Porque é que “Studio 60 on the Sunset Strip” só teve uma temporada, não sei. Apesar de cinco nomeações para os prémios Emmy em 2007, a produção parece não ter conseguido atrair um número de audiências desejado. Pena.
Não é uma série de culto, nem de peso político ou dramático, mas basta dizer que é da criação de Aaron Sorkin, o homem por detrás de “West Wing”, para que não restem dúvidas sobre a sua qualidade.
“Studio 60” é um programa dentro de um programa. Uma equipa de televisão gere diariamente algo como um “Saturday Night Live”, um momento televisivo ao vivo, de comédia (política e não só) e variedades. Sim, já sei, esta é a descrição do popular (e brilhante) “30 Rock”, de Tina Fey. É. Mas apesar das semelhanças de argumento, “Studio 60” foge totalmente ao formato e ao tom de “30 Rock” – uma comédia que vive da auto-ridicularização das personagens.
Não, “Studio 60” não é bem assim. Não é comédia mas tem graça e algum drama. No primeiro episódio, dois amigos regressam à televisão: Matt Albie (Matthew Perry, famoso pelo seu papel como Chandler Bing em “Friends”) e Danny Tripp (Bradley Whitford, que Sorkin foi buscar a “West Wing”, onde interpretou o incontornável Josh Lyman). Matt é argumentista e Danny produtor do programa que tem o mesmo nome da série.
À semelhança do próprio “Saturday Night Live”, “Studio 60” lida com o controverso mundo televisivo num país pautado pelas aparências. A sátira, aquela provocação que só o humor inteligente consegue produzir, é constantemente motivo para confrontos entre a administração e os criativos, num (pouco) subtil apontar de dedo à hipocrisia da terra – onde a política é sensível, os valores pudicos e a crítica à nação vista como um acto de terrorismo.
Outras personagens compõem o elenco. Harriet, a problemática paixão de Matt, é talvez a mais relevante. Actriz num dos programas televisivos mais polémicos da televisão americana, talentosa, acutilante, hilariante a fazer imitações, tem uma característica desconcertante: é uma católica fervorosa.
A fé e o fiel cumprimento dos mandamentos da Bíblia fazem dela uma personagem fascinante. Principalmente se tivermos em conta que mantém um conflituoso romance com o instável, cínico, provocador, por vezes indecente, Matt. A sua total descrença numa força divina, no Bem, ou em seja o que for que imprima constância e conforto à vida alheia, colocam-no em quase permanente conflito com a namorada. O brilhantismo dos diálogos, que dão voz às discussões dos dois, já são motivo suficiente para ver a série.
Uma nota curiosa: dizem as más línguas que a relação de Matt e Harriet é baseada na relação de Sorkin com a actriz Kristin Chenoweth, que interpretou a republicana Annabeth em “West Wing”. Um círculo perfeito.
“Studio 60” não será uma obra-prima, mas estão lá todos os ingredientes para umas horas bem passadas. Amizade, amor, camaradagem, política, humor. E para quem gosta dessas coisas, um fascinante insight dos bastidores de um programa televisivo de humor, que acompanha as mesas redondas, os temas da semana, as crises de criatividade, os prazos, as contagens decrescentes e toda essa tensão até ao acender da luz “No Ar”. Motivos suficientes para que merecesse mais de 22 episódios.
Studio 60 on the Sunset Strip
Aaron Sorkin, 2006
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