erasmos em Lisboa, outra vez. Mas agora foi diferente porque as outras visitas decorreram "em tempo útil", dentro daquele período em que se prometem viagens ao mundo todo. "Eu vou visitar-te, prometo". Alguns vêm, outros não. Mas depois pára, depois já não vem mais ninguém. Estamos já conformados, já não há mails a cada novidade, ficamo-nos pelos "Happy birthday" ocasionais. E mesmo assim, ele apareceu. Namorada portuguesa, fiquei orgulhosa. "Deixámos boa impressão" hehe. Ele que era o mais giro do erasmus (pelo menos o top5), que tinha uma carta "de amor" pregada ao lado da cama, que nos deixava ler porque sabia que nós não percebíamos o que dizia. Será que vamos ter outro casamento internacional?
Há pouco tempo disseram-me que fazer Erasmus era um desperdício. Hoje já não me apetece bater nessa pessoa, tenho apenas pena dele. Porque a minha vida é tão mais colorida depois do inglês multi-sotaques. Depois das confissões no escuro, depois daqueles laços que sabemos eternos.
As amizades de erasmus são muito estranhas. Eu não acreditaria nelas se não as tivesse vivido. Aquilo que une as pessoas é muito mais primário, muito mais essencial do que na "vida real". É uma coisa instintiva, harmoniosa. Aquele tipo de amizade que nos permite saltar para o colo de alguém, cantar em plenos pulmões sem ter vergonha, dançar em cima do balcão (só uma vez vá...). Não são ideias nem convicções, não são gostos. Essas coisas subentendem-se nos cozinhados conjuntos, nos chocolates-consolação oferecidos quando a tristeza bate, na partilha da euforia, nas aulas de "andar de bicicleta", nas festas de anos surpresa, nos "vem, vem, não é o mesmo sem ti". Naquele sentimento de grupo, de força.
"E lembram-se, lembram-se do que cantavamos [portugueses, espanhóis, holandeses, franceses, italianos, polacos, americanos, brasileiros, etc] nas discotecas?" Como esquecer. Abraçados em roda, que nem jogadores de futebol: "Siamo i campioni del mondoooooooo".
5 comentários:
ohhhh que lindo! Uau! eu não descreveria melhor! =) Quando penso no erasmus e como tudo agora parece mais distante, gosto também de pensar que isso ninguém nos tira. S calhar não temos mais confissões, e as bebedeiras não fazem mais sentido. Mas as memorias? Essas ficam para sempre! E os updates? Ah.. esses não acabam nunca!
P.S - A laetitia chega dia 11 de Junho. Wish me luck!
que saudades!!!!!!!!!! o leo é "impacável", éramos todos assim :) bery nice :) de cada vez que a holanda se apresenta na minha frente, há qualquer coisa boa a acontecer na minha vida. não, parece que me dá sorte! e memórias que nunca mais acabam... as lists de (un)touchables, as noites de quinta na paard van troje, as de terça no pub, o prof rawal...? ontem fez-me recordar where we go now?, open the door better, i went understand, I am me... todo este italinglês. vais ver que ele ainda volta :)
ohhh, isto soa mesmo a "residência espanhola" =). grande filme! eu também quero disto! bueno, hei-de fazer a uma pós-graduação em londres, barcelona ou paris. logo se vê...
Nós, em terras de Pálio, diziamos que eramos a "Contrada erasmus" e depois cantávamos:
"osteria del gruppo erasmus, pa ra bon gi bon gi bon gi bon/tutti pazzi per l'orgasmus pa ra bon gi bon gi bon/ e per la città di siena sempre con la botigla piena da me la biondina da me la bionda"
Erasmus é como uma vida à parte dentro da nossa vida. Escapa à diagese temporal, não segue a métrica emocional. Não tem lógica porque é sonho. Não tem fim, porque é para sempre. ;P
VIM , PARAR AQUI POR CAUSA DO MOTOR DE BUSCADO GOOGLE , MAS FRANCAMENTE NÃO ME ARREPENDO. . .
texto está deveres interessante. . .
parabéns! ;)
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