terça-feira, 4 de outubro de 2011

A máquina de costura

A minha casa estava cheia de coisas estranhas. Uns móveis feios aos quais me estou a afeiçoar, muitas, muitas cadeiras que enfiei no quarto vago (que está feito dispensa) e três bilhas de gás vazias que ainda cá estão - chamo-lhes "decoração rústica".
Quando cá vim ver a casa reparei numa coisa: uma antiga máquina de costura. Linda, verdadeira, das que foram mesmo usadas. Enferrujada. O dono da casa pô-la no tal quarto, já fechada, com aspecto de mesa, guardou-a num cantinho e pôs-lhe folhas de jornal por cima, para proteger. Lembro-me que me chegou a pedir se podia ficar cá em casa, guardada num sítio qualquer. Como que a pedir desculpa pelo mono. Na altura respondi "não, mas eu adoro-a!" e ele riu-se, surpreendido.
Entretanto tinha-me esquecido da máquina/ mesa. Até hoje. Retirei a fila de tralha que a escondia, tirei os papéis e olhei para ela. Tentei movê-la - é pesada pa caraças. Tentei abri-la, pôr a máquina cá fora, mas ainda não descobri como. Entretanto pus-me a brincar: abri umas gavetinhas de lado. Lá dentro, dedais, botões, agulhas. Mal arrumadas, como as das pessoas que realmente cozem.
Deixei-me ali por momentos e contemplar aquele objecto. A pensar nas histórias que deve ter. (A temer que guarde uma barata lá dentro).
Alguém sabe como posso abri-la?
Vou tentar arrastá-la. Gostava mesmo de ter uma máquina de costura na sala. E faz-me falta uma mesinha para pousar o chá ao lado do sofá.

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