sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Hard sun

There’s a big
a big hard sun
beating on the big people
in the big hard world


Eddie Vedder
Vou já já dormir. Já estava a abrir a cama quando voltei para trás.
Era só para dizer isto. Já perdi a conta das vezes em que me disseram que "isso do amor passa" e frases que tais. O meu namoro já foi condenado à extinção, ao aborrecimento e ao desgaste. O que eu acho curioso é que os motivos sempre se apoiaram no facto de estar tudo bem. De estarmos felizes, genuinamente. Quando eu digo isto (porque alguém me pergunta), dizem-me sempre "mas olha que...".
Não se percebe.

Revelações

Se estão a pensar "aaa... não desapareceu daqui um post?", sim, é verdade, não estão doidos. Teve que ser.
Isto porque hoje descobri que o meu blog era lido por mais pessoas no trabalho do que eu julgava. Foi uma coisa tipo "Li no teu blog que...". É para aprender a não comentar certos blogs passiveis de serem lidos por colegas. Adiante.

Bem-vinda Naves e toda a gente mais que eu não sei que lê e nem quero saber. (Está a parecer tão acolhedora esta recepção...).
Eu sei que fiquei roxa, verde e depois um bocado azul, tive uns tremeliques e paragens cerebrais. Vou recuperar. Passando à fase seguinte, já que é dia de confessionário, vamos a isso.
Cheguei a casa com "aquela" sensação. Se calhar é porque sou "tensa". Não sei. O que eu quero dizer é que lamento não corresponder ao modelo certo. Não lamento muito, mas lamento um bocadinho. Não se consegue agradar a toda a gente.
No entanto, foi fixe. Principalmente quando fomos salvos pelo Dali.

Aos restantes leitores: retomam-se os posts como de costume, mas lá terei que cortar na má língua.

(brincadeirinha!)

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Porque hoje ela precisa

Há os amigos espalhafatosos (abençoados sejam) e há os silenciosos. Não menos importantes, tenho que dizer. Há em especial uma amiga que hoje está triste e sem ânimo. E eu devo-lhe (tanto, tanto, tanto) palavras de incentivo. Porque ela já ficou muitas vezes a ouvir-me, eu e os meus dramas, psicoses nervosas e angústias existênciais. A horas que não se devem exigir a quem trabalha no dia seguinte. Ela ridiculariza os meus complexos muito bem. Diz-me sempre que sou a melhor, a mais talentosa pessoa do mundo. E eu, na altura, acredito um bocadinho nela.
Isto para dizer que ela me faz sentir bem. E hoje que ela está triste eu quero dizer-lhe que ela tem um coração do tamanho do mundo. Que ela sim, tem talento, mas tem vergonha dele. Acha sempre que "não é ninguém" e tenta passar despercebida. Não pergunta alto, não responde de volta. está sempre a tentar que toda a gente esteja feliz. Não quer arriscar porque isso é só para quem pode.
Tu podes. Eu já li. Eu sei.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Este clip é TÃO giro!

E a música também.

Contrasensos

Faz tanto sentido existir um candidato independente apoiado por um partido como existir um partido monárquico.

sábado, 24 de janeiro de 2009

Quem é que entra num infantário e esfaqueia bebés?

VCB

Óscar para Penelope Cruz!

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

"Com mulheres que calçam o 40 é melhor revelar prudência"

Isto tem imensa graça. E é original. Gostei, gostei. Atentar na letra.

(só consegui encontrar este vídeo com alterações de volume, o que é bastante irritante, eu sei)

Frost/Nixon e a ambição

Frost/Nixon é um dos vários filmes que quero ver. O filme é baseado numa peça, que por sua vez é baseada num entrevista do jornalista inglês David Frost ao ex-presidente americano Richard Nixon. Frost conseguiu a proeza de fazer Nixon admitir culpas no caso Watergate.
O Ípsilon fez uma entrevista ao autor da peça, Peter Morgan (que nunca achou que aquilo pudesse acabar nos ecrãs). Deixo aqui duas respostas (duas e meia...), sobre dois assuntos distintos:

Chamou-lhe "um Rocky para gente que pensa"...
Sempre vi a peça como dois homens em preparação, duas equipas que, tal como no boxe, se preparavam para um combate onde haveria grandes recompensas para o vencedor e o perdedor desapareceria no esquecimento.

