A impunidade crónica do submundo causou-nos enormes prejuízos, mas segundo pude detectar nos círculos intelectuais do primeiro mundo, a moléstia que desperta de decomposição social do México tem um enorme atractivo para muitos daqueles que procuram emoções fortes e qu estão fartos de viver em lugares onde nunca acontece nada. Há uns meses, quando tentava explicar a uma realizadora de cinema catalã as causas políticas e sociais do nosso desastre em termos de delinquência, respondeu-me me tom consolador:
- Eu prefiro a anarquia do México ao conformismo deste país de novos-ricos, onde as pessoas só pensam em pagar a hipoteca do andar. É verdade que lá vocês têm medo, mas está uma mudança em gestação, ao passo que aqui toda a gente vive acomodada.
Acreditei que o seu comentário benévolo era uma deferência diplomática para mitigar a minha aflição. Mas semanas depois, na casa da América de Madrid, dois jornalistas de "El País" que tinham vivido dois anos no México fizeram igual comentário quando falávamos sobre a guerra ao narcotráfico. Detestavam a estagnação espanhola e para gozar a caótica vitalidade mexicana, pouco lhes importaria viver expostos às trocas de tiros.
Pelos vistos, em sociedades onde tudo está regulamentado até à asfixia, a ilegalidade das terras bárbaras exerce um poderoso fascínio sobre os espíritos aventureiros. (...)»
Enrique Serna, escritor, in revista Nexos (Cidade do México), via Courrier Internacional
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