domingo, 26 de abril de 2009

O que me faz uma entrevista

Os rapazes querem ser detectives? Essa nunca tinha ouvido.
Queria ser detective por causa dos livros de banda desenhada. O Cavaleiro Andante vinha aos sábados, chegava na camioneta e eu andava com o meu irmão à pancada para ver quem lia primeiro. Queria ser padre.

Padre? Porquê?
Eu queria ser santo. Imaginava este mundo como sendo a barriga, o interior de um ser a quem chamamos Deus, que por sua vez era um habitante de outra terra, que vivia na barriga (que é o sítio onde está a alma) de outro ser que era o seu Deus, e assim até ao infinito. E para mim era a mesma coisa: na minha barriga viviam muitos pequenos seres que me designavam a mim, não sabendo quem eu era, por Deus.

Depois de ler esta entrevista de cinco páginas, na Pública, a António Manuel Pina, sinto que detesto o mundo. Cinco páginas bebidas, um homem que se revelou como as pessoas com camadas se revelam. Os livros e poemas e a vida, brindadas com uma jornalista (Anabela Mota Ribeiro) que demonstra uma sensibilidade e conhecimento literário profundo (e eu que não evito pensar como estou longe de ser assim, como sou básica). Detesto o mundo porque queria sentar-me no sofá e ler poemas, eu que nunca leio poemas. Detesto porque às vezes - chamem-me snob se quiserem - sinto que não suporto mais uma conversa banal, mais uma pessoa mesquinha, mais um dia inteiro de sorrisos forçados. Hoje sinto-me assim. Não quero sair e ir trabalhar largar o pensamento. Voltar para as tarefas objectivas que me parecem sem sentido. Ouvir e responder e fingir que a vida é mesmo assim, é mesmo isto.
Hoje não me apetece mesmo, mesmo, mesmo nada.

1 comentário:

Fátima disse...

Também gostava que a vida fosse mais poesia, como nos filmes...