segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

The Christmas party

Era Janeiro mas não faz mal. Já me habituei a ter profissões que me obrigam a celebrar fora de época. Tinha deixado de ir ao Promised Land porque as cervejas eram escandalosamente caras, mas gostava do sítio. Naquela noite regressei.
Ainda em casa escolhi o vestido, o casaco, os sapatos, caprichei na maquilhagem. Porque afinal todas as aquelas pessoas, da recepção, da cozinha, do restaurante, dos eventos, das limpezas, organizadores e cargos que nem conheço, todos me iam ver pela primeira vez sem farda. Sem calças pretas, camisa branca, colete e rabo de cavalo. Mais tarde, ao observar a quantidade de saltos altos e malinhas de mão percebi que todos pensaram o mesmo. Esta era a noite em que nós, os empregados, íamos ser os convidados. Alguém servia as nossas bebidas e recolhia os pratos do buffett. Desta vez não nos encostaríamos à parede, de mãos atrás das costas, de olhos atentos a copos vazios enquanto os outros dançavam. Desta vez nós dançámos. Dançámos todas aquelas terríveis músicas da moda que sabemos cantar de cor. E quando chegou a hora de pedir bebidas no pequeno bar, esperamos pacientemente, sorrimos e dissemos "não há problema" ao barman que não tinha mãos a medir.
Nessa festa de Natal em Janeiro demorei alguns segundos a reconhecer os meus colegas, as caras que vejo quase diariamente. A roupa que usamos conta um pouco de nós e até ali todos tinham a mesma história. Gostei de ver quem eram os posh, os hippies, os foleiros, os desportivos. Tive dificuldade em interagir com os chefes que não usavam fato e gravata mas camisas da moda. Aliás, se há coisa que me faz confusão é ter que interagir com pessoas que estão acima de mim em ambiente informal. Não sei o que dizer e reajo de forma embaraçada quando começam a ficar embriagados e a dançar e cantar e abraçar os restantes.
Nessa festa de Natal em Janeiro cantaram-me ao ouvido um pedaço de música e eu corei até às orelhas e disse "obrigada". Eu sou uma espécie de profissional do flirt, como se percebe. Fiz nota mental de quem eram os bons bailarinos e os que tinham vergonha. Maravilhei-me ao ver o senhor que recolhe os lençóis e toalhas sujos, um senhor dos seus 58 anos que me diz olá todos os dias, a dançar algo semelhante a breakdance no meio da pista. Bati palmas e assobiei.
Aquela festa fez-me pensar. Como nos definimos por aquilo que fazemos ou estudamos mas na verdade nós somos algo completamente independente disso. E cada um tem uma percepção diferente. Somos jornalistas, estudantes, jovens, adultos, empregados, imigrantes, "os que estudaram fora", bom CV, fraco CV, pobres, ricos, consoante o pedaço de nós que os outros avaliam. E nós que somos um bocadinho de tudo, não somos, na verdade, nada disso.

E não fosse isto uma festa do hotel onde trabalho, mais uma vez me confundiram a nacionalidade. Porque toda a gente sabe, em Barcelona, nesta altura do ano, faz muito menos frio que aqui.

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