Uma espécie de combate de boxe político?
Sim, absolutamente.

Muito do seu trabalho como argumentista tem sido sobre a ambição.
Acho que tem razão. Historicamente, a ambição sempre foi considerada um pecado e hoje tornou-se uma espécie de virtude. Discordo disso, acho que a ambição está sempre ligada aos danos emocionais, à complexidade do carácter das pessoas. As pessoas ambiciosas são sempre gente perturbada, confusa, emocionalmente complexa. E isso torna-as muito atraentes para mim enquanto dramaturgo.


Interessante. Calculo que a palavra "ambição" seja daquelas que incluem mais nuances e significados do que seria de esperar.
É a pessoa mais estranha que conheço. Incoerente, sim.
Quando o conheci - a sério - achei que eramos almas gémeas. Era como se me lesse os pensamentos. Adivinhava dúvidas no olhar mais disfarçado (eu tentava sempre disfarçar) - deve ser por isso que foram todas tendo resposta.
Hoje, depois das semelhanças, vieram as diferenças. Horas e horas de conversas desfiadas. Ele argumenta tão bem. Mas eu bato o pé melhor.
E depois há aquela coisa chamada "maneira de estar". Eu sempre em busca de gente, ele sempre reservado. Eu sempre a agrupar, ele sempre a atenuar multidões. Não gosta de muitas pessoas. Mas já não diz nada, porque eu sei. Basta.
Nas nossas diferenças, dos filmes a preto e branco às guitarras "serrote", uma coisa manteve-se: a capacidade de terminar a disputa com uma gargalhada honesta, sem truques nem cartas por lançar. Até quando me irrito e lhe digo "não me percebes".
Somos tão iguais.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Esperança

"As for our common defense, we reject as false the choice between our safety and our ideals. Our Founding Fathers, faced with perils we can scarcely imagine, drafted a charter to assure the rule of law and the rights of man, a charter expanded by the blood of generations.

Those ideals still light the world, and we will not give them up for expediences sake. And so to all other peoples and governments who are watching today, from the grandest capitals to the small village where my father was born: know that America is a friend of each nation and every man, woman, and child who seeks a future of peace and dignity, and that we are ready to lead once more.

(...)

We are a nation of Christians and Muslims, Jews and Hindus -- and non-believers. We are shaped by every language and culture, drawn from every end of this Earth; and because we have tasted the bitter swill of civil war and segregation, and emerged from that dark chapter stronger and more united, we cannot help but believe that the old hatreds shall someday pass; that the lines of tribe shall soon dissolve; that as the world grows smaller, our common humanity shall reveal itself; and that America must play its role in ushering in a new era of peace.

To the Muslim world, we seek a new way forward, based on mutual interest and mutual respect. To those leaders around the globe who seek to sow conflict, or blame their societys ills on the West -- know that your people will judge you on what you can build, not what you destroy.

To those who cling to power through corruption and deceit and the silencing of dissent, know that you are on the wrong side of history; but that we will extend a hand if you are willing to unclench your fist.

To the people of poor nations, we pledge to work alongside you to make your farms flourish and let clean waters flow; to nourish starved bodies and feed hungry minds. And to those nations like ours that enjoy relative plenty, we say we can no longer afford indifference to suffering outside our borders; nor can we consume the worlds resources without regard to effect. For the world has changed, and we must change with it."

Barack Obama, Inauguration Speech

Quando dizem que são só palavras, as pessoas esquecem-se da esmagadora importância da esperança que Obama trouxe aos EUA e ao Mundo. Não menosprezemos a esperança.

Discurso integral

Escrevem-se boas coisas

Aqui.

Boa Pessoa

O que é ser "uma boa pessoa"?
De certeza que quando desabafavam sobre o quanto detestavam alguém ouviram a resposta: "Oh, mas é boa pessoa". Já chega. Não, não é nada boa pessoa.
Basicamente toda a gente é boa pessoa, desde que não ande aí a matar velhinhos na rua. Não percebo que raio de critérios é que as pessoas usam para esse argumento. Uma pessoa que dá muitos beijinhos aos filhos e ajuda uma senhora que caíu a levantar-se, não é boa pessoa, é simplesmente uma pessoa. Isso é natural. Isso signica que é um ser humano. Não significa que é bom.
Não entendo o receio de associar as ideias de alguém ao seu carácter. Se afinal não somos aquilo que pensamos, então somos o quê?
Não estou a falar de política e muito menos de partidos. A política é idealmente uma forma de agrupar pessoas com ideias semelhantes. Mas todos sabemos que isso nem sempre funciona, há muitas pessoas que não conseguem posicionar-se porque acreditam nalgumas coisas dali, outras daqui. E há assuntos que geram divergência porque consistem em maneiras diferentes de se chegar a bom porto, são lutas por "quem tem razão" e não entre "bom e mau".
Uma boa pessoa, bolas, é uma pessoa que pensa em mais do que no seu umbigo. E não contam os umbigos dos filhos ou dos pais. É uma pessoa que entende que para todos estarem bem, uns terão que abdicar de algumas regalias. Chama-se viver em sociedade.
Uma pessoa vingativa e repressiva não é uma boa pessoa. Mesmo que dê muitas festinhas ao cão. Uma pessoa que defende determinada coisa e depois muda o seu discurso perante uma opinião divergente d eum chefe ou alguém a quem quer agradar não tem carácter e é uma má pessoa.
Por isso deixem de me responder "Pois é, pois é, tens razão, é uma besta, só diz alarvidades, monstruosidades, mas é boa pessoa".

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Morte em directo

Este pequeno artigo que vinha junto com a reportagem sobre a retirada de Israel de Gaza impressionou-me bastante:

"O médico palestiniano Ezzeldeen Abu al-Aish relatou, em directo na TV israelita, como a sua casa acabara de ser atacada e três das suas filhas mortas, pedindo auxílio ao jornalista que o ouvia.
Ezzeldeen Abu al-Aish era regularmente entrevistado pela TV israelita, contando o sofrimento dos palestinianos de Gaza como consequência da operação militar. Quando a sua casa foi atacada, telefonou para o jornalista do Canal 10 da TV israelita que o costumava entrevistar, relatando o que acabava de lhe acontecer e pedindo desesperadamente ajuda.
O próprio jornalista reconheceu em directo: "Ele conta que as suas filhas acabaram de morrer... desculpem... fiquei um pouco afectado", enquanto segurava no telemóvel em alta voz, onde antes se tinha ouvido a voz desesperada do médico.
"Ninguém consegue chegar até nós... meu Deus, meu Deus", repetia o médico, referindo-se às ambulâncias - duas outras filhas estavam feridas. "As minhas filhas, Shlomi", disse, dirigindo-se ao jornalista israelita Shlomi Eldar, com quem falava ao telefone.
"Não pode alguém vir ajudar-nos, por favor?" O jornalista pergunta ao médico onde é a casa, e sai do estúdio, telemóvel na mão e câmara a segui-lo, para tentar que uma ambulância chegue à casa do médico. E o improvável acontece: o pivot consegue mesmo uma autorização para que uma ambulância palestiniana chegue à casa das vítimas, que são levadas para o posto de Erez, entre Gaza e Israel, e depois para hospitais israelitas - de novo, seguidas pelas câmaras atentas do Canal 10.
Ezzeldeen Abu al-Aish fala hebraico fluentemente - tinha sido ginecologista num hospital no Sul de Israel durante quatro anos, quando os palestinianos de Gaza ainda eram autorizados a sair da Faixa para trabalhar em Israel. Assim, era regularmente ouvido pelo Canal 10, compensando a falta de jornalistas no terreno (excepto os que acompanham unidades militares).
"As minhas filhas estavam em casa a planear o futuro, a falar, e de repente estão a ser bombardeadas", disse. "Quero saber por que foram mortas. Quem deu a ordem?", dizia o médico. "

In Público

Sapingonauta

"Cada vez que escuchaba una canción de amor, un bolero, cualquier música, vaya, lloraba como una sapingonauta, como en una radionovela. Cada canción había marcado como una cicatriz su insípida vida."

Zoé Valdés, in Te di la vida entera

A língua espanhola tem cada palavra que não lembra ao diabo.
Cada vez que digo que vou fazer uma dieta o meu pai acha que estou com tendências anoréticas.

domingo, 18 de janeiro de 2009

O derradeiro acto de amor

Spoiler Spoiler Spoiler Spoiler Spoiler Spoiler Spoiler Spoiler Spoiler

Entrei na sala amuada porque o filme que queria ver, O Estranho Caso de Benjamin Button, esgotou à minha frente. Aquele filme era segunda opção, provavelmente nem o iria ver noutra situação.
No entanto...
Imaginem que têm um tipo de sangue raro e precisam urgentemente de um transplante de coração. As probabilidades são poucas mas o tal coração chega e recebem o órgão, mediante operação. Bom, não é?
Agora imaginem que saem da cirurgia e descobrem que o coração que bate no vosso peito, que vos está a manter vivos, pertence à pessoa que amam, que se matou para que recebêssemos o dito.
A pessoa está morta. Mas o coração continua a bater. Dentro de vocês.
Saí de “Sete Vidas” (o título em inglês faz muito mais sentido – “Seven Pounds”, o peso da alma) com um pum-pum-pum ensurdecedor nos ouvidos.

P.S. O filme não é sobre isto. Mas para mim o filme foi isto.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

O filme que venceu os Globos de Ouro

Não resisti a uma youtubada para espreitar o tão premiado filme. Achei curiosa a ideia de pegar no Quem Quer Ser Milionário.
Fica aqui o trailer:



E um excerto com piada:



Estreia a 5 de Fevereiro.

Forçar a vontade

Às vezes apetece-me ser um vegetal que vê filmes e séries sem parar, sobre a vida emocionante de outras pessoas. Apetece-me entrar numa espécie de coma sem ver ninguém, nem fazer nada a não ser desocupar o cérebro. Um vazio total.
Sem reclamações, sem receios, sem angústias, sem dúvidas, sem a sensação de não-vales-para-nada-fazes-tudo-mal-és-uma-inútil que insiste em infiltrar-se em todas as acções diárias. No second guessing. Nada.
Mas não se pode ser, há que forçar a vontade. Felizmente.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Quem me dera, quem me dera, quem me dera!

Ups, era mais ao lado...!

Segundo o jornal israelita Haaretz, um inquérito revelou que o ataque da semana passada a uma escola da ONU, em Gaza, aconteceu devido a "falta de pontaria dos soldados". Morreram 40 pessoas. "Desculpem lá, falhou-nos a mão".
Tá certo.

domingo, 11 de janeiro de 2009

Oh nãaaaaaooooo!

Eu gosto muito do Natal. Das luzes, das prendas, da comida, tudo e tudo. Mas há uma coisa que toda a gente sabe que eu detesto. Certo? Uma coisinha apenas.
Ora, inspirada pela El, fui fazer um teste no site da Rádio Comercial, "Se fosses uma decoração de Natal, qual serias?".

A resposta foi esta:


Matem-me já.

Inimigo Gourmet

Lá está o Mário - "a malta do design" - os corredores, os openspace e tudo o que ainda é fresco na memória. Saudades.
O vídeo só através do link http://static.publico.clix.pt/docs/video/ip_janeiro2009/

Top 10 Bushices



Fonte: David Letterman Show

sábado, 10 de janeiro de 2009

Inside Brothers & Sisters

A série que eu adoro.



Para quem também vê: que raio de sotaque é aquele do Kevin?

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

A minha jornalista preferida

Para quem não entende nada do conflito Israelo-Palestiniano, ou acha que o assunto "é lá deles do outro lado", ou que não lhe interessa perceber, o que é uma seca... Aconselho o texto, escrito pelas mãos de uma jornalista que quase sempre me surpreende e nunca deixa de me inspirar.
Eu sei que é longo, mas lê-se num sopro.

"Pensei escrever este texto várias vezes nos últimos, digamos, anos. Acabei por ir deixando passar, e neste segundo dia de 2009 haveria certamente razões, digamos, domésticas, para deixar passar, sobretudo quando a chuva subitamente pára e Lisboa é a mais bela cidade suspensa vista do meu sótão.
Mas talvez tenha sido da enésima vez que li ou ouvi perguntar nos últimos dias - e se caíssem rockets em Lisboa?
Ou talvez seja de andar a ler um escritor - Le Clézio - que se dedicou a aprender com grandes perdedores da História escrita pelo Ocidente, dos aztecas às tribos do deserto.
Não posso dizer que seja cristã, muçulmana nem judia. Fui educada como católica e julgo ter retido que Cristo foi um homem que deu a vida pelos sem-poder.
Aprendi nos livros, e depois em África, no Médio Oriente e na Índia, que o lugar onde nasci - Lisboa - é particularmente mestiço, e isso faz-me sentir menos confinada. Por um triz não nasci em Cabo Verde, e aparentemente não tenho sangue negro, mas gosto de acreditar que algum gene meu possa ser sefardita, berbere, árabe ou indiano.
Aprendi com os jornalistas que me fazem acreditar no jornalismo que ser repórter é ir ver e ouvir sobretudo o que ninguém está a ver e ouvir.
Aprendi vividamente em Israel - com amigos, na imprensa, nos livros de escritores como David Grossman ou Amos Oz - que a lucidez é uma obrigação dos fortes, particularmente daqueles que já foram fracos. Quando um judeu se decide a ser exigente, não há ninguém que o consiga ultrapassar em autocrítica, o que é um orgulho nacional em Israel, embora politicamente inócuo, na maior parte das vezes.
E é por tudo isto que fazer da defesa de Israel a origem e a moral de uma semana de bombardeamentos da Faixa de Gaza me parece do domínio da obscenidade. E uma obscenidade que fazemos nossa - nós, os cristãos, os compassivos, que bebemos o sangue de Cristo e tanta culpa carregamos, da Inquisição, do Holocausto, de sermos cúmplices por pensamentos, palavras, actos e omissões.
Eu carrego as minhas culpas individuais, que são muitas, entre as quais haverá muitos cristãos e agnósticos, alguns judeus, muçulmanos, hindus, ateus e até algum budista, mas não quero ser encurralada pela culpa alheia.
Chegou-se a um ponto - totalitário, intimidatório - do discurso contemporâneo em que qualquer pessoa pode ser insultada como anti-semita por criticar Israel. O pós-11 de Setembro, no qual foi eleito o actual Presidente iraniano, favoreceu toda uma tolerância para com esses insultos. Pois quem é quer ser confundido com aquele Ahmadinejad que ameaça limpar o Estado de Israel?
Não sou sionista nem anti-sionista. Não sei se um Estado judaico seria o melhor para os judeus, mas hoje Israel existe, pujante, fascinante, e eu aceito-o nas fronteiras internacionalmente reconhecidas. Vivi em Israel, tenho amigos judeus dentro e fora de Israel e não admito que alguém me chame anti-semita.
Outra estratégia de esvaziamento das críticas a Israel é acusar quem as faz de ser pró-palestiniano. É o que O'Neill chamaria o modo funcionário de ser. Só os funcionários acham que quem não concorda com eles é do partido rival.
Eu tenho um problema com partidos, como sempre tive com clubes, grupos e colectividades. É o problema da liberdade individual, ou se quiserem da indisciplina. Não me hão-de ver a marchar pela Palestina nem por Israel, encostada a um dos lados. O que eu queria neste novo ano era combinar com o meu amigo de Gaza que ele vinha cá como combino com a minha amiga de Jerusalém Ocidental que vou lá. Queria, em suma, que ambos dormissem sem pensar que o céu lhes vai cair em cima da cabeça - mas é infinitamente mais provável que isso aconteça ao meu amigo de Gaza.
Tal como os líderes israelitas, os líderes palestinianos estão fartos de cometer erros, para já não falar dos árabes desde 1948. Eu também lamento que a escalada da segunda Intifada - de pedras para bombistas suicidas - tenha destruído o chamado "campo da paz" em Israel. Lamento a corrupção da Fatah, que se autodestruiu. Lamento os rockets do Hamas, que se voltam contra os palestinianos. Lamento tudo isto, como lamenta quem está de fora, mas eu vi lá dentro como o Hamas se tornou forte. Vi o Hamas ganhar as eleições em 2006, vi o Hamas tomar Gaza em 2007, e vi ontem o meu amigo de Gaza, que nunca foi do Hamas, escrever no chat que finalmente percebeu como é que uma pessoa se torna bombista suicida.
O problema não é só não haver um futuro, é não haver um presente. A cada dia que passa, o meu amigo de Gaza continua sem trabalho e sem poder levar a família para outro país. As filhas crescem todos os dias e esta vai ser a infância delas. Têm 40 quilómetros de comprimento por seis de largura para se mexerem, com más casas, más escolas, maus hospitais, má comida, má água. E vem a depressão, a doença, a violência.
Toda a gente sabe que a violência gera violência. Toda a gente sabe que não há solução militar. Toda a gente sabe - está em todos os documentos internacionais assinados por Portugal - que Gaza, Cisjordânia e Jerusalém Oriental são territórios nas mãos de Israel. Toda a gente sabe que há milhões de refugiados palestinianos há mais tempo do que eu estou viva e ninguém os quer. E é por isso que justificar o bombardeamento de Gaza com a defesa de Israel é tão obsceno - simplesmente porque toda a gente sabe que os palestinianos são os perdedores desta História.
Sim, Israel tem o direito de se defender como qualquer país do mundo - quando for como qualquer país do mundo. Não, não imagino rockets em Lisboa - mas se fosse no tempo da guerra colonial talvez imaginasse.
Quem lá vive sabe. Se isto não muda é porque quem pode não quer, e quem pode são os fortes."

