quinta-feira, 18 de junho de 2009

É prémio nobel, pode ser romântico

"As noites eram suaves, cor de veludo. Ouvíamos o zumbido dos insectos por todo o lado. Nas noites de shabbat a música do acordeão chegava em lufadas, como uma respiração. Depois do amor, poisava o ouvido sobre o peito de Jacques e ouvia bater o seu coração. Imaginava que éramos crianças, tão distantes, tão sonhadores. Achava que tudo aquilo era eterno: a noite azul, o zumbido dos insectos, a múscia, o calor dos nossos corpos unidos sobre a estreita cama de campanha, o sono que flutuava à nossa volta. Às vezes conversávamos, fumando. Jacques queria estudar medicina. Iríamos para o Canadá, para Montreal ou para Vancouver. Partiríamos quando Jacques tivesse terminado o serviço militar. Casar-nos-íamos e partiríamos. O vinho dava-nos volta à cabeça".

J.M. Le Clézio, Estrela Errante