segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Do Rato ao baú dos nossos sonhos vai um pulinho

Eles viram-se naquele jardim meio despido e já não eram aqueles estagiários que galgavam escadas e corriam para o elevador, que almoçavam fofocas sobre os chefes e partilhavam aventuras. Não. O tempo passou. Mas um pouco daqueles dois regressa ao passado quando se encontram. Ele e os fotógrafos cowboys, ela e os jornalistas (redactores, redactores) snobs.
Ela lembrou-se da primeira vez que o viu, na Torre do Tombo, e acho que ele era um ignorante porque não sabia quem era a Ministra da Educação (ou seria da Cultura?). Ele deve ser achado que ela tinha a mania. Mal sabia ela das peripécias que iam viver em três meses. Dos horários loucos, dos temas ainda mais absurdos, de uma experiência de vida ou morte que a deixou seis meses com medo da auto-estrada. Sabia lá ela na altura que nunca mais olharia para a Teresa de Sousa da mesma maneira e que aprenderia tanto sobre o mundo dos fotógrafos. E que o Alentejo é terra de águias imperiais que voam alto, mas tão alto que se tornam um pontinho no céu. E que língua de vaca nem é assim tão má de comer, se estufada.
E depois disso tudo aconteceu tanta coisa. As vidas deles deram tantas voltas, profissionais e pessoais. Mas uma coisa manteve-se: ela desejava agora, tal como no último dia de estágio, que ele conseguisse vencer. Desejava de coração porque apesar dos seus olhos pouco treinados sabia e sabe que tem talento, ideias, vontade, coragem e valor. E naquele jardim do Rato, mexendo o café quente, preparou-se para mais actualizações e voltou a fazer figas pelo amigo. E figas por si também.
A conversa entre os dois segue sempre o mesmo padrão. Muita risada, muito "e lembras-te quando...?", muuuuita nostalgia. Muito suspiro. E depois a queda. O constatar como a vida corre mal, como a queda foi funda, como isto do jornalismo não dá nada, como já não acreditam. Mas por fim, inevitavelmente não resistem e voltam a ser aqueles estiagiários entusiasmados, despidos de cinismo, cheios de vontade de fazer tudo. E entram então na onda inebriante das suas ideias, dos projectos que podiam executar, das histórias que podiam perseguir, na dupla perfeita que fariam, ela com palavras, ele com imagens.
No fim ela entra no metro sorridente e com ideias. Adora sentir-se assim, com ideiais. E adora pessoas que conseguem transmitir-lhe isso na perfeita sintonia da amizade. Great minds think alike.

1 comentário:

tracey disse...

Oh. também gosto de falar com o pessoal com quem estagiei, gosto mesmo. mas às vezes é chato, porque nunca mais encontrámos nada tão giro como o estágio - e naquela altura não sabíamos ...