sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Manoel de Oliveira, uns dias atrasado

Sempre que me juntei às críticas em tom trocista que sempre se fizeram a Manoel de Oliveira, fi-lo discretamente e com alguma vergonha. Porque sabia que não tinha como fundamentar a minha opinião, para além de dois ou três lugares comuns que andam na boca de toda a gente. Este post fez-me perceber que é urgente alugar uns filmes do maior cineasta português. Depois posso decidir se gosto ou não.

"Entre aqueles que elogiam apenas a longevidade de Manoel de Oliveira e aqueles que atacam a sua obra, há uma coisa em comum: não viram os filmes (10 minutos na RTP2 não conta). Nenhum cineasta tem sido vítima de tantos clichés e de tanta ignorância. Vale a pena ler o livrinho que acompanha a caixa Oliveira agora editada, onde João Lopes desmente com factos as parvoíces mais comuns (como a «duração excessiva»). Oliveira é um dos grandes cineastas vivos, e mais que os cem anos interessa sublinhar os setenta anos de carreira, a sua fidelidade voluntarista a um cinema livre e pessoal, à margem das ideias maioritárias e intolerantes. Digo isto à vontade, porque não sou um indefectível de Oliveira. Acho que tem vários filmes falhados (A Divina Comédia, A Carta) e alguns desastrosos (A Caixa, Um Filme Falado). Tenho também pouco interesse pelos seus filmes «históricos» (de Non até Cristóvão Colombo). Mas quem fez Douro, Faina Fluvial, Acto da Primavera, Francisca, Vale Abraão ou Vou para Casa não tem nada que provar aos filisteus. Adepto de uma noção teatral e literal da adaptação, é um dos grandes mestres do romanesco romântico, estilizado num registo distanciado e de uma ambiguidade católica perversa. Parece-me impossível gostar de Ozu, de Bresson ou de Dreyer e achar que Oliveira não vale nada. Não há nem nunca houve um só cinema (Godard fala da linhagem Lumière e da linhagem Méliés). Os filmes de Oliveira são difíceis, «elitistas» e pouco dados a expectativas comerciais e consensos críticos. Quem elogia o aspecto «anedótico» dos cem anos ou ataca os seus filmes, faz-lhe sem saber uma homenagem."

Pedro Mexia, in Estado Civil

1 comentário:

Francisco Maia disse...

o pedro mexia não sabe do que fala.

por muito que se saiba de cinema, só mesmo quem quer fazer cinema é que percebe que o próprio artista deve ser excentrico.

Quando se é autista como Manoel de Oliveira e se torna fruto de um "nepotismo" social por parte do ICA, não se devia fazer cinema.

"Cinema é para quem o vê e não para quem o filma"

Quanto a essa teoria já tão enfadonhamente teorizada (passo a redundancia), é a minha opinião que os Lumiére trabalhavam com o que podiam...ah...e foram os pioneiros.

Ainda queria dizer muita coisa mas fica para a proxima =D