Há um jornal online em Cardiff onde vários amigos meus têm feito estágios. Quando me perguntam porque é que eu não estou a fazer o mesmo, a minha companheira de casa responde: "A Inês é fina, só trabalha se for paga". O pessoal ri-se e tal e eu concordo. Pois bem, é verdade. Pode bem ser que a minha (parca) experiência profissional não signifique nada aqui pois ninguém sabe que raio é a Renascença, o Público ou o Destak. Mas eu sei. Mais: se eu estiver a fazer um estágio não remunerado a tempo inteiro não posso trabalhar no hotel e se não trabalho no hotel não consigo pagar a renda, supermercado e outras despesas que já me custam a pagar trabalhando. É muito simples, não posso. Para colmatar a ausência de trabalho jornalístico vou fazendo reportagens como freelancer. Poucas, sim, mas vou fazendo. E pagam-me por elas.
Além de achar que há um tempo para o trabalho de graça e esse tempo já passou, é uma questão prática, acima de tudo, que me prende. Se pudesse arcar com as despesas, seja como for, não estaria a fazer esse estágio, estaria em Londres a estagiar no Sunday Times.
É claro que penso muitas e muitas vezes que se fizesse estes estágios estaria a conhecer pessoas e eventualmente conseguiria uma oportunidade. E estaria a treinar escrever em inglês o que é mais difícil do que parece em termos jornalísticos. Mas é que simplesmente não posso.
Esta ideia de que temos que ter dinheiro para trabalhar de graça deixa-me doente.
3 comentários:
Em Inglaterra também têm o hábito dos estágios não remunerados? A enchente de anúncios por cá a pedir estágios curriculares é revoltante.
E digo mais, sendo utopiquíssimo (e inventando palavras): estágios são para quem está na licenciatura ainda, desculpa lá. Se todos rejeitassem trabalhar de graça depois de formados, quem sabe eles não pagariam para ter "focas" (repórteres novatos, inexperientes). Pelo menos é assim que acontece aqui no Brasil.
Apoio a Inês!
também acho. trabalhar de graça é no fim da licenciatura, mas não mais do que isso.
Enviar um comentário