quarta-feira, 6 de abril de 2011

Cidades

Desde que me mudei para a Escócia tenho recebido várias mensagens entusiasmadas "Ena! Escócia, espectacular, vou-te visitar!". Eu percebo. A Escócia tem aquela mística. Mas não consigo deixar de pensar como Glasgow é apenas uma cidade grande e um pouco feiosa. É claro que sei que as pessoas fazem as cidades e é por isso que penso assim. Cardiff não é propriamente Praga, no entanto tenho-lhe um carinho desmesurado.
Quando penso no ano que passou nem consigo acreditar. Nas histórias que ouvi, que partilhei, na imensidão de coisas que aprendi, na pessoa maior e melhor que sou. Tudo graças a Cardiff, esse pano de fundo perfeito para a minha experiência internacional.
Já me perguntaram se foi tipo Erasmus. Eu diria que sim, vezes 10. Com menos farra mas com relações mais intensas, com Amigos de A maiúsculo. Erasmus foi a minha introdução ao melting pot do mundo, Cardiff foi um abrir de olhos sobre a humanidade.
É verdade que há poucos sítios para se ir em Cardiff e que chove muito. Mas fiz o meu primeiro boneco de neve e tive a polícia a bater-me à porta numa noite de guitarra e cantorias mais intensa. Cardiff viu-me pular de alegria pura, viu-me tremer de nervosismo, viu-me morrer de cansaço, viu-me chorar de desespero, viu-me ensaiar idiomas e treinar sotaques.
Cardiff ensinou-me a trabalhar num hotel e num restaurante e a produzir um jornal do zero. Cardiff vendeu-me café mau e caro demais e deu-me um cartão para entrar na universidade a meio da noite. Cardiff ensinou-me a arte de debater relações internacionais no meio de 25 nacionalidades. Cardiff assistiu comigo a maratonas de Regresso ao Futuro pela noite a dentro. Cardiff fez-me uma jornalista melhor.
Cardiff tem história. Tem a cara de muitos e queridos amigos, dos quais morro de saudades. Cardiff pode ser apenas uma cidade pequena, estudantil, mas as pessoas e os dias fizeram dela um dos meus lugares preferidos. Onde me sinto em casa.
Por isso quando as pessoas me dizem algo como "agora sim!" por estar na Escócia, não consigo evitar uma careta. Porque esta cidade não me abraça, não brinda com vinho barato e não me deixa ir a pé para casa.
Venham visitar-me. Mas não esperem que, tão cedo, troque o dragão pelo kilt.

2 comentários:

Marcas Avant-Garde disse...

Glasgow tão pouco me seduz pelas imagens que já vi... mas devo dizer-te que Edimburgo, Aberdeen, Inverness e Skye sim... são cidades típicas escocesas com carisma e gente sorridente e sp pronta para ir beber mais uma cerveja [como é hábito em toda a ilha] e têm uma arquitectura e um brilho diferentes da cinzenta e fria Glasgow que me tentam vender através de fotos ainda mais sombrias...

Fátima disse...

ainda assim, quero ir =) pode ser que depois de alguns copos mudes de ideias