Acima de tudo ela tinha um problema fulcral com ele: palavras. Ele usava-as de uma forma que ela considerava obscena. Não porque fossem ordinárias ou ofensivas. Mas porque para ela as palavras eram como ingredientes, como alimentos, e ela era uma cozinheira virtuosa. Não misturava banana com arroz de tomate, tal como não dizia “as mulheres estão sempre a galar os homens”. Nunca usava a palavra “homem” ou “mulher” para alguém com menos de 40 anos. Tal como nunca jamais pronunciaria a palavra “sovaco” e muito improvavelmente “prazer”.
Sabia que era picuinhas, mas a maneira como alguém falava dizia-lhe muito. Por vezes apaixonava-se por expressões e repetia-as até se cansar. Adorava sotaques porque tornam as palavras mais adocicadas, ou divertidas, ou até sérias. Dá-lhes personalidade extra.
E ele.... ele tinha um sorriso radiante, um maneira de estar que lhe agradava e até coincidia nos gostos. Mas as palavras... tão poucas e sempre tão, tão... erradas. Feias. E não só. Algumas não são feias sozinhas, mas no contexto faziam-lhe tilintar os ouvidos.
Ela sabia, no entanto, como é difícil dizer a coisa certa na hora certa. Ela mesma sofria de nervosismo verbal. Mas não encontrava desculpa para a palavra escrita, para a mensagem de telemóvel, para o email, para o telefonema. Para o postal! Não, não havia desculpa. Tinham mesmo uma incompatibilidade verbal.
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