Metade da magia de uma viagem é o caminho que se faz até chegar ao destino. Seguindo na Rua do Campo, já depois do McDonalds – esse marco do património –, um mural lembra-nos da necessidade de procurar a luz. Afinal, quantos de nós podem dizer que não buscam direcção?
O caminho faz-se caminhando e, de subida em subida, mapa já fechado e nariz no ar, o turista procura um ponto na paisagem. De passagem vê vestígios de uma cidade que conserva uma fé eternamente misteriosa aos olhos que vêm de fora. O incenso sempre queima, o vermelho sempre impera e as estatuetas sentadas em flores de lótus mantêm o sorriso de mona lisa. Aqui, onde o consumo dita o mote, onde a arte mais querida é a de apostar, os vestígios de uma espiritualidade enigmática merecem fotografia.
Click. Sobe as escadas. Mais um click e estamos no jardim, mais outro e já guardámos na máquina as velhotas que conspiram à sombra e as crianças que observam adultos a dançar com espadas.
Turista que é turista, mesmo na sua cidade, compra bilhete de teleférico. A subida, ainda que compartilhada com um apaixonado casal de namorados, conserva algum encanto de antecipação – afinal, a luz já deve estar perto.
Depois vem a parte melhor: a certeza que em minutos veremos aquilo que a vegetação esconde, aquilo que se lê nos livros e se avista em pequenino lá de baixo, da Praça do Tap Seac. As placas verdes indicam a direcção. Um click aqui, mais outro ali, que os prédios e avenidas já se vêem pequeninos e o Grand Lisboa parece de brincar.
Chegamos. O casal de namorados passeia, aponta para a paisagem, faz pose para o iPhone. Lança-nos um sorriso de reconhecimento. Também eles vieram à procura da Guia.
Depois de atravessar os túneis com maquinaria antiga e quadros a preto e branco, saímos do lado de lá, de onde se vê a ponte, de onde se vê tudo. À distância de um braço está o primeiro farol de características modernas ocidentais a ser construído no Extremo Oriente. É aqui que todos os caminhos vêm dar: as coordenadas geográficas de Macau estão definidas com base na localização exacta do farol.
A fortaleza é de 1622 e defendeu a cidade dos holandeses. Hoje, não testemunha lutas armadas, mas nem por isso perde a sua aura protectora. Aqui se erguem os sinais de tufão e a bandeira verde-esperança que dá cor à complexa identidade de Macau. Para aqui vêm não só turistas, mas caminhantes que procuram perspectiva, uma visão panorâmica da cidade e da vida, um lugar onde os carros não se ouvem e a paisagem convida à leitura. Quem busca sempre alcança.
Para baixo todos os santos ajudam, mas isso é na Europa. Aqui, na China de Macau, os santos (ou seja lá o que forem) apenas nos lembram, a cada degrau descido, que devíamos voltar para cima o quanto antes.
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