quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Fins

Quando as pessoas dizem que querem que riam no seu funeral acho sempre uma grandessissima treta. Até podem acreditar no que dizem, mas ninguém deseja isso. No meu funeral quero que chorem, claro. Não porque me alegra o sofrimento dos outros, mas porque a minha vida, caraças, tem algum valor e quando perdida deve ser sentida. Ou não?
O mesmo se passa com diversos outros fins, menos dramáticos - ou derradeiros, vá. Quando largamos um emprego queremos deixar saudades, quando terminamos um relacionamento queremos que sofram a nossa ausência. Para quê dizer que não? Ninguém quer ser invisível. Queremos deixar a nossa marca. Eu quero.
É por isso que recuso a teoria do "a vida continua, foi bom, acabou". Sim, a vida continua. Mas não sem antes vivermos o luto do que perdemos. Não sem antes termos dúvidas, angústias, perguntas, cometermos erros, dizermos coisas desesperadas. O sofrimento humano é uma homenagem àquilo que foi importante.
Depois disso, sim, a vida continua. Que remédio.

2 comentários:

Francisco Maia disse...

mmm...eu não concordo. É um ponto de vista mesmo Português da coisa.

Luto não tem de significar desgosto. Só tem de significar resolução. Porque é que eu hei de chorar a perda de algo valioso quando posso celebrar o impacto do seu valor?

Claro que do dizer ao fazer vai um longo caminho mas chorar não trás ninguém de volta. É uma coisa egoísta. Não é um sentimento para com o que se perdeu, é auto-comiseração por já não se usufruir do "defunto"...o choro é sempre por nós próprios e pela falta que isso nos vai fazer...

Em suma, estou-me nas tintas se riem ou não mas não quero carpideiras quando eu morrer. Quero é uma granda bubadeira em minha honra. E levem-me com vocês que ainda assustamos uns velhotes.

Ps: já te disse que às 7 estou lááá! ;)

Enolough disse...

nos atribulados dias em que vivemos parece que existe uma conspiração velada para acabar com o choro e a dor. é obrigatório sorrir a toda a hora e é condenado o sofrimento (por vezes auto-infligido) nas alturas de desespero. deixem que se chore, deixem que se sinta a dor, que haja tristeza e raiva.

só assim se podem sarar as feridas e ganhar força para dias melhores.