«Ganha-se muito em ver o 25 de Abril como um bebé que entretanto cresceu. Quando nasceu, foi uma festa. Foram despachados para a Madeira os tios chatos que achavam a gravidez uma pouca-vergonha. É que o pai de Abril era magala e não estava casado com a mãe. Mas acabou por correr tudo bem.
Abril teve uma infância turbulenta. O mal - ou a sorte - dele foi ter uma família numerosa. O pai era incógnito mas não faltavam senhores que o queriam adoptar - ou só dar o nome. Isto deu nalguma algazarra porque a mãe, a Liberdade, sendo uma jóia de pessoa, era uma Maria-vai-com-as-outras; ia sempre atrás do último pretendente que lhe batia à porta. Chegou a haver pancadaria da grossa quando o Abrilinho tinha 1 ano e picos, no Verão de 1975, pouco antes de aprender a andar sozinho.
Abril tem 13 anos quando entra na puberdade. Faz-se adolescente em 1986, ano em que faz a primeira viagem à Europa, pela mão do bonacheirão do Tio Mário. E aqui interrompo a história para tomar consciência de quanto ela está contaminada pelo contador. Para muitos, por exemplo, o Abrilito adoeceu em 1975 e foi internado em 1986. O que interessa não é a diferença profunda entre todas as histórias. É a variedade e a coexistência delas.
Seja como for, 35 é uma idade chata. A crise de meia-idade aproxima-se a galope. Abril já não pode fazer a vida que fazia, comendo e bebendo e acamando tanto quanto lhe apetece. Mas ainda é uma bela idade. E jovem de mais para perder tempo com memórias e saudades.»
in Público
1 comentário:
ohhh!!! tá tão tão giro!!!
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