Alexandra Lucas Coelho, in Público

(Sim, porque eu hoje ouvi da boca de jornalistas piadolas tipo "punha-se lá uma bomba e repovoava-se tudo" ou "as crianças palestinianas morreram mas também foram lá deixadas a jeito")

MEC no P. !

Pronto, eu vou voltar a falar de outras coisas, mas TINHA que vir acrescentar que se foi embora o Rui Tavares, mas entrou o Miguel Esteves Cardoso. Agora, todos os dias no Público. Bela aquisição. Já estou mais confortada.

E para a Fátima não continuar a chamar-me a "miúda da política", não vou falar da entrevista ao Primeiro-Ministro, apenas repetir uma frase que o jornalista Ricardo Costa proferiu quando José Sócrates enumerava as medidas que o governo tinha tomado em relação às energias renováveis: "Bem, vamos avançar se não passamos a noite a falar de ventoinhas".

E tenho dito.

(Fati, isto não conta, pois não?)

sábado, 3 de janeiro de 2009

Pronto, e agora acabou-se a Crónica Sem Dor do Rui Tavares no Público. Ano novo, vida nova. Pois...

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Ainda bem que já somos dois a achar o mesmo...

Sobre despedimentos, "Warren Bennis, professor de Gestão na Universidade da Califórnia do Sul e autor de «Líderes: estratégias para assumir a verdadeira liderança», afirma que «a palavra-chave é respeito». «O mundo empresarial parece, demasiadas vezes, extremamente duro. Critica os burocratas que «emitem decretos» sobre redução de pessoal e tratam os empregados como se fossem invisíveis ou indistintos. «Para mim, a tarefa principal de um dirigente é ajudar a definir a realidade».
Os funcionários devem saber, de imediato, que sectores vão ser afectados e se estão previstos mais despedimentos. Muitos questionam a justeza das reduções de pessoal e os dirigentes podem contribuir para restabelecer a confiança, se explicarem que também eles fazem sacrifícios, cortando nos seus salários ou abdicando de regalias.
É do interesse das firmas dialogar com os trabalhadores em tempos de despedimento, mas isso pode ser mais fácil para as pequenas e médias empresas."

Kelley Holland, in New York Times

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Síndroma crise financeira

Estranhei que o Courrier tivesse chegado uns bons 10 dias antes de Janeiro. Como passo a vida a acumular jornais e revistas e nunca leio mais de metade dos ditos, deixei o Courrier no cantinho, ainda com o plástico. "Se é o número de Janeiro, abro em Janeiro". E assim o fiz, agora mesmo.
Comecei a ler o editorial do Fernando Madrinha, de quem gosto bastante, sobre a extinção da versão impressa de alguns jornais. No entanto este texto parava a meio. Um subtítulo: Despedida. Dias e dias ali em cima da arca do meu quarto, envolvo no plástico selado, estava o anúncio de que o Fernando Madrinha já não faz parte da minha revista mensal em 2009. Vai-se embora. E eu renovei a assinatura.
Há um ano eu pensaria de imediato que coisas melhores surgiram, imaginaria projectos ambiciosos e interessantes. Hoje, vítima do síndroma da crise, penso logo: " Coitado. E agora?". É claro que ele era o Director, é provavel que a saída signifique um destino melhor. Mas hoje já sou incapaz de acreditar nisso piamente.
O papão da crise, afinal, tem mesmo efeitos psicológicos, não é tanga. Para 2009 só me ocorre suster a respiração até que passe depressa.