segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Morte em directo

Este pequeno artigo que vinha junto com a reportagem sobre a retirada de Israel de Gaza impressionou-me bastante:

"O médico palestiniano Ezzeldeen Abu al-Aish relatou, em directo na TV israelita, como a sua casa acabara de ser atacada e três das suas filhas mortas, pedindo auxílio ao jornalista que o ouvia.
Ezzeldeen Abu al-Aish era regularmente entrevistado pela TV israelita, contando o sofrimento dos palestinianos de Gaza como consequência da operação militar. Quando a sua casa foi atacada, telefonou para o jornalista do Canal 10 da TV israelita que o costumava entrevistar, relatando o que acabava de lhe acontecer e pedindo desesperadamente ajuda.
O próprio jornalista reconheceu em directo: "Ele conta que as suas filhas acabaram de morrer... desculpem... fiquei um pouco afectado", enquanto segurava no telemóvel em alta voz, onde antes se tinha ouvido a voz desesperada do médico.
"Ninguém consegue chegar até nós... meu Deus, meu Deus", repetia o médico, referindo-se às ambulâncias - duas outras filhas estavam feridas. "As minhas filhas, Shlomi", disse, dirigindo-se ao jornalista israelita Shlomi Eldar, com quem falava ao telefone.
"Não pode alguém vir ajudar-nos, por favor?" O jornalista pergunta ao médico onde é a casa, e sai do estúdio, telemóvel na mão e câmara a segui-lo, para tentar que uma ambulância chegue à casa do médico. E o improvável acontece: o pivot consegue mesmo uma autorização para que uma ambulância palestiniana chegue à casa das vítimas, que são levadas para o posto de Erez, entre Gaza e Israel, e depois para hospitais israelitas - de novo, seguidas pelas câmaras atentas do Canal 10.
Ezzeldeen Abu al-Aish fala hebraico fluentemente - tinha sido ginecologista num hospital no Sul de Israel durante quatro anos, quando os palestinianos de Gaza ainda eram autorizados a sair da Faixa para trabalhar em Israel. Assim, era regularmente ouvido pelo Canal 10, compensando a falta de jornalistas no terreno (excepto os que acompanham unidades militares).
"As minhas filhas estavam em casa a planear o futuro, a falar, e de repente estão a ser bombardeadas", disse. "Quero saber por que foram mortas. Quem deu a ordem?", dizia o médico. "

In